LUCIANO NUNES VIÇOSA DE SOUZA
HELEN DA SILVA SILVEIRA
EDUARDO ALBERTO DE ALMEIDA (ORGS.)
EXPERIÊNCIAS DE UMA
FORMAÇÃO INICIAL: O PIBID
HISTÓRIA UFSM
1ª Edição
Santa Maria/Rio Grande do Sul
Luciano Nunes Viçosa De Souza
Edição dos autores.
2018
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Observação: A redação e o conteúdo dos capítulos são de responsabilidade exclusiva de
seus respectivos autores.
Organizadores: Luciano Nunes Viçosa de Souza, Helen da Silva Silveira e Eduardo Alberto de
Almeida.
Editor e Diagramação: Luciano Nunes Viçosa de Souza.
Revisão e Prefácio: Bianca Alves Madruga.
Capa: Felipe Nunes Limas.
S729e Souza, Luciano Nunes Viçosa de; Silveira, Helen da Silva; Almeida,
Eduardo Alberto de; 2018
–
EXPERIÊNCIAS DE UMA FORMAÇÃO INICIAL: O PIBID
HISTÓRIA UFSM [recurso eletrônico] – André Haiske, Eduardo
Alberto de Almeida (org.), Eduardo Perius, Helen da Silva Silveira
(org.), Leticia Genro Schio, Luciano Nunes Viçosa de Souza (org.), &
Theo Rosito Machado – Santa Maria: Edição dos autores, Amazon
Kindle, 2018.
80 p.
Prefácio: Bianca Alves Madruga.
ISBN 978-85-923277-1-2
1. Educação
pedagógicas
2. Ensino de História
I. Título
CDD: 370
CDU: 378
3. Experiências
SUMÁRIO
PREFÁCIO ....................................................................................................................... 7
Bianca Alves Madruga
PROBLEMATIZANDO AS RELAÇÕES DE GÊNERO NA ESCOLA ...................... 11
Letícia Genro Schio
EXPRESSÃO E IDENTIDADE DE GÊNERO, E ORIENTAÇÕES SEXUAIS:
CONTRIBUIÇÕES DE UMA OFICINA DO PIBID DA HISTÓRIA DA UFSM ....... 25
Eduardo Alberto de Almeida
RELAÇÕES ÉTNICO – RACIAIS NA HISTORIA DO BRASIL: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA .............................................................................................................. 35
Helen da Silva Silveira
HISTÓRIAS DOS POVOS INDÍGENAS: PRÁTICAS EDUCATIVAS E
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL ..................................................................................... 43
Eduardo Perius
OSMANLIS: UM JOGO PARA ENTENDER O ISLAMISMO ................................... 57
Luciano Nunes Viçosa de Souza; André Haiske
ATIVIDADES DIDÁTICAS DESENVOLVIDAS PELO PIBID/HISTÓRIA NA EBE
DR. PAULO DEVANIER LAUDA EM SANTA MARIA ........................................... 69
Theo Rosito Machado
PREFÁCIO
Bianca Alves Madruga 1
No Brasil a qualificação da formação de professores tem sido reconhecida como
fundamental para o êxito escolar. As iniciativas voltadas para esse fim acontecem no
âmbito da formação inicial e da capacitação ou formação continuada.
O Ministério da Educação e a Fundação CAPES (Comissão de Aperfeiçoamento
de Pessoal do Nível Superior) alinham-se a esse objetivo através de ações integradas
comprometidas com a melhoria da educação tanto no nível básico quanto superior.
Nesse sentido, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid, que
através de projetos nas áreas do conhecimento promove a inserção de licenciandos
bolsistas nas instituições de educação básica pública, tem aproximado as Instituições de
Educação Superior às demandas do cotidiano escolar.
Nesse contexto, o Pibid História/UFSM tem realizado na EBE Dr. Paulo
Devanier Lauda e na EEEB Augusto Ruschi, Santa Maria, RS, práticas didáticopedagógicas inovadoras. Essas são realizadas a partir de uma perspectiva colaborativa e
dialógica que, muito além de engendrar uma mudança na formação individual e coletiva
dos bolsistas e das professoras regentes e supervisoras, reflete diretamente na
otimização da aprendizagem dos educandos atendidos pelo Programa.
Durante os quatro anos de desenvolvimento do Pibid História na escola diversas
atividades são desenvolvidas de maneira a trabalhar o ensino de história de uma forma
diferenciada, proporcionando aos estudantes novas experiências a partir da apropriação
do conhecimento histórico. Essas práticas incentivam o desenvolvimento da reflexão
crítica no corpo discente, que participam das propostas de forma ativa e autônoma.
1
Graduada em História Licenciatura Plena e Bacharelado pela Universidade Federal de Santa Maria
(2010). Especialista em Supervisão e Orientação Educacional (UNICID, 2011); em História Social
(UNOPAR, 2012) e em Alfabetização (UNICID, 2012). Professora da Rede Estadual de Ensino do Estado
do Rio Grande do Sul desde 2012. Foi professora supervisora do PIBID de março de 2014 a março de
2018.
7
Além disso, o Programa garante direitos constitucionais dos estudantes, a partir
do trabalho sistemático das temáticas “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”
previstas nas Leis nº 10.639/03 e 11.645/08. Ademais, aprofunda e consolida temas
previstos tradicionalmente no currículo, conteúdos do currículo oculto, o mote
transversal, promovendo a aprendizagem significativa e o respeito à diversidade.
Logo, o Pibid História/UFSM é uma política pública efetiva de valor
inestimável. Conta com bolsistas de excelência acadêmica, realizadores de boas práticas
pedagógicas, articuladores da teoria e da ação pedagógica, que contribuem
significativamente, para o sucesso escolar dos educandos e a valorização do magistério
na EBE Dr. Paulo Devanier Lauda e na EEEB Augusto Ruschi.
Para a realização de uma política pública que objetiva qualificar a formação de
professores e, assim, a educação de nível superior e básico, é preciso contar com
pessoas comprometidas com a busca de novas perspectivas, na promoção de uma nova
cultura formadora. É o caso do Pibid História/UFSM.
Ao longo do desenvolvimento do Programa na EBE Dr. Paulo Devanier Lauda e
na EEEB Augusto Ruschi diversas atividades primorosas são realizadas e entre essas,
várias se destacam, tanto pela qualidade do arcabouço teórico, quanto pelos objetivos
educativos e inovações metodológicas propostas pelos bolsistas. Sendo assim, essa obra
tem o propósito de compartilhar com o público as boas práticas pedagógicas
desenvolvidas até então, desejando que professores/as e estudantes se inspirem a partir
dessas experiências a pensar uma nova cultura acadêmica e escolar, fundamentadas na
intelectualidade e na prática.
A obra é composta por reflexões teóricas acerca das ações realizadas nas escolas
a partir de relatos de experiências dos bolsistas e de uma professora regente e
supervisora.
A pesquisadora Leticia Genro Schio, graduada em História pela UFSM e
professora da rede pública do RS desde 2012, trata no capítulo “Problematizando a
Equidade de Gênero na Escola” de uma atividade desenvolvida na EEEB Augusto
Ruschi e da necessidade de se trabalhar essa temática nas escolas para combater
preconceitos e incentivar o respeito à diferença e à diversidade.
No mesmo mote o pesquisador graduado em História pela UFSM, Eduardo
Alberto de Almeida no capítulo “Expressão e Identidade de gênero, e Orientações
8
Sexuais: contribuições de uma oficina do PIBID da História da UFSM” realiza uma
explanação sobre conceitos relacionados ao universo LGBT e relata uma atividade
realizada na EBE Dr. Paulo Devanier Lauda, que aborda a importância de se conhecer a
diversidade sexual para evitar a disseminação da intolerância e da violência.
Sobre o ensino da história africana e afro-brasileira, a pesquisadora Helen da
Silva Silveira, graduada em História pela UFSM e membro do Grupo de Estudos Sobre
o Pós-Abolição – GEPA discorre sobre a prática em sala de aula com elementos da
cultura da população negra subalternizada no Brasil Republicano, como a música e a
dança e como esses se configuram em resistência à perseguição e marginalização.
No capítulo “Histórias dos Povos Indígenas: práticas educativas e transformação
social”, o pesquisador graduado em História pela UFSM, Eduardo Perius reflete acerca
ensino das Histórias dos Povos Indígenas nas escolas de Educação Básica brasileira a
partir do conhecimento e valorização das suas contribuições para a formação da cultura
e sociedade sul-rio-grandense e brasileira.
Os pesquisadores graduados em História pela UFSM, André Haiske e Luciano
Nunes Viçosa de Souza explanam no capítulo “Osmanlis: um jogo para entender o
islamismo” como um recurso pedagógico diferenciado pode permitir aos estudantes
aprofundarem o conhecimento acerca das origens dos conflitos no Oriente Médio.
Além
desses,
no
capítulo
“Atividades
didáticas
desenvolvidas
pelo
PIBID/História na EBE Dr. Paulo Devanier Lauda em Santa Maria” o pesquisador
graduado em História pela UFSM Theo Rosito Machado realiza uma análise da
importância da presença do Pibid nas escolas. Parte de suas impressões em relação aos
resultados alcançados pelo Programa na EBE Dr. Paulo Devanier Lauda, além de
realizar um breve resgate do histórico das origens da instituição CIEP.
O processo de escrita e organização dessa obra conta com a contribuição
equânime dos/as pesquisadores/as que acreditam que o êxito do Pibid História/UFSM
está ligado, diretamente, ao quão organizadas e planejadas são as ações desenvolvidas
pelo programa; à colaboração das escolas, e, mormente, a participação ativa dos
educandos na prática pedagógica.
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10
PROBLEMATIZANDO AS RELAÇÕES DE GÊNERO NA ESCOLA
Leticia Genro Schio 2
Resumo: Pretendemos aqui, fazer um relato de experiências realizadas ao longo do ano letivo de 2014
com uma turma de segundo ano do ensino médio da Escola Estadual de Educação Básica Augusto
Ruschi, localizada em Santa Maria, região central do estado do Rio Grande do Sul. Problematizamos, de
modo geral, a construção das mulheres enquanto sujeito histórico, bem como preconceitos relacionados à
orientação sexual. A proposta de trabalho teve início no ano de 2013 e foi sendo aprimorada ao longo
daquele ano e de 2014. As atividades relatadas foram elaboradas e aplicadas conjuntamente com os
bolsistas de iniciação à docência do PIBID.
Palavras-chave: Relações de gênero; escola; relato de experiências; PIBID.
Introdução
Os avanços e conquistas do movimento feminista, do movimento negro e do
movimento LGBT foram uma constante em várias sociedades ao longo do século
passado e estão se expandindo cada vez mais ao longo do século XXI. No Brasil não é
diferente. A criação da Lei Maria da Penha que protege as mulheres da violência
doméstica e familiar; a Lei 10.639/03, que trata sobre o ensino da história e cultura afrobrasileira e africana nas escolas, ressaltando a importância da cultura negra na formação
da sociedade brasileira e a luta pela união civil entre pessoas do mesmo sexo
(homoafetiva) são apenas alguns exemplos. Pode-se dizer que se esses exemplos
descortinam, por um lado, o conservadorismo entranhado em diversos setores da
sociedade, o que torna necessária a promulgação de leis que visam uma sociedade mais
justa, respeitando e valorizando as diferenças, todavia, revelam por outro lado a
ascensão e o potencial político dos movimentos sociais organizados.
Percebemos que nas escolas, nas universidades e no mercado de trabalho as
mulheres estão cada vez mais presentes, sendo, muitas vezes, maioria. Ou seja, elas
inverteram a ordem, ocupando espaços que tradicionalmente lhes eram negados. Cabe
lembrar que o movimento feminista, consideradas as suas diferenças e diversidade, têm
atualmente priorizado enfocar as questões de gênero através das abordagens que pautam
a libertação, a justiça e a igualdade, que estão sendo pensados como ações positivas no
2
Graduada em História - Licenciatura Plena e Bacharelado pela Universidade Federal de Santa Maria
(2010); Especialista em História do Brasil (2012) pela mesma Universidade; Mestranda no Programa de
Pós-Graduação em Educação também pela UFSM. Professora da Rede Estadual de Ensino do Estado do
Rio Grande do Sul desde 2012. Foi professora supervisora do PIBID entre junho de 2013 e agosto de
2015.
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domínio profissional, nas instâncias políticas, na questão da cidadania e na divisão de
tarefas com os homens.
Contudo, quando pensamos a respeito do universo escolar, observamos que
inúmeras práticas preconceituosas permanecem ocorrendo de forma sistemática,
passando despercebidas ao olhar do corpo docente ou mesmo naturalizadas por este.
Demonstrações de racismo, machismo e homofobia são presentes em nossas escolas,
seja entre os estudantes, ou até mesmo por parte dos funcionários e professores, em
razão de que a escola é um espaço que reflete as vicissitudes da sociedade. Todavia, se
concordamos que no ambiente escolar reverberam as intolerâncias e conservadorismos
candentes no seu entorno, é imprescindível que dentro dela haja o movimento contrário,
o esforço sistemático de desnaturalização destas violências. E como educadoras
acreditamos que a escola é um espaço mais do que apropriado, com grande potencial
para a realização de trabalhos que vão ao encontro destes objetivos.
Partindo destas constatações e por elas sendo provocadas, fomos estruturando
uma sequência de atividades didáticas, pautadas na desnaturalização de comportamentos
discriminatórios, na valorização das diferenças, no questionamento das desigualdades e
na problematização das mulheres enquanto sujeitos históricos, políticos e sociais,
portanto, sujeitos transformadores da sua própria realidade e interferentes na sociedade.
Objetivo e Contextualização
Neste trabalho pretendemos apresentar algumas atividades didático-pedagógicas
pautadas na construção das mulheres enquanto sujeito histórico, realizadas ao longo do
ano letivo de 2014 com uma turma de segundo ano do ensino médio da Escola Estadual
de Educação Básica Augusto Ruschi, localizada em Santa Maria, região central do
estado do Rio Grande do Sul. A proposta de trabalho teve início no ano de 2013 e foi
sendo aprimorada ao longo daquele ano e de 2014.
Desde já, esclarecemos que o conteúdo disposto aqui trata de relatos de
experiências de atividades realizadas no ambiente escolar nas aulas de Seminário
Integrado, com a participação das bolsistas do PIBID História UFSM, sob minha
coordenação e supervisão. Sou professora de História com Especialização em História
do Brasil, ambas pela Universidade Federal de Santa Maria.
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A comunidade atendida pela Escola Augusto Ruschi é composta em grande parte
por filhos de trabalhadores ou mesmo jovens trabalhadores, na circunstância dos
estudantes do noturno, caso da turma 207.
As atividades foram desenvolvidas nas aulas do componente curricular
Seminário Integrado, uma iniciativa do extinto Ensino Médio Politécnico, que visava à
integração entre as disciplinas que compõem o currículo, e o incentivo à pesquisa tanto
para estudantes quanto para professores. Por conseguinte, o componente curricular não
conta com conteúdo programático fixo, ficando a cargo dos alunos, juntamente com o
professor responsável a escolha do tema que será pesquisado ao longo do ano.
Dessa forma, a turma 207 decidiu coletivamente que gostaria de pesquisar sobre
as lutas das mulheres pela igualdade de direitos, passando por temas como educação e
mercado de trabalho, os diversos tipos de violência (psicológica, obstétrica, verbal e
física) e Lei Maria da Penha, machismo e feminismo. Ao longo do ano, várias foram as
atividades desenvolvidas, mas aqui nos detemos a versar sobre duas delas, em razão do
limite de páginas.
Os estudos da pesquisadora Guacira Lopes Louro sobre gênero e sexualidade na
escola, foram fundamentais tanto para o desenvolvimento das aulas quanto para a
construção do presente texto. E é precisamente, alicerçadas na seguinte constatação que
fundamentamos a necessidade do trabalho:
se admitimos que a escola está intrinsecamente comprometida com a
manutenção de uma sociedade dividida e que faz isso cotidianamente, com
nossa participação ou omissão; se acreditamos que a prática escolar é
historicamente contingente e que é uma prática política, isto é, que se
transforma e pode ser subvertida; e, por fim, se não nos sentimos conformes
com essas divisões sociais, então, certamente, encontramos justificativas não
apenas para observar, mas, especialmente, para tentar interferir na
continuidade dessas desigualdades (LOURO, 2003, p.85-86).
Metodologia
A primeira atividade teve origem em discussões em sala de aula quando alguns
alunos diziam acreditar que meninos devem brincar com carrinhos, videogame, bonecos
que representam super-heróis, e meninas devem brincar com bonecas, casinhas e
brinquedos que se assemelham a utensílios domésticos (panelinhas, talheres, fogões...).
Naquele momento os alunos afirmaram que, quando é permitido que meninos brinquem
com brinquedos de meninas e vice-versa, as crianças seriam confundidas e
comprometidas quanto a sua orientação sexual.
13
Provocadas por estas afirmações, na semana seguinte, reunimos a turma em
círculo e iniciamos a leitura do trecho de um livro da escritora infanto-juvenil Ruth
Rocha, intitulado Faca sem ponta, galinha sem pé, que dispomos aqui:
“Pedro implicava com a irmã por ela querer fazer coisas de meninos tais
quais jogar bola, subir em árvore; Joana implicava com o irmão por ele às
vezes ter "atitudes femininas" como chorar por causa de um filme triste, ou
ficar olhando-se no espelho. Os dois sofriam cobranças de atitudes
correspondentes com seu sexo por parte de seus pais, como: "menina tem que
ser delicada, boazinha..." ou "filho meu não foge! Volte pra lá agora e bata
nele também. E vamos parar com essa choradeira! Homem não chora!". Um
dia, voltando da escola, passam por debaixo do arco-íris e mudam de sexo. E
a situação se complica. Logo na esquina, Pedro, quer dizer, Pedra, que agora
era menina, deu o maior chute numa tampinha que estava no chão.
-Vamos parar com isso?- disse Joano - Menina não faz essas coisas.
-E eu sou menina?
-É, não é?
-Ah, mas eu não me sinto menina! Tenho vontade de chutar tampinha, de
empinar papagaio, de pular sela...
-Ué, eu também tinha vontade de fazer tudo isso e você dizia que menina não
podia-reclamou Joano.
-Mas é que todo mundo diz isso- disse Pedra- que menina não joga futebol,
que lugar de mulher é dentro de casa...
-Pois é, agora aguenta! Não pode, não pode, não pode...
Pedra descobre também as vantagens de ser menina, como poder demonstrar
seus medos, seus choros, sua vontade de ver novela... Porém a implicância
entre os irmãos está cada vez maior, sem compreender tantas proibições... até
que o arco-íris apareceu: Joano e Pedra deram-se as mãos. E correram,
juntos, em direção ao arco-íris. E finalmente perceberam que alguma coisa,
novamente, tinha acontecido. Então riram, se abraçaram e começaram a
voltar para casa. Então Joana viu uma tampinha na calçada. Correu e chutou
a tampinha para Pedro. Pedro devolveu e os dois foram jogando tampinha até
em casa” (ROCHA, 2009, s/p).
A leitura do trecho suscitou os primeiros questionamentos sobre as imposições e
proibições que as crianças sofrem acerca de suas escolhas para as brincadeiras.
Lembrando que estas exigências partem dos adultos, mas que por sofrerem de forma
constante, as próprias crianças deixam de selecionar livremente os brinquedos, de
acordo com sua curiosidade e passam a internalizar e reproduzir o comportamento dos
adultos.
Num segundo momento, foram disponibilizados diversos brinquedos no meio do
círculo (ursos de pelúcia, bonecas, panelinhas, carrinhos, super-heróis e jogos de
videogame) e pedido para que dois alunos voluntários separassem aqueles brinquedos
conforme seus próprios critérios. A surpresa veio em seguida, pois a menina e o menino
que se dispuseram a dividir os brinquedos o fizeram da forma não tradicional, ou seja,
misturaram bonecas com carrinhos, jogos de videogame com panelinhas, declarando
que na infância não sofreram restrições quanto às brincadeiras. A menina, por exemplo,
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relatou que jogava futebol e bola de gude e o menino disse que brincava de casinha. Ou
seja, a turma estava dividida quanto à ideia da manutenção do uso tradicional dos
brinquedos e das brincadeiras, o que tornou a atividade ainda mais rica em discussões e
problematizações.
Na sequência da prática, foi mostrado um vídeo em que uma menina de
aproximadamente três anos questiona os pais do motivo pelo qual os brinquedos
disponibilizados às meninas são sempre os mesmos e que ela gostaria de brincar
também com brinquedos de meninos. A partir daí teve início a discussão mediada pela
professora e pelas bolsistas que pontuaram que a orientação sexual dos indivíduos não
está ligada às atividades que realizam e, portanto, também não tem relação com os
brinquedos e brincadeiras que escolhem ao longo da sua infância.
Adiante, debatemos e problematizamos que assim como os gêneros são
construções históricas e sociais, também o são os brinquedos rotulados como sendo
especificamente para meninas ou para meninos. Sinalizamos que os brinquedos
considerados desta forma tradicional servem para consolidar os papeis sociais atribuídos
às mulheres e aos homens. Logo, quando se estabelece que brinquedos de meninas
sejam exclusivamente bonecas, panelinhas, casinhas, ursos de pelúcia é porque se
espera que quando adultas estas se tornem boas mães, dedicadas esposas e donas de
casa. E quando inseridas no mercado de trabalho seja nas profissões consideradas
próprias do sexo feminino: magistério, enfermagem, educação especial, enfim, as
profissões relacionadas ao cuidado, delicadeza e zelo.
...os brinquedos e brincadeiras que proporcionamos, as atividades que
empreendemos no nosso fazer pedagógico, os espaços disponibilizados a
meninos e meninas, as falas de ambos, os gestos, os comentários que
fazemos, os olhares de repreensão ou não que lançamos a cada um deles/cada
uma delas diante de seus comportamentos estão repletos de representações a
respeito daquilo que entendemos ser o mais adequado para meninos e
meninas, homens e mulheres. Portanto, discutir de que forma se constroem as
relações de gênero e como vão se constituindo ao longo da vida as
identidades sexuais torna-se crucial nessa formação (Educação para
Igualdade de Gênero, 2008, p. 06).
Já os brinquedos de meninos, carrinhos, miniaturas de caminhões, super-heróis,
bolas, armazinhas, assim o são porque igualmente presume-se que quando estes
chegarem à fase adulta irão desempenhar os papeis historicamente atribuídos
(provedores do lar, fortes, destemidos, bons motoristas). Constatamos também,
conforme relatos de alguns alunos, que os espaços reservados para meninos e meninas
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brincarem, da mesma forma, seguem a lógica dos papeis sociais atribuídos a cada
gênero, pois, para as meninas é reservado o espaço doméstico, sempre junto dos olhares
das mães. Já os meninos podem e devem ocupar as ruas, os espaços públicos
interagindo com outros meninos, em razão de que, aos homens está reservada a vida
pública, a iniciação sexual precoce, as discussões e o envolvimento político, bem como
as profissões tidas como genuinamente masculinas: advocacia, engenharias, economia.
O estímulo à violência entre meninos contribui ainda para a prática da
homofobia entre homens não só nos espaços públicos, como também nos
privados. Oferecer aos meninos armas, roupas de luta, carros, jogos
eletrônicos que incitem à violência e indicar a eles os lugares públicos como
próprios ao seu gênero são formas de estabelecer uma relação entre meninos
e a agressividade e a violência, e entre homens e espaço público. Da mesma
forma, oferecer às meninas somente bonecas e miniaturas de utensílios
domésticos é indicar-lhes o espaço privado como cenário de atuação, e a
maternidade como um objetivo. Se quisermos contribuir para um mundo
justo em que haja equidade de gênero, ou em que se estabeleça o fim da
assimetria de gênero, que em nossa sociedade coloca os homens em posição
privilegiada em relação às mulheres, precisamos estar atentos para não
educarmos meninos e meninas de maneiras radicalmente distintas. Os
modelos de homem e de mulher que as crianças têm à sua volta, na família e
na escola, apresentados por pessoas adultas, influenciarão a construção de
suas referências de gênero. Quando a menina e o menino entram para a
escola, já foram ensinados pela família e por outros grupos da sociedade a
respeito de quais são os “brinquedos de menino” e quais são os “brinquedos
de menina”. Embora não seja possível intervir de forma imediata nessas
aprendizagens no contexto familiar e na comunidade, a escola necessita ter
consciência de que sua atuação não é neutra. Educadores e educadoras
precisam identificar o currículo oculto que contribui para a perpetuação de
tais relações. A escola tem a responsabilidade de não concorrer para o reforço
e o aumento da discriminação e dos preconceitos contra as mulheres e contra
todos aqueles que não correspondem a um ideal de masculinidade e
feminilidade dominantes. Por isso, educadores e educadoras são responsáveis
e devem estar atentos a esse processo (LOURO, 2003, p. 26 - 27).
Outro assunto levantado pelos alunos foi a questão das cores tradicionalmente
atribuídas a meninos e meninas, antes mesmo do nascimento, o azul e o rosa. A turma
chegou à conclusão que, assim como com os brinquedos, a atribuição das cores aos
sexos também é uma criação social. Estas práticas não são, portanto, imutáveis. Pelo
contrário, devem ser questionadas e ressignificadas.
À medida que a atividade foi acontecendo, foi possível perceber que havia na
turma alunos, tanto meninos quanto meninas, que ao longo da infância tiveram
liberdade de brincar com qualquer tipo de brinquedo, dentro e fora do ambiente
doméstico e também com crianças do sexo oposto. Ao passo que outros, não tiveram a
mesma liberdade, ficando restritos aos brinquedos e brincadeiras considerados
adequados ao seu gênero.
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Fundamental salientar aqui a situação lembrada por algumas alunas, que durante
o dia trabalham como estagiárias em creches e escolas de educação infantil. Segundo
relataram, nesses espaços os brinquedos já estão separados conforme o entendimento de
que há brinquedos próprios femininos e masculinos, sendo comum aos meninos e
meninas serem divididos e induzidos pelas próprias professoras no momento da
brincadeira, a selecionarem os brinquedos considerados “aptos” a cada gênero. Bem
como o estereótipo das cores é reforçado. Relataram ainda que quando um menino
chora, é corrente ser repreendido pelas professoras com expressões do tipo: “chorando
como uma menina”. Empregamos novamente as conclusões de Louro:
A escola, portanto, tem papel fundamental na construção da identidade dos
indivíduos, inclusive das identidades sexuais e de gênero, por ser um espaço
privilegiado para o afloramento e a proliferação dos temas ligados à
sexualidade e às questões de gênero, e não somente entre os/as alunos/as, mas
também entre os/as professores/as. Apesar disso, ela vem silenciando sobre
estas questões e ainda reproduz concepções essencialistas e biologicistas que
ratificam a norma heterossexual e em nada ajudam no combate ao sexismo e
à homofobia. A escola costuma silenciar também sobre agressões contra
os/as homossexuais, ou mesmo heterossexuais que simplesmente fogem às
regras dos comportamentos esperados para o seu gênero, sobretudo se as
agressões forem verbais, consideradas por muitos como menos importantes.
A escola, que deveria primar pela inclusão e pela educação para a
diversidade, torna-se assim um espaço ameaçador e excludente para
muitos/as alunos/as, que são levados, muitas vezes, a abandoná-la (Louro,
1997; Ribeiro, 2007).
Ao longo da atividade pautamos que essas exigências foram construídas
histórico e socialmente, dentro de uma perspectiva calcada em imposições de uma
sociedade patriarcal, machista, homofóbica, classista e racista, em que existe um
modelo a ser seguido e ditador de regras sociais.
Foi relevante elucidar que este modelo é opressor principalmente para as
mulheres que foram e ainda são o maior alvo das sociedades patriarcais, mas que os
homens também sofrem, à medida que são, desde a tenra idade, coagidos a exercer as
funções tradicionalmente atribuídas a eles. Comportamentos como os anteriormente
citados por parte dos educadores corroboram a cultura da violência que está intrínseca
na composição da masculinidade hegemônica assentada em ideais sexistas, machistas e
homofóbicos.
A atividade contou com a participação de todos os alunos que estavam presentes,
pois os questionamentos e debates envolveram pouco a pouco até mesmo aqueles que
costumeiramente são mais calados e menos participativos. Atribuo o sucesso da
atividade ao fato de que a discussão trouxe à tona problemáticas que se fazem presentes
17
cotidianamente na vida de homens e mulheres, evocando, é claro, que no caso destas,
com um arranjo mais agressivo e controlador.
Consideramos que nossa proposta de trabalho atingiu o objetivo inicial,
carregando de sentido e significados os conhecimentos apropriados coletivamente
através do esforço para estruturação de consciências críticas e questionadoras.
Para a segunda intervenção, nos inspiramos na sugestão intitulada “Caixa de
Pandora” contida no Caderno de atividades da Formação de Professoras/es em Gênero,
Sexualidade, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais – Gênero e Diversidades na
Escola.
Primeiramente a turma foi reunida para elaborar frases e piadas
amplamente utilizadas, que aparentemente não passam de brincadeiras, mas que no
fundo são carregadas de sentido pejorativo e preconceitos, para que fossem distribuídas
no grande grupo, ou seja, num momento em que todas as turmas do Ensino Médio
Noturno foram agrupadas para que cada uma apresentassem suas pesquisas de
Seminário Integrado. A turma optou pelas seguintes frases:
“Mulher no volante, perigo constante”;
“Azul é cor de menino e rosa é cor de menina”;
“Homem que é homem não chora”;
“Mulher que usa roupa curta e provocante está pedindo...”;
“Meninos não sabem cuidar de bebê. Meninas já nascem sabendo”;
“Futebol é esporte de menino e vôlei é de menina”
As frases foram colocadas em uma caixa e um representante de cada turma
pegou uma. Depois cada turma falava a sua frase e explicava o que pensavam a respeito
daquelas sentenças. A turma 207, proponente da atividade ficava encarregada de mediar
o debate e esclarecer que nem todas as brincadeiras e piadas são engraçadas, podem
ferir, humilhar e diminuir muitas pessoas e são cheias de sentidos, mesmo que não
sejam perceptíveis em uma análise superficial.
Inúmeros argumentos foram suscitados, a saber: os estudantes apontaram que o
trânsito nas médias e grandes cidades está cada vez mais tumultuado, sendo um dos
maiores causadores de mortes e/ou ferimentos atualmente. Muitos citaram exemplos
vivenciados por eles ou por pessoas próximas. A turma, então, mediou o debate
argumentando que o trânsito, tradicionalmente considerado um espaço masculino, é um
meio onde o comportamento agressivo dos homens, incentivado desde a infância, mais
18
se evidencia. Dado que, as maiores vítimas da violência no trânsito são homens em
idades que variam dos 15 aos 40 anos. Em contrapartida, as mulheres estão cada vez
mais se tornando motoristas, seja de automóveis, de motocicletas e até mesmo
caminhões e ônibus. À vista dessas considerações, pode-se concluir que na frase
destacada, está incutido um profundo contrassenso, uma vez que na prática a ideia não
se sustenta.
Em relação à segunda frase muitos meninos disseram usar camisetas nos tons de
rosa e consideram que isto não afeta a sua masculinidade. Em contrapartida admitem
que considerariam estranho ver um bebê do sexo masculino vestido com um “tip top”
cor-de-rosa.
Reflexões acerca da emotividade masculina e feminina encaminharam-se para o
entendimento de que a sensibilidade, a ternura, a compaixão, não são simplesmente
fragilidades que devam ser ocultadas ou negadas, entendidas enquanto geradoras de
deméritos para os meninos. Do mesmo modo, não devem ser consideradas como
inerentes a uma pretensa conduta feminina, uma vez que são, na verdade, sentimentos
intrínsecos a todos os seres humanos e cada um, portanto, deve ter assegurado o direito
de experienciá-los e demonstrá-los, livre de julgamentos hostis e intolerantes.
O conteúdo contido na frase “Mulher que usa roupa curta e provocante está
pedindo...” foi com certeza, um dos mais polêmicos e as ponderações tomaram boa
parte do tempo. Inúmeras opiniões favoráveis à ideia foram trazidas à tona, tanto por
parte dos meninos quanto por parte das próprias meninas, o que evidencia quão
grandemente a ideologia machista está introjetada em muitas mulheres. Em decorrência
disto, elas não se percebem enquanto companheiras, e sim como concorrentes, como
rivais. Acreditamos que a “lógica” seja a seguinte: uma vez que uma mulher vestida
com roupas curtas e/ou justas chama a atenção do meu namorado ou esposo, é razoável
que ela seja agredida verbal, física ou sexualmente por um homem.
Além disso, muitos meninos relataram que quando estão juntos das suas
namoradas, ficam mais tranquilos quanto às roupas que elas estão vestindo, mas já
quando elas estão sozinhas eles não gostam que elas usem roupas curtas, porque têm
medo do que elas possam sofrer. Nesse argumento, está incutida a ideia de que mulheres
não sabem ou não podem se defender sozinhas, precisando sempre da figura masculina
por perto. Outra ideia presente é o domínio do corpo feminino, ou seja, o namorado
determina ou, pelo menos, influencia na escolha da vestimenta da namorada e, também,
no trânsito desta pelos espaços públicos.
19
A discussão prosseguiu e conseguimos encaminhá-la para questionamentos do
tipo: porque consideramos natural um homem andar sem camisa, seja em casa ou até
mesmo na rua, ao passo que uma mulher vestida com trajes curtos é provocativo e em
alguns casos até mesmo ofensivo? Quais comportamentos avaliamos como agressivos e
violentos: da mulher vestida com roupas curtas ou do homem que violenta verbal, física
e sexualmente esta mulher? E quais motivos nos levam a estas avaliações?
Em relação à afirmativa “Meninos não sabem cuidar de bebê. Meninas já
nascem sabendo” o diálogo pautou a questão de que a assertiva colabora com as
sobrecargas de trabalho a que muitas mulheres estão submetidas. Isso porque pressupõe
a ideia de que não adianta que os homens nem ao menos tentem trocar a fralda do bebê,
preparar a mamadeira, dar banho, pois eles não levam jeito, então vão fazer mal feito e
colocar em risco a saúde e o bem-estar da criança. Dessa forma, como para a mulher é
“natural” desempenhar estas atribuições, ocorre que aquelas que trabalham fora, quando
voltam pra casa, devem cuidar das crianças, da limpeza da casa e das refeições do
marido, enquanto este descansa assistindo TV.
Também foi ponderado que a ideia pode justificar o abandono das mulheres por
parte dos namorados quando estas descobrem estar grávidas, deixando para a mãe toda a
responsabilidade da gestação e do futuro da criança, acarretando que quando as meninas
estão em idade escolar, muitas acabam se afastando da escola, ou dificultando o acesso
ou a permanência no mercado de trabalho.
Conseguimos, outrossim, argumentar que a concepção de que existem papeis
pré-definidos para mulheres e homens, parte de um raciocínio de que alguns
comportamentos são naturais de cada sexo e, portanto, não serão aprendidos pelo sexo
contrário. Contudo, elucidamos que não existem “comportamentos naturais”. Na
verdade somos ensinados desde muito cedo a nos comportarmos de maneiras
determinadas pelos pais e pela sociedade, naquilo que eles consideram típico e aceitável
para um menino e para uma menina. Por conseguinte, deixamos de aprender várias
tarefas e passamos a acreditar na ideia, sem questioná-la.
“Futebol é esporte de menino e vôlei é de menina”, aproveitamos a discussão
anterior para evidenciar que as duas frases partem do mesmo raciocínio, de que existem
tarefas, funções, habilidades próprias a cada sexo. Por esse motivo, quando um menino
demonstra competência e gosto na execução de tarefas consideradas femininas, é
rotulado de gay, sendo apelidado de “bicha”, “veado”. O mesmo acontece com meninas
que se interessam por “atividades de meninos”. Foi possível, por fim, estabelecer
20
relação entre esta última ideia com o conceito de que meninos não devem expressar seus
sentimentos e fragilidades, pois é também uma noção de que existem comportamentos
adequados e intrínsecos a cada sexo. Isto é, as frases partem de lugares comuns e
buscam conservar estereótipos e privilégios de alguns grupos sobre outros, no caso, dos
homens sobre as mulheres. Uma vez que,
É indispensável que reconheçamos que a escola não apenas reproduz ou
reflete as concepções de gênero e sexualidade que circulam na sociedade,
mas que ela própria as produz, podemos estender as análises de Foucault, que
demonstraram o quanto as escolas ocidentais se ocuparam de tais questões
desde seus primeiros tempos, aos cotidianos escolares atuais, nos quais
podemos perceber o quanto e como se está tratando (e constituindo) as
sexualidades dos sujeitos. Essa presença da sexualidade independe da
intenção manifesta ou dos discursos explícitos, da existência ou não de uma
disciplina de "educação sexual", da inclusão ou não desses assuntos nos
regimentos escolares. A sexualidade está na escola porque ela faz parte dos
sujeitos, ela não é algo que possa ser desligado ou algo do qual alguém possa
se "despir" (LOURO, 2001, p.80-81)
Pautamos também a participação das mulheres nas olimpíadas, lembrando que
era proibida sua participação nos Jogos Olímpicos da era moderna e foi de forma
gradativa que as atletas se inseriram. Mesmo assim, as esportistas foram obrigadas em
1968, nos Jogos sediados na Cidade do México, a se submeter a constrangedores testes
cromossômicos para comprovar seu sexo. Quando comprovado o sexo feminino, as
atletas recebiam uma carteira cor-de-rosa. Os testes duraram desde 1968 até 2000. Ou
seja, foi muito difícil a inserção das mulheres no mundo dos esportes, uma história
atravessada por críticas, questionamentos e humilhações. Mas espaços foram ocupados
através de resistência e luta, portanto devem ser respeitados e assegurados, pois há
outros ainda a se conquistar.
A atividade como um todo foi bastante produtiva, dado que foi possível perceber
as crenças e princípios de boa parte do alunado do turno noturno, dado que, eles tiveram
espaço para expressar suas ideias e dúvidas. Mais que isso, a mediação do debate
realizada pela turma 207, demonstrou que as discussões geradas ao longo do ano com os
textos selecionados, com os filmes e documentários assistidos e com as produções
textuais por eles criadas foram significativas. A turma comunicou de forma clara que
aqueles domínios e competências aparentemente naturais não passam de construções
sociais e históricas. Portanto, podem e devem ser desnaturalizados, reconsiderados e
desfeitos aspirando assim, uma sociedade menos desigual, onde os sujeitos possam
desempenhar papeis de acordo com seus desejos e aptidões.
21
Resultados e Discussões
Problematizar a igualdade de gênero, o combate ao sexismo, à homofobia, assim
como o racismo nas escolas, mesmo nos dias de hoje não é uma tarefa fácil. Muitos são
os obstáculos que encontramos, seja a resistência dos estudantes, seja a relutância dos
próprios colegas, professores/as.
A esmagadora maioria dos/as educadores/as no Brasil é composta por mulheres,
contudo, o tema da construção da igualdade entre os gêneros, pouco ou nada é pautada
nas nossas escolas. Seja porque os educadores/as pensem que as discriminações não
existam mais de forma sistemática, seja porque compartilham dos ideais sexistas, ou até
mesmo por não saberem conduzir um trabalho guiado naquela perspectiva. Ocorre então
que, quando um educador/a defende e coloca em prática um trabalho nesses termos,
muitas vezes faz uma empreitada solitária, quiçá com o apoio e participação dos colegas
da sua área do conhecimento.
À vista disso, é urgente e imprescindível que o tema adentre as reuniões
pedagógicas continuamente, trazendo questionamentos para o corpo docente, para que
este
passe
a
duvidar
de
suas
convicções,
desnaturalizar
comportamentos
discriminatórios e saber identificar no alunado, comportamentos preconceituosos, bem
como posturas críticas, de resistência e dispostas a construir uma sociedade calcada em
princípios de igualdade, justiça e solidariedade.
Cabe destacar que a escola desempenha um papel importante na construção
das identidades de gênero e das identidades sexuais, pois, como parte de uma
sociedade que discrimina, ela produz e reproduz desigualdades de gênero,
raça, etnia, bem como se constitui em um espaço generificado (LOURO,
1997).
Fazem-se necessários também cursos de formação, atualização, capacitação
docente, para instrumentalizar nossos educadores/as. Desta maneira, os educadores/as
poderão também, analisar de forma mais criteriosa os materiais didáticos
disponibilizados para a escola, como os livros didáticos.
Acreditamos na importância do trabalho com o tema da equidade de gênero para
a desconstrução de práticas escolares há muito reproduzidas e ainda demasiado
presentes nos nossos dias, como a proibição de que meninas usem roupas curtas, justas
ou com transparências; sendo muitas vezes parte do regimento escolar e em
22
contrapartida a ausência do diálogo com os meninos de que independente da roupa que
a mulher estiver usando, ela deve ser respeitada.
São, pois, as práticas rotineiras e comuns, os gestos e as palavras banalizados
que precisam se tornar alvos de atenção renovada, de questionamento e, em
especial, de desconfiança. A tarefa mais urgente talvez seja exatamente essa:
desconfiar do que é tomado como "natural” (LOURO, 1997, p.63).
Logo, a partir da mudança nas práticas educativas e na abordagem de temas caros
ao cotidiano não só escolar, é possível combater os preconceitos de gênero de forma a
refletir, efetivamente, no âmbito das relações sociais.
Conclusões
Concluímos que estamos dando recém os primeiros passos nesta longa
caminhada, mas em dois anos de trabalho podemos dizer que colhemos bons frutos. O
esforço está valendo a pena, pois estamos conseguindo nos comunicar com os
estudantes de forma que nossas intenções estão sendo compreendidas, compartilhadas e
espraiadas pelo ambiente escolar, ultrapassando as paredes da sala de aula. Alguns
alunos/as estão se instrumentalizando no assunto e procurando por outros meios
(internet, livros, revistas, músicas) se aprofundarem no tema e, assim, conhecer mais.
Pensamos e desejamos seguir trabalhando, propondo mais discussões, novas
metodologias, outras atividades e num futuro breve, transformar nossa proposta de
trabalho em um projeto pedagógico para a escola, que abarque alunos, professores,
funcionários e comunidade escolar.
Referências bibliográficas
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em gênero, sexualidade, orientação sexual e relações étnico-raciais. Rio de Janeiro,
2009.
FELIPE, J. Proposta Pedagógica. In: Salto para o futuro. Educação para a igualdade de
gênero. Ano XVIII – Boletim 26 – Novembro de 2008.
LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação. Petrópolis: Vozes, 1997.
____________. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista.
5. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
23
LOURO, G. L. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001.
LOURO, G. L. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2000.
LESSA, P. O sexo a quem compete? In: Revista de História da Biblioteca Nacional,
ano 10, nº 118. Rio de Janeiro: SABIN, setembro de 2014, p. 52-55.
ROCHA, R. Faca Sem Ponta, Galinha Sem Pé. 1. ed. Salamandra, 2009.
24
EXPRESSÃO E IDENTIDADE DE GÊNERO, E ORIENTAÇÕES
SEXUAIS: CONTRIBUIÇÕES DE UMA OFICINA DO PIBID DA
HISTÓRIA DA UFSM
Eduardo Alberto De Almeida 3
Resumo: Realizar uma oficina do PIBID sobre expressão, identidades de gênero e orientações sexuais é
um desafio diante da sociedade em que vivemos. Mas a grande importância de se trabalhar esses temas
nos motivou e se tornou nosso objetivo: diminuir o preconceito e a intolerância em relação às
diversidades através de conhecimento básico sobre eles. Realizamos a atividade com os Anos Finais do
Ensino Fundamental e essa foi muito bem recebida pelos estudantes que participaram e aprovaram nossa
oficina. A metodologia utilizada foi a expositivo-participativa, através da realização de uma discussão
conceitual no início, seguida de uma atividade lúdica sobre palavras preconceituosas e finalizada com
vídeos de assuntos sobre transexualidade e LGBTfobia. Em nossa discussão conceitual trabalhamos com
a diferenciação e conceptualização do que são expressão e identidade de gênero, orientação sexual e o que
compõe cada grupo. Assim, os estudantes conseguiram perceber e entender o que significa cada
denominação que está cada vez mais presente nas mídias.
Palavras-chave: PIBID; Intolerância; LGBT.
O dia a dia da profissão de educador é permeado por problemas e conflitos de
ideias com os alunos, pais e colegas. A escola sendo um reflexo da sociedade é
carregada de diversidades e pensamentos. E, por isso, essa instituição muitas vezes
propaga a intolerância e preconceitos vividos na comunidade, e os professores nem
sempre conseguem trabalhar os temas transversais, devido ao tempo e quantidade de
conteúdos curriculares a ser trabalhados. O PIBID é uma oportunidade para trabalhar
também esses conteúdos atitudinais, que fazem parte do currículo oculto, uma vez que,
em geral, não são abordados de forma explícita na prática pedagógica. Foi a partir disso,
que a oficina sobre expressões, identidades e sexualidades nasceu. Com o apoio da
escola, direção, supervisão e PIBID, planejamos e executamos a atividade em sala de
aula a fim de que os alunos aprimorar a forma de tratar seus colegas e qualificar o
convívio com a diversidade da sociedade.
Esse texto irá tratar de uma oficina realizada pelo PIBID UFSM do Curso de
História com turmas dos Anos Finais do Ensino Fundamental. Nossa atividade tinha por
3
Graduado em História Licenciatura Plena e Bacharelado pela Universidade Federal de Santa Maria
(2017). Foi bolsista PIBID de março de 2014 a dezembro de 2017.
25
objetivo tratar sobre discussões e conhecimentos a cerca do movimento LGBT+ a fim
de tentar diminuir a intolerância e o preconceito.
A atividade iniciou com uma conversa sobre as diferenças e significados de
expressão de gênero, identidade de gênero, sexo biológico, orientação sexual com a
exemplificação de todos esses. As discussões que levamos se baseou em pesquisas e
leituras que realizamos até o momento, sempre nos atualizando para conseguir abordar
de maneira mais justa todas as diversidades da forma mais abrangente possível.
Os estudos e discussões a respeito das identidades de gênero são recentes. A
partir da percepção que o termo gênero não estava abrangendo muitas outras expressões
de identidades, foi criada uma nova categoria de estudos, pois existem diversas formas
de gênero além do binário masculino e feminino, como por exemplo, as travestis e os
queer.
Tradicionalmente, os estudos de gênero no campo da Antropologia abordavam,
em geral, a dominação/submissão culturalmente da mulher ao homem. Embora o
conceito de gênero seja complexo, existe a consciência da multiplicidade de discursos,
produtos de cultura, acerca do que seja ser homem e mulher. A construção sociocultural
de gênero se configurou de forma binaria, o masculino e o feminino. Esta forma de
construção advém de um suposto determinismo biológico, macho e fêmea. Sobre o
conceito de gênero:
O conceito de gênero se coloca em contraposição a concepções
essencialistas, naturalizantes, presas a distinções de caráter biológico, que
obscurecem as razões sociais e históricas das diferenças e desigualdades entre
homens e mulheres. Em outras palavras, expressa “uma rejeição a um
determinismo biológico implícito no uso de termos como sexo ou diferença
sexual”, ao trazer à tona o caráter fundamentalmente social das distinções
baseadas em tais conceitos (SCOTT, 1995 e DE LAURETIS: 1986).
Gênero, portanto, refere-se a construções sociais, históricas, culturais e políticas
que dizem respeito a disputas materiais e simbólicas que envolvem processos de
configuração de identidades, definições de papeis e funções sociais, construções e
desconstruções de representações e imagens. Diferentes distribuições de recursos e de
poder e estabelecimento e alteração de hierarquias entre o qual o homem está acima das
mulheres.
Todavia, para abranger pessoas que não estavam inseridas corretamente no
debate de gênero, surgiu uma nova determinação, a identidade de gênero. Esta está
relacionada com uma identidade psicossocial que assenta nos valores, comportamentos
26
e atitudes que a sociedade considera apropriados em função do sexo biológico, mas que
também incide muitas vezes sobre o corpo, uma vez que mexe com as gestualidades e
toda a simbologia presente nas várias formas de ver e mostrar o corpo. Identidade
refere-se, de maneira geral, a um conjunto de aspectos individuais que caracteriza o
indivíduo, estando ligada diretamente a forma que a pessoa se percebe, tanto individual
quanto socialmente. Ou seja,
Identidade de Gênero consiste no modo como determinado indivíduo se
identifica na sociedade, com base no papel social do gênero e no sentimento
individual de identidade da pessoa. O conceito da identidade de gênero não
está relacionado com os fatores biológicos, mas sim com a identificação do
indivíduo com determinado gênero. (SCOTT, 1995 e DE LAURETIS: 1986).
A identidade de gênero é baseada no sentido individual; é através da
identificação da pessoa com o gênero que melhor representa seus sentimentos. Essa
representação não está ligada ao sexo biológico, mas sim a identificações pessoais e
sociais que o indivíduo possui e quer ser identificado pelos demais. Este conceito de
identidade de gênero é muitas vezes misturado com orientações sexuais, e, embora
ambas estejam entrelaçadas elas possuem diferenças como já elencado.
De uma maneira mais geral e simplificada podemos dizer que sexo ou identidade
sexual refere-se às características específicas e biológicas dos aparelhos reprodutores, a
questão do macho e fêmea. Gênero é uma questão sociocultural, o fator transformador
que a sociedade criou para construir o homem e a mulher conforme sua identidade
sexual, e assim atribuir-lhes as relações de gêneros, ou seja, as funções que cada um
possui na sociedade, sempre seguindo a heteronormativa machista. E a identidade de
gênero, também é uma construção social, mas que abrange para além do masculino e
feminino e permite que a pessoa se autoidentifique conforme o gênero que melhor a
represente.
O debate sobre identidade de gênero por ser recente, ainda é amplo e
incompleto, embora já existam muitos gêneros elencados, alguns ainda estão sendo
debatidos e pesquisados, possivelmente novos serão acrescentados para o grupo. Por
hora, vamos trabalhar com os principais existentes e que já foram e estão sendo
estudados.
Masculino: é a identidade de uma pessoa cis ou transgênero que se identifica
como masculino.
27
Feminino: indivíduo que se identifica com o gênero feminino, seja uma pessoa cis
ou transgênero.
Transgênero: antes de conceituar o que é transgênero, tratemos da diferença entre
cisgênero e transgênero. Cisgênero ou Cis são as pessoas que se identifica com o gênero
que lhes foi atribuído ao nascimento. E as pessoas transgênero são as pessoas que não se
identificam com o gênero atribuído ao nascimento, ou seja, são sujeitos que com o seu
desenvolvimento se percebem pertencer a outro gênero. Por exemplo, uma criança que
nasceu como menino biologicamente, mas se identifica como menina. Nota-se que
estamos nos referindo como transgênero e não transexual, pois entendemos que essa
identidade vai além do sexo biológico. A sua não aceitação não é apenas do órgão
sexual ou física, mas também com as relações de gênero atribuídas ao gênero com o
qual nasceram e com o qual se identificam.
Uma mulher transgênero não possui apenas uma aversão ao pênis com o qual
nasceu, mas ela deseja as relações de gênero que ser mulher lhe atribui. Ainda hoje, essa
identidade possui CID (Código Internacional de Doenças), e é classificada como
transversos. Por um lado, alguns pesquisadores acham positivos, pois graças ao CID, é
possível realizar a cirurgia de readequação sexual, por outro lado é muito negativo, pois
há muito tempo que já se foi discutido e comprovado de que não é uma doença e se trata
apenas de uma identidade de gênero diferente da binária cisgênero.
Devemos salientar o fato de que os indivíduos com essa identidade sofrem muito
preconceito da sociedade, e que devido sua condição são muitas vezes jogados ao
ostracismo, são pré-julgados e não conseguem trabalhos formais e frequentar escola e
universidades devido ao preconceito e ao medo. Grande parte acaba indo para a
prostituição, indústria da beleza ou moda, e poucos conseguem chegar às expressões
artísticas. Sendo assim, grande parte não realiza seus sonhos e desejos e para prover o
sustento, atuam em empregos que melhor aceitam sua identidade.
Travestilidade: essa identidade ainda está sendo muito estudada, e até o momento
o significado do conceito é o que apresentamos, definição essa sujeita a mudanças. Pois,
O termo ‘travesti’ deriva do verbo ‘transvestir’, que pode ter o sentido de
vestir roupas do sexo oposto (ou cross-dress, em inglês). Porém, as travestis
não se caracterizam apenas por usar roupas de mulher. A principal
característica das travestis é que elas adotam nomes femininos, roupas
femininas, penteados e maquiagem femininos, pronomes de tratamento
femininos, além de consumirem grande quantidade de hormônios femininos e
pagarem para que outras travestis injetem até vinte litros de silicone
industrial em seus corpos, com o objetivo de adquirir aparência física
feminina, com seios, quadris largos, coxas grossas e, o mais importante,
28
bundas grandes. A despeito de todas essas transformações, muitas das quais
irreversíveis, as travestis não se definem como mulheres. Isto é, apesar de
viverem o tempo todo vestidas como mulher, referindo-se umas às outras por
nomes femininos, e sofrendo dores atrozes para adquirir formas femininas, as
travestis não desejam extrair o pênis e não pensam em ‘ser’ mulher. Elas não
são transexuais. (KULICK, 2008, p. 21-2).
O que se percebe a partir disso é que a diferença entre travesti e transgênero é a
sua questão com o órgão sexual; as mulheres trans não se identificam com o pênis e
anseiam fazer a readequação genital; já à travesti mesmo realizando as mudanças
corporais para se tornar uma mulher e com a relação de gênero feminina, aceitam seu
órgão sexual e desejam mantê-lo, pois se identificam com o mesmo. Travestilidade é
muito além de apenas se vestir como mulher, é uma identidade de gênero que se
identifica com o feminino, e se difere no sexo biológico.
E assim como as transgênero, as travestis também sofrem muito preconceito.
Possuem poucas oportunidades de emprego e a evasão escolar é motivada por
intolerância, direcionando muitas delas para a prostituição e a vida de crimes.
Queer: é uma identidade de gênero que brinca com o binarismo. Uma pessoa
queer pode ser simultaneamente homem e mulher, no sentido de andróginas. Ou pode
ser o contrário, nem homem e nem mulher, no sentido agênero. Ou podem ser pessoas
que se movem entre duas ou mais identidades. Essa identidade de gênero é recente, e
ainda está sendo muito estudada e existem poucos textos a respeito dela, contudo, sabese que é um gênero não binário e, além disso, é uma identidade que pode transitar entre
as outras, ser duas ao mesmo tempo. O maior exemplo é a androginia.
Agênero: são pessoas que não se identificam com nenhum gênero específico e que
podem transitar por qualquer identidade ou expressão de gênero sem o sentimento de
pertencimento. Também é possível transitarem e expressarem duas ou mais identidades
ao mesmo tempo.
Um assunto importante relacionado à identidade de gênero, que se configura
numa extensão dela, as expressões de gênero, corresponde às formas pelas quais
expressamos nossas identidades. A expressão acontece através da roupa que usamos no
dia a dia, no estilo do cabelo, nossa cultura. Mas separemos as expressões de gênero das
identidades de gênero para tratar de três grupos muito importantes, que não são
identidades, mas são formas de expressar um gênero como uma forma de homenagem,
geralmente usado para shows performáticos ou por simplesmente se sentir satisfeito.
Drag Queen: são pessoas que possuem a identidade de gênero masculina, mas que
se vestem como mulher para fazer shows performáticos ou simplesmente por gostar e
29
sentir satisfeitos. Geralmente é por apenas algumas horas e em alguns dias, e também
por não se sentir transgênero ou travesti, que drag queen é apenas uma expressão de
gênero e não identidade. Geralmente, as drag queen são homossexuais homens que se
vestem de mulher para sair em festas, shows, entre outros motivos.
Drag King: são pessoas que se identificam com o gênero feminino, mas que
gostam de expressar o gênero masculino esporadicamente com o intuito de atuar em
shows performáticos ou por prazer pessoal. São mulheres que se vestem de homem por
gostarem de expressar esse gênero. São geralmente mulheres lésbicas que gostam de se
vestir de homem para sair, fazer shows, entre outras razões.
Cross-dressing: são homens cisgênero, homossexuais, heterossexuais ou
bissexuais que gostam de usar uma peça de roupa feminina. O que difere das drag queen
é que eles não se consideram femininos quando estão usando as peças de roupa, já as
drag queen se consideram femininas quando estão “montadas”, ou seja, elas consideram
expressar o gênero feminino; já os cross-dressing apenas gostam de usar a peça de
roupa, e não consideram uma expressão de gênero.
Acerca do sexo biológico, esse se refere ao órgão sexual com o qual nascemos,
onde podemos nos identificar ou não com ele. Existindo então o masculino, o feminino
e o intersexual.
Intersexuais: é o grupo de pessoas que já nascem biologicamente com
características andróginas; os chamados andróginos forçados. Por exemplo, uma mulher
que nasceu com características físicas mais masculinas, ou um homem que nasceu com
traços femininos são intersexuais, se assim se identificarem. Ou também as pessoas que
nasceram com os dois sistemas sexuais, masculino/feminino, onde um ou os dois podem
ser incompletos.
A diferença entre identidade de gênero e orientação sexual, é que as identidades
estão relacionadas ao que a pessoa se identifica como sujeito, independente do órgão
sexual. Já a orientação sexual está relacionada ao desejo sexual, à atração que a pessoa
sente. A orientação é a atração afetiva e ou sexual que uma pessoa manifesta em relação
à outra, para quem se direciona tudo isso involuntariamente, já que se trata do desejo.
Portanto,
A orientação sexual é uma atração espontânea e não influenciável que
só pode ser conhecida plenamente pelo individuo que a vivencia. É, portanto,
um equívoco dizer que se trata de uma opção sexual, pois não depende de
escolhas conscientes nem pode ser aprendida. A literatura cientifica costuma
30
afirmar que são múltiplos os aspectos – psicológicos, sociais, culturais e até
alguma participação de fatores genéticos – que intervêm na formação da
orientação sexual. O mais importante é que a encaremos como uma íntima
manifestação da pessoa, e que precisa ser respeitada como um direito
inalienável: toda pessoa pode se relacionar com qualquer outra, erótica e
afetivamente, livre de qualquer constrangimento, com autonomia para
reconhecer e exercer os próprios desejos em liberdade e dignidade.
(ADRIÃO, 2010, p. 17).
A orientação sexual pode não ter uma comprovação correta se a pessoa
nasce ou não com determinada orientação. O que é certo é que ela é involuntária e o
desejo ocorre sem controle nenhum. Ninguém deve julgar e agir de forma
preconceituosa, as pessoas precisam entender e tolerar e respeitar as diversidades que
existem. Não existe uma opção sexual, existe uma orientação, a única escolha que a
pessoa pode fazer é seguir ou não o seu desejo, mas corre o risco de ser infeliz e
insatisfeito durante toda a vida.
Existem muitas teorias a respeito da formação da orientação genética, como por
exemplo, a ocorrência por fatores genéticos, biológicos, químicos, hormonais, sociais,
psicológicos e culturais. Os pesquisadores do assunto acreditam que a pessoa já nasça
com determinada orientação por experiências próprias e ou de familiares. Mais uma vez
salienta-se a diferença entre a orientação sexual e a identidade de gênero, embora elas
estejam relacionadas a primeira que envolve o desejo, a atração por um sujeito de
determinada identidade de gênero, e a segunda envolve como determinada pessoa se
identifica.
Heterossexual: é a pessoa que sente atração pelo sexo oposto. Exemplos: um
homem que sente atração por uma mulher; uma travesti que sente desejo por um
homem; uma mulher transgênero que sente atração por um homem queer.
Homossexual/Lésbica/Gay: sujeito que sente desejo por uma pessoa da mesma
identidade de gênero. Exemplos: um homem que sente atração por outro homem; uma
travesti que sente desejo por outra travesti; um homem transgênero que sente atração
por outro homem.
Bissexual: é a pessoa que sente atração por duas identidades de gênero, igual à
dele e outra oposta. Exemplos: um homem que sente atração por outro homem e
mulher; uma travesti que sente atração por outra travesti ou por um homem transgênero.
Pansexual: é o sujeito que sente atração por qualquer pessoa, independente do
gênero. Exemplo: uma mulher que sente desejo por um homem, uma travesti, um queer,
uma mulher transgênero e ou um intersex.
31
Assexuais: é uma pessoa que não sente atração ou desejo por nenhuma pessoa,
independente do gênero. Claro que esse grupo é mais complexo, e os estudos
aprofundados são ainda mais recentes. Existem vários tipos de assexuais, existem os
que se relacionam com uma pessoa independente do gênero por gostar dela, pois os
assexuais possuem sentimento, sente o amor, eles só não sentem desejo sexual. Eles se
relacionam com pessoas, namoram, casam. Existem assexuais que sentem desejo sexual
somente pela pessoa que amam depois de um determinado tempo, já outros não sentem
nunca esse desejo. Eles podem fazer sexo se eles desejarem, mesmo sem sentir atração,
e muitos fazem isso para agradar os parceiros muitas vezes.
Enfim, de todos os grupos da diversidade sexual, este é sem duvidas o que mais
gera perguntas e o que menos possui respostas por ter se tornado objeto de pesquisa
muito recentemente. Espera-se que em breve novos estudos sejam feitos para se
conhecer ainda mais e compreender a realidade desse grupo.
Após essa discussão teórica realizada com os alunos, realizamos uma atividade
lúdica, em que numa caixa foram colocadas várias frases e palavras usadas no dia a dia
pelas pessoas como xingamentos e ofensas e que são LGBTfóbicas, demonstrando
como no Brasil o preconceito é muitas vezes velado e como ele é aprendido no
cotidiano através da violência e ódio. Usamos palavras como “bicha”, “viado”,
“traveco”, “sapatão”, entre outras que são usadas para rebaixar as pessoas e carregam
ódio e preconceito que são perpetuados socialmente e causam dor e sofrimento para as
pessoas LGBT+.
A atividade se desenvolveu do seguinte modo: os alunos pegaram esses bilhetes
que estavam na caixa, leram em voz alta, e em seguida foi explicado o porquê dessa
palavra não poder ser usada como xingamento e o que ela causava às pessoas LGBT+ e
a quem as profere.
Por fim, para encerrar a atividade foram exibidos três vídeos. Primeiramente
vídeo do Dr. Dráuzio Varella sobre a homossexualidade; depois foi apresentada a
gravação de uma reportagem do Fantástico da Rede Globo sobre uma criança transexual
dos Estados Unidos, o Coy e sua vida e lutas por seus direitos. Por último foi exibido o
vídeo de outra reportagem do Fantástico, dessa vez sobre a homofobia e o ódio contra
os LGBT+, em que foram exibidos vários relatos de ataques e entrevistas com as
vítimas. Nessa reportagem foram apontados os números da violência contra essa parte
social no Brasil e a importância de existir uma lei de proteção a esse segmento social.
32
No Brasil, a cada 28 horas um LGBT+ é morto brutalmente; esse número é gerado
apenas das ocorrências registradas por preconceito, muitos outros crimes devem ocorrer
dessa natureza e os números de mortos devem ser maiores. O ódio e a LGBTfobia são
muito presentes na sociedade brasileira, todos os dias, desde o preconceito velado das
piadas, até os mais brutais e violentos.
Essa é a importância de se trabalhar esses temas nas escolas, pois essas são
extensão da sociedade. Ao levar o conhecimento da diversidade existem grandes
chances dos estudantes iniciarem uma mudança social e diminuir o ódio e o preconceito.
Nossa atividade foi bem aceita pelos estudantes e pela Escola. Os educandos
participaram da atividade de forma bem positiva, com curiosidade, questionamentos e
comentários sobre suas vivências. A atividade promoveu uma visão diferente da vivida
no dia a dia da sociedade carregada de preconceito para que os estudantes não
continuem perpetuando as intolerâncias, principalmente no ambiente escolar.
Portanto, reitera-se que a diversidade deve ser respeitada por todos e a escola é o
lugar ideal para incentivar uma conduta que prime pelo respeito, a partir do
conhecimento dessas diferenças e do trabalho com os conteúdos atitudinais.
Referências Bibliográficas
ADRIÃO, Maria. Desafios da escola contemporânea: aids, sexualidades, relações
raciais e gênero. GAPA Bahia, Salvador, 2005.
DE LAURETIS, Teresa (Ed.). Feminist Studies/Critical Studies. Bloomington and
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Editora FioCruz, 2008.
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___________. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Educação &
Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2, jul./dez. 1995, pp. 71-99.
33
34
RELAÇÕES ÉTNICO – RACIAIS NA HISTORIA DO BRASIL: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Helen da Silva Silveira4
Resumo: O presente artigo relata uma experiência de atividade desenvolvida em sala de aula através do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) na EBE DR Escola Paulo Devanier
Lauda no ano letivo de 2016. A atividade tratava das moradias e elementos culturais como musica e
dança dos subalternos do Brasil Republicano e foi desenvolvida com uma turma de 2º ano do Ensino
Médio, com a supervisão da professora Bianca Alves Madruga e em parceria com os colegas André
Haiske e Luciano Souza. O objetivo da intervenção era entender como as populações negras utilizaram de
sua cultura para denunciarem a marginalização e perseguição que sofriam. Para a realização deste
exercício foram utilizadas a maquete d’O Cortiço, o livro O Cortiço de Álvares de Azevedo que serviram
de base para explicar onde se desenvolvia esta cultura, letras de musica e também recursos didáticos
digitais disponibilizados pela instituição. Com isso buscou-se demonstrar que o destino dos negros e
negras do Brasil vai além da escravidão.
Palavras-chave: Moradia; literatura; Pós-Abolição; PIBID.
Introdução
As populações negras e indígenas são vitimas históricas de perseguição e
exclusão, e a República não tinha o intuito de reparar séculos de exploração, muito pelo
contrário. Os projetos de urbanização da Primeira República jogaram estes
marginalizados da história, para as margens das cidades obrigando-os a habitarem
morros e zonas periféricas que não ofereciam condições dignas de moradia.
Nos postos de trabalho da crescente indústria o imigrante ou o branco nativo era
priorizado. Já o negro que era preterido, que via no trabalho informal muitas vezes a
única alternativa para sobrevivência.
Sua música, arte e religião foram perseguidas pelo Estado que condenava a sua
prática como crime de vadiagem levando muitas dessas pessoas para a cadeia. Para o
governo e classes dirigentes a manifestação cultural negra remetia a algo que deveria
ficar no passado, junto com os próprios negros que eram vistos como motivo de atraso e
perturbação da ordem civilizada que o país pretendia construir.
Por isso, além de pessoas o país também importou ideias, dentre elas as teorias
raciais que classificava os seres humanos em diferentes raças e as atribuía diferentes
capacidades e características mentais e psicológicas, tentando, desta forma, determinar
4
Graduada em História Licenciatura Plena e Bacharelado pela Universidade Federal de Santa Maria
(2017). Membro do Grupo de Estudos sobre o Pós-Abolição – GEPA. Foi bolsista PIBID de março de
2014 a dezembro de 2017.
35
como cada sujeito agiria e, para isso, cientificizava antigas crenças. Estas ideias irão
aportar em terras brasileiras e receberiam um toque de tempero dos nossos preconceitos.
Baseado em seu passado, muitos teóricos raciais diziam que havia poucos caminhos
para o Brasil não cair numa degradação total, para eles a população negra tinha uma
grande propensão para a libertinagem e a falta de controle moral era, portanto, preciso
monitorá-los bem de perto e apagar suas heranças culturais da história do país. A
população indígena era deixada no passado idílico como aquele que foi o primeiro
habitante destas terras. Já o contingente branco da população era associado aos
colonizadores e ancestrais das elites brasileiras.
Todo esse cenário empurrou estes excluídos para a vida boemia e alcoolismo
como forma de lidar os problemas. Entretanto, é preciso não perder de vista que estamos
falamos de pessoas e, portanto, não podemos perder de vistas a sua personalidade e no
campo da Historia nós sabemos que onde houve repressão, houve também resistência.E
as formas como estes sujeitos acharam para resistir foram as mais diversas e uma delas
foi justamente através dos elementos que estavam sendo criminalizados como a
capoeira e o samba que era apontado como uma das grandes heranças culturais negra foi
um grande instrumento utilizado por habitantes das favelas para denunciar as condições
de vida em que viviam.
É este complexo cenário do Brasil Republicano que buscamos demonstrar para
os alunos durante a atividade. Para realizar esta missão foram usados diversas
ferramentas que nos deram o suporte didático necessário durante as aulas.
A atividade: Desenvolvimento e Metodologia
A atividade prosseguiu da seguinte forma: na primeira aula foi realizada a
apresentação do planejamento da atividade, em seguida começou-se a expor a maquete
que reproduz a vila de O Cortiço de Aluísio de Azevedo juntamente com o livro, com o
intuito de explicar como se iniciou o processo de expulsão dos pobres e principalmente
negros das zonas centrais da cidade e entender como eles se organizaram nas suas novas
moradias. Na aula seguinte coma ajuda de vídeos abrimos o panorama e colocamos
como correu este mesmo processo em outras áreas do país como Bahia e Rio Grande do
Sul e focando em Santa Maria, expondo como correu a ocupação do bairro Nova Santa
Marta e questionando os alunos a respeito das conexões que esta ocupação tem com a
história nacional e como isso se concatena com a historia nacional.
Finalizada a
primeira parte da atividade partimos para a discussão dos aspectos culturais.Para isso,
36
usamos letras de musicas como rap, samba e vídeos que ilustravam como a prática da
capoeira e religião eram praticadas e criminalizadas.
A maquete é um recurso didático bastante útil, assim como vídeos e imagens de
power point, pois atraem a atenção dos alunos, já que são um elemento que não está
presente na sala de aula todos os dias, ou seja, é algo diferente e se utilizado da maneira
correta pode ser transformar em uma inovação didática. Quem faz da aula algo
tradicional ou inovação é o professor e também a comunidade,
Essa confusão [entre inovação metodológica e inovações técnicas] pode ser
entendida pela força da “tradição escolar”, que influencia sobejamente o
processo de ensino e aprendizagem. As mudanças no ensino de disciplina
consolidada tradição na vida escolar, como acontece no caso da História,
constituem sempre tarefa complexa. A tradição escolar é compartilhada pela
comunidade escolar, incluindo as famílias, e não apenas pelos professores. O
desejo de mudanças para melhor desempenhar o trabalho com os alunos tem
estado presente na história da prática docente, mas é preciso entender que
métodos e conteúdos se constroem historicamente e fazem parte de uma
produção escolar sedimentada e incorporada pela sociedade.
(BITTENCOURT, 2009, p.229).
Neste sentido, o grupo do Pibid que atua na EBE Dr. Paulo Devanier Lauda tem
procurado se entender como parte da comunidade escolar e trabalha no sentido de
apresentar novas tecnologias e com isso trazer aulas diferenciadas. Para fazer da aula de
fato diferenciada buscamos fazer da maquete o elemento principal da aula. Para isso
instigamos os alunos a buscarem nela aquilo que materializava o conteúdo explicado,
como as moradias precárias e ambiente insalubre, além de fazê-los relacionar com as
partes do livro no qual foi baseada a maquete.
37
Fonte: SOARES, A. L. R., ROSA, A. M., VEDOIN, C. B., et al., 2014, p. 65.
Fonte: SOARES, A. L. R., ROSA, A. M., VEDOIN, C. B., et al., 2014, p. 66.
38
A maquete é um objeto que busca reproduzir a realidade na visão do autor que
em sua obra procurou deixar nítido e ser fiel ao cenário marginal do Brasil, assim sendo
ela foi central, já que em muitos momentos é complicadofazer o aluno compreender o
ambiente do passado e prestar atenção na aula ao mesmo tempo, somado ao sem no fato
de que os conteúdos da Historia do Brasil são bastante complexos sendo necessários
ressiginificá-los de forma didática e a maquete foi a forma que encontramos de
reinterpretar.
Para seguir na linha de aulas diferenciadas fizemos dos vídeos o elemento das
aulas também, nestes vídeos trouxemos trechos de novelas que se passavam no
ambiente da época estudada e que, portanto ilustravam aquilo que estávamos querendo
ensinar. Na segunda parte da atividade usamos musicas.Em relação ao uso de musica
Privilegiar a linguagem musical no ensino de História significa construir
conhecimento, por meio de um recurso didático motivador e prazeroso que
envolve larga possibilidade de trato metodológico. Para tanto, faz-se
necessário, principalmente, reconhecer que a música é arte e conhecimento
sociocultural, portanto, uma experiência cotidiana na vida do homem
(DAVID, 2016, p.01).
Neste sentido a musica nas aulas de historia podem ser um incrível, para isso
procuramos trabalhos letras que empolgassem os alunos e também que contivesse em
suas letras elementos culturais do conteúdo tratado. Uma das músicas utilizadas foi o
rap Nego Drama do Grupo Racionais Mc’s cuja letra reproduzimos a seguir alguns
trechos:
Negro drama
Cabelo crespo
E a pele escura
A ferida, a chaga
À procura da cura
(...)
O drama da cadeia e favela
Túmulo, sangue
Sirene, choros e vela
(...)
Periferias, vielas e cortiços
Você deve tá pensando
O que você tem a ver com isso
(...)
Não foi sempre dito
Que preto não tem vez
Então olha o castelo irmão
Foi você quem fez cuzão
(...)
Pesadelo
É um elogio
39
Pra quem vive na guerra
A paz nunca existiu (Racionais Mc’s. Diário de um Detento, 1997).
Neste trecho podemos identificar vários aspectos que compõe a realidade da
população da favela como a forte racialização, ou seja, a maior parte das que habitam
favelas e outras marginais são de um grupo étnico neste caso, negra. É possível sentir o
tom de denúncia da música, mais do que mostrar uma realidade a musica tem a intenção
de chamar a atenção para o descaso para com estas pessoas.
Conclusão
Toda a atividade foi pensada no sentido de construir e circular pelo cenário da
Brasil Republicano, mas circular pelas margens dele. O destino dos negros e negras no
Brasil é constantemente invisibilizado tanto no ambiente escolar, quanto pelas mídias e
restante da sociedade, no entanto, enquanto docentes temos o dever de fornecer ao aluno
acesso a esses conteúdos. É importante ensinar aos discentes sobre os horrores da
escravidão, mas importante mostrar coisas também, já que também são importantes para
compreendermos os cenários de desigualdade social no qual vivemos, ajuda-nos
também a compreendermos a construção cultural do país afinal, grande parte dos
elementos culturais que identificam o Brasil tem uma majoritária origem negra, que os
utilizou e ainda utiliza como forma de resistir e denunciar sua situação além preservar
sua identidade.
Portanto, ensinar música e arte negra para os alunos é também uma forma de
mostrar que marginalizados tem senso estético e musical e podem produzir letras
refinadas de valor poético com isso estamos contribuindo na construção de cidadãos
mais respeitosos. É preciso refletir a respeito de que historia queremos ensinar, para
que possamos refletir sobre que Brasil querer ver no futuro.
Referências bibliográficas
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história. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 67, p. 309-317, set./dez. 2005.
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40
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41
42
HISTÓRIAS DOS POVOS INDÍGENAS: PRÁTICAS EDUCATIVAS
E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Eduardo Perius5
Resumo: O seguinte texto tem como objetivo trazer algumas considerações a respeito do ensino das
Histórias dos Povos Indígenas nas escolas de Educação Básica do Brasil, atentando ao caráter
participativo destes sujeitos no processo histórico, valorizando suas contribuições para a formação da
cultura e sociedade sul-rio-grandense e brasileira. São abordadas algumas problemáticas referentes à
escrita da História, refletindo sobre as transformações ocorridas desde o século XIX, com a criação e
atuação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) até o surgimento da perspectiva da Nova
História Indígena. Essa ganha espaço em discussões acadêmicas a partir da década de 1990, contrapondo
com ideias recentes e possibilitando a consideração dos indígenas como sujeitos atuantes e que resistem,
mantendo suas culturas enquanto elementos tradicionais e defendendo seus direitos. Após as
considerações iniciais, buscar-se-á o debate sobre a importância do ensino da História destes povos nas
escolas, percebendo esta prática como transformadora da sociedade, desconstruindo preconceitos e a
valorizando as diferenças, estabelecendo vínculos com a prática de acadêmicos participantes do PIBID
(Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) em escolas públicas de Santa Maria.
Palavras-chave: Ensino de História, Povos Indígenas, PIBID.
Protagonismo indígena e Ensino de História
Por muito tempo, na historiografia, os povos indígenas estavam relegados ao
status de meros espectadores do processo histórico. Em vários textos acadêmicos de
uma literatura tradicional e, felizmente, superada em diversos aspectos, encontramos
trechos nos quais os indígenas são chamados pelos mais variados adjetivos carregados
de teor pejorativo, atribuindo-lhes um pertencimento a um estado inferior no processo
civilizatório.
Com a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1838, teve
início uma produção mais ampla e sistemática de obras historiográficas, sendo o
Instituto um aparato do Estado na formação de seu nacionalismo. Por se tratar do século
XIX, estas publicações tidas como científicas, com forte presença de parâmetros
positivistas, apresentavam ideias equivocadas a respeito dos povos indígenas e negros,
uma vez que o principal objetivo daquele período era desconsiderar e camuflar a
presença destes grupos na sociedade brasileira. Num período em que o eurocentrismo
estava com força total, o modelo de sociedade a ser construído acabava excluindo e/ou
5
Graduado em História Licenciatura Plena e Bacharelado pela Universidade Federal de Santa Maria
(2017). Foi bolsista PIBID de março de 2014 a fevereiro de 2015, sendo também bolsista PROLICEN –
UFSM. Atualmente é mestrando do Programa de Pós – Graduação em História da UFSM, área de
concentração História Poder e Cultura atuando na linha de pesquisa Memória e Patrimônio.
43
relegando a papel secundário na história brasileira estes grupos considerados
“minoritários”.
Nesse sentido, a organização do IHGB foi um esforço das elites letradas e
políticas na constituição de um passado comum a todos os brasileiros, tendo na chegada
dos portugueses o início da História brasileira. Buscava-se através dos moldes
positivistas, evolucionistas e lineares presentes no pensamento europeu da época, e que
alcançava adeptos no Brasil, formar um ideal de futuro centrado no progresso e na
civilização. Tal meta encontrava desafios, uma vez que o Brasil era formado por
grandes contingentes de escravizados negros provenientes da África e de diversas etnias
indígenas, tidos como responsáveis pelo atraso e pela barbárie de acordo com o juízo da
época. Passou-se então a se utilizar táticas que fossem capazes de invisibilizar e apagar
estes grupos sociais da História, ao menos, era esse o objetivo.
Vários foram os historiadores que escreveram a respeito dos chamados “gentios”
durante o processo de colonização dos ibéricos na América e sobre o período posterior.
Conquistando amplo espaço no meio acadêmico, a historiografia tradicional buscava
servir ao discurso nacional elitista, camuflando a participação dos povos originários,
colocando-os como selvagens e primitivos a fim de tirar a legitimidade de um
movimento que buscava a garantia de direitos, principalmente aquele referente à terra.
Nesta perspectiva, as principais fontes utilizadas eram os escritos dos missionários da
Companhia de Jesus e de alguns membros da Coroa que tiveram participação no
processo de colonização. Este ponto de vista presente nas fontes escritas jesuíticas,
estudado de forma aprofundada por Eni Orlandi em seu livro “Terra à Vista – Discurso
do confronto: Velho e Novo Mundo” aborda de forma bastante incisiva a questão do
silenciamento no discurso. A autora aponta que em muitos casos, além de estereotipar e
defender ideias equivocadas a respeito dos indígenas, estes sequer aparecem.
No caso do discurso da colonização, o sujeito colonizado não pode ocupar
posições discursivas (com seus estatutos e sentidos) que o colonizador ocupa.
Mais do que isso, é a partir das posições do colonizador que são projetadas as
posições possíveis (e impossível) do colonizado. Seu dizer está assim
predeterminado pela posição do colonizador. (ORLANDI, 2008, p.60)
Com base neste discurso do colonizador, a historiografia tradicional se constituiu
e plantou as sementes que germinaram e, mais tarde, produziram frutos amargos
presentes até hoje no senso comum. Esta é responsável pela reprodução de estereótipos
44
que vem de longa data, e legitima ações hostis contra estes povos. A historiografia,
como já mencionado, bebia das ideias positivistas, ao considerar apenas os documentos
ditos oficiais, escritos pelas autoridades colonizadoras. Os pontos de vista dos
indígenas, desta forma, nem eram considerados.
[...] na historiografia brasileira, na qual os índios têm tido participação
inexpressiva: aparecem, grosso modo, como atores coadjuvantes, agindo
sempre em função dos interesses alheios. [...]. Integradas a colonização, as
populações indígenas perdiam, junto com a guerra, suas culturas, identidades
étnicas e todas possibilidades de resistência [...] foram absorvidos pelo
sistema colonial como vítimas indefesas, aculturaram-se, deixaram de ser
índios e saíram da história. (ALMEIDA, 2003, p. 27)
Autores como Jorge Salis Goulart e Emílio de Souza Docca contribuíram para
difundir e concretizar este pensamento que tinha como base o preconceito. Atribuindo
características negativas aos indígenas, estes, constantemente mencionavam termos
como indolentes e selvagens (referendando a ideia dos “sem fé, sem lei, sem rei) para
descrever atos que muitas vezes representavam a resistência e a busca por melhores
condições de vida e de manutenção dos modos de ser de cada uma destas etnias. Goulart
(1985) ao tratar da formação da sociedade sul-rio-grandense escreve que “ao índio, se
deparava um meio de vida completamente adequado à sua índole ativa e indolente”
(GOULART, 1985, p.178), assim como, “o elemento aborígene é entre nós inferior ao
do extremo norte [...]” (GOULART, 1985, p.177-178), afirmação esta, tida como
fundamento para a defesa de um Rio Grande do Sul supostamente superior aos demais
estados brasileiros, uma vez que a “raça” branca representava maioria em relação à
negra e indígena.
Emílio de Souza Docca também seguia a mesma perspectiva historiográfica,
porém, no século XX. Ao descrever os Tapes, o autor faz os caracteriza com
“temperamento dócil e por isso se submeteram com facilidade à catequese dos jesuítas e
foram dos habitantes primitivos do Rio Grande do Sul, os primeiros que saíram, em sua
totalidade, do estado selvagem” (DOCCA, 1954, p.71). Percebe-se neste trecho, que
além de buscar infamar os povos originários, também era prática recorrente consideralos como indivíduos assimilados pela sociedade branca. Os indígenas submissos passam
do estado selvagem para o civilizado, sendo o padrão europeu o centro do
desenvolvimento cultural, econômico e político, o exemplo a ser seguido pelos demais.
Da mesma forma, é atribuído ao branco o caráter benevolente, ao auxiliar e guiar negros
e indígenas para o desenvolvimento que resulta no auge civilizacional.
45
Além das obras escritas, também foram confeccionadas pinturas e esculturas
eleitas pelas elites como oficiais e legítimas sob o ponto de vista intelectual e cultural. A
construção de uma identidade nacional tem como base de apoio alguns elementos
considerados representativos do ideal de sociedade. As representações ou monumentos
carregam dentro de si, pensamentos, preconceitos e objetivos específicos na formação
de um sentimento de pertencimento, exaltando uns e excluindo outros. Nesta História
dos vencedores, são criados os “heróis” da nação. A eles é atribuída uma imagem de
superioridade, sendo seus feitos considerados memoráveis, mesmo que, às vezes,
contraditórios com a concepção de civilização. Este caso é encontrado até hoje em
exaltações de bandeirantes – tidos como homens desbravadores que expandiram o
progresso para o interior do continente - que escravizaram e exploraram outros seres
humanos em prol de interesses particulares. A maioria das ideias defendidas por estes
autores estão presentes até hoje no pensamento de muitos na sociedade brasileira,
inclusive na Escola e nos livros didáticos, buscando, frequentemente, deslegitimar
movimentos de luta e resistência por parte dos indígenas.
Um debate interessante e que aborda considerações importantes a respeito da
construção destes pensamentos errôneos a respeito dos povos originários é apresentado
por José Ribamar Bessa Freire. Este, com importante atuação e apoio na resistência
indígena, é, inclusive, o criador do Jornal Porantim, que permeado de críticas a respeito
do tratamento hostil perpetrado a estes povos, contribui de forma significativa na luta
por direitos dos mesmos. O autor, em seu texto intitulado “Cindo ideias equivocadas
sobre os indígenas” proveniente de uma fala em curso de extensão realizada no ano de
2002 no município do Rio de Janeiro e publicado em 2016 na Revista Ensaios e
Pesquisa em Educação, apresenta e desconstrói os principais estigmas que se tem a
respeito dos indígenas. O autor questiona o conceito “índio”, uma vez que tal termo
pode ser utilizado e transmite a noção de um bloco homogêneo, apagando a vasta e rica
diversidade de povos que se constituem no Brasil. “Hoje vivem no Brasil mais de 200
etnias, falando 188 línguas diferentes. Cada povo tem sua língua, sua religião, sua arte,
sua ciência, sua dinâmica histórica própria, que são diferentes de um povo para outro.”
(FREIRE, 2016, p.04).
Também, dentro deste viés, é colocada em xeque a criação de uma identidade
indígena que só pode ser atribuída ao dito “indígena congelado”, ou seja, somente pode
ser considerado indígena aquele que ainda vive nu, na floresta, caçando e pescando para
sobreviver. Considerando uma concepção atualizada a respeito de cultura, na qual se
46
defende que todas elas passam por transformações no decorrer do tempo histórico,
através de diálogos mantidos entre os diferentes povos, a questão de identidade dos
povos indígenas se estabelece de forma concreta, uma vez que todas as culturas trocam
elementos entre si, não podendo ser consideradas de forma isolada. Nas palavras de José
Ribamar Bessa Freire
Ninguém vive isolado absolutamente, fechado entre muros de uma fortaleza.
Historicamente, cada povo mantém contato com outros povos. Às vezes essas
formas de contato são conflituosas, violentas. “Às vezes, são cooperativas, se
estabelece o diálogo, a troca.” (FREIRE, 2016, p.13).
Neste sentido, o termo “aculturação”, amplamente difundido passa a ser
substituído pela “interculturalidade”, cujo pensamento defende a diferença e não mais, a
superioridade e/ou inferioridade entre as culturas. Considerando a interculturalidade, as
trocas culturais que antes eram tidas em um aspecto de mão única, nas quais somente
um perdia (no caso, os indígenas) enquanto o outro mantinha sua cultura intacta
(“europeus”),
passaram
a
determinar
trocas
de
duplo
sentido,
ou
seja,
doação/ressignificação. Ao mesmo tempo em que as culturas indígenas adotam
elementos de culturas externas ressignificando e se transformando, estes também doam,
fazendo com que as culturas não indígenas também passem por transformações. Sendo
assim,
[...] um estudo que se pretende analítico não deve considerar somente uma
etnia ou cultura, ou somente um país, mas considerar as relações que são
estabelecidas pelos diferentes grupos, uma vez que a cultura recebe e dos
elementos, sendo constituída pelo contato da diversidade e não pelo
isolamento. (MOTA, 2014, p.07)
É a partir da década de 1990 que começa a se desenvolver uma nova perspectiva
historiográfica a respeito dos povos originários do Brasil. Trata-se da Nova História
Indígena, que se contrapõe em todos os âmbitos ao viés tradicional adotado até então
pela maioria dos pesquisadores da área. Ao invés de perceber os indígenas enquanto
sujeitos submissos que se colocavam indefesos perante as políticas assimilacionistas do
Estado brasileiro, estes passaram a representar a luta e a resistência. Sob o novo ponto
de vista, estes sujeitos, antes passivos e secundários na História, considerados bárbaros
e selvagens, foram tidos como ativos no processo histórico, buscando a manutenção
cultural e os direitos pela terra e pela diferença. Para Maria Regina [...] integrados à
colonização, não deixaram de ser índios nem saíram da história. Em vez disso [...]
47
foram assumindo e dando significados próprios à identidade genérica que lhes fora
conferida pelos colonizadores. (ALMEIDA, 2003, p.35)
O contexto de redemocratização do país no final da década de 1980, marcado
pelo fortalecimento e maior visibilidade dos movimentos sociais, contribui de forma
significativa no reconhecimento destas lutas. Com a criação da Constituição Cidadã de
1988, várias categorias de movimentos conquistaram maior espaço de reivindicação
reconhecido pela nova legislação. É importante destacar que todas estes direitos não
foram simples concessões por parte do Estado, então compadecido com as reclamações
do povo, mas sim, frutos de décadas e até séculos de luta por espaço na sociedade.
Vários
autores
contribuíram
para
o
desenvolvimento
desta
vertente
historiográfica. Um dos trabalhos que tem grande importância na revisão dos
parâmetros tradicionais é o desenvolvido por Maria Regina Celestino de Almeida,
intitulado “Os índios na história do Brasil” que busca em seus textos, trabalhar a
resistência e participação dos indígenas na História. A submissão dá lugar ao
protagonismo que alavanca a autoestima destes povos e serve como ferramenta para o
reconhecimento de reivindicações. Não se trata de negar as perdas que tiveram durante
o processo de colonização, nem de amenizar os resultados negativos, como se nada ou
muito pouco tivesse mudado, mas destacar que apesar disso tudo, os indígenas foram
protagonistas de “[...] extraordinária capacidade [...] de reformularem suas culturas,
mitos e compreensões do mundo para dar conta de pensar e interpretar coletivamente a
nova realidade que lhes é apresentada.” (ALMEIDA, 2003, p.28).
O atual debate a respeito do acréscimo obrigatório de novas temáticas históricas
em sala de aula possibilitou importantes avanços no que se refere à educação para o
respeito e valorização das diferenças. Um destes eixos, que passa por fortes
efervescências no ambiente acadêmico é o ensino das Histórias dos povos indígenas no
continente americano, e mais especificamente no Brasil, que passou por transformações
no decorrer do processo histórico, refletindo as mudanças nas mentalidades acerca do
assunto na História.
Recentemente, as práticas pedagógicas que tinham como temática as Histórias
do Povo Negro e dos Povos Indígenas ganharam ainda maior legitimidade e força com a
criação de duas leis. A primeira, 10.639, criada e sancionada em 2003, estabelece a
obrigatoriedade do Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira em todas as instituições
48
de Ensino Básico. A segunda, 11.645 aprovada em 2008, inclui a temática indígena nas
pautas educativas acima mencionadas. Desta forma, a Lei 11.645
[...] abarca uma série de importantes questões, pois não se resume à questão
da escravidão e do preconceito, já que retrata a importância do
reconhecimento do negro e do índio como pilares da formação da sociedade
brasileira, como sujeitos históricos que lutaram pelos seus ideais. (CRUZ, C.
S.; JESUS, S. S., 2013, p.04)
As mesmas tornam-se uma importante ferramenta para o ensino, já que
estimulam uma prática docente que objetiva a desconstrução de estereótipos
historicamente construídos a respeito destes sujeitos. Tendo ainda mais relevância, uma
vez que, a escola atua de forma significativa na formação de seres humanos, podendo
lutar contra preconceitos na tentativa de construir uma sociedade que tenha no respeito à
diferença a sua principal bandeira. Considerando tais aspectos, percebe-se a importância
da atuação dos professores e professoras nessa formação humanitária dos sujeitos, pois,
várias atitudes discriminatórias podem ser transformadas em tolerância e valorização do
outro.
Assim como a contribuição da Lei 11.645/08 para a Educação Básica, esta
também provocou transformações na formação acadêmica, incluindo disciplinas que
tratem da História da África e das etnias indígena da América na composição curricular.
Tal modificação no currículo possibilita o aperfeiçoamento da prática pedagógica para
professores que atuam há mais tempo na rede básica de educação.
O PIBID: possibilidades, contribuições e oficina aplicada
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência possibilita o
aperfeiçoamento profissional já que insere acadêmicos de licenciaturas ainda não
formados, na escola. Estes com supervisão de um professor concursado elaboram
planejamentos de aula e colocam em prática atividades com o intuito de experimentar
situações cotidianas de uma escola e, por consequência, chegarem melhor preparados
para o exercício da docência quando formados.
O PIBID surge como importante ferramenta para uma melhor formação de
professores, uma vez que o programa faz parceria com escolas de educação
básica da rede pública de ensino, concedendo bolsa aos estudantes de
graduação dos cursos de licenciaturas no intuito de inserir os graduandos no
âmbito escolar, proporcionando um papel mais ativo no processo de ensinoaprendizagem. (ROMAGNOLLI, C.; SOUZA, S. L.; MARQUES, R. A.;
2014, p. 04)
49
Além dos bolsistas, o PIBID também possibilita o conhecimento de novas
metodologias por parte dos professores supervisores, devido ao programa engendrar
também a formação continuada. A separação e distância estabelecidas entre as
Universidades e as instituições responsáveis pela Educação Básica, em geral, faz com
que se criem determinados obstáculos para a prática pedagógica, pois, muitas vezes, as
discussões e os conhecimentos construídos no meio acadêmico não alcançam o público
escolar; e a realidade deste também não chega à Universidade a fim de que se possam
pensar metodologias adequadas. Sendo assim, a inserção de bolsistas do referido
Programa possibilita a conexão entre academia e escola, colaborando para uma
dinâmica mais eficiente no que se refere à educação.
Referente à disciplina de História, esta questão da constante atualização de
professores se faz fundamental, pois como se tem conhecimento, a Historiografia se
modifica com muita frequência, podendo surgir interpretações ou formas de considerar
determinados sujeitos históricos de forma diferente em um espaço curto de tempo.
Neste ínterim, pode-se colocar como exemplo, a noção que se tem a respeito dos
indígenas e negros no processo histórico. Até pouco tempo, pensava-se nestes
indivíduos como meros espectadores da História, aqueles que estavam destinados a
serem assimilados pela sociedade branca, abandonando sua cultura e elementos
característicos de sua identidade. Atualmente, esta visão está superada e contribui de
forma significativa para a prática do respeito no contexto social em que se vive, ao tratar
estes sujeitos enquanto ativos e protagonistas dentro da realidade histórica que se
constitui. Sendo assim, o contato de possíveis supervisores com bolsistas do PIBID,
permite o conhecimento destas novas interpretações.
Como bolsista no ano de 2014, tive a oportunidade de compreender a
importância do Programa de Bolsa para a formação de futuros docentes. Neste processo,
desenvolvi com auxílio de Roseani Cantarelli e Ronei Karsburge, sob a supervisão da
professora Janete Schirmer, uma atividade na Escola Estadual de Ensino Fundamental
Almiro Beltrame, situada na zona rural do município de Santa Maria, Rio Grande do
Sul. Esta teve como base a arqueologia experimental, e constava da aplicação de oficina
objetivando a fabricação de réplicas de recipientes cerâmicos tradicionais da cultura
Guarani, considerando esta prática no contexto histórico do neolítico. A oficina tinha
como objetivos relacionar as técnicas de produção de cerâmica com o processo de
sedentarização dos seres humanos, domesticação de plantas, aumento dos excedentes
alimentares e a crescente complexificação social. Assim como perceber as
50
transformações nos padrões alimentares de tais grupos humanos e consequentemente, as
mudanças que tal produto causou nas relações interpessoais, tendo contribuições
positivas para os discentes cujos eram foco da atividade, uma vez que a maioria
desenvolvia juntamente com seus familiares a agricultura como fonte de renda. Desse
modo, o estudo das relações humanas e do desenvolvimento de técnicas e
conhecimentos agrícolas durante o período neolítico relacionava-se de forma direta com
o contexto dos alunos da atividade proposta.
Neste contexto aborda-se uma revolução técnica do neolítico, tratando do uso e
manuseio de recursos naturais pelo homem, considerando a artificialização do meio na
busca por melhorias nas condições de vida. Ocorrendo a partir da realização destas
atividades, transformações na base material dos objetos utilizados, é a queima o ponto
chave, desenvolvido exclusivamente pelo ser humano, transformando o barro (elemento
natural) em cerâmica (elemento social). Consequentemente, este processo traz consigo
representatividade cultural significativa, uma vez que este conhecimento ao ser
repassado através das gerações torna-se elemento identitário de grupos que dominam
tais gestos e técnicas.
“Inicialmente, foi organizada uma apresentação em formato “.pptx” do Office
PowerPoint para fins introdutórios ao conteúdo. Nesta constavam as principais
características do período paleolítico (ou pedra lascada) e do neolítico (ou pedra polida),
apontando para as diferenças entres essas e a importância destas novas técnicas para o
desenvolvimento da humanidade. Foram inseridas imagens buscando chamar a atenção
dos discentes para as referidas questões. A aula de caráter expositivo/participativo tratou
de uma breve introdução sobre materiais cerâmicos Guarani e suas relações com as
mudanças ocorridas no Período Neolítico, acerca da construção das relações humanas
mantidas neste período histórico, dos padrões de vida, alimentação, desenvolvimento da
agricultura e sedentarização.
Depois de concluída esta etapa, em dia posterior foram levados até a escola os
materiais necessários para a realização da proposta. Referente à parte prática, foram
fornecidos aos discentes alguns quilos de argila, retirada do fundo de um açude em
Camobi. Dentro deste processo da construção de réplicas cerâmicas da tradição TupiGuarani foram observadas as etapas desenvolvidas e descritas por Cerezer (2012) em
seu livro intitulado “Cerâmica Guarani: manual de experimentação arqueológica”, no
qual são encontradas caracterizações sobre formato e técnicas de constituição
51
tradicionais da referia etnia indígena. Também foram utilizados como base
conhecimentos adquiridos de forma prática em um curso de confecção cerâmica
ministrado por Jedson Cerezer na Universidade Federal de Santa Maria para indígenas
Guarani de Santa Maria e da região de São Miguel das Missões. As etapas são as
seguintes:
1 - Processo de limpeza da argila; 2- Homogeneização da massa; 3Hidratação ou secagem quando necessária; 4- Seleção do formato da vasilha
a ser produzida, característico da cultura guarani; 5- Formação da base da
peça; 6- Produção dos roletes; 7- Inicialização da montagem da vasilha; 8Tratamento interno e externo da superfície; 9- Secagem; 10- Queima
(SOARES, et. al. 2015, p.14-15).
Todas as fases supramencionadas, com exceção à queima, foram realizadas nas
dependências da escola, com participação ativa dos discentes. Desta forma, ao
estabelecerem contato com o conhecimento e a técnica aplicada pelos indígenas Guarani
no que concerne à fabricação de peças em cerâmica, principalmente no período anterior
ao contato com os ibéricos, possibilitou-se ao alunado o conhecimento dos sujeitos
indígenas diferentes daqueles que são muitas vezes retratados como primitivos e
incapazes de desenvolver conhecimentos complexos.
Figura 1 - Confecção dos roletes de argila
52
Fonte: acervo pessoal do autor, 2014.
Figura 2 – Discentes montando as vasilhas
Fonte: acervo pessoal do autor, 2014.
Considerações finais
Pode-se concluir que o PIBID atua como um importante intermediário entre os
graduandos dos cursos de licenciaturas das Universidades e as escolas de Educação
Básica, possibilitando a experiência e conhecimento das diferentes realidades e práticas
cotidianas que fazem parte do universo escolar. Ainda, o Programa pode ser
53
reconhecido como um reforço para além do Estágio Supervisionado, uma forma de
problematizar questões teóricas a partir da prática que visam à formação de
profissionais da educação mais capacitados.
As leis 10.639 e 11.645 podem, através do PIBID, propiciar diálogos que tratam
das seleções curriculares e de conteúdo, possibilitando a percepção das transformações
no Ensino no decorrer do tempo. O contato entre os profissionais que atuam na rede
básica de educação e os acadêmicos ainda em processo de formação pode resultar em
trocas de conhecimentos e experiências que se fazem necessárias e fundamentais na
construção de um projeto de ensino/aprendizagem que se pretende transformador da
sociedade e que busque no respeito pela diferença o alicerce para a superação de
preconceitos.
Referências bibliográficas
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indígena. In: ABREU, M.; SOIHET, R. (orgs.). Ensino de História: Conceitos,
temáticas e metodologia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
ALMEIDA, M.R. C. de. Os índios na história do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. FGV,
2010. 168p.
CEREZER, Jedson Francisco. Cerâmica Guarani. Manual de Experimentação
Arqueológica. Habilis, Erexim, 2012.
CRUZ, C. S.; JESUS, S. S., Lei 11.645/08: A escola, as relações étnicas e culturais e o
ensino de história - algumas reflexões sobre essa temática no PIBID. XVII Simpósio
Nacional de História. Natal, 2013.
DOCCA, E. F. de S. História do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Organização
Simões, 1954.
FREIRE, J. R. B. Cinco ideias equivocadas sobre os índios. Revista Ensaios e
Pesquisa em Educação, 2016.
GOULART, J. S. A formação do Rio Grande do Sul. 4ª ed. Porto Alegre: Martins
Livreiro, Caxias do Sul, EDUCS, 1985.
ORLANDI, E. P. Terra à vista: Discurso do Confronto: Velho e Novo Mundo.
Campinas: Editora Unicamp, 2008.
ROMAGNOLLI, C.; SOUZA, S. L.; MARQUES, R. A.; Os impactos do PIBID no
processo de formação inicial de professores: experiências na parceria entre Educação
Básica e Superior. Anais eletrônicos do Seminário Internacional de Educação Superior,
Sorocaba, 2014.
54
SOARES, A. L. R.; CEREZER, J. F.; PERIUS, E.; AREND, J. F. Buscando a
socialização do conhecimento acadêmico através da arqueologia experimental.
Revista do Cepa. v.31, 2015.
55
56
OSMANLIS: UM JOGO PARA ENTENDER O ISLAMISMO6
Luciano Nunes Viçosa de Souza 7
André Haiske 8
Resumo: O objetivo desse artigo é mostrar como um jogo pedagógico pode ser importante para
complementar o entendimento do aluno sobre os atuais conflitos no Oriente Médio. Nós bolsistas do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/UFSM) escolhemos esse tema pela
necessidade de esclarecer alguns pontos que nossa visão ocidental distorce e impede de compreendermos
totalmente as causas dos conflitos. A partir da história das religiões monoteístas e sobre a história da
dissolução do Império Otomano, nós bolsistas, buscamos esclarecer os conflitos entre Palestina e Israel
para uma turma de 3º ano do Ensino Médio. A partir do tema escolhido e do jogo de nome Osmanlis
colhemos bons resultados dos alunos sobre a capacidade de enxergar as causas do conflito e podemos
perceber como os alunos necessitam de novos métodos e novas formas de aprender que fujam do
tradicional quadro e do livro didático. Com o jogo podemos perceber que com sua apresentação para os
alunos e professores causou espanto, e também como eles resistiram a essa atividade. O motivo dessa
resistência esta dentro do complexo quadro da educação tradicional e nas mudanças que o currículo
escolar vem sofrendo com a disciplina de seminário integrado.
Palavras-chave: PIBID, Ensino de História, Jogo Pedagógico, Religião, Territorialidade.
Introdução
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, PIBID, financiado
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, oferece
uma nova experiência de ensino para as escolas e para os futuros professores. O ensino
é de caráter inovador, pois buscar aliar as novas tecnologias no ensino e a
interdisciplinaridade em sala de aula, visando trabalhar com escolas com baixo Índice
do Desenvolvimento na Educação Básica, IDEB.
O subprojeto PIBID-História/UFSM é realizado desde 2009, em escolas públicas
municipais e estaduais de Santa Maria no Estado do Rio Grande do Sul. Com o edital
6
Texto construído a partir de experiências pedagógicas com o projeto PIBID História UFSM/2014, sob a
Supervisão da Professora Bianca Alves Madruga e orientação da Coordenadora de Área Professora
Doutora Roselene Moreira Gomes Pommer. Atividade desenvolvida no primeiro semestre de 2014, sendo
os dados apresentados do período de realização da atividade. Trabalho apresentado na XX Jornada de
Ensino de História e Educação: 20 anos de pesquisa e ensino de História, na FURG em Rio Grande – RS
em 2014, sob o título de Osmanlis: Um jogo para entender o Oriente Médio.
7
Graduado em História Licenciatura Plena e Bacharelado pela Universidade Federal de Santa Maria
(2017). Foi bolsista PIBID de abril de 2013 a janeiro de 2014 e de julho de 2014 a dezembro de 2017.
Atualmente é mestrando do Programa de Pós – Graduação em História da UFSM, área de concentração
História Poder e Cultura, atuando na linha de pesquisa Cultura, Migrações e Trabalho.
8
Graduado em História Licenciatura Plena e Bacharelado pela Universidade Federal de Santa Maria
(2017). Foi bolsista PIBID de maio de 2013 a janeiro de 2014 e de março de 2014 a julho de 2017.
57
2009 a História passa a ser inserida como uma das licenciaturas que poderiam ter o
projeto, tendo este surgido em 2007, mas nesse edital a História ainda não se encontrava
inserida. Até o ano de 2013, coexistiam dois subprojetos PIBID-História/UFSM, dos
editais PIBID de 2009 e 2011. A partir do edital de 2013, passou a existir apenas um
subprojeto História/UFSM. O PIBID-História 2014/UFSM visa principalmente o
trabalho com as novas metodologias de ensino em história, buscando mudanças
comportamentais e cognitivas dos alunos e de metodologias dos professores,
procurando assim, transformar as relações professor-aluno e vice-versa9.
Nosso projeto encontra-se estruturado em dois subgrupos, cada um sobre a
orientação de um coordenador de área, com quatro supervisores e vinte e dois bolsistas
de iniciação à docência, trabalhando com alunos do ensino fundamental, médio e da
Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Da Escola
O subgrupo em que trabalhamos, encontra-se atuante na Escola de Educação
Básica Drº Paulo Devanier Lauda, que possui um IDEB de 5.1 para os anos iniciais e de
3.5 para os anos finais, com 1360 alunos dos quais 70 estão participando do projeto,
neste ano de 2014, no bairro Tancredo Neves, periferia da cidade de Santa Maria no
estado do Rio Grande do Sul.
Quando da nossa inserção na escola, não tivemos grande dificuldades em relação
à participação, interação e aceitação por parte dos alunos de nossas intervenções em sala
de aula, ocorrendo situações em que alunos que são conhecidos por serem pouco
participativos e não realizar praticamente nenhuma das atividades das disciplinas foram
os primeiros a colaborarem com nossas atividades, até mesmo por estarmos trazendo
propostas que fariam uso de outras ferramentas de ensino que não fossem o livro
didático, em função por já se encontrarem muito mecanizados nesse tipo de prática.
Sabemos da importância do livro didático para o ensino, e que este pode ser uma boa
ferramenta para uma conversa inicial, mas
[...] podemos perceber que o professor faz do livro a figura central do
processo de ensino-aprendizagem da história na sala de aula e as
9
Para uma melhor contextualização da implementação do projeto PIBID História na UFSM ver
POMMER; SANTOS; SOARES, 2015.
58
discussões e os conteúdos que os alunos anotarão partem do
conhecimento e das características discutidas pelo livro didático. A
partir dele, se estrutura a aula e a organização da discussão dos
conhecimentos
históricos
acerca
das
sociedades
estudadas.
(CAINELLI, 2011, p. 134).
O livro didático é uma ferramenta tão comum e em certas palavras, “fácil” de se
usar que predomina como única e exclusiva ferramenta de ensino em muitas escolas
brasileiras.
O método é seguir os capítulos dos livros sem refletir sobre o ponto de vista do
autor e o que o período histórico estudado representa para as pessoas enquanto sujeitos
históricos. Passa-se da leitura diretamente para a realização das atividades propostas no
final do capítulo. Consideramos que esta é uma forma de ensino defasada e tão
repetitiva nas escolas, que quando são mostradas outras possibilidades de práticas, estas
são pouco aceitas por alunos e professores 10.
Com o PIBID temos a possibilidade de realizarmos atividades diferenciadas a
partir de materiais produzidos no próprio projeto, como jogos lúdicos, oficinas de
cerâmica, oficina de maquetes, e uso de vídeos e outras ferramentas digitais, para
oferecer maiores possibilidades de práticas de ensino na sala de aula, ou seja,
A organização da sala de aula numa escola que visa contribuir para o
desenvolvimento dos indivíduos deve ser muito flexível,
possibilitando a realização de diversos tipos de atividades. Deve ser,
entre outras coisas, um laboratório e uma oficina a partir da qual seja
possível explorar o mundo (DELVAL, 1998, p. 173).
Por ainda estarmos cercados por uma escola conservadora, não no sentido
político, mas sim fazendo referência àquelas escolas que surgiram no século XVIII e
vem até os dias atuais sem acompanharem as mudanças da sociedade, onde a
indisciplina dos alunos é algo mau visto, por isso deve ser algo fortemente repreendido
e controlado, tendo em vista a escola como um lugar que se deve manter a ordem e
seguir as regras, e
a disciplina é ainda tida como algo indispensável para a manutenção
do status quo e mesmo da burocracia institucional, sendo inaceitável
10
Sobre essas resistências de alunos e professores ver SOUZA; HAISKE; SCHIO; CANTARELLI;
SOARES, 2014.
59
que as normas sejam perdidas e/ou burladas, funcionando como algo
controlador da moral e dos bons costumes. (MOREIRA, 2013, p. 49)
Sendo assim, há uma idealização de aluno modelo, onde se constrói um
estereótipo de um tipo de aluno adequado, e somente esse tipo é o que se encaixaria na
sociedade e se tornaria um bom cidadão.
Apropriando-nos dessa construção foucaultiana, parece enriquecedor
pensar as indisciplinas como acontecimentos. Elas são novidades
porque fogem do que é esperado para um comportamento nas escolas,
ou, pelo menos, para algo que foi construído e assumido como
comportamento ideal de alunos e alunas. (FERRARI; ALMEIDA,
2012, p. 868).
Apesar dos esforços, surgiram esses alunos ditos indisciplinados e a incidência
deles é cada vez maior, o que segundo a nossa visão, é sintomático de um sistema
educacional defasado. Pensamos que esta circunstância pode servir como ponto de
partida, desde que observada com um olhar diferente, para que fujamos desse arquétipo
de aluno modelo e tenhamos “aliados” na mudança dessa educação conservadora.
Sabemos que esta proposta não acarretará uma grande revolução, mas pequenas
mudanças num longo processo que farão com que o aluno seja protagonista, fazendo
com que as decisões não aconteçam mais de forma verticalizada, mas que sejam
construídas no todo, com todos. Buscando assim, terminar ou reduzir o máximo
possível essas repreensões e punições, pois estas não levaram a nada se não a mais
rebeldias, pois
A punição, na disciplina, não passa de um elemento de um sistema
duplo: gratificação-sanção. E é esse sistema que se torna operante no
processo de treinamento e de coerção. O professor deve evitar, tanto
quanto possível, usar castigos; ao contrario, deve procurar tornar as
recompensas mais frequentes que as penas, sendo os preguiçosos mais
incitados pelo desejo de ser recompensados como os diligentes que
pelo receio dos castigos; por isso será muito proveitoso, quando o
mestre for obrigado a usar de castigo, que ele ganhe, se puder, o
coração da criança, antes de aplicar-lhe o castigo (FOUCAULT, 2007,
P. 150).
Da atividade
A partir de questões atuais, resolvemos desenvolver uma atividade que visasse a
saída do senso comum das questões relativas ao Oriente Médio, no que se refere a
questão do conflito entre Israel e a Palestina, tentando trabalhar também a questão da
identidade com os alunos, ficando denominada Identidades e Territorialidades no
60
Oriente Médio, durante os séculos XIX e XX; também visando a compreensão da
situação
geopolítica
atual
da
região,
mostrando
assim
como
se
deu
a
configuração/formação dos Estados após o período de fragmentação do Império
Otomano e do período colonial, não se tratando apenas de problemas políticos, como
geralmente é divulgado pela imprensa, com Estados de certa forma ainda não
secularizados ou laicizados, onde há uma mistura muito forte entre o político e o
religioso, assim como outras instâncias.
A atividade se estruturou em oito encontros com intervenção em aula, cada um
com duração de 45 minutos, com uma turma de terceiro ano do ensino médio 11, com
uma média de 25 alunos, sendo desenvolvida da seguinte maneira:
1º - será realizada uma sondagem na turma, com uma breve retomada da periodização
clássica européia e após será realizada uma atividade aos moldes do jogo Imagem e
Ação, onde os alunos deveriam elencar de quatro a cinco palavras, a partir do
entendimento deles sobre a História, para ver o que eles realmente sabiam ou
lembravam a cerca dos períodos, fazendo uma retomada da periodização clássica
européia de história;
2º - realizar-se-á uma atividade mais teórica, onde se trabalhará desde o início da
formação do islamismo a partir do século VII, seus preceitos, leis e práticas; o mais
importante dos califados, com o Império Otomano, da sua origem, passando pela
política dos Haréns, até sua decadência e desintegração após a Primeira Guerra
Mundial; a formação da Liga das Nações e a criação do Estado de Israel; chegando até a
atualidade, levantando também a questão da Guerra ao terror e como se deu a
construção da imagem de muçulmanos como terroristas;
3º - com essa atividade tratar um pouco sobre a história do Judaísmo e do Cristianismo,
suas aproximações e afastamentos, a atividade têm o intuito de fazer um paralelo com o
eixo principal e também para os alunos passarem a visualizar que a história não é
estática e que várias coisas estão ocorrendo concomitantemente, e ver que houve
períodos de tolerâncias entre as religiões;
11
No período de desenvolvimento da atividade, no Estado do Rio Grande do Sul ainda estava em
vigência o Ensino Médio Politécnico. Para uma maior discussão e informações sobre o assunto ver
SOUZA; HAISKE; SCHIO; CANTARELLI; SOARES, 2014.
61
4º - a partir do conhecimento dos alunos, e após a exibição de dois vídeos, This Land is
Mine e Uma breve história dos EUA, e uma breve explanação da teoria do Choque de
Civilizações de Samuel P. Huntington, promover um debate com os alunos, a partir do
que eles conseguirem identificar nos vídeos, tentando trabalhar temas também como
violência identidade, conflito, diferenças ideológicas e paz;
5º - realizar com os alunos um “Muralismo” através da confecção de cartazes, onde os
alunos deverão se manifestar a partir de questões que iremos suscitar com eles como o
que os torna/identifica um sujeito único, o que me identifica como um indivíduo,
espaços onde eles podem se expressar livremente e se a escola é um desses espaços, o
que os identifica como um grupo/coletivo, trabalhando também a ideia de sujeitos
históricos, e que todos estão envolvido no processo histórico, quebrando um pouco com
a história dos grande heróis, trazendo alguns conceitos para se trabalhar com eles;
6º - desenvolver com os alunos um texto crítico, onde eles devem escrever sobre a
religião, através de questões como o que é, sobre as áreas de ação ou influência que
deve ter, o que entendem por monoteísmo, a partir disso eles desenvolverem um resumo
e uma análise das atividades desenvolvidas pelo PIBID;
7º e 8º - será aplicado um jogo desenvolvido no projeto, denominado Osmanlis, em
função da primeira e única dinastia otomana, assim denominada, aos moldes de jogos de
trilha, com momentos onde haverá questões com múltipla escolha e outras somente
informativas, sendo o jogo dividido em três grupos, cristãos, judeus e muçulmanos,
tendo como ponto de partida Constantinopla (atual Istambul) e de chegada à cidade de
Jerusalém.
Concluímos com as atividades com os alunos à grande dificuldade de se pensar a
história como um longo processo e não como fatos isolados, como por exemplo, quando
da primeira atividade, para realizar uma sondagem da turma e de seus conhecimentos,
quando solicitamos uma palavra que retratasse a Idade Média, muitos colocaram um
castelo, mas não tinham ideia de que esses castelos vem de um longo processo a partir
das fortificações romanas, fora a dificuldade em compreender em qual período e em que
época, os fatos e eventos ocorreram.
62
Imagem 1.Mapa do jogo. As casas pretas da trilha correspondem a cartas informativas enquanto as
brancas são perguntas de múltipla escolha.
Fonte: Acervo pessoal dos autores.
Imagem 2. A primeira carta é um exemplo das informativas. A segunda das de múltipla escolha.
Bem vindos à antiga e
magnífica Constantinopla,
ou melhor, Istambul. Essa
grande e milenar cidade foi
fundada pelos gregos com o
nome de Bizâncio, e foi
capital de dois dos maiores
impérios do mundo, o
Império Bizantino e o
Império
Otomano.
Aproveite essa rodada para
explorar os mercados e as
praças de nossa bela cidade.
Para os mulçumanos a fé é
importante e se envolve nos
mais diversos momentos da
vida do praticante. Um dos
preceitos mais fundamentais
é a reza voltado a Meca.
Alem de Meca, quais as
duas outras cidades que
eram importantes?
a) Medina e Cairo
b) Jerusalém e Damasco
c) Medina e Jerusalém
Fonte: Acervo pessoal dos autores.
Quando da segunda atividade notamos a dificuldade dos alunos no que se refere
a uma história do oriente, como é abstrato para eles entender como se deu os processos
por lá, mesmo hoje já se começando a se dar um enfoque maior nos livros didáticos para
63
esta temática, mas nota-se também um grande interesse por parte dos alunos em
aprender sobre a história do oriente. Ao abordamos o complexo sistema de sucessão do
Império Otomano e a pratica dos haréns junto com a subjugação da mulher, vários se
indagaram sobre como esse sistema era útil e como ele era tão atrelado à vida do
imperador.
A terceira atividade foi um pedido por parte dos alunos, que acabou dando uma
grande contribuição para à temática, já que proporcionou que se fizesse um paralelo
entre às três maiores religiões monoteístas no mundo, vendo assim suas aproximações e
diferenças, conseguindo-se trabalhar com os alunos religião e mostrar para eles que há
como se estudar as religiões e mostrar para eles que há como se estudar as religiões,
partindo da história delas e seus principais dogmas, sem acabar por ofender ninguém,
sem doutrinações, mas não se esquecendo do foco que era o islamismo.
Na quarta atividade os alunos demonstraram um bom entendimento da proposta,
trazendo observações bem interessantes a respeito dos vídeos, notando, por exemplo,
uma evolução bélica, a importância da região e de seus recursos naturais para esses
povos, das intervenções que lá ocorreram e até conseguindo identificar alguns e de certa
forma de que hoje a cultura que se encontra assentado lá hoje é fruto de um longo
processo que se culminou na situação atual. No segundo vídeo, eles gostaram muito,
pois trata de toda a história dos EUA de forma bem divertida e didática, onde eles
conseguiram notar de como se constrói a identidade dos povos e da visão para com o
outro, aonde a reflexão maior que propomos que realmente conseguíssemos ver se
realmente nessa relação EUA e o Oriente Médio existem bons e maus.
Com a quinta atividade, conseguimos trabalhar à ideia de identidade, com
algumas dificuldades, pois alguns dos alunos não sabiam o que significava identidade,
mesmo após algumas explanações teóricas sobre o tema, nos utilizando também do
conceito de Reinhart Koselleck, trabalhando a ideia da passagem das pluralidades de
narrativas (Historie) para um coletivo singular (Geschichte12), tendo como marco para
ele à Revolução Francesa (1789) durante o século XVIII, para tentar que eles
produzissem um cartaz onde trabalhassem a ideia do sujeito histórico, único como parte
do processo histórico, mas ao mesmo estando inseridos em uma turma, também sendo
12
Ver KOSELLECK, 2006.
64
únicos e parte desse processo. Propomos dois temas para os cartazes: O primeiro era
sobre como eles se enxergam em sua própria comunidade e a outra sobre para eles qual
a importância da religião. Tivemos cartazes variados e nessa atividade vimos uma maior
participação da turma em recortar imagens, colar e enfeitar os cartazes.
Com a sexta atividade eles escreveram um texto sobre a religião, o que havia
sido trabalhado até então e das discussões, onde eles realizaram uma autoavaliação de
seus preconceitos com o tema antes e depois dos trabalhos e uma avaliação do projeto
realizado com eles.
Na sétima e última atividade, conseguimos notar com o jogo, como este material
é de grande utilidade para se trabalhar com os alunos, pois consegue fazer com que eles
foquem mais na aula, além de testar se realmente eles prestaram atenção nas atividades
anteriores, já que o jogo exige um conhecimento prévio, além de ser mais simples de se
trabalhar podendo se trabalhar um longo período histórico com apenas um jogo, já que
muitas vezes se tem de 1 a 3 aulas no máximo para se trabalhar essas temáticas.
O jogo era o ponto alto de toda essa série de atividades. Os alunos foram
divididos em três equipes, as três divididas em Católicos, Judeus e Islâmicos, saíram de
Constantinopla para chegar a Jerusalém. No caminho alguns alunos nos surpreenderam
por acertar algumas questões rapidamente que nós tínhamos consideradas um pouco
difíceis, assim como em algumas básicas eles responderem incorretamente. No final,
não importou quem ganhou o jogo, pois quando a equipe vencedora chegou a Jerusalém
e leu carta que traz a Resolução 181 da ONU, onde foi criado o Estado de Israel e da
Palestina e ocorreu à internacionalização da cidade de Jerusalém, que ficou no papel,
não havendo um vencedor, alguns demoraram um pouco para compreender, mas no fim
compreenderam a ideia do jogo.
Concluindo, o jogo para nós foi mais que uma criação para servir unicamente
para esta atividade esse jogo além de permitir varia outras intervenções em outras
escolas, abriu caminho para realizar a criação de vários outros jogos para servir em sala
de aula.
65
Considerações finais
Por termos sido muito influenciados por teóricos da psicologia da educação
como Lev S. Vygotsky, onde devemos partir do meio em que vivem os alunos para dali
formularmos as atividades, fazendo com que essas atividades tenham algum significado
para eles, mas tomando cuidado para não cairmos em determinismos e para tentar fazer
com que os alunos compreendam situações atuais, a partir de um ponto de vista
histórico, assim evitando muitas das indisciplinas do aluno, quando este estuda a partir
do meio em que vive, pois
É provável que a indisciplina observada nas escolas esteja diretamente
relacionada à falta de motivação dos alunos diante do fato de se verem
obrigados a estar numa sala de aula sem entender o porquê e para quê
daquilo, considerando os conteúdos inúteis ou, mesmo que sejam
úteis, não compreendendo bem para que servem. (ECCHELI, 2008, p.
200).
Tendo esse entendimento, também chegamos à conclusão de que a Teoria das
Inteligências Múltiplas de Howard Gardner deveria ser do conhecimento dos
professores e também colocadas em prática, pois a partir de Gardner, conseguimos
atingir com as atividades diferenciadas à todos. Quando uma atividade não consegue
atingir determinado aluno, formula-se outro tipo de atividade que possa vir a atingi-lo,
não tornando o processo de ensino-aprendizagem excludente como acontece hoje nas
escolas do nosso país.
No momento em que os próprios professores rotulam seus alunos de “burros”,
“sem futuro”, não estão contribuindo para melhorar a qualidade do ensino. Os alunos
que assim são denominados são alunos que não conseguem acompanhar e significar
para si a metodologia aplicada pelo professor.
Conhecendo minimamente o que Sigmund Freud traz para o campo da educação,
quando este diz que cada ser humano tem o seu tempo para aprender, contrariamos o
modelo tradicionalmente adotado pelas escolas que ainda insistem nas ideias de Jean
Piaget, estas que só reforçam preconceitos e determinam idades para a aprendizagem,
colocam que o jovem deverá ser um rebelde em determinada idade, criando o estigma
também de que se o jovem não consegue aprender as coisas na idade certa, ou na idade
que deveria ter aprendido, tem algum problema, surgindo assim os tidos “burros”, entre
outras coisas.
66
Citamos como exemplo da ideia problematizada nos parágrafos anteriores, o
Pacto pela Alfabetização na idade certa, e a não reprovação do aluno, que faz com que
os alunos cheguem ao 6º, 7º, 8º e 9º sem ler e/ou escrever plenamente. Campanha
fundamentada na ideia de que existe um tempo correto para a alfabetização, e que,
portanto, desconsidera as particularidades de cada indivíduo. Na verdade, o que está em
jogo, não é a qualidade do processo de alfabetização, mas sim, as metas exigidas por
órgãos financeiros internacionais, para empréstimos aos países em desenvolvimento.
Embora o conservadorismo ainda seja regra a quase totalidade das escolas, o
surgimento de atividades e projetos semelhantes ao PIBID, traz uma nossa possibilidade
de fazer e recriar a escola. As novas possibilidades de ensino e de aprendizado que
surgem com esses projetos, trazem novas maneiras dos novos professores enxergarem e
entender a escola como um local de constante transformação e criação, em contraponto
a uma escola conservadora e estática.
O PIBID como ferramenta criadora, possibilita inúmeras possibilidades de trazer
um melhor entendimento de como executar novas práticas educativas nas escolas do
nosso país. O tradicional entrando em choque com o novo produz novos conhecimentos
e práticas que podem recriar o modelo atual de educador e de educando e do seu papel
na escola, como sujeito atuante na construção e na melhoria da educação.
Assim buscando junto ao governo um projeto de educação que vise mais o
qualitativo do que o quantitativo e, principalmente olhar para o educador e o educando,
que são grandes agentes desse processo.
O que nos dá muito mais certeza que estamos no caminho certo e torna muito
mais revigorante o nosso trabalho é quando surgem questões como “eu nunca tinha
feito e pensado a história assim antes” ou “quando vocês vão voltar”.
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em 05/07/2017.
68
ATIVIDADES DIDÁTICAS DESENVOLVIDAS PELO
PIBID/HISTÓRIA NA EBE DR. PAULO DEVANIER LAUDA EM
SANTA MARIA
Theo Rosito Machado13
Resumo: O Presente Artigo tem como objetivo apresentar e relatar as diversas intervenções e
experiências didático-pedagógicas desenvolvidas pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência, o PIBID/História na EBE Dr. Paulo Devanier Lauda, localizada no Bairro Tancredo Neves, em
Santa Maria. O artigo descreve o que é o projeto PIBID, os seus benefícios e os seus aspectos positivos
tanto para os alunos da escola, como para o acadêmico da universidade. Também é feito um breve
histórico sobre o que são os CIEP, como importante iniciativa educacional no Brasil, durante as décadas
de 1980 e 1990. Por fim são relatadas algumas das atividades realizadas na escola.
Palavras-chave: Intervenções; PIBID/História; CIEP.
Introdução
As atividades desenvolvidas iniciam durante o segundo semestre de 2015. Os
acadêmicos que realizam intervenções e jogos didáticos na escola são os bolsistas do
Pibid História/UFSM. Como já destacado, os trabalhos são aplicados na EBE Dr. Paulo
Devanier Lauda, localizada no Bairro Tancredo Neves, Zona Oeste de Santa Maria, RS.
Em relação ao Programa, Pommer & Santos & Soares destaca que:
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) foi
implantado pelo Ministério da Educação em 12 dezembro de 2007, através da
Portaria de n. 38, para ser operacionalizado pela Secretaria de Educação
Superior (SESu), pela Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE). Em 2009, foi proposto e aprovado
por essa instância o subprojeto “História e Educação: meandros do ensino
formal”, a primeira proposta integrante do Pibid para o curso de História –
Licenciatura e Bacharelado, da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM). Desde então, foram executados mais dois subprojetos do mesmo
tipo, os quais já proporcionaram vivências docentes acerca de setenta
acadêmicos do curso, além de reaproximar dez professores da rede pública
13
Graduado em História Licenciatura Plena e Bacharelado pela Universidade Federal de Santa Maria
(2017). Foi bolsista PIBID entre 2015 e 2017.
69
estadual de ensino do cotidiano da universidade. (POMMER; SANTOS;
SOARES, 2016. p.21)
Ainda o PIBID Pommer & Santos & Soares (2015) reitera:
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, subprojeto
História, na Universidade Federal de Santa Maria foi instituído em 2009,
ampliado em 2011 e reorganizado em 2014. Objetivando o estímulo e a
promoção da formação de professores em História para a Educação Básica e
tendo como aporte metodológico a Interdisciplinaridade, esse subprojeto já
ofereceu oportunidades de vivências e experiências no ensino da História há
mais de setenta acadêmicos. Esse trabalho pretende relatar a importância
assumida pelo PIBID na valorização da docência entre os acadêmicos do
Curso de História – Licenciatura e Bacharelado da UFSM (POMMER;
SANTOS; SOARES, 2015, p 352).
Os autores destacam o fato de esse ser um programa recente e a importância do
mesmo se revestir em um instrumento de trabalho acadêmico e também das escolas,
proporcionando aos alunos das Intuições Federais do país, experiências em sala de aula,
antes, em geral, do estágio supervisionado. Através do Pibid os acadêmicos da UFSM e
de outras universidades do Brasil têm a oportunidade de aplicar atividades e darem
aulas nas escolas públicas, fortalecendo a experiência docente em sua formação inicial,
experiência extremamente importante para o amadurecimento dos futuros professores.
As intervenções em sala de aula consistem na construção de maquetes, jogos
pedagógicos, aulas expositivo-participativas e práticas de sala de aula invertida, sendo
essas ações são orientadas pelas supervisoras das escolas e pelos coordenadores de área
da UFSM. As atividades compreendidas no período de 2015-2017 foram desenvolvidas
em turmas de 6°, 7° e 8° anos. A idade dos discentes variava dos 11 aos 15 anos.
Sobre as propostas e intervenções em sala de aula, Pommer & Santos & Soares
(2015) destaca a importância para o ensino da História, segundo suas palavras:
Para tanto, o PIBID História tem buscado, através das intervenções em sala
de aula, das oficinas desenvolvidas nos contra turnos, das produções de
materiais didáticos como maquetes e jogos pedagógicos, permeados pelo
planejamento e pelas discussões e avaliações coletivas, aproximar os
bolsistas da dinâmica complexa que a realidade escolar apresenta,
possibilitando-lhes estratégias de superação dos desafios apresentados por
essa realidade. Dessa forma, o subprojeto perpassa os interesses da UFSM
em interligar seus três eixos formadores: ensino, pesquisa e extensão e ainda,
70
atende os objetivos apresentados no Plano Pedagógico do Curso de História,
qual seja, proporcionar aos seus acadêmicos, maiores oportunidades para o
desenvolvimento de experiências e vivências em espaços escolares.
(POMMER; SANTOS; SOARES, 2015, p 354).
Através do Pibid, o licenciando tem a oportunidade de planejar as suas
atividades e dialogar com as respectivas escolas, ou seja, conhecer mais cedo a
realidade escolar e reaproximar os professores das escolas públicas à universidade.
De julho de 2015 até Agosto de 2017 são desenvolvidas várias atividades que
envolvem exibição de vídeos e criação e aplicação de jogos pedagógicos. A EBE Dr.
Paulo Devanier Lauda possibilita que essas atividades sejam desenvolvidas em seus m
seus três turnos de funcionamento, manhã, tarde e noite. Para realizar tais atividades nas
escolas, sempre é importante o planejamento de cada uma delas, durante as reuniões nas
instituições, na UFSM e na escola, com a coordenação e a supervisão do Programa.
Nessas reuniões denominadas encontros de área e de grupo (ou de subgrupo) são
organizadas as próximas atividades e são feitos os relatos de andamento dessas nas
escolas, pelos acadêmicos. Nesses encontros os licenciandos dialogam com seus colegas
sobre os andamentos das diferentes atividades realizadas nas escolas, efetuando assim
diversas trocas de experiências. Sobre os planejamentos das atividades desenvolvidas
nas escolas, Soares destaca que:
[...] Essa preparação envolve estudos, leituras e discussões sobre questões
didáticas e pedagógicas relativas ao conhecimento histórico, com vistas ao
amadurecimento das concepções de ensino e aprendizagem e de sua
importância nos espaços escolares. (POMMER; SANTOS; SOARES, 2016,
p.63).
Desse modo, o Pibid História/UFSM alia, constantemente à teoria e a prática
pedagógica no ensino de história.
Histórico dos CIEPs e Características da EBE Dr. Paulo Devanier Lauda
Os CIEP são criados nos anos 1980 por Darcy Ribeiro14, secretário de educação
do Rio de Janeiro, durante a primeira gestão de Leonel de Moura Brizola (1983-1987) e
14
Alguns estudiosos acreditam que, para criar os CIEP, Darcy Ribeiro havia se inspirado no projeto
Escola-Parque de Salvador, de Anísio Teixeira, datado de 1950. A ideia dos CIEP considerava que todas
71
tem como objetivo fornecer, em turno integral, direitos básicos tais como, saúde,
alimentação, esportes, atividades culturais, para crianças de baixa renda, nos bairros
periféricos de diversas cidades do país.
Essas escolas são construídas com o mesmo modelo arquitetônico desenvolvido
por Oscar Niemeyer, sempre em bairros carentes. Com as construções dos CIEP, Darcy
Ribeiro deu a oportunidade de milhares de crianças carentes do Brasil, que antes não tinham
acesso ao estudo, de receber uma educação de qualidade e em tempo integral. O Rio Grande Do
Sul também foi beneficiado com o projeto. Na década de 1990, mais especificamente no período
do Governo Alceu Collares (1991-1994)15, são construídos e entregues diversas escolas nesse
modelo.
Figura 1: Municípios Beneficiado com os CIEP, no RS
Fonte: Disponível em:
<http://www.al.rs.gov.br/FileRepository/repdcp_m505/ComEspEdu_integral_2013/CIEP.pdf>.
Acesso em 18 de set. 2017.
as unidades deveriam funcionar de acordo com um projeto pedagógico único e com uma organização
escolar padronizada, para evitar a diferença de qualidade entre as escolas. No entanto, o projeto dos CIEP
recebeu muitas críticas, entre elas alguns referentes ao custo dos prédios, à qualidade de sua arquitetura,
sua localização, e até sobre o sentido de um período letivo de oito horas. Muitos acreditam que o projeto
arquitetônico tinha primazia sobre o pedagógico, sobretudo pela ausência de equipes de educadores
qualificados para esse projeto educacional. (MENEZES; SANTOS, 2001.).
15
Foram construídos um total de noventa e quatro CIEP no Rio Grande do Sul possibilitando o acesso de
112.800 alunos.
72
A cidade de Santa Maria também possui algumas escolas que tem sua origem
nos CIEP, como, por exemplo, a EBE Dr. Paulo Devanier Lauda, localizada no bairro
Tancredo Neves. É também nessa escola que os bolsistas do PIBID aplicam as suas
diversas atividades.
A escola é inaugurada em dezembro 1992, com uma área física de 4.738 metros,
16 salas de aula e outras dependências, tais como: sala de AEE, biblioteca, sala de
multimídias, refeitório, sala dos professores, recursos humanos, recursos financeiros,
secretaria, ginásio, quadra de esportes, entre outras dependências.
Outro fato de importância da construção escola é a questão de que se não fosse
pela instituição de ensino, diversas famílias no início da ocupação do bairro teriam que
levar seus filhos para outras regiões da cidade para estudar. Nos dias atuais o bairro
conta com a Escola Municipal de Educação Infantil Zulania e o Colégio Estadual
Tancredo Neves.
Figura 2: EBE Dr. Paulo Devanier Lauda durante seu ano primeiro ano de funcionamento, 1992
Disponível em:
<http://www.al.rs.gov.br/FileRepository/repdcp_m505/ComEspEdu_integral_2013/CIEP.pdf>.
Acesso 18 de set. 2017.
Relatos das Atividades
Uma das atividades desenvolvidas na escola trata sobre a América AngloSaxônica, mais especificamente a Marcha para o oeste, realizada no mês de julho de
73
2015. Intitulada “A questão Indígena e a formação dos EUA: construindo cenários” a
atividade é realizada paralelamente ao desenvolvimento do conteúdo sobre a formação
histórica dos Estados Unidos. Como objetivo, os bolsistas do PIBID almejam retratar
para os alunos os cenários dos EUA na época da colonização. Questões importantes são
abordadas como: a formação das Treze Colônias, as religiões, a cultura e características
de alguns povos nativos que habitam o oeste norte-americano no período, entre outros
assuntos.
Sobre a metodologia utilizada, o Relatório de 2015 do PIBID aponta:
Os alunos se organizaram em quatro grupos para participar de um jogo. Os
bolsistas, na condição de mediadores, os situaram no tempo e espaço
históricos que corresponde ao tema da atividade e lançaram provocações a
cada equipe. Coube aos alunos, a partir de informações dispostas em
envelopes (fontes da época, imagens e mapas, por exemplo) e de debates
gerados nos grupos com a análise das fontes, responderem às questões
solicitadas, gerando as conclusões que atendam aos objetivos propostos.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 2015, p.12-13).
A proposta é bem-sucedida ao alcançar os objetivos propostos já que os alunos
tiram suas dúvidas e têm o conteúdo curricular complementado a partir da atividade
realizada.
Outra ação desenvolvida na escola, é realizada com o uso dos vídeos do Ciclo de
Vídeos “As Grandes Civilizações: A China Antiga”. O objetivo da tarefa é que os
alunos compreendem as diferenças entre as civilizações ocidentais/orientais e, assim,
estimular a pesquisa e leitura sobre o tema. Sobre a metodologia utilizada, no Relatório
das atividades do PIBID de dezembro de 2016 consta:
Apresentação da proposta, localização geográfica das regiões abordadas nos
vídeos e explanação geral sobre a temática; Exibição dos vídeos “China
Antiga parte I e II”; Discussão coletiva sobre o processo histórico e ao fim da
atividade os alunos puderam compreender que as diferenças culturais entre os
diversos povos são produtos de seus processos históricos, não havendo uma
expressão cultural mais ou menos legítima do que as demais. Problematizar
as questões decorrentes da intolerância e do preconceito étnico em relação às
civilizações orientais; estimular o conhecimento acerca das peculiaridades
culturais dos povos orientais. Formação cultural dos povos chineses e de
como a cultura oriental é concebida no ocidente; Produção textual sobre as
diferenças e semelhanças entre as civilizações ocidentais e orientais.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 2016)
74
Ocorre na instituição também a exibição de parte da série de vídeos “Brasil 500
Anos” lançada pela televisão no Brasil no ano 2000. A atividade é denominada Ciclo de
Vídeos “O Encontro Além-Mar: as grandes navegações dos séculos XV e XVI”. Como
objetivos teve::
Problematizar o processo de expansão ultramarina europeia do século XV;
Estimular a reflexão acerca do choque cultural entre povos originários da
América e europeus; compreender o processo de conquista do continente
americano a partir das necessidades geradas pelo capitalismo comercial.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 2016).
Primeiramente é realizada uma explicação acerca do conteúdo contido nos
vídeos. São apresentados os motivos que levaram os europeus a procurar outro caminho
para as Índias e o contexto histórico em que a Europa vivencia durante as Grandes
Navegações. Após foi apresentado via recursos de Datashow o documentário “O
Encontro Além-Mar: as grandes navegações dos séculos XV e XVI” partes I e II. A
atividade tem o objetivo alcançado, uma vez que os educandos se mostram
entusiasmados para pesquisar mais sobre o tema abordado. Segundo o relatório de 2016:
A partir da atividade, os estudantes puderam perceber que interesses
econômicos são, em geral, os impulsionadores de fatos históricos
provocadores de transformações sociais. Também, foi permitido a eles
compreenderem os impactos provocados pelo encontro de diferentes culturas
e o processo de aculturação dos povos originários da América.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 2016)
Em outra intervenção é trabalhada a Grécia Antiga. A proposta é executada em
uma turma de 8° ano. A metodologia consiste em uma apresentação de slides contendo
mapas históricos e imagens de templos, casas, esculturas, trabalhando diversos aspectos
da antiguidade grega e seu legado para a civilização ocidental atual. Sobre os resultados
da atividade, ainda segundo o relatório do ano de 2016 consta que:
Através desse trabalho, permitiu-se aos estudantes discutir, de forma
dinâmica, o dia-a-dia dos povos gregos: o que comiam, o que vestiam, como
estudavam, como trabalhavam, como se relacionavam, tanto nos espaços
públicos, como nos privados. Com isso, foi-lhes possível perceber a
importância da cultura grega clássica na estruturação do pensamento, da
75
ciência, da religião e do comportamento das sociedades ocidentais.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 2016).
Também é realizada com uma turma de 7° ano uma aula sobre a Revolução
Francesa. Essa intervenção tem como objetivo problematizar para os educandos o
contexto da Europa na época da Revolução para que esses compreendam o papel de
cada Estado na França pré-revolucionária. Como metodologia, é entregue aos alunos
três envelopes lacrados e após é realizada uma explanação acerca do conteúdo a ser
trabalhado.
Cada envelope contém imagens das camadas da população dos três Estados e
com perguntas sobre as características de cada um deles. Com as perguntas e as
imagens, é esperado que os educandos se sentissem instigados a pesquisar e sentir
interesse pelo conteúdo, por ser apresentado diferentemente de uma aula tradicional.
Como resultado, os estudantes se mostram interessados em pesquisar sobre os
conteúdos apresentados.
Portanto, infere-se que o uso tanto de filmes, quanto de vídeos didáticodocumentários são extremamente populares entre os discentes na escola. O fator para
essa grande popularidade do cinema, deve estar relacionado ao aumento do acesso aos
meios digitais como os computadores e a outros meios de entretenimento, que podem,
em sala de aula, se transfigurar em interessantes ferramentas de uso didáticopedagógico.
Considerações Finais
Pode-se inferir que todas essas atividades preparam efetivamente os bolsistas
para o futuro como professores/as, uma vez que, com a supervisão da regência, os
licenciandos têm a oportunidade de ministrar aulas, porém, com abordagem e
metodologias diferenciadas das tradicionais.
Sobre a instituição de ensino, a EBE Dr. Paulo Devanier Lauda, essa oportuniza
para os licenciandos o convívio com a realidade e o cotidiano escolar, abrindo os
espaços físicos e de aprendizagem de modo solícito e comprometido.
Acerca dos resultados, afirma-se que são porofícuos, pois em todas as ações
realizadas pelos bolsistas os educandos, em sua maioria, se mostram interessados e
participativos durante a sua organização e execução, o que se reflete na qualificação da
76
aprendizagem dos conteúdos históricos escolares. Logo, o Pibid História/UFSM é uma
política pública que deve permanecer ativa nas Instituições de Ensino Superior e nas
escolas.
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