Especialização em
UnA-SUS
Saúde da Família
Modalidade a Distância
Eixo II - Assistência e Processo de Trabalho
na Estratégia Saúde da Família
Módulo 8: Saúde do Idoso
Odontologia
SAÚDE DO IDOSO
MÓDULO 8
GOVERNO FEDERAL
Presidente da República
Ministro da Saúde
Secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES)
Diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES)
Coordenador Geral de Ações Estratégicas em Educação na Saúde
Responsável técnico pelo projeto UNA-SUS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Reitor Álvaro Toubes Prata
Vice-Reitor Carlos Alberto Justo da Silva
Pró-Reitora de Pós-graduação Maria Lúcia de Barros Camargo
Pró-Reitora de pesquisa e extensão Débora Peres Menezes
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Diretora Kenya Schmidt Reibnitz
Vice-Diretor Arício Treitinger
DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA
Chefe do Departamento Walter Ferreira de Oliveira
Subchefe do Departamento Jane Maria de Souza Philippi
Coordenadora do Curso Elza Berger Salema Coelho
COMITÊ GESTOR
Coordenador Geral do Projeto Carlos Alberto Justo da Silva
Coordenadora do Curso Elza Berger Salema Coelho
Coordenadora Pedagógica Kenya Schmidt Reibnitz
Coordenadora Executiva Rosângela Leonor Goulart
Coordenadora Interinstitucional Sheila Rubia Lindner
Coordenador de Tutoria Antonio Fernando Boing
EQUIPE EAD
Alexandra Crispim Boing
Antonio Fernando Boing
Fátima Büchele
Juliana Regina Destro
Mônica Motta Lino
Sheila Rubia Lindner
Rodrigo Moretti
AUTORES
André Junqueira Xavier
Ana Lucia S. Ferreira de Mello
Jussara Martini
Lúcio José Botelho
ORGANIZADORES
Calvino Reibinitz Júnior
Evanguelia Kotzias Atherino dos Santos
Heitor Tognoli
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
SAÚDE DO IDOSO
Eixo II
Assistência e Processo de Trabalho na
Estratégia Saúde da Família
Florianópolis
Universidade Federal de Santa Catarina
2010
@ 2010. Todos os direitos de reprodução são reservados à Universidade Federal de Santa Catarina.
Somente será permitida a reprodução parcial ou total desta publicação, desde que citada a fonte.
Edição, distribuição e informações:
Universidade Federal de Santa Catarina
Campus Universitário 88040-900 Trindade – Florianópolis - SC
Disponível em: www.unasus.ufsc.br
Ficha catalográfica elaborada pela Escola de Saúde Pública de Santa Catarina. Bibliotecária
responsável: Eliane Maria Stuart Garcez – CRB 14/074
U588s
Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências
da Saúde. Especialização em Saúde da Família –
Modalidade a Distância.
Saúde do idoso: odontologia [Recurso eletrônico] /
Universidade Federal de Santa Catarina; Calvino Reibnitz
Júnior... [et al]. – Florianópolis, 2010.
96 p. (Eixo 2 - Assistência e Processo de Trabalho na
Estratégia Saúde da Família)
Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br
Conteúdo: Parte 1. Indicadores de morbi-mortalidade
nacionais e estaduais em saúde do idoso - Programas, políticas
e pactos de saúde do idoso no Brasil e no mundo - Papel dos
membros da Equipe de Saúde da Família no planejamento
de ações e avaliação de riscos em saúde do idoso - Parte 2.
Ações do cuidado à saúde bucal do idoso - Ações da clínica aos
principais agravos à saúde bucal do idoso.
ISBN: 000-00-0000-000-0
1. Saúde do idoso. 2. Saúde bucal. 3. Odontologia. I. UFSC.
II. Reibnitz Junior, Calvino. III. Título. IV. Série.
CDU: 616-053.2
EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL
Coordenadora de Produção Giovana Schuelter
Design Instrucional Master Márcia Melo Bortolato
Design Instrucional Márcia Melo Bortolato
Revisão Textual Ana Lúcia P. do Amaral
Revisão textual para Impressão Flávia Goulart
Design Gráfico Felipe Augusto Franke, Natália de Gouvêa Silva
Ilustrações Aurino Manoel dos Santos Neto, Rafaella Volkmann Paschoal
Design de Capa André Rodrigues da Silva, Felipe Augusto Franke, Rafaella Volkmann Paschoal
Projeto Editorial André Rodrigues da Silva, Felipe Augusto Franke, Rafaella Volkmann Paschoal
Revisão Geral Eliane Maria Stuart Garcez
Assistente de Revisão Carolina Carvalho, Thays Berger Conceição
SUMÁRIO
PARTE I - AÇÕES INTEGRADAS NA SAÚDE DO IDOSO
UNIDADE 1 INDICADORES DE MORBI-MORTALIDADE
NACIONAIS E ESTADUAIS EM SAÚDE DO IDOSO .................................... 15
1.1 Direcionando as Preocupações com a Saúde dos Idosos:
Envelhecendo no Brasil ............................................................... 16
1.2 Transição Demográfica e Epidemiológica...................................... 17
1.3 Principais Indicadores de Morbi-Mortalidade em Saúde do Idoso no
Brasil e em Santa Catarina ........................................................... 20
REFERÊNCIAS ......................................................................... 25
UNIDADE 2 PROGRAMAS, POLÍTICAS E PACTOS DE
SAÚDE DO IDOSO NO BRASIL E NO MUNDO ........................................ 27
2.1 Os Principais Marcos Institucionais Sobre
Envelhecimento no Mundo ........................................................... 27
2.2 Envelhecimento Ativo ................................................................... 29
2.3 Os Principais Marcos Institucionais Sobre
Envelhecimento no Brasil ............................................................. 31
REFERÊNCIAS ......................................................................... 37
UNIDADE 3 PAPEL DOS MEMBROS DA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO
PLANEJAMENTO DE AÇÕES E AVALIAÇÃO DE RISCOS EM SAÚDE DO IDOSO ..... 41
3.1 Atribuições Comuns aos Profissionais
da Equipe de Saúde da Família .......................................................... 41
REFERÊNCIAS ......................................................................... 48
PARTE II - AÇÕES ESPECÍFICAS - ODONTOLOGIA
UNIDADE 4 AÇÕES DO CUIDADO À SAÚDE BUCAL DO IDOSO .................... 53
4.1 Abordagem Inicial ao Idoso, Família e Contexto de Vida ................ 53
4.2 Orientações Sobre o Cuidado à Saúde Bucal a Cuidadores
de Idosos e Membros da Equipe de Saúde da Família................... 59
4.2.1 Higiene dos Dentes .............................................................. 61
4.3 Cuidados à Saúde Bucal do Idoso Com Capacidade Funcional
Comprometida ............................................................................. 66
4.4 Aspectos Preventivos ................................................................... 69
REFERÊNCIAS ......................................................................... 73
UNIDADE 5 AÇÕES DA CLÍNICA AOS PRINCIPAIS
AGRAVOS À SAÚDE BUCAL DO IDOSO ............................................... 75
5.1 Avaliação das Condições Bucais dos Idosos ................................. 75
5.2 Odontologia de Mínima Intervenção, Tratamento Restaurador e
Atraumático e Arcada Dental Reduzida ......................................... 87
REFERÊNCIAS ......................................................................... 94
AUTORES.............................................................................. 95
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO
Estamos no quarto módulo do Eixo II, que aborda a assistência e o
processo de trabalho na Estratégia de Saúde da Família com relação
ao cuidado à saúde do idoso.
Na Parte 1, que é comum aos proissionais da equipe, aprofundaremos
nossos conhecimentos sobre o processo de cuidado da saúde do
idoso, ampliando o olhar individual, tentando trabalhar também com
as redes de apoio e com cuidadores diretos.
Na Parte 2, todas estas questões serão retomadas e aprofundadas
nas especiicidades de cada categoria proissional, sendo que a
questão clínica será o foco, sempre tentando abranger os problemas
de maior frequência nas unidades de saúde. Desejamos, com tal
organização de estudo, possibilitar uma visão ampliada das formas
de se trabalhar com esse ciclo de vida na Unidade de Saúde, de
forma integrada entre equipe e comunidade.
Desse modo, é fundamental reletirmos a respeito dos potenciais de
atuação dos proissionais da saúde neste campo, consolidando nossas competências no âmbito da promoção, prevenção, tratamento e
reabilitação da saúde, bem como na atenção domiciliar aos idosos e
suas famílias.
Ementa
Indicadores de morbi-mortalidade nacionais e estaduais em saúde do
idoso. Pactos, políticas e programas de saúde do idoso no Brasil e
no mundo. Papel dos membros da Equipe de Saúde da Família no
planejamento de ações e avaliação de riscos em saúde do idoso. Ações
da clínica e do cuidado nos principais agravos da saúde do idoso.
Objetivos
a)
Reletir sobre os principais indicadores de morbi-mortalidade em
saúde do idoso no Brasil e em Santa Catarina;
b)
Reletir sobre os principais programas, políticas e pactos sobre a
saúde do idoso no Brasil;
c)
Destacar e reletir sobre o papel dos membros da Estratégia
Saúde da Família no planejamento de ações e avaliação de riscos
em saúde do idoso;
d)
Conhecer as principais situações de agravo à saúde dos
idosos, bem como medidas educativas, preventivas, curativas e
reabilitadoras da saúde bucal.
Carga horária: 45 horas.
Unidades de Conteúdo:
Unidade 1: Indicadores de morbi-mortalidade nacionais e
estaduais em saúde do idoso.
Unidade 2: Programas, políticas e pactos de saúde do idoso no
Brasil e no mundo.
Unidade 3: Papel dos membros da Equipe de Saúde da Família
no planejamento de ações e avaliação de riscos em saúde do
idoso.
Unidade 4: Ações do cuidado à saúde bucal do idoso.
Unidade 5: Ações da clínica aos principais agravos à saúde
bucal do idoso
PALAVRA DO PROFESSOR
Na primeira parte deste módulo, aprofundaremos nossos
conhecimentos sobre a atenção à saúde do idoso, buscando ampliar
as possibilidades de atuação dos proissionais da Estratégia Saúde
da Família para além das ações clínicas individuais. É fundamental
reletirmos acerca dos potenciais de atuação dos proissionais da
saúde neste campo, consolidando competências no âmbito da
promoção, prevenção, tratamento e reabilitação da saúde, bem
como na atenção domiciliar aos idosos e suas famílias.
Fundamentaremos a relexão sobre a atenção à saúde dos idosos
nos seguintes aspectos: as ações dos proissionais da saúde
respondem às necessidades desta população e ao que preceituam
as políticas de atenção à saúde do idoso do Ministério da Saúde?
Quais os desaios que o cuidado à saúde do idoso apresenta aos
proissionais da saúde da família? Quais os limites de nossa atuação
e quais as possíveis estratégias que nos mobilizam para superá-los?
Na segunda parte, questões serão retomadas nas especiicidades
de cada área proissional. Agora, com a base conceitual e geral
já construída no estudo anterior, vamos aprofundar o conteúdo
relacionado à Atenção à Saúde do Idoso dentro da especiicidade de
sua área, a odontologia. Lembre-se sempre: você faz parte de uma
equipe multidisciplinar, e sua atuação só poderá atingir um alto grau
de qualidade se suas ações forem integradas com as ações de outros
proissionais. Assim sendo, interaja com seus colegas de trabalho e
de curso, visando um trabalho multidisciplinar e interdisciplinar.
Esperamos contribuir para que o aprendizado seja signiicativo e
produtivo. Bons estudos!
André Junqueira Xavier
Ana Lucia S. Ferreira de Mello
Jussara Martini
Lúcio José Botelho
PARTE I
MÓDULO 8
UNIDADE 1
MÓDULO 8
1 INDICADORES DE MORBI-MORTALIDADE NACIONAIS E ESTADUAIS EM SAÚDE DO IDOSO
Todos os indicadores demográicos ou de morbimortalidade
demonstraram, mormente nas últimas décadas, um aumento no
tempo de vida da maioria das populações, mesmo em países então
considerados em desenvolvimento, fenômeno que já se observava
na Europa de pré-guerra. Embora seja claro que ainda temos muita
variabilidade social, a estrutura etária e os problemas cambiantes de
saúde são e serão por algumas décadas um dos principais desaios
da sociedade e dos proissionais de saúde, para poderem conciliar
quantidade com qualidade de vida.
Os seguintes desaios para a Saúde Pública, reconhecidos pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), são: manter a independência
e a vida ativa com o envelhecimento; fortalecer políticas de prevenção
e promoção da saúde, sobretudo aquelas voltadas para os idosos;
e manter e/ou melhorar a qualidade de vida com o envelhecimento.
Frente a perspectiva apontada, temos que encontrar formas para
incorporar os idosos em nossa sociedade, mudar conceitos já
enraizados e utilizar novas tecnologias, com inovação e sabedoria,
a im de alcançar, de forma justa e democrática, a equidade na
distribuição dos serviços e facilidades para o grupo populacional que
mais cresce em nosso país.
No inal da década de 1980, quando se intensiica o movimento
de valorização do idoso em decorrência das análises demográicas
acerca do envelhecimento populacional, muitos proissionais nas
áreas da saúde e das ciências humanas e sociais tomaram como
referência algumas obras.
Saiba Mais
Recomendamos a leitura das obras de: Simone de Beauvoir (1970), de
Eneida Haddad, com os seus eloquentes trabalhos e de Ecléa Bosi, para
complementar as aprendizagens deste módulo.
BEAUVOIR, S. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1970.
HADDAD, E. G. M. A ideologia da velhice. São Paulo: Cortez, 1986.
BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo:
Edusp, 1987.
Unidade 1 - Indicadores de Morbi-Mortalidade Nacionais e Estaduais em Saúde do
Idoso
15
1.1 Direcionando as Preocupações com a Saúde dos Idosos: Envelhecendo no Brasil
O Brasil do início do século XX era eminentemente rural, embora
com crescimento, a relação entre natalidade e mortalidade altas
manteve certa estabilidade entre faixas etárias. Com o declínio da
mortalidade antes da natalidade, os anos de pós guerra foram de
grande crescimento populacional e também de urbanização. O Brasil
é um dos únicos países do mundo que transmudou a população de
rural para urbana em quatro décadas.
Teremos, já em 2020, a 6ª maior população mundial em termos de
números absolutos de indivíduos com 60 anos ou mais. Em 2050
deveremos ter cerca de 14,2% de idosos no planeta (CHAIMOWICZ,
1997).
As novas tecnologias, vacinas entre elas, a melhoria de condições
nutricionais e o maior acesso aos serviços de saúde diminuiram
a mortalidade infantil e um novo cenário se apresentou, com um
signiicativo aumento da esperança de vida ao nascer e também no
5º ano de vida.
É a emergência de uma nova faixa de cidadãos, com suas
peculiaridades, que deverá ser legitimada por toda a sociedade. Você
que agora lê este texto possivelmente será um deles.
Uma dessas peculiaridades é que mantidos os padrões atuais, haverá
maior proporção de indivíduos portadores de incapacidade (YOUNG
apud CAMARANO, 2002) chegando a 25% acima de 65 anos e 50%
daqueles acima de 85 anos. Muitas pessoas vivenciam esta fase da
vida com diferentes graus de dependência e sem autonomia, este é
o atual desaio: além de acrescentar mais anos à vida, acrescentar
mais vida (qualidade) aos anos vividos.
Um dos problemas maiores é o empobrecimento desta população
idosa. Aposentadorias e pensões constituem sua principal fonte de
rendimentos. Em 1988, quase 90% dos idosos aposentados no Brasil
recebiam contribuições de até 2,5 salários-mínimos (CHAIMOWICZ,
1997). O recebimento de aposentadorias e pensões muitas vezes vai
determinar a própria posição de um idoso na dinâmica familiar.
Mulheres sofrem mais neste cenário: Litvak (apud CHAIMOWICZ,
1997, p. 189) diz que “os problemas sociais, econômicos e de saúde
dos idosos são, em grande parte, os das mulheres idosas”, que vivem
cerca de cinco anos a mais que os homens. Ao se tornarem viúvas,
têm maior diiculdade para casar novamente, são mais sozinhas,
16
Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
apresentam menores níveis de instrução e renda e maior frequência
de queixas de saúde. Além disso, uma nova dinâmica social tem
apresentado para as classes mais altas, as separações tardias com
o consequente aumento das pessoas que passam a viver sozinhas.
A situação se torna mais grave pelo fato de que o envelhecimento em
condições adversas de trabalho, moradia e alimentação se associa,
com maior frequência, às doenças e à dependência. Kalache
(apud CHAIMOWICZ, 1997, p. 189) alerta para o conceito de
envelhecimento funcional que “nos países do Terceiro Mundo pode
ocorrer muito antes da barreira artiicial dos 60 ou 65 anos devido às
condições de vida precárias”.
Mudar este cenário requer nova mentalidade: a responsabilidade do
Estado na condução das políticas públicas que assegurem saúde,
segurança, dignidade e cidadania para todos.
É necessária a eliminação da pobreza na velhice; a habilitação das
pessoas idosas para que participem plena e eicazmente da vida social,
econômica e política de suas sociedades, inclusive mediante trabalho
remunerado ou voluntário; a oportunidade de desenvolvimento, de
realização pessoal e de bem-estar do indivíduo em todo o curso de sua
vida, inclusive numa idade avançada, com possibilidades de acesso
à aprendizagem durante toda a vida; os direitos econômicos, sociais
e culturais das pessoas idosas, direitos civis e políticos e eliminação
de todas as formas de discriminação em função da idade e gênero
(ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS, 2002).
1.2 Transição Demográfica e Epidemiológica
A transição demográica é entendida como o processo de alteração
da estrutura etária de uma população por mudanças e alterações nos
seus determinantes, qual sejam fecundidade, natalidade e mortalidade
infantil, em função de conquistas associadas ao progresso técnico,
como a melhoria dos sistemas de saneamento (especialmente nas
cidades) e o combate às doenças transmissíveis, principalmente
pela vacinação, sem redução da natalidade, gerando a fase de
crescimento de população rápida, que foi seguida pela diminuição
da natalidade e da fecundidade, fase de equilíbrio populacional e
passa pela queda acentuada da natalidade com diminuição maior
da mortalidade infantil e da mortalidade geral, gerando a fase de
envelhecimento populacional.
Unidade 1 - Indicadores de Morbi-Mortalidade Nacionais e Estaduais em Saúde do
Idoso
17
O processo de urbanização que ocorre no Brasil, mudanças no papel
da mulher com sua maior inserção no mundo do trabalho e aumento
da escolaridade, se associam à transição reprodutiva, que se dá em
duas fases: em primeira instância, o retardamento dos casamentos
e, posteriormente, o controle e a queda da fecundidade por parte das
pessoas que vivem em união.
A queda das taxas de natalidade e mortalidade podem ser observadas
no gráico abaixo:
Evolução das taxas brutas de mortalidade e de natalidade: 1881-2008
50
45
TBM e TBN (por mil hab.)
40
Pílula TBN
35
TAXA DE CRESCIMENTO VEGETATIVO
30
Esterilização Feminina
25
Antibióticos
20
TBM
15
10
5
0
1881 1890 1900 1910
1920
1930 1945
Anos
1955 1965 1975 1985 1995 2000 2008
Gráfico 1: Evolução das taxas brutas de mortalidade e de natalidade: 1881-2008.
Fonte: IBGE, 2010.
Este processo pode ser visto no Estado de Santa Catarina ainda com
maior nitidez. Conira (Gráicos 2 e 3):
80 e mais
Masculino
70 a 79
Feminino
60 a 69
50 a 59
40 a 49
30 a 39
20 a 29
10 a 19
0a9
-15
-10
-5
0
5
10
15
Gráfico 2: Pirâmide populacional em Santa Catarina, 1980.
Fonte: IBGE, 2005.
18
Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
80 e mais
70 a 79
60 a 69
Masculino
50 a 59
Feminino
40 a 49
30 a 39
20 a 29
10 a 19
0a9
-15
-10
-5
0
5
10
15
Gráfico 3: Pirâmide populacional em Santa Catarina, 2005.
Fonte: IBGE, 2005.
Populações diferentes vivem e também adoecem de forma
diferente. A transição epidemiológica refere-se às modiicações dos
padrões de morbidade, invalidez e morte que caracterizam uma
população especíica e que, em geral, ocorrem em conjunto com
outras transformações demográicas, sociais e econômicas. Ela se
caracteriza pela substituição, entre as primeiras causas de morte,
das doenças transmissíveis por doenças não-transmissíveis e causas
externas, pelo deslocamento da maior carga de morbi-mortalidade
dos grupos mais jovens aos grupos mais idosos.
No Brasil, a transição epidemiológica tem características próprias. O
aumento da mortalidade por causas externas, com destaque para os
acidentes de trânsito, os homicídios e suicídios, as mortes precoces
por neoplasia e as causas cardiovasculares são algumas das causas
responsáveis por essa transição atípica.
Embora o peril de doenças e óbitos seja bastante diferente das
últimas décadas, ainda convivem, principalmente em regiões mais
pobres do país, causas características de situações distintas, como
por exemplo, tuberculose e infarto do miocárdio, gerando necessidade
de maior atenção dos proissionais de saúde.
Unidade 1 - Indicadores de Morbi-Mortalidade Nacionais e Estaduais em Saúde do
Idoso
19
1.3 Principais Indicadores de Morbi-Mortalidade em Saúde do
Idoso no Brasil e em Santa Catarina
O Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
(DATASUS) é um órgão da Secretaria Executiva do Ministério da
Saúde com a responsabilidade de coletar, processar e disseminar
informações sobre saúde. No DATASUS podem ser encontrados
Indicadores de Saúde, Assistência à Saúde, Rede Assistencial,
Epidemiologia e Morbidade, Estatísticas Vitais, Demograia e
Socioeconômicas, Saúde Suplementar e Inquéritos e pesquisas.
Saiba Mais
Veja no site do Ministério da Saúde as ações e programas, disponível em:
BRASIL. Ministério da Saúde. Ações e programas. Disponível em:
<http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=360>.
Acesso em: 20 jan. 2010.
Para conhecer melhor os dados disponibilizados, explore o site DATASUS:
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do Sistema
único de Saúde. Disponível em:
<http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/area.cfm?id_
area=1522>. Acesso em: 15 jan. 2010.
Em primeiro lugar, quais são as informações necessárias para o
conhecimento da situação de saúde do idoso e, onde obtê-las?
Existe um conjunto de bancos de dados relativos à saúde da população
brasileira disponibilizados pelo setor saúde em geral e pelo IBGE.
Como exemplo: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM),
Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio realizada em 1998
e em 2003 e Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco
e Morbidade Referida de Doenças e Agravos não Transmissíveis de
2002-2003.
20
Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
Sabemos que, no que tange à morbidade e mortalidade dos idosos, a
ênfase se dá sobre doenças crônico-degenerativas, especialmente
as circulatórias e as neoplasias. Mas é muito importante, também, o
conceito de comorbidade, isto é, a presença de mais de uma patologia
por pessoa idosa. Podemos esperar em média de 4 a 5 patologias por
indivíduo acima de 60 anos.
O DATASUS é o sistema de informações do SUS no qual estão no
item Indicadores e Dados Básicos, os dados necessários para o
diagnóstico da situação de saúde selecionados pelos critérios de:
a)
relevância para a compreensão da situação de saúde, suas
causas e consequências;
b)
validade para orientar decisões de política e apoiar o controle
social;
c)
identidade com processos de trabalho na gestão do SUS; e
d) disponibilidade de fontes de dados: bases, sistemas ou estudos
nacionais.
Estão disponíveis na internet dados desagregados por unidade
geográica, grupo etário, sexo e situação do domicílio, além de outras
categorias em casos especíicos. Desde 1998 os Indicadores e Dados
Básicos são editados com os temas: mortalidade infantil, violência,
saúde da mulher, saúde do idoso, saneamento e doenças crônicas.
O conteúdo conceitual de todo o processo está uniicado em
publicação especíica usada como referência por instituições
governamentais e acadêmicas interessadas na construção e análise
de indicadores em saúde. A seguir, têm-se os indicadores do IDB
que trazem informações sobre os idosos (Quadro 4):
Unidade 1 - Indicadores de Morbi-Mortalidade Nacionais e Estaduais em Saúde do
Idoso
21
INDICADORES DEMOGRÁFICOS
Taxa de crescimento da população - A.3
Proporção de idosos na população - A.14
Índice de envelhecimento - A.15
Razão de dependência - A.16
Mortalidade proporcional por idade - A.8
Taxa bruta de mortalidade - A.10
Esperança de vida ao nascer - A.11
Esperança de vida aos 60 anos de idade - A.12
INDICADORES SOCIOECONÔMICOS
Taxa de analfabetismo - B.1
Níveis de escolaridade - B.2
Produto Interno Bruto (PIB) per capita - B.3
Razão de renda - B.4
Proporção de pobres - B.5
Taxa de desemprego - B.6
Taxa de trabalho infantil - B.7
Quadro 4: Indicadores de Dados Básicos.
Fonte: Brasil, 2008.
Saiba Mais
Recomendamos como leitura adicional para orientação:
REDE INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÕES PARA A SAÚDE. Indicadores
básicos para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações. Brasília: OPAS,
2002.
Para informações demográficas e epidemiológicas sobre Santa Catarina:
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde. Pacto de atenção básica: 2006. Santa Catarina.
Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?siab/pacto2006/pacsc.
def >. Acesso em: 13 jan. 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde. Cadernos de Informações de Saúde Santa Catarina.
Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/cadernos/sc.htm>. Acesso em:
11 jan. 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde. Sistema de cadastramento e acompanhamento de
hipertensos e diabéticos – SC. Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?hiperdia/cnv/hdsc.def
>. Acesso em: 16 jan. 2010.
22
Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
Saiba Mais
BRASIL. Ministério da Saúde. DST-aids. Caso de aids identiicados em
Santa Catarina. Disponível em:
<http://www.aids.gov.br/cgi/deftohtm.exe?tabnet/sc.def>. Acesso em:
19 jan. 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde. Sistema de Informação do Programa Nacional de
Imunizações. Vacinação contra a gripe de 25/04/2009 a 08/05/2009
Brasil. Disponível em:
<http://pni.datasus.gov.br/consulta_gripe_vacinometro_09.asp>.
Acesso em: 19 jan. 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde. Mortalidade: Santa Catarina. Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obtsc.def>.
Acesso em: 18 jan. 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Atlas de
mortalidade por câncer. Disponível em:
<http://mortalidade.inca.gov.br/?saude=http%3A%2F%2Fmortalidade.
inca.gov.br&botaook=OK&obj=http%3A%2F%2Fmortalidade.inca.gov.
br>. Acesso em: 18 jan. 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde. Alfabetização: Santa Catarina. Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?ibge/cnv/alfsc.def>.
Acesso em: 18 jan. 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde. Pesquisa nacional por amostra de domicílios:
suplemento saúde – 2003. Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/dh.exe?pnad2003/pnad.def>. Acesso
em: 18 jan. 2010.
IBGE. Indicadores de desenvolvimento sustentável. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pesquisas/ids/default.asp#2,
indicadores de desenvolvimento sustentável.>. Acesso em: 19 jan. 2010.
Unidade 1 - Indicadores de Morbi-Mortalidade Nacionais e Estaduais em Saúde do
Idoso
23
SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta unidade, você pôde estudar os indicadores de morbimortalidade
nacionais e estaduais em saúde do idoso. Pôde perceber as
inter-relações dos aspectos epidemiológicos e demográicos do
envelhecimento no Brasil e em Santa Catarina com os sistemas de
informação em saúde do idoso e suas implicações para a atenção
em saúde. Tomou ciência da importância da Equipe de Saúde da
Família utilizar os indicadores disponíveis para o planejamento de
ações eicazes a este segmento populacional.
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Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Rede Interagencial de Informações Para
a Saúde. Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e
aplicações. Brasília: OPAS, 2008.
CAMARANO, A. A. Envelhecimento da população brasileira: uma
contribuição demográica. Rio de Janeiro: IPEA, 2002.
CHAIMOWICZ, F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século XXI:
problemas, projeções e alternativas. Revista de Saúde Pública, v. 31, n. 2,
p. 184-200, 1997.
IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domicílios 2005. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 14 jan.
ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS. Informe de la segunda
asamblea mundial sobre el envejecimiento. Madrid,: ONU, 2002.
Unidade 1 - Indicadores de Morbi-Mortalidade Nacionais e Estaduais em Saúde do
Idoso
25
UNIDADE 2
MÓDULO 8
2 PROGRAMAS, POLÍTICAS E PACTOS DE SAÚDE
DO IDOSO NO BRASIL E NO MUNDO
O envelhecimento populacional tem sido amplamente reconhecido
como uma das principais conquistas da sociedade no século XX.
Este cenário aponta grandes desaios para as políticas públicas,
principalmente as da área da saúde. No caso do Brasil, o acelerado
processo de envelhecimento está ocorrendo em meio a uma
conjuntura econômica que gera dúvidas sobre a expansão de
mecanismos de proteção social para todos os grupos etários e, em
especial, para os idosos.
Os programas sociais direcionados ao enfrentamento do processo
de envelhecimento das populações dos países desenvolvidos
começaram a ganhar expressão na década de 1970. Desde aquela
época almejavam a manutenção do papel social dos idosos e/ou a
sua reinserção, bem como a prevenção da perda de sua autonomia
(CAMARANO; PASINATO, 2007).
A experiência individual e coletiva do envelhecimento não é
homogênea. Por consequência, tem-se uma ampla diversidade de
condição de vida e saúde das pessoas idosas. Tal realidade tem tido
dupla interpretação. Uma é construída a partir de imagem da velhice
como um problema, inexorável, e que não leva em conta diferenças
sociais, econômicas e étnicas. A esta concepção de envelhecimento
associa-se doença, incapacidade, desprazer, terminalidade.
A outra interpretação não dá tanta ênfase ao marcador cronológico, e
rejeita estereótipos da velhice como um período de perdas, de situação
de dependência, de doenças, de impossibilidade de vida prazerosa.
Como consequência, no primeiro caso, a formulação de políticas
públicas direciona-se ao apoio de um idoso doente, abandonado
e carente de assistência. Já no segundo caso, a promoção das
políticas de saúde dá ênfase a estratégias para a preservação da
vida e da dignidade, na perspectiva de um envelhecer saudável, do
exercício da cidadania e da responsabilidade ética (DEBERT, 2004).
2.1 Os Principais Marcos Institucionais Sobre Envelhecimento no
Mundo
Desde os anos 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) busca
divulgar o conceito de “envelhecimento ativo” no sentido de ampliar
as formulações sobre envelhecimento, ainda muito restritas à área
da saúde. Como fundamento para a formulação desse referencial,
em 1999, divulgou o documento: a perspectiva do curso de vida
na manutenção da independência no envelhecimento, chamando a
Unidade 2 - Programas, Políticas e Pactos de Saúde do Idoso no Brasil e no Mundo
27
atenção para a necessidade de políticas públicas apropriadas que
considerassem o envelhecimento e suas interconexões com fatores
socioeconômicos e ambientais.
Na II Assembleia Mundial sobre Envelhecimento, realizada em
Madri, a OMS apresentou o documento Envelhecimento Ativo: uma
política de saúde, com a intenção de discutir ações que promovam
envelhecimento ativo e saudável. Nele, são abordadas questões
acerca dos determinantes do envelhecimento ativo, dos desaios do
envelhecimento populacional para o setor saúde, de uma proposta
de política de ação intersetorial, sustentada pelos pilares Saúde,
Participação e Segurança (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005).
Conira a seguir, na igura 5, os determinantes do envelhecimento ativo:
Gênero
Serviços sociais
e de saúde
Determinantes
Econômicos
ENVELHECIMENTO
ATIVO
Determinantes
sociais
Determinantes
comportamentais
Determinantes
pessoais
Ambiente físico
Cultura
Figura 5: Determinantes do envelhecimento ativo.
Fonte: World Health Organization, 2005.
Saiba Mais
Para aprofundar este conhecimento, recomendamos a leitura do
documento:
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Envelhecimento ativo: uma política de
saúde. Brasília: OPAS, 2005. Disponível em: <http://www.prosaude.org/
publicacoes/diversos/envelhecimento_ativo.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2010.
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Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
2.2 Envelhecimento Ativo
Envelhecimento ativo deve ser entendido como o processo de
otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança,
com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as
pessoas icam mais velhas.
Na abordagem do envelhecimento ativo, o planejamento das
políticas, ações e serviços passam a ter uma abordagem baseada
em direitos, reconhecidos como igualdade de oportunidades e
tratamento em todos os aspectos da vida, chamando os idosos a
uma co-responsabilização pela sua condição de vida e saúde.
A existência nas cidades de um ambiente sócio-cultural de respeito
à pessoa idosa e de reconhecimento do valor do envelhecimento
saudável são pilares para o lorescimento e a sustentabilidade de
ações de saúde dirigidas a este segmento. Sob tal inspiração, a OMS
lançou, em 2005, o Projeto Cidade Amiga do Idoso, levado a cabo
em 33 grandes cidades nos cinco continentes, com vistas a gerar um
guia identiicador das características principais de cidades favoráveis
aos idosos.
O relatório inal foi a base para a disponibilização, em 1° de outubro
de 2007, Dia Internacional do Idoso, do Guia Global: Cidade Amiga
do Idoso, ver igura 6 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2008).
Figura 6: Guia global das cidades amigas
do idoso.
Fonte: Organização Munidal da Saúde, 2008.
Saiba Mais
Para se informar sobre o assunto você poderá consultar a legislação
referente ao Dia Nacional do Idoso, acessando:
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos
Jurídicos. Lei nº 11.433, de 28 de dezembro de 2006. Dispõe sobre o Dia
Nacional do Idoso. Diário Oicial da União, Poder Executivo, Brasília, DF,
29 dez. 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2004-2006/2006/Lei/L11433.htm>. Acesso em: 29 jan. 2010.
Para ler na íntegra o Guia Global das Cidades Amigas do Idoso, você
poderá acessar:
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Guia global: cidade amiga do
idoso. Genebra, 2008. Disponível em: <http://www.saude.sp.gov.br/
resources/profissional/acesso_rapido/gtae/saude_pessoa_idosa/guia_
cidade_amiga_do_idoso.pdf>. Acesso em: 30 jan. 2010.
Unidade 2 - Programas, Políticas e Pactos de Saúde do Idoso no Brasil e no Mundo
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Ambiente Virtual
O Guia Global também poderá ser encontrado no link leituras
complementares, disponível no AVEA.
Segundo este Guia, uma cidade amiga do idoso adapta suas estruturas
e serviços para que sejam acessíveis e includentes às pessoas
idosas com diferentes necessidades e capacidades, o que estimula
o envelhecimento ativo ao otimizar as oportunidades para saúde,
participação e segurança, a im de aumentar a qualidade de vida das
pessoas à medida que envelhecem. Trata-se de uma contribuição
para que as comunidades possam se autoavaliar em oito categorias
(espaços abertos e prédios, transporte, moradia, participação social,
respeito e inclusão social, participação cívica e emprego, comunicação
e informação, apoio comunitário e serviços de saúde) e, a partir de
tal diagnóstico, planejem e implementem ações que tornem mais
amigáveis os lugares onde eles vivem, beneiciando a todos.
A Organização Mundial da Saúde tem reconhecido que a atenção
prestada à pessoa ao longo do curso da vida nas Unidades Básicas
de Saúde (UBS) tem um papel determinante para um envelhecimento
saudável. Indica, ainda, que essas unidades de saúde sejam amigáveis
a todas as faixas etárias e aponta enfaticamente para que os referidos
serviços sejam acolhedores e ajustados às necessidades dos idosos.
Segundo a OMS, a adequação das Unidades Básicas de Saúde à
população idosa, guardadas as peculiaridades locais, deve atender
a um conjunto de princípios estruturados em três eixos, que estão
apresentados no quadro 7:
INFORMAÇÃO, ENSINO E FORMAÇÃO
A formação básica de todos os profissionais da saúde em atuação na UBS, nas principais competências da atenção ao
idoso e nas práticas sensíveis a problemas culturais, etários e de gênero; a prestação de informações adequadas aos
idosos e cuidadores sobre a promoção da saúde, tratamentos e medicação.
SISTEMAS DE GESTÃO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Facilitar acesso e informações sobre o funcionamento da UBS e adaptar os procedimentos administrativos às pessoas
idosas; apoiar a continuidade da assistência até o nível terciário, assegurando que em todos haja bons registros; assegurar
participação dos idosos nas decisões sobre a organização da atenção básica.
AMBIENTE FÍSICO DAS UNIDADES DE ATENÇÃO PRIMÁRIA
Aplicar projeto arquitetônico adequado; assegurar transporte até a UBS; adotar projeto de sinalização compreensível aos
idosos; identificar os profissionais de saúde; adotar pisos não derrapantes, móveis estáveis, passagens sem obstáculos e
boa iluminação; manter instalações limpas e confortáveis.
Quadro 7: Adequação das Unidades Básicas de Saúde à população idosa.
Fonte: Organização Mundial da Saúde, 2004.
30
Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
Saiba Mais
Conheça o instrumento age-friendly da OMS, disponível em:
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Towards age-friendly: primary
health care. Genebra, 2004. Disponível em: < http://whqlibdoc.who.int/
publications/2004/9241592184.pdf >. Acesso em: 11 fev. 2010.
2.3 Os Principais Marcos Institucionais Sobre Envelhecimento no
Brasil
O Brasil é um dos países pioneiros na América Latina em formular
políticas que incorporem questões relacionadas ao envelhecimento
populacional. Como país signatário do Plano Internacional de Ação
para o Envelhecimento, de 1982, passou a agregar o tema na agenda
política, culminando com a presença do tema na Constituição de
1988 (BRASIL, 1988), no capítulo referente às questões sociais.
A introdução do conceito de seguridade social como uma rede de
proteção, agora não mais associada ao contexto social-trabalhista, fez
com que a população idosa também adquirisse direitos de cidadania.
Foram estabelecidos princípios básicos como o da universalização, a
equivalência de benefícios urbanos e rurais, a irredutibilidade do valor
das prestações previdenciárias, a ixação do benefício mínimo em
1 salário mínimo, a descentralização, participação da comunidade,
entre outros.
Lembre-se de que também foi universalizado o direito à saúde e à educação.
A Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), foi a primeira a contar
com um título — da Ordem Social. Neste, o Capítulo VII referese às questões da família, da criança, do adolescente e do idoso.
Ressalta que o apoio aos idosos é de responsabilidade da família, da
sociedade e do Estado, os quais devem assegurar a sua participação
na comunidade, defender sua dignidade e bem-estar e garantir o
seu direito à vida. Estabelece que os programas de cuidados aos
idosos serão executados preferencialmente em seus lares e amplia
para todo o território nacional a gratuidade dos transportes coletivos
urbanos para os maiores de 65 anos.
Unidade 2 - Programas, Políticas e Pactos de Saúde do Idoso no Brasil e no Mundo
31
O período pós-1988 foi marcado por uma série de regulamentações
do texto constitucional no que concerne às políticas setoriais de
proteção aos idosos.
Especificamente na área da saúde, em 1994, foi aprovada a Lei n.
8.842 – a Política Nacional do Idoso (PNI) - um conjunto de ações
governamentais para assegurar os direitos sociais dos idosos, tornandoos mais passíveis de operacionalização.
As principais diretrizes norteadoras da PNI consistiam em: incentivar
e viabilizar formas alternativas de cooperação intergeracional;
atuar junto às organizações da sociedade civil representativas dos
interesses dos idosos com vistas à formulação - implementar e avaliar
políticas, planos e projetos; priorizar o atendimento dos idosos em
condição de vulnerabilidade por suas próprias famílias em detrimento
ao atendimento asilar; promover a capacitação e a reciclagem dos
recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia; priorizar o
atendimento do idoso em órgãos públicos e privados prestadores de
serviços; e fomentar a discussão e o desenvolvimento de estudos
referentes à questão do envelhecimento (BRASIL, 1996).
Somente em 1999, o Ministério da Saúde elaborou a Política Nacional
de Saúde do Idoso, por meio da Portaria n. 1.395 GM/MS (BRASIL,
1996), fundamentando-se no argumento de que eram altos os
custos despendidos nos tratamentos oferecidos aos idosos no SUS,
e que estes não proporcionavam respostas às reais necessidades
de tal grupo populacional. Buscando reverter o enfoque do modelo
assistencial à saúde, a política apresenta dois eixos orientadores: medidas preventivas com especial destaque para a promoção da
saúde; e - atendimento multidisciplinar especíico para os idosos.
32
Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
Em 2003, a edição do Estatuto do Idoso (Figura 8) contribuiu para
a conscientização do direito dos idosos em relação às questões
de saúde. O Estatuto regulamenta os direitos e as medidas de
proteção asseguradas a maiores de 60 anos, contemplando as
áreas de educação, saúde, habitação, transportes, e estabelecendo
penalidades por infrações que violem seus direitos.
Saiba Mais
Veja o estatuto do idoso:
BRASIL. Ministério da Saúde. Estatuto do idoso. Brasília, 2003.
Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estatuto_
idoso.pdf . Acesso em 22 jul. 2010.
Figura 8: Estatuto do idoso.
Fonte: Brasil, 2003.
Vale mencionar ainda a Portaria n. 73/01 da SEAS/MAPS (BRASIL,
2001), orientando o funcionamento de serviços de atenção ao idoso
no Brasil; e a RDC n. 283/05, da ANVISA (ANVISA, 2005) aprovando
Regulamento Técnico que, entre outras normas, exige um Plano de
Atenção Integral à Saúde dos idosos residentes em instituições de
longa permanência (ILPI).
No campo da gestão, a União busca uniformizar o compromisso dos
gestores do SUS em torno de prioridades que apresentam impacto
sobre a situação de saúde da população brasileira. Um marco no
SUS é a Portaria 399, de 2006, que divulga o Pacto pela Saúde e
aprova suas Diretrizes Operacionais. Na sessão Pacto pela Vida,
ainda que a deinição de prioridades deva ser estabelecida por meio
de metas nacionais, estaduais, regionais ou municipais, a Saúde do
Idoso é uma das seis prioridades pactuadas (BRASIL, 2006c).
São apresentadas, neste campo, as seguintes ações estratégicas
(Quadro 9):
Unidade 2 - Programas, Políticas e Pactos de Saúde do Idoso no Brasil e no Mundo
33
CADERNETA DE SAÚDE
Com informações relevantes sobre a saúde da pessoa idosa, possibilitando melhor acompanhamento por parte dos
profissionais de saúde.
MANUAL DE ATENÇÃO BÁSICA
Guia de ações de saúde, tendo por referência as diretrizes contidas na Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI).
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE
Programa de educação permanente na área do envelhecimento e saúde do idoso, voltado para profissionais que trabalham
na atenção básica, contemplando os conteúdos específicos das repercussões do processo de envelhecimento populacional
para a saúde individual e para a gestão dos serviços de saúde.
ACOLHIMENTO
Reorganização do processo de acolhimento à pessoa idosa nas unidades de saúde, como uma das estratégias de
enfrentamento das dificuldades atuais de acesso.
ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA
Ações que visem qualificar a dispensação e o acesso da população idosa.
ATENÇÃO DIFERENCIADA NA INTERNAÇÃO
Avaliação geriátrica global realizada por equipe multidisciplinar, a toda pessoa idosa internada em hospital que tenha
aderido ao Programa de Atenção Domiciliar.
ATENÇÃO DOMICILIAR
Valorização do efeito favorável do ambiente familiar no processo de recuperação de pacientes e os benefícios adicionais
para o cidadão e o sistema de saúde.
Quadro 9: Ações estratégicas para a atenção à saúde do idoso.
Fonte: Brasil, 2006a.
No mesmo ano, e acompanhando as diretrizes do Pacto pela Saúde,
foi relançada a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
(Portaria n. 2.528 GM/MS). Esta política tem como inalidade:
recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos
idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, em
consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).
(BRASIL, 2006a).
A política define que a atenção à saúde da pessoa idosa terá como via
de acesso a Atenção Básica e a Estratégia Saúde da Família, e como
referência o restante da rede de serviços especializados e hospitalares.
O documento indica as diretrizes a serem seguidas nacionalmente
em relação às questões de saúde dos idosos. São elas: - promoção
do envelhecimento ativo e saudável; - atenção integral à saúde da
pessoa idosa; - estímulo às ações intersetoriais; - provimento de
recursos capazes de assegurar qualidade da atenção à saúde da
34
Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
pessoa idosa; - estímulo à participação e fortalecimento do controle
social; - formação e educação permanente dos proissionais de
saúde do SUS na área de saúde da pessoa idosa; - divulgação e
informação sobre a PNSPI para trabalhadores do SUS; - promoção
de cooperação nacional e internacional das experiências na atenção
à saúde da pessoa idosa; - apoio ao desenvolvimento de estudos e
pesquisas nesta área.
Como parte do Pacto, a Portaria n. 648 GM editou a nova Política
Nacional da Atenção Básica, deinindo a saúde do idoso e a saúde
bucal como uma das áreas estratégicas para a atuação em saúde em
todo o país. Outras ações que tangenciam a atenção ao idoso, como
o controle da hipertensão arterial, o controle do diabetes mellitus e a
promoção da saúde, também foram mencionadas (BRASIL, 2006b).
No sentido de operacionalizar a assistência ao idoso na atenção
básica, foi publicado, em 2006, o Caderno de Atenção Básica n°
19, intitulado Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa, reforçando
o caráter interdisciplinar do cuidado à saúde do idoso, a atenção
humanizada, o acompanhamento e apoio domiciliar, a diminuição
das barreiras físicas e não físicas dos serviços de saúde, e a
promoção de hábitos saudáveis. Além disso, seguindo o princípio da
territorialização, as UBS e ESF devem ser responsáveis pela atenção
à saúde de todos os idosos cadastrados na sua área de abrangência,
inclusive os que residem em ILPI (públicas e privadas).
O quadro normativo, a alocação de recursos inanceiros e a estrutura,
operação, cobertura e abrangência dos serviços de saúde públicos
são variáveis que possibilitam analisar e compreender o estado atual
da condição de saúde da população. Apesar das garantias legais,
crescimento dos recursos e expansão dos serviços, a implementação
de políticas públicas que incluam o idoso nas ações de saúde é ainda
incipiente para assegurar o comprometimento ativo público-estatalgovernamental com o idoso e sua saúde e, assim, transformar a
realidade epidemiológica. Para promover alterações nessa realidade,
faz-se necessário desenvolver senso crítico, pesquisar e promover
a adoção de novas práticas, construir estratégias diferenciadas,
promover o envolvimento comunitário, integrar ações e mobilizar
recursos, sempre na perspectiva do envelhecer ativamente.
Quanto mais espaços forem conquistados, quanto mais pessoas
estiverem envolvidas e contagiadas pela prática da inclusão e maior
for o estímulo para o desenvolvimento de uma consciência cidadã,
mais a população estará deliberando sobre políticas públicas
saudáveis e inclusivas, sobretudo com relação à pessoa idosa.
Unidade 2 - Programas, Políticas e Pactos de Saúde do Idoso no Brasil e no Mundo
35
Saiba Mais
Acesse o Caderno nº 19 , disponível em:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa
idosa. Brasília, 2006. (Cadernos de Atenção Básica, n. 19) disponível
em: <http://dab.saude.gov.br/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.
pdf>. Acesso em: 14 jul. 2010.
SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta Unidade, você pôde estudar a evolução das políticas públicas
em defesa da população idosa, enfocando principalmente aquelas
relativas às questões da saúde deste grupo populacional. Pôde
acompanhar como se consolidou o marco institucional sobre
envelhecimento ativo e saudável, ao nível mundial, que passou a
repercutir nacionalmente, com a incorporação de muitos de seus
preceitos nas regulamentações que hoje em dia vigoram no país. Em
especial, pôde revisar as políticas que orientam a atenção à saúde
do idoso, no âmbito do SUS, e passou a conhecer uma série de
documentos que servem para fundamentar as ações locais, a serem
desenvolvidas pela Equipe de Saúde da Família, em prol da saúde e
da melhoria da qualidade de vida do idoso.
36
Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Estatuto do idoso. Brasília, 2003. Disponível
em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estatuto_idoso.pdf>.
Acesso em 22 jul. 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 73, de 10 de maio de 2001.
Normas de funcionamento de serviços de atenção ao idoso no Brasil.
Brasília, 2001.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.528, de 19 de outubro de 2006.
Política nacional da pessoa idosa. Brasília, 2006a.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Atenção Básica. Política nacional de atenção básica. Brasília, 2006b.
Disponível
em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_
nacional_atencao_basica_2006.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 399/GM de 22 de fevereiro de
2006. Divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova
as Diretrizes Operacionais do Referido Pacto. Brasília, 2006c. Disponível
em: <http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2006/GM/GM-399.
htm>. Acesso em: 10 jun. 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 1395/GM de 10 de dezembro de
1999. Política de saúde do idoso. Brasília, 1999. Disponível em: <http://
www.ufrgs.br/3idade/portaria1395gm.html>. Acesso em: 28 jul. 2010.
BRASIL. Presidência da República. Lei n° 8.842 de 4 de janeiro de 1994. Dispõe
sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá
outras providências. Brasília, 1996. Disponível em: <http://www.sbgg-mg.org.
br/iles/Pol%C3%ADtica_Nacional_do_Idoso.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2010.
BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil: promulgada em 5
de outubro de 1988. 41. ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008.
ANVISA. Resolução Federal nº 283/2005/RDC/ANVISA. Disponível em:
<http://www.mp.go.gov.br/portalweb/conteudo.jsp?page=11&pageLink=2
&conteudo=noticia/55552220e46b3100537fad17b8774b46.html>. Acesso
em: 8 jul. 2010.
CAMARANO, A. A.; PASINATO, M. T. de M. Envelhecimento, pobreza e
proteção social na América Latina. Rio de Janeiro: IPEA, 2007.
DEBERT, G. G. A reinvenção da velhice. São Paulo: EDUSP, 2004. 266 p.
Unidade 2 - Programas, Políticas e Pactos de Saúde do Idoso no Brasil e no Mundo
37
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Towards age-friendly: primary
health care. Genebra, 2004. Disponível em: <http://whqlibdoc.who.int/
publications/2004/9241592184.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2010.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Guia global: cidade amiga do idoso.
Genebra, 2008.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Envelhecimento ativo: uma política de
saúde. Brasília: OPAS, 2005. Disponível em: <http://www.prosaude.org/
publicacoes/diversos/envelhecimento_ativo.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2010.
38
Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
UNIDADE 3
MÓDULO 8
3 PAPEL DOS MEMBROS DA EQUIPE DE SAÚDE
DA FAMÍLIA NO PLANEJAMENTO DE AÇÕES E
AVALIAÇÃO DE RISCOS EM SAÚDE DO IDOSO
A prática proissional em Atenção Básica é mais inluenciada pela
visão de mundo do proissional de saúde do que por outra atividade
especíica qualquer. O foco nesse âmbito precisa concentrarse, principalmente, em famílias e populações e não apenas nos
indivíduos. Por exemplo, um proissional de saúde de uma Equipe de
Saúde da Família deve abordar o planejamento da cobertura vacinal
dos idosos de sua área, preocupando-se em saber qual a proporção
da população de idosos da sua área de abrangência que se encontra
imunizada, e não apenas perguntando individualmente ao idoso se
ele já tomou suas vacinas este ano.
Desse modo, a atenção ao idoso na atenção básica concentra-se
na construção de ambientes nos quais as pessoas possam viver
e ser saudáveis: água potável, coleta segura de resíduos de todos
os tipos, moradia adequada, alimento seguro e nutritivo, sistema
de transporte adequado às necessidades, acesso aos serviços de
saúde e educação, inclusive uma rede de apoio familiar e comunitário
(MIYATA, et al 2005).
Argumenta-se que esta concepção, fundamentada na Vigilância em
Saúde e nos determinantes de saúde, encontra na Estratégia Saúde
da Família suas melhores potencialidades de operacionalização,
contribuindo para as mudanças almejadas na atenção básica em saúde
no Brasil. No entanto, a integração das práticas individuais e coletivas
nos espaços de atuação das Equipes Saúde da Família ainda enfrenta
obstáculos de natureza político-institucional, técnica-organizativa e de
formação inicial e permanente. A superação de tais obstáculos requer
decisão pessoal, proissional e político-institucional, nas diferentes
esferas e instâncias que compõem o Sistema Único de Saúde.
3.1 Atribuições Comuns aos Profissionais da Equipe de Saúde
da Família
Pensar na saúde do idoso à luz da integralidade direciona o processo de
trabalho para a execução de ações integradas, baseadas no planejamento
e na discussão das linhas de cuidado que serão desenvolvidos.
A seguir, apresentaremos as funções essenciais da Equipe de Saúde
da Família com relação à saúde do idoso, discutindo formas de sua
execução:
Unidade 3 - Papel dos membros da equipe de saúde da família no planejamento
de ações e avaliação de riscos em saúde do idoso
41
a)
Monitoramento, Avaliação e Análise das Condições de Saúde
dos idosos de sua Área de Abrangência.
Para cumprir essa função, o primeiro passo é reunir a equipe e
veriicar como se encontra o registro do número de idosos (SIAB),
acima de 60 anos, se há discriminação por sexo, e se o mesmo é
atualizado mensalmente. Ademais, outros registros também são
fundamentais, como a situação clínica, destacando as doenças
mais prevalentes, o número de acamados por microárea, quantos
idosos necessitam de um cuidador com dedicação total, e outros
dados que a equipe julgar relevante.
O Programação para Gestão por Resultados na Atenção Básica
(PROGRAB) vai auxiliar a equipe a realizar a programação das
atividades e a acompanhar seu desenvolvimento em termos
numéricos. As atividades propostas pelo programa são:
consulta médica;
consulta de enfermagem;
visita domiciliar ACS;
consulta médica domiciliar;
coleta de exames no domicílio;
consulta ou atendimento de enfermagem no domicílio;
visita domiciliar por proissional de nível médio;
atividade educativa na unidade;
atividade educativa na comunidade;
estímulo à atividade física;
visita domiciliar de orientação para a redução de acidentes
e quedas;
encaminhamento para especialidade;
vacina contra inluenza (> de 60 anos);
vacina contra pneumococos (grupos de risco > de 60 anos).
42
Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
Destacamos que a questão da vacinação deve ser avaliada com
relação a cobertura, pois esta deve conter no mínimo 80% de
idosos vacinados.
Uma vez traçadas as estratégias de ação, será preciso elaborar
propostas de avaliação dessas atividades, para que a equipe
possa rever se sua forma de intervenção está sendo efetiva.
b)
Vigilância em Saúde, Pesquisa e Controle dos Fatores de Risco
e Vulnerabilidade que Ameacem à Saúde dos Idosos Sob Sua
Responsabilidade.
Vamos inicialmente deinir o entendimento de vulnerabilidade
individual. Esta se encontra relacionada ao grau e à qualidade
da informação de que os indivíduos dispõem sobre o problema;
à capacidade de elaborar essas informações e incorporá-las aos
seus repertórios cotidianos [...], ao interesse e às possibilidades
efetivas de transformar essas preocupações em práticas
protegidas e protetoras (AYRES et al, 2003, p. 117).
A partir de tal entendimento, podemos inferir que, com o
passar dos anos, individualmente as pessoas se tornam mais
vulneráveis a uma série de situações, como: a biológica, já que
com a idade avançada aumenta a probabilidade de aquisição de
doenças e o risco de morte; a social, pois com o passar dos anos
diminuem as possibilidades de acesso às informações, como os
meios de comunicação, atividades culturais, poder de inluenciar
politicamente, e assim por diante; e a familiar, visto que com o
passar dos anos é natural que as gerações ascendentes faleçam
e as mais novas tendem a seguir suas vidas independentes, e
o idoso venha a icar apenas com este, ou sozinho quando o
companheiro não está presente, o que também o torna vulnerável.
Em vista disso, no momento de planejar as atividades em
cima dos fatores de risco, devemos ampliar nosso olhar para a
situação de vulnerabilidade do idoso, e não nos atermos somente
às questões biológicas, como a questão nutricional, de atividade
física, de doenças, entre outras.
c)
Planejar, Executar e Avaliar Ações de Promoção à Saúde do
Idoso.
Devemos destacar, com relação a este item, que o termo
promoção da saúde tem um signiicado ampliado, sendo o seu
foco a qualidade de vida, e não ações dirigidas a um grupo de
risco para determinadas doenças. Qualquer ação que esteja
Unidade 3 - Papel dos membros da equipe de saúde da família no planejamento
de ações e avaliação de riscos em saúde do idoso
43
relacionada apenas às mudanças de estilo de vida individuais
deverá ser considerada ação de prevenção e não de promoção da
saúde, como, por exemplo, um grupo de idosos com hipertensão
no qual a abordagem se concentra nas recomendações para
uma alimentação saudável.
Pensar em promoção da saúde signiica trabalhar inclusive com
outros setores. Assim, o olhar da equipe deve ser para questões
como alfabetização de idosos sem escolaridade, acesso a
atividades culturais e de lazer, facilidade de se locomover e de
acessar os meios de transporte do bairro, ter espaços públicos
para se exercitar, e assim por diante.
d) Exercitar e Estimular a Participação Social da Equipe e dos
Idosos.
Este item de nada difere do papel da equipe com relação à
participação social, como já trabalhado em outro momento.
e)
Avaliar e Promover o Acesso dos Idosos aos Serviços Públicos
que Atendam às Suas Necessidades de Atenção em Saúde.
Este item está diretamente associado à questão do acolhimento
pela equipe de saúde, uma vez que discutir acolhimento signiica
trabalhar com a facilitação de acessos, tanto geográicos, quanto
econômicos, e funcionais.
f)
Planejar, Desenvolver e Avaliar Processos de Capacitação de
Recursos Humanos em Saúde do Idoso.
Existem duas perspectivas com respeito a esta função. Primeiro,
que você, como proissional de nível superior da área da saúde,
está sendo especializado em Saúde da Família, ou seja, é um
recurso humano sendo capacitado. A segunda é que, dentro
de sua equipe, você possui um papel fundamental na educação
continuada dos outros componentes, e essas atividades devem
ser planejadas de forma sistemática, tentando-se trabalhar com
temas que sejam relevantes. Exemplos de alguns temas: o idoso
e seu cuidador, vacinação do idoso, detecção de violência contra
o idoso, principais aspectos no acompanhamento da saúde do
idoso, etc.
g)
44
Garantir a Qualidade dos Serviços Individuais e Coletivos Voltados
Para a População Idosa.
Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
Além destas funções, mais gerais aqui descritas, a Equipe Saúde da
Família é responsável pelas atividades elencadas no módulo 2 (Saúde e
Sociedade). Você lembra?
Recomenda-se acrescentar às funções essenciais apresentadas
as recomendações especiicadas no caderno de atenção básica
do MS, como segue:
Atribuições Comuns a todos os Profissionais da Equipe
a)
Planejar, programar e realizar as ações que envolvem a atenção à
saúde da pessoa idosa em sua área de abrangência;
b)
identiicar e acompanhar pessoas idosas frágeis ou em processo
de fragilização;
c)
alimentar e analisar dados dos sistemas de informação em saúde
- Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) e outros,
para planejar, programar e avaliar as ações relativas à saúde da
pessoa idosa;
d) conhecer os hábitos de vida, valores culturais, éticos e religiosos
das pessoas idosas, de suas famílias e da comunidade;
e)
acolher as pessoas idosas de forma humanizada, na perspectiva
de uma abordagem integral e resolutiva, possibilitando a criação
de vínculos com ética, compromisso e respeito;
f)
prestar atenção contínua às necessidades de saúde da pessoa
idosa, articulada com os demais níveis de atenção, com vistas ao
cuidado longitudinal – ao longo do tempo;
g)
preencher, entregar e atualizar a caderneta de saúde da pessoa
idosa, conforme manual de preenchimento especíico;
h)
realizar e participar das atividades de educação permanente
relativas à saúde da pessoa idosa;
i)
desenvolver ações educativas referentes à saúde da pessoa
idosa, de acordo com o planejamento da equipe (BRASIL, 2006).
Unidade 3 - Papel dos membros da equipe de saúde da família no planejamento
de ações e avaliação de riscos em saúde do idoso
45
O desempenho das funções apontadas, tanto aqui como no Módulo
2, indica que as equipes devem desenvolver suas capacidades de
propor alianças, no âmbito do setor saúde ou em ações intersetoriais,
envolvendo as redes de apoio social e a articulação com as demais
áreas de políticas públicas.
A concepção do trabalho em equipe pode ser entendida na
perspectiva da “produção do cuidado” (MERHY, 2002), da “airmação
da vida” (CECCIM; CAPOZZOLO, 2004) ou da “linha de cuidado”
(CECCIM; FERLA, 2006), que tomam como referência o conceito
de integralidade na sua tradução em práticas cuidadoras, buscando
reinventar práticas de atenção à saúde, capazes de responder
por uma concepção de saúde que não seja centrada apenas no
tratamento das doenças, mas na inclusão de pessoas em rede de
práticas cuidadoras em saúde e airmação da vida.
Estudos têm demonstrado a ineficiência dos modelos tradicionais de
assistência ao idoso e na concretização do ideal do envelhecimento bem
sucedido.
A partir desta constatação, e em consonância com os fundamentos
da Promoção da Saúde, é que se entende o fortalecimento do SUS
e da ESF na consolidação de práticas de envelhecimento saudável e
ativo. Embora ainda distante do desejado, as Unidades que operam
na lógica da ESF se revelam mais adequadas para atenderem a
população idosa do que as Unidades tradicionais.
As variáveis que contribuem para a perda da efetividade do cuidado
para este grupo populacional são a desproporção entre a população
a ser cuidada e o número de trabalhadores disponíveis, as barreiras
arquitetônicas, a ausência de capacitação para as equipes, a
pequena proporção de unidades com protocolos especíicos e a
baixa oferta de cuidados domiciliares. Em especial os idosos restritos
ao domicílio se beneiciam das práticas de saúde realizadas no
âmbito da ESF. A atenção qualiicada da equipe multiproissional, os
check ups periódicos, a capacitação do cuidador do idoso restrito
ao domicílio, são boas práticas de inclusão na atenção básica.
Importante enfatizar que, na perspectiva da produção de melhores
práticas em saúde da família, o estabelecimento de ações de
promoção do cuidado à saúde dos idosos extrapola o argumento
cronológico e proporciona benefícios não somente aos idosos
46
Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
de hoje, mas, principalmente, aos idosos do futuro. Além disso, a
abordagem multigeracional e intergeracional traz novos construtos
sobre a possibilidade de ser o núcleo familiar a base forte das relações
sociais, de modo que o idoso é agente também de saúde de cada
membro da família.
Saiba Mais
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.528 de 19 de outubro de
2006. Política nacional da pessoa idosa. Brasília, 2006.
SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta unidade, você estudou sobre o papel dos membros da Equipe
de Saúde da Família no planejamento de ações e avaliação de riscos
em saúde do idoso. Pôde veriicar que a prática fundamentada
na Vigilância em Saúde e nos determinantes de saúde encontra
na Estratégia Saúde da Família suas melhores potencialidades de
operacionalização, contribuindo para as mudanças almejadas na
atenção básica em saúde no Brasil. Para tanto, foram relacionadas as
atribuições comuns aos proissionais da Equipe de Saúde da Família
e apresentadas de forma sucinta as recomendações especiicadas
no caderno de atenção básica do Ministério da Saúde.
Unidade 3 - Papel dos membros da equipe de saúde da família no planejamento
de ações e avaliação de riscos em saúde do idoso
47
REFERÊNCIAS
AYRES, J. R. C. M. et al. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de
saúde: novas perspectivas e desaios. In: CZERESNIA D.; FREITAS,
C. M. Promoção da saúde: conceitos, relexões, tendências. Rio de
Janeiro: FIOCRUZ, 2003. p. 117-39.
BRASIL. Ministério da Saúde. Envelhecimento e saúde da pessoa
idosa. Brasília, 2006. (Cadernos de atenção básica, n. 19). (Disponível
em:
<http://www.docstoc.com/docs/11603901/Caderno-deAten%C3%A7%C3%A3o-B%C3%A1sica---Envelhecimento-eSa%C3%BAde-da-Pessoa-Idosa---19>. Acesso em: 28 jul. 2010.
CECCIM, R. B.; FERLA, A. A. Educação permanente em saúde. In:
ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO (Org.).
Dicionário da educação proissional em saúde. Rio de Janeiro:
FIOCRUZ, 2006. p. 107-112
CECCIM, R. B.; CAPOZZOLO, A. A. Educação dos proissionais
de saúde e airmação da vida: a prática clinica como resistência e
criação. In: MARINS, J. J. N. et al. (Org.). Educação médica em
transformação: instrumentos para a construção de novas realidades.
São Paulo: Hucitec, 2004, p. 346-390.
MERHY, E. E. Saúde: a cartograia do trabalho vivo. São Paulo:
Hucitec, 2002.
MIYATA, D. F. et al. Políticas e programas na atenção à saúde do
idoso: um panorama nacional. Arquivos de Ciências da Saúde
UNIPAR, Umuarama, v. 9, n. 2, p.135-140, maio/ago. 2005.
48
Martini, Mello, Xavier, Botelho
Saúde do Idoso - Odontologia
PARTE II
MÓDULO 8
UNIDADE 4
MÓDULO 8
4 AÇÕES DO CUIDADO À SAÚDE BUCAL DO IDOSO
Ao se iniciar as discussões sobre o processo de cuidar de idosos,
deve-se fazê-lo no marco de referência do cuidado proissional à
família, tendo-se como pressuposto o desaio que consiste em
compreender que a família é percebida e conceituada de diferentes
formas pelos estudiosos da temática, porém mantendo elementos
comuns, tais como, interação, papéis e funções.
Devemos ressaltar que os idosos constituem um grupo populacional
bastante heterogêneo quando se estudam suas condições de vida
e saúde. É importante identiicar essas particularidades quando do
momento do exame no intuito de traçar planos de ação singulares.
Nesse contexto, o trabalho em equipe facilita a troca de informações
e permite um olhar mais ampliado para os problemas de saúde bucal
que os idosos venham a apresentar. Também possibilita uma melhor
compreensão dos seus comportamentos e hábitos de vida que
inluenciam as suas condições de saúde bucal.
A boa comunicação é a chave para fundamentar uma abordagem
integral ao idoso, seja com ele próprio, com seus familiares,
cuidadores e outros proissionais que cuidam da sua saúde.
4.1 Abordagem Inicial ao Idoso, Família e Contexto de Vida
O maior desaio na atenção à saúde da pessoa idosa é conseguir
contribuir para que, apesar das progressivas limitações que possam
ocorrer, seja possível redescobrir possibilidades de viver a própria
vida com a máxima qualidade possível. Essa possibilidade aumenta
na medida em que a sociedade considera o contexto familiar e social
e consegue reconhecer as potencialidades e o valor das pessoas
idosas. Parte das diiculdades deste grupo relaciona-se a uma cultura
que o desvaloriza e o limita.
Quando ocorre de forma “natural”, o envelhecimento não costuma
provocar problemas que inviabilizam a autonomia: é o que chamamos
de senescência.
No entanto, em condições de sobrecarga, como doenças, acidentes
e estresse emocional, pode ocorrer uma evolução patológica com
perdas e fragilidade: é a senilidade. Ambos os conceitos são apenas
didáticos, pois podem necessitar de intervenções de promoção e
prevenção em saúde.
Unidade 4 - Ações do Cuidado à Saúde Bucal do Idoso
53
Para o adequado atendimento a saúde de um idoso, deve-se evitar:
a)
considerar todas as alterações como decorrentes do
envelhecimento natural, atrasando diagnósticos e tratamentos;
b)
tratar o envelhecimento natural como uma doença, realizando
procedimentos desnecessários (iatrogenia).
Deve-se procurar identiicar as alterações esperadas no processo
de envelhecer. As mudanças mais comuns são a queda na taxa
de metabolismo basal, acúmulo de gordura em tronco, queda na
quantidade de água corpórea, alterações na pele (rugas e lacidez)
e tendência à perda de massa óssea e muscular. Outras alterações
podem ser vistas no quadro 10:
ALTERAÇÕES
FISIOLÓGICAS
ÓRGÃO / SISTEMA
Volume de distribuição de drogas
lipossolúveis
massa gorda
água corpórea
Geral
CONSEQUÊNCIAS
Volume de distribuição de drogas
hidrossolúveis
da acomodação do cristalino
Opacificação do cristalino
Olhos e ouvidos
da acuidade para sons
de alta frequência (agudos)
DOENÇA
Obesidade
Anorexia
Risco de desidratação
Presbiopia
da susceptibilidade a ofuscamento
da visão
Cegueira
Necessidade de aumento da
iluminação
Prebiacusia, dificuldade para
discriminar palavras em ambientes
barulhentos
Surdez
Manutenção de níveis glicêmicos
prejudicada
da depuração e síntese da tiroxina
Endócrino
ADH, renina e da aldosterona
Diabetes Mellitus
glicemia em resposta a doenças
agudas
Osteopenia, perda de força muscular.
da testosterona
Na+, K+
Libido
Osteomalácia, quedas e fraturas
da absorção e ativação da Vitamina
D
Respiratório
da elasticidade pulmonar
da rigidez da parede torácica
Desequilíbrio na razão ventilação /
perfusão e PO2
Dispneia e hipóxia em condições
patológicas
contunua...
54
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
cotinuação
ALTERAÇÕES
FISIOLÓGICAS
ÓRGÃO / SISTEMA
da complacência arterial
PA sistólica
Cardiovascular
resposta ß-adrenérgica
sensibilidade do barorreceptor
automatismo do nó sinusal
função hepática
Gastrointestinal
acidez gástrica
motilidade intestinal
função anorretal
taxa de filtração glomerular
Renal
Musculoesquelético
da capacidade de equilíbrio ácido/
básico e concentração/diluição
urinária
massa magra (músculos)
densidade óssea
CONSEQUÊNCIAS
Hipotensão em resposta ao da
frequência cardíaca,
DOENÇA
Hipertensão Arterial Sistólica Isolada
débito cardíaco e frequência
cardíaca em resposta ao estresse.
Síncope
Dificuldades para a manutenção da
PA.
Bradiarritmias
Insuficiência Cardíaca
Cirrose
Retardo na absorção e metabolismo Osteoporose
de algumas drogas, vitaminas e sais
Deficiência de vitamina B12
minerais
Constipação
Impactação fecal
Incontinência fecal
Retardo na excreção de algumas
drogas
Retardo na resposta à restrição ou
sobrecarga de sal ou de líquidos
Noctúria
Osteopenia, sarcopenia
Insuficiência renal
Incapacidades funcionais
Fratura de quadril
Demência, delirium
Esquecimentos benignos
da massa cerebral
Nervoso
síntese de catecolamina e
dopamina cerebrais
reflexos
Depressão
Alterações de marcha (passos curtos
Doença de Parkinson
e lentos)
desequilíbrio do corpo
Alteração da arquitetura do sono
Quedas
Apneia do sono
Insônia
Quadro 10: Algumas alterações fisiológicas no idoso, suas consequências e doenças relacionadas.
Fonte: Do autor.
Uma abordagem preventiva e uma intervenção precoce são sempre
preferíveis às intervenções curativas tardias. Para tanto, é necessária
a vigilância de todos os membros da equipe de saúde, a aplicação de
instrumentos de avaliação e de testes de triagem, para a detecção de
distúrbios cognitivos, visuais, de mobilidade, de audição, de depressão
e do comprometimento precoce da funcionalidade, dentre outros.
A cada etapa de intervenção os membros da equipe de saúde deverão
considerar os anseios do idoso e de sua família. Pressupondo-se troca
Unidade 4 - Ações do Cuidado à Saúde Bucal do Idoso
55
de informações e negociação das expectativas de cada um, levandose em conta elementos históricos do idoso, seus recursos individuais
e sociais e aqueles da rede de suporte social disponível no local.
Os idosos podem apresentar diiculdades auditivas, visuais ou de
memória. Por isso, alguns pressupostos são recomendados para
serem levados em consideração na entrevista/exame do idoso:
a)
icar sentado ou em pé diante do idoso, para que o mesmo possa
visualizá-lo;
b)
olhar nos olhos do idoso ao falar para prender sua atenção;
c)
falar com voz clara, com tons médios e velocidade e volume
moderados;
d) o entrevistador/examinador não deve falar cobrindo sua boca
com uma máscara facial, o que prejudica a compreensão do que
está sendo dito;
e)
providenciar um ambiente com luz difusa, não ofuscante ou
brilhante, para que o idoso se sinta mais confortável;
f)
encorajar o idoso a utilizar, no momento da consulta, os aparelhos
com os quais está familiarizado: óculos ou de audição;
g)
procurar uma sala silenciosa, evitando ruídos externos que
possam interferir na comunicação.
Além destas providências, deve-se procurar desenvolver mecanismos
de validação das informações fornecidas pelos profissionais, bem
como aquelas recebidas dos idosos, cuidadores e familiares. Ao idoso
em especial, deve-se pedir que repita as orientações que lhe foram
passadas.
Em suas ações de cuidado ao idoso, os proissionais da saúde
desempenham uma variedade de papéis, entre os quais se destacam:
cuidador, educador e defensor. Para o desempenho dessas tarefas,
alguns princípios devem ser observados (MELLO; ERDMANN;
CAETANO, 2008):
56
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
a)
não esteriotipar as pessoas, a maioria delas é capaz de se
adaptar a mudanças e aprender sobre sua saúde;
b)
reconhecer as limitações físicas e sensoriais dos pacientes idosos
que possam limitar a rapidez em seus exames;
c)
estar atento aos ritmos do paciente idoso durante o exame, ter
paciência, oferecer pausas e observar detalhes;
d) considerar o desconforto ou sofrimento do paciente ao se falar
acerca de alguns tipos de informações relevantes sobre sua
saúde.
É importante aproveitar o momento das entrevistas/exames para se
veriicar também a possível presença de sinais de abuso ou violência.
Isto pode ser observado diante de sinais como lesões físicas ou de
negligência (desnutrição, medo do companheiro ou cuidador). Nos
casos suspeitos, é recomendável examinar o idoso em ambiente
privado, pois é muito mais provável que uma pessoa vítima de abuso
fale quando a pessoa suspeita de abusá-la estiver ausente. Alguns
indicadores práticos a serem considerados:
a)
lesões e traumas não compatíveis com as causas relatadas;
b)
hematomas;
c)
lesões em vários estágios de recuperação;
d) queimaduras;
e)
fraturas/lesões que não condizem com as causas relatadas;
f)
tempo descabido entre a ocorrência da lesão e a busca por
atendimento ao idoso, física ou cognitivamente abalado.
Especialmente os proissionais da saúde bucal devem estar atentos
a sinais de maus tratos e negligência contra idosos presentes na
região da face e da boca, tais como: hematomas, inchaços, cortes
ou feridas, dentes quebrados e próteses fraturadas. Deve-se sempre
adotar uma postura investigativa das causas desse tipo de lesão,
principalmente em idosos mais fragilizados e dependentes.
As alterações da saúde, com o envelhecimento, contribuem para o
estreitamento da inserção social da população idosa. As limitações
físicas, sensoriais e os déicits cognitivos, associados ou não a
patologias, são fatores que interferem na autonomia e na dependência
dos que envelhecem e prejudicam sua sociabilidade e bem-estar. As
Unidade 4 - Ações do Cuidado à Saúde Bucal do Idoso
57
Equipes de Saúde da Família que se propõem a atender o idoso
têm como prioridade a prática do cuidado para a manutenção da
independência funcional e da autonomia do indivíduo.
A autonomia é a capacidade de decisão e de comando do idoso sobre
suas ações, de estabelecer e seguir suas próprias regras. No quadro
de dependência funcional, o idoso revela a incapacidade de viver
satisfatoriamente sem a ajuda de terceiros, por motivos de limitações
físicas ou cognitivas. A dependência pode ser determinada por uma
série de fatores, como doenças incapacitantes, estados afetivos,
falta de auxílio físico ou psicológico, desamparo, desmotivação, falta
de adaptações estruturais no ambiente ou de segurança, ou ainda
por práticas iatrogênicas e inatividade.
As práticas de saúde constituem as formas pelas quais a
sociedade estrutura e organiza as respostas aos problemas de
saúde. O paradigma da Promoção da Saúde pode favorecer o
questionamento da prática atual, redirecionando caminhos para fazer
valer seus valores e princípios que há muito vêm sendo solidiicados:
integralidade das ações, equidade, intersetorialidade, participação
social, empoderamento, autonomia e sustentabilidade.
Embora sejam observadas iniciativas nacionais e internacionais no
campo da promoção da saúde do idoso, ainda não é visível uma
articulação das práticas baseadas nos fundamentos da Promoção
da Saúde e sua inserção no ambiente político-organizacional
e sociocultural. Algumas iniciativas incorporam indicadores de
qualidade de vida e bem-estar subjetivos, relacionados a paradigmas
recentes de envelhecimento ativo e bem-sucedido. Entretanto, ainda
existem poucas e limitadas iniciativas de cuidado à saúde bucal
voltadas à população idosa na perspectiva ampla da Promoção da
Saúde, com ênfase na Atenção Primária. Muitos mitos e estigmas,
incluindo aqueles que acreditam que os idosos não se beneiciam de
atividades preventivas e de promoção de saúde e que são pessoas
difíceis de trabalhar e de alterar seus hábitos e comportamentos,
permanecem como barreiras para efetivar as estratégias. A partir
dessa visão, a promoção do cuidado à saúde vem sendo organizada
pelos proissionais da Odontologia restritamente e o acesso ao idoso
tem se dado por meio de práticas tradicionais, pouco inovadoras
e não direcionadas às especiicidades deste público. Tais práticas
devem ser superadas e transformadas.
4.2 Orientações Sobre o Cuidado à Saúde Bucal a Cuidadores de
Idosos e Membros da Equipe de Saúde da Família
Ao iniciarmos este conteúdo que aborda as ações de cuidado à
58
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
saúde bucal provido aos idosos, destaca-se a importância dos
proissionais da saúde bucal avaliarem suas atitudes em relação aos
idosos, suas concepções sobre seu próprio envelhecimento.
Ressaltamos a necessidade do trabalho interdisciplinar e da importância
da ampla divulgação dessas orientações nos mais diferentes espaços de
atuação das equipes no contexto da atenção básica à saúde, no que se
refere à saúde do idoso.
O reconhecimento das condições de saúde bucal dos idosos e
das necessidades daí derivadas torna-se importante ferramenta de
inclusão e acesso aos serviços odontológicos. Ele pode e deve ser
procedido de modo bastante simples por todos os membros da
equipe. Também se trata de revisar procedimentos de higiene de
dentes, mucosa bucal e próteses removíveis (MELLO; ERDMANN;
CAETANO, 2008)
Para se avaliar as condições de saúde bucal de idosos é necessário
que se trabalhe sob a perspectiva interdisciplinar, tornando-se
imprescindível que se conheça as condições de saúde bucal do
idoso de quem estamos cuidando. Nesse sentido, apresentamos
orientações básicas visando habilitar a equipe e os cuidadores dos
idosos a detectarem os problemas precocemente.
Recomenda-se que você veriique se o idoso:
a)
possui dentes e onde estão localizados;
b)
possui próteses e de que tipo (ixas ou removíveis) e há quanto
tempo;
c)
em que condições de integridade estão tais dentes e próteses;
d) se a mucosa da boca está saudável (gengiva, mucosa jugal,
língua, palato, lábio);
e)
se faz uso regular de medicamentos;
f)
se possui regularmente sensação de boca seca.
Mesmo que os cuidadores de idosos e outros membros da equipe
não saibam exatamente avaliar estas condições, algumas pistas
podem auxiliar. Deve-se icar atento, também, se o idoso apresenta:
Unidade 4 - Ações do Cuidado à Saúde Bucal do Idoso
59
a)
diiculdade ao se alimentar, tanto durante a mastigação como ao
engolir os alimentos;
b)
queixas de dor ou desconforto bucal;
c)
alterações de humor;
d) costume ou mudança de hábitos alimentares, preferindo alimentos
pastosos, líquidos, tenros e refugando os que necessitam de
mastigação;
e)
queixas no momento da higiene bucal ou da manipulação da sua
boca;
f)
resistência ou recusa à realização da sua higiene bucal;
g)
mau hálito.
Após conhecer as condições de dentes, gengivas e próteses do
idoso que está aos nossos cuidados, especialmente os que possuem
comprometimento da capacidade funcional, é relevante determinar
um plano de cuidados bucais individualizado que deve ser seguido
diariamente. Neste plano devem constar as rotinas básicas de
procedimentos e os materiais necessários para sua execução.
A manutenção da saúde bucal depende principalmente da eliminação
de placa bacteriana que se acumula sobre dentes e próteses. A limpeza
dessas superfícies é o mais importante objetivo no momento da
realização dos procedimentos.
A realização da higiene bucal não constitui uma tarefa fácil, exige
cuidado, atenção, destreza, treinamento e respeito para lidar com o
idoso numa região do corpo tão íntima como a boca.
4.2.1 Higiene dos Dentes
Escovação dental (manual ou elétrica)
A escovação dos dentes remove mecanicamente a placa bacteriana
depositada sobre eles. Devemos proceder à escovação de todas as
60
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
superfícies dos dentes alcançadas pela escova.
A escovação pode ser feita com escova manual ou elétrica, dotadas
de cerdas sempre em bom estado. Quando a integridade das cerdas
estiver comprometida, a escova deve ser substituída. Na escova
elétrica, a vantagem é que a cabeça com as cerdas pode ser trocada.
A escova manual deve possuir cabeça pequena e cerdas macias
para evitar danos às gengivas e à mucosa bucal. A umidiicação das
cerdas em água morna faz com que iquem mais macias. A escova
manual e a ponta destacável de cerdas (reil) na escova elétrica são
de uso individual e intransferível.
Para não se esquecer de higienizar alguma área, o cuidador deve definir
uma sequência de escovação e obedecê-la rotineiramente abrangendo
as arcadas superior e inferior, os lados direito e esquerdo, e as partes
interna e externa dos dentes.
Limpeza das superfícies proximais
A limpeza dos dentes com a escova dental não permite alcançar
as regiões localizadas entre os dentes. Para que seja completa a
higienização, devemos limpar também tais superfícies. Geralmente,
para isso utilizamos um io ou ita dental.
Hoje são produzidos ios dentais apropriados, de uso facilitado pelo
modo de sua apresentação em um suporte plástico ou então por serem
esponjados. O uso do palito, ainda que remova restos alimentares, não
substitui o io dental em sua função de remoção de placa.
Conforme a necessidade, pode ser recomendável o uso de escovas
interdentais, cujo tamanho reduzido possibilita a inserção e a limpeza
nos espaços entre dentes e ainda entre dentes e próteses ixas ou
implantes.
Cremes dentais luoretados
Geralmente preferimos adotar na escovação o uso do creme dental
luoretado. Porém, outras substâncias também podem ser utilizadas,
como o lúor e a clorexidine, ambos sob a forma de gel. Contudo,
estes produtos devem ser utilizados sob orientação proissional. A
clorexidine sob a forma de gel não é comumente encontrada na
Unidade 4 - Ações do Cuidado à Saúde Bucal do Idoso
61
rede pública, podendo ser obtida em farmácias de manipulação
(gluconato de clorexidine a 0,12%, 1% ou 2%). No caso de a espuma
resultante da escovação ser um fator que diiculte a higiene ou cause
desconforto ao idoso, o uso do creme dental pode ser reduzido ou
dispensado ou substituído por lúor ou clorexidine, ambos em gel
(MARINHO et al, 2006).
Soluções orais
Alguma solução oral pode ser utilizada como auxiliar, complementando
a limpeza da cavidade bucal do idoso. Cabe ressaltar que o uso de
solução não substitui a ação de remoção mecânica da placa obtida
mediante a escovação.
Há várias formulações de solução oral disponíveis no mercado. É
preciso distinguí-las e utilizá-las de acordo com a necessidade
especíica do idoso. Para as pessoas idosas, podem estar indicadas
as soluções à base de lúor e as soluções à base de clorexidine.
Você precisa lembrar de que:
a) Soluções à base de flúor: contribuem para prevenir a doença cárie.
Estão disponíveis em baixas concentrações e destinam-se ao uso
diário. É imprescindível para idosos com dentes e que apresentem
hipossalivação;
b) Soluções à base de clorexidine: têm efeito antibactericida e
antisséptico e agem quimicamente evitando a formação da placa
bacteriana. Contribuem para evitar as doenças periodontais. Em
geral, estão disponíveis em concentração 0,12%, proporcionando
um efeito de até 12 horas. O uso continuado pode provocar
efeitos adversos como a diminuição da sensação de paladar e o
manchamento reversível de dentes e língua;
c) As soluções utilizadas não devem conter álcool, pois este
componente provoca o ressecamento da mucosa bucal. Embora
possam ser adquiridas livremente, a frequência de uso e o grau de
concentração da substância ativa da solução oral devem ser objeto
de orientação do dentista;
d) Além de soluções orais, há outros produtos à base de flúor ou de
clorexidine, apresentados sob a forma de gel ou verniz. Por conter
concentrações mais elevadas da substância ativa, só podem ser
utilizados como coadjuvante na higiene bucal mediante prescrição
do dentista.
62
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
Higiene das mucosas da boca
As mucosas da boca devem ser higienizadas diariamente possuindo
o idoso dentes ou não. Passa-se gentilmente gaze embebida em
solução à base de clorexidine 0,12% pelas regiões das bochechas,
gengivas, céu da boca, lábios e língua. Este procedimento não elimina
a necessidade de escovação de dentes.
Limpeza da língua
A limpeza da língua é procedimento necessário, especialmente
na pessoa idosa. A remoção de resíduos pode ser feita com gaze
embebida em clorexidine 0,12%, ou mediante escovação, ou ainda
utilizando raspadores de língua, sempre de modo delicado e cuidando
para não provocar náuseas.
Na Prática
A clorexidine é um produto que pode apresentar um custo elevado para o
idoso e sua família. Caso o fator custo seja impeditivo da aquisição, substituir
por solução de 50% água mais 50% de água oxigenada líquida. Todavia, a
ressalva é o sabor desta mistura: nem sempre é bem aceito pelo idoso.
Proteção labial
Após a limpeza de dentes, próteses e mucosas, deve-se sempre
proteger o lábio aplicando uma ina camada de vaselina sólida ou
passando um bastão protetor labial (hidratante), que pode conter
protetor solar.
Orientações sobre higiene de próteses removíveis
O manejo das próteses requer muita atenção e zelo. As próteses
removíveis devem ser submetidas à limpeza mecânica diária e
complementarmente à limpeza química semanal.
É recomendável que os idosos retirem as próteses removíveis para
dormir. Assim a mucosa bucal “respira” e também “descansa” da
pressão do aparelho protético.
Unidade 4 - Ações do Cuidado à Saúde Bucal do Idoso
63
As próteses, depois de limpas, devem ser guardadas imersas em
água em um frasco com tampa exclusivo para este im, assim
evitamos quedas e quebras (Figura 11).
Limpeza mecânica
Limpeza química
Guardar as proteses imersas em água
Figura 11: Higiene de próteses removíveis.
Limpeza Mecânica
As próteses devem sempre ser removidas da boca e então limpas
com o objetivo de remover da sua superfície acúmulos de placa
bacteriana e resíduos de alimentos. Existem escovas especiais
para tal im. As escovas elétricas também podem ser usadas em
substituição às escovas especiais para a limpeza de próteses. A
limpeza é realizada em água corrente e acima de um recipiente ou
pia com água, pois diminui o impacto em caso de queda, prevenindo
as fraturas das próteses. Podemos associar à escovação da prótese
um creme dental ou sabão neutro, tratando de enxaguar bem ao inal
da operação. Na impossibilidade de se ter escova especial, pode-se
lançar mão de escova de dente comum.
Limpeza Química
Em complemento à limpeza mecânica das próteses removíveis devese associar uma limpeza química com periodicidade semanal, por
meio da ação de pastilhas efervescentes (que apresentam custo
mais alto) ou de soluções caseiras. A solução com melhor relação
custo-benefício é a de água sanitária. Para a preparação da solução,
mistura-se em um copo comum 2/3 de água e adiciona-se duas
colheres de sopa de água sanitária. Todavia, não cabe o uso de
solução de água sanitária quando se tratar de prótese que contenha
qualquer parte metálica. Nesses casos, recomenda-se solução de
água bicarbonatada. Para a preparação da solução, mistura-se uma
colher de sopa de pó de bicarbonato em um copo comum de água.
Após completar a escovação, coloca-se a mesma em uma das
soluções descritas por um período equivalente a uma noite. Para o
seu uso, retira-se a prótese da solução e enxágua-se bem em água
corrente para eliminar resíduos.
64
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
4.3 Cuidados à Saúde Bucal do Idoso Com Capacidade Funcional
Comprometida
Embora em pequena proporção, muitas famílias convivem hoje com idosos
que apresentam sua capacidade funcional diminuída, em vários níveis. Para
estes, algumas peculiaridades do cuidado à saúde bucal necessitam ser
ressaltadas. Um aspecto fundamental é a inclusão da figura do cuidador,
seja ele leigo ou profissional, familiar ou contratado, como parceiro para a
realização dos procedimentos diários de higiene bucal. Esta seção também
é composta de informações que devem ser compartilhadas com outros
membros da equipe, cuidadores, com idosos e com a comunidade em
geral. Trata-se de reconhecer quais são as dificuldades mais comuns no
proceder com o cuidado à saúde bucal do idoso fragilizado e alternativas
práticas de superar essas barreiras no dia a dia do idoso.
A saúde bucal do cuidador
Implica no cuidado que aquele que cuida do idoso tem para com
a sua própria saúde. O cuidado de uma pessoa, em geral com
alguma dependência, é missão que exige dedicação e tempo, e por
vezes envolve tensão. Quanto mais complexo o ambiente em que
se desenvolve esta relação de cuidado, mais atenção à sua própria
saúde deve ter o cuidador. Neste contexto, a saúde bucal do cuidador
também precisa ser alvo de atenção preventiva e curativa. Assim, as
boas práticas de autocuidado se reletirão positivamente no modo
pelo qual se cuida de outra pessoa.
O cuidado à saúde bucal do idoso com algum grau de dependência
ou falta de autonomia é mais difícil de ser realizado, pois apresenta
algumas especiicidades. Algumas situações são frequentes nesse
contexto, devendo a equipe de saúde buscar auxiliar e apoiar a
família e os cuidadores na superação de diiculdades.
A presença de lesões de cárie e/ou de doenças periodontais (aquelas
que afetam diretamente os tecidos de suporte dos dentes – gengivas
e osso) constitui sérios obstáculos à realização de uma higiene
bucal adequada. Ainda que permaneçam indispensáveis todos os
procedimentos indicados de higienização, é necessário o mais pronto
encaminhamento do idoso para receber assistência.
Unidade 4 - Ações do Cuidado à Saúde Bucal do Idoso
65
Não raro, idosos possuem problemas na mucosa bucal. Normalmente
são manifestações de infecções fúngicas, como a candidíase,
ou de origem traumática, como as úlceras. Ao perceber qualquer
alteração de cor e/ou textura na mucosa, deve-se providenciar o
encaminhamento do idoso para receber a assistência.
Qualquer prótese dentária utilizada pelo idoso, tanto ixa como
removível, deve sempre estar bem adaptada, nem se deslocando no
momento da mastigação. A prótese não deve causar desconforto,
dor, feridas ou sangramento. Não é aconselhável que se utilizem
materiais como pó ou enchimentos adesivos para manter as próteses
removíveis na boca.
Também se deve recordar que as próteses têm uma vida útil
limitada e, portanto precisam ser revisadas pelo dentista e, portanto,
precisam ser trocadas/refeitas quando necessário. Por isso, deve-se
observar constantemente a integridade da prótese e sua adaptação
correta na boca, pois, detectando problemas, é indispensável o
encaminhamento do idoso ao dentista.
Em decorrência do déicit cognitivo e motor da maioria dos idosos,
o cuidador deve aproveitar o momento em que o idoso está mais
tranquilo, sob o efeito dos medicamentos administrados, para
proceder a sua higiene bucal. Distrair o idoso, desviar sua atenção,
enquanto se executa a higiene, pode ser uma estratégia útil. A
divisão do procedimento de higienização em suas pequenas etapas,
anunciando o que vai ser feito, também constitui prática capaz de dar
mais segurança ao idoso.
Paciência, persistência e senso de oportunidade são necessários. O
insucesso momentâneo, a frustração de uma tentativa não é motivo
para desistir, e sim razão para novo atendimento noutra ocasião
quando o idoso estiver mais receptivo.
Qual o momento mais apropriado para realizar a higiene bucal?
Normalmente, a higiene bucal é realizada no mesmo momento do
banho, concomitante à higiene corporal. Entretanto, o cuidador deve
avaliar e decidir o melhor momento para fazê-la.
Se possível, deve-se realizar a higiene oral do idoso todos os dias,
duas vezes ao dia, pela manhã e pela noite. Porém, não sendo assim
possível, prioriza-se a higiene da noite, antes de dormir, pois neste
66
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
período há uma diminuição do luxo salivar, deixando o idoso mais
vulnerável ao desenvolvimento de enfermidades bucais.
Como fazer e qual o local mais apropriado para a higiene bucal? O
cuidador deve avaliar qual o melhor lugar para realizar a higiene bucal,
considerando a disposição de materiais para higiene, a necessidade
de uma pia próxima e de água corrente, bem como a privacidade e o
respeito devidos à pessoa sob seus cuidados.
Durante a realização dos procedimentos de atenção ao idoso, o
cuidador (trabalhador/proissional de saúde) deve procurar seguir
as normas de biossegurança, utilizando equipamentos de proteção
individual: luvas de látex descartáveis, máscara, gorro, óculos e jaleco.
Fica a critério do cuidador domiciliar ou familiar utilizar luva e máscara.
Na Prática
Se houver dificuldade de abertura de boca, o acesso poderá ser facilitado
com o uso de espátula de madeira coberta por gaze em uma das pontas,
de modo a constituir um “mordedor” que auxilie a manter a boca aberta e
diminua o risco de o idoso ferir os dedos/mão do cuidador. A higienização
é feita no lado oposto ao que foi colocado o “mordedor”. Reposicionamos
o “mordedor” e higienizamos o outro lado da cavidade bucal.
Posição idoso-cuidador
a)
com o idoso na posição sentado: o cuidador posiciona-se de
pé atrás ou ao lado do idoso, de forma a poder sempre apoiar a
cabeça no seu tronco ou braço;
b)
com o idoso na posição deitado: o cuidador posiciona-se ao
lado da cama; levantar um pouco as costas do idoso para evitar
engasgue (afogamento); a cabeça deve ser girada na direção em
que estiver o cuidador; a higiene é feita no lado oposto ao que
estiver em contato com o travesseiro; o mesmo procedimento
será repetido após o deslocamento do cuidador para o outro
lado da cama.
Proteção do idoso
Antes de iniciar os procedimentos de higiene do idoso, deve-se ter
o cuidado de proteger seus lábios, geralmente inos e ressecados,
Unidade 4 - Ações do Cuidado à Saúde Bucal do Idoso
67
com vaselina sólida para que não se rompam. É recomendável ainda
proteger suas roupas colocando sobre elas um avental ou toalha.
4.4 Aspectos Preventivos
O estigma das pessoas para com os idosos desdentados é o falso
entendimento de que a perda dentária é consequência natural do
envelhecimento e, portanto, inevitável. A extração precoce de dentes
a que foram submetidos no passado é uma das consequências
deste estigma, agravado ainda pelas perversas condições
socioeconômicas, que diicultaram a possibilidade de reabilitação
bucal. Contudo, em todo o mundo, progressivamente, tal estigma vai
deixando de existir, uma vez que se constata a melhora gradativa da
condição bucal de adultos e idosos.
Este fato é atribuído aos avanços nas práticas de prevenção e
tratamento odontológicos, aumento da cobertura dos serviços para a
população mais jovem, melhoria dos hábitos de autocuidado e melhor
compreensão sobre a necessidade dos cuidados em saúde bucal.
Em contrapartida, idosos com maior grau de dependência compõem
um importante grupo de risco sujeito a desenvolver enfermidades.
A valorização dos aspectos preventivos no campo odontológico
e a ótima saúde bucal observada em alguns indivíduos idosos
permitem airmar que é possível manter íntegros os dentes durante
o envelhecimento. Para tanto, é necessário que a prevenção seja
traduzida em práticas e atitudes, coletivas e individuais, ao longo do
curso da vida.
Vamos destacar a seguir o uso racional de luoretos na prevenção da
cárie dentária e também a prevenção do câncer de boca.
Uso racional do lúor: abordagem individual e coletiva
A utilização de luoretos na prevenção e tratamento da cárie dentária
em idosos segue os mesmos princípios de outra faixa etária. Em
se tratando de pessoas idosas, as quais tradicionalmente foram
excluidas das práticas preventivas por se acreditar que delas não
tirariam benefícios, é bom recordar alguns princípios fundamentais ao
lançar mão de luoretos, principalmente nas intervenções individuais
(Quadro 12):
68
a)
quem não está sujeito à cárie, não precisa de luoreto;
b)
quem está sujeito à cárie, precisa de luoreto;
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
c)
quem está mais sujeito à cárie, precisa mais de luoreto
(entretanto, somente a utilização de luoretos pode não ser
suiciente para controlar a doença, se os fatores determinantes
para seu desenvolvimento não forem abordados);
d) quem esteve com o processo de cárie sob controle na presença
de luoreto, icará sujeito à cárie na sua ausência (o importante é
a manutenção de luoreto na cavidade bucal) (TENUTA; CURY,
2005)
Dentifrício fluoretado é um meio de utilização de fluoreto que deve ser
recomendado para todos os indivíduos, independente da idade. É o meio
de utilização mais racional, pois associa a desorganização do biofilme
dental à exposição da cavidade bucal ao fluoreto. Existe evidência
científica sólida de que escovação com dentifrícios fluoretados resulta
em significativa diminuição do desenvolvimento da doença cárie.
Água luoretada
(em níveis adequados)
Dentifrício luoretado
(1000-1500 ppm F)
Soluções para bochecho
NaF 0,2% (semanal)
NaF 0,05% (diário)
USO
USO
USO
COLETIVO
INDIVIDUAL
PROFISSIONAL
RECOMENDAÇÕES
X
Sem restrições
X
Diariamente para todos
os indivíduos
Gel, verniz
X
X
De acordo com o risco
ou atividade de cárie
X
Indicação individual ou
coletiva, de acordo com
o risco ou atividade de
cárie
Quadro 12: Recomendações de uso de luoretos.
Fonte: Tenuta; Cury, 2005.
Lembre-se, o uso combinado destes meios deve ser feito de acordo com
o risco ou atividade de cárie individual ou populacional.
O uso de luoretos também é de extrema importância na prevenção e
controle das lesões de cárie de raiz, muito comuns nos idosos.
Unidade 4 - Ações do Cuidado à Saúde Bucal do Idoso
69
Prevenção do câncer de boca
O câncer de boca acomete mais pessoas do sexo masculino e
sobretudo indivíduos com idade superior a 40 anos. Infelizmente,
a maioria dos casos é diagnosticada em estágios avançados da
doença, o que determina grande morbi-mortalidade.
Esta patologia é uma doença que pode ser prevenida de forma simples,
desde que seja dada ênfase à promoção à saúde e ao aumento do
acesso aos serviços de saúde para o diagnóstico precoce.
Os fatores de risco são o baixo nível socioeconômico, tabagismo,
etilismo e exposição excessiva à radiação solar.
O consumo de álcool e tabaco associados potencializa drasticamente o
risco de ocorrência do câncer de boca.
Nem todas as pessoas apresentam estes fatores de risco, pois não
devem ser os únicos fatores a serem considerados para a suspeita
de potencial malignização. Idosos identiicados como “grupo de
risco” devem receber exames preventivos para o câncer bucal ao
menos duas vezes ao ano. Deve haver uma atuação conjunta da
Atenção Básica com os CEO, para que estes funcionem como o local
apropriado para o diagnóstico deinitivo das pessoas encaminhadas.
A prevenção deve focar idosos com as seguintes características:
sexo masculino, condição de saúde bucal ruim (higiene bucal
comprometida, portadores de próteses removíveis mal-adaptadas),
fumante e etilista. As ações educativo-preventivas devem enfatizar
que se evite ou se diminua o consumo do fumo e do álcool, que
se estimule a higiene bucal e que se veriique periodicamente as
condições das mucosas orais, tudo associado a recomendações
sobre a manutenção de dieta saudável, rica em vegetais e frutas.
Particularmente, para prevenir o câncer de lábio, é preciso evitar a
exposição ao sol sem proteção, por isso, estimular o uso do iltro
solar e chapéu de aba longa.
As pessoas idosas que fumam devem ser apoiadas à cessação de
fumar. Aquelas que fumaram regularmente ao longo de anos devem
ser estimuladas a não retornarem a este hábito. Tal atitude favorece
tanto a prevenção do câncer de boca, como de outros tipos de câncer,
trazendo também benefícios à saúde geral e bucal, independente de
se ter idade avançada.
70
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
Saiba Mais
Para ler mais sobre o manejo de lesões de mucosa bucal, consulte:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. Manual de especialidades em
saúde bucal. Brasília, 2008. Disponível em: <dab.saude.gov.br/docs/
publicacoes/geral/manual_bucal.pdf>.
SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta Unidade, estudamos ações do cuidado à saúde bucal
do idoso. Revimos a abordagem familiar e social do idoso pelos
membros da Equipe de Saúde da Família, as alterações isiológicas
no envelhecimento, como também os cuidados à saúde bucal
demandados pelos idosos, considerando o papel de cuidadores e
proissionais da saúde. Repassamos orientações sobre uma série
de procedimentos de cuidados diários, de higiene bucal (dentes,
mucosas e próteses removíveis). Foram também pontuadas as
especiicidades do cuidado à saúde bucal do idoso com capacidade
funcional comprometida. Ao inal, ressaltamos aspectos preventivos
da doença cárie e do câncer bucal, por meio de ações no âmbito
individual e coletivo. Todos são conteúdos de suma importância para
a atuação dos proissionais da Equipe de Saúde da Família.
Unidade 4 - Ações do Cuidado à Saúde Bucal do Idoso
71
REFERÊNCIAS
MARINHO, V. C. C. et al. Crema dentales luoradas para prevenir cáries
dentales em niños y adolescentes. Cochrane Review, Oxford, n. 1, 2006.
MELLO, A. L. S. F. ERDMANN, A. L.; CAETANO, J. C. Saúde bucal do idoso:
por uma política inclusiva. Texto & Contexto Enfermagem, v. 17, n. 4, p.
696-704, 2008.
TENUTA, L. M. A.; CURY, J. A. Fluoreto na prática de promoção de saúde,
individual e coletiva. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA
DE PESQUISA ODONTOLÓGICA. 6. Rio de Janeiro, v. 19, set. Pesquisa
odontológica brasileira. 2005. Disponível em: http://www.sbpqo.org.br/
resumos/2005/suplementos_2005.pdf. Acesso em: 14 jul. 2010.
72
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
Unidade 4 - Ações do Cuidado à Saúde Bucal do Idoso
73
UNIDADE 5
MÓDULO 8
5 AÇÕES DA CLÍNICA AOS PRINCIPAIS AGRAVOS À SAÚDE BUCAL DO IDOSO
Considera-se de extrema importância que todos os membros da
equipe de saúde, assim como cuidadores/familiares, estejam atentos
para sinais e sintomas que possam indicar a necessidade de uma
avaliação mais aprofundada e encaminhamento do idoso para
atendimento pela área especíica.
A ampliação do acesso à atenção à saúde bucal das pessoas idosas
passa pelo reconhecimento das suas condições de saúde/doença
bucal. Ainal, o diagnóstico é o primeiro passo no estabelecimento de
nossas ações, sejam elas individuais ou coletivas, pressupondo que
assim se inicia a organização e a oferta dos serviços de saúde bucal.
Nesta unidade, você estudará sobre alterações bucais próprias do
processo de envelhecimento e os problemas bucais mais prevalentes
na referida faixa etária. Nesse contexto, será ressaltado o uso de
medicamentos, bem como as reações adversas que estes podem
provocar na cavidade bucal.
Você estudará também a respeito das questões relativas à xerostomia
e à hipossalivação, tão comuns em idosos, e sobre as relações
imbricadas entre doenças bucais e doenças sistêmicas que, como
via de mão dupla, inluenciam-se mutuamente.
5.1 Avaliação das Condições Bucais dos Idosos
O idoso requer uma avaliação integral, o que frequentemente envolve
o olhar de diferentes áreas da saúde. Isso se dá não só por conta do
processo isiológico do envelhecimento, como também, na maioria das
vezes, por apresentar alterações sistêmicas múltiplas associadas às
respostas indesejadas às drogas especíicas de que faz uso rotineiro.
Por muitos anos, os idosos icaram sem uma oferta de cuidados
bucais que observassem suas características e peculiaridades.
Por isso, no atendimento à saúde bucal do idoso, é fundamental
o trabalho conjunto da equipe de saúde, sendo importante o
trabalho com os médicos, enfermeiros e, se estiverem ao alcance,
os psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, entre outros. A
interação multidisciplinar na equipe de saúde e o envolvimento
familiar ou de cuidadores fazem parte do processo de atenção em
saúde bucal do idoso.
Unidade 5 - Ações da Clínica aos Principais Agravos à Saúde Bucal do Idoso
75
A equipe de saúde bucal, ao atender o idoso na atenção básica, deve
buscar compreender a sua situação de saúde física, contextualizada
com aspectos emocionais, cognitivos, sociais e econômicos e, a partir
dessa análise, formular um plano preventivo e terapêutico adequado
à sua realidade e necessidades. A intensidade das doenças bucais,
o estado de conservação dos dentes e a prevalência de edentulismo
são relexos da sua condição de vida e do acesso às ações e serviços
em saúde bucal.
Os idosos frequentemente mostram distúrbios de audição, visão,
déicit da memória e confusão mental. O dentista deve realizar
uma abordagem centrada no idoso, dirigindo-se a ele, ouvindo e
respeitando suas observações, procurando estabelecer um vínculo
de coniança, diminuindo a ansiedade e desmistiicando possíveis
traumas que este costuma trazer em relação ao atendimento
odontológico. Quando se izer necessário, deve-se recorrer ao
acompanhante para obter informações.
Deve ser realizado um exame criterioso para detecção e diagnóstico
das condições bucais, procurando associar possíveis fatores
determinantes das doenças bucais. Uma boa anamnese, além de
revelar informações sobre as condições de saúde-doença e de seus
hábitos, é momento especial para se observar o comportamento e
as atitudes em relação à sua saúde bucal, à saúde como um todo
e posturas perante a vida. No momento do exame deve-se anotar:
a)
queixa principal e histórico das condições bucais;
b)
exame extraoral;
c)
exame perioral e intraoral: mucosa oral, estrutura dentária, lesões
de cárie, restaurações, condição periodontal, oclusão, osso
alveolar, e adaptação de próteses.
Na Prática
Devemos prestar atenção às lesões de mucosa, pois podem ser
sinais primários de câncer, cujo sucesso do tratamento dependerá da
precocidade do diagnóstico. Questione sobre fatores de risco. Informe-se
acerca das possibilidades de serviços de diagnóstico anátomo-patológico
ao seu alcance. Se necessário, proceda à biópsia, um procedimento que
pode ser realizado na atenção básica. Para tal procedimento, consulte o
Manual de Especialidades em Saúde Bucal do Ministério da Saúde.
76
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
No caso de idosos portadores de doenças sistêmicas, principalmente
se não controladas, aconselha-se o compartilhamento e a discussão
com o médico a respeito das condições físicas mais apropriadas
para a realização do tratamento odontológico.
O exame clínico bucal regular também deve incluir palpação digitopalmar contra estruturas rígidas próximas e ordenha das glândulas
maiores, para veriicar se o luido é purulento, escasso, forma gota na
saída do ducto, ou inexistente.
O aspecto desidratado das mucosas bucais, instrumentos ou
espátulas que se aderem à mucosa durante o exame, acúmulo
exagerado de restos alimentares e placa bacteriana sobre dentes,
próteses, língua e fundo de sulco jugal e depósitos ressecados
sobre a língua, podem ser sinais de hipossalivação. Diante deste
caso, idosos portadores de próteses totais frequentemente relatam
diiculdades, como falta de adaptação e aparecimento de lesões de
mucosa.
Alguns achados clínicos da disfunção salivar que podem ser
indicadores clínicos intra-orais de hipossalivação, incluem: mucosa
bucal atróica, brilhante, seca e avermelhada; atroia das papilas
iliformes linguais; língua lobulada ou issurada; vermelhão labial
ou lábio seco e issurado; aumento da frequência de infecções da
mucosa (espécies de Cândida); queilite angular; aumento de atividade
de cárie; ulceração da mucosa e fragilidade da mucosa; estomatite
por uso de dentaduras superiores; acúmulo de restos alimentares;
acúmulo de placa bacteriana em dentes e próteses; e halitose.
A modiicação na escolha de alimentos, com a recusa de ingestão
de alimentos secos, crocantes ou temperados, também pode ser um
sinal de alteração no luxo salivar.
Na Prática
Disponibiliza-se aqui um instrumento de triagem para profissionais
da saúde, não necessariamente dentistas, como ferramentas de
diagnóstico e encaminhamento dos idosos com relação às demandas
de saúde bucal.
Unidade 5 - Ações da Clínica aos Principais Agravos à Saúde Bucal do Idoso
77
Alterações bucais no envelhecimento
As alterações bucais consideradas isiológicas que se apresentam,
em maior ou menor grau, durante o processo de envelhecimento e
comumente descritas na literatura são:
a)
diminuição do tamanho celular;
b)
perda de elastina submucosa na mucosa oral;
c)
perda de tecido conjuntivo (colágeno);
d) aumento da fragilidade das ibras colágenas;
e)
diminuição da função das glândulas salivares menores;
f)
diminuição no número e qualidade dos vasos sanguíneos e nervos;
g)
desgaste da superfície dental pela associação dos mecanismos
de atrição abrasão-erosão, esmalte dentário menos permeável;
h)
formação excessiva de dentina secundária;
i)
maior espessura na camada de cemento;
j)
diminuição do tamanho da câmara pulpar e dos canais radiculares;
k)
diminuição do tamanho e do volume da polpa dentária;
l)
aumento dos cálculos pulpares;
m) mineralização distróica.
78
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
Problemas bucais mais prevalentes
As condições bucais prevalentes nos idosos são (Figura 13):
Perda parcial ou total de dentes (edentulismo)
Cárie (principalmente de raiz), xerostomia/hipossalivação, lesões de
tecidos moles, desgastes dentais
Doenças periodontais
Halitose
Dificuldade de higienização bucal com consequente acúmulo de
biofilme/placa bacteriana
Necessidade de prótese dentária ou uso de próteses mal adaptadas
Figura 13: Problemas bucais mais prevalentes.
Fonte: Do autor.
A perda dentária ainda é o principal agravo bucal nos idosos brasileiros.
É resultante, principalmente, da ausência de resposta ao longo da
vida às duas patologias bucais mais prevalentes: a doença cárie e a
doença periodontal (em suas diversas formas). Por isso, optamos por
apresentar, a seguir, um quadro-resumo desses problemas bucais e
as possíveis abordagens individuais e coletivas para os serviços de
atenção básica (Quadro 14).
Unidade 5 - Ações da Clínica aos Principais Agravos à Saúde Bucal do Idoso
79
EDENTULISMO
Fatores de risco
Fatores culturais e sócioeconômicos,
falta de acesso a tratamentos básicos e
especializados da cárie e das doenças
periodontais.
DOENÇAS PERIODONTAIS
CÁRIE
Fatores culturais e socioeconômicos, Fatores culturais e socioeconômicos,
diabetes, fumo, ausência de controle falta de acesso ao lúor, deficiente
de placa.
controle mecânico do biofilme,
consumo excessivo e frequente de
Imunodepressão e stress.
açúcar, distúrbios salivares.
Mudança do modelo de oferta dos Ações de vigilância sobre os sinais Ações direcionadas à população sob
de risco.
risco social, acesso aos tratamentos
serviços odontológicos.
e ao uso do flúor.
Incorporação e universalização das Ações intersetoriais e educativas
tecnologias preventivas das doenças (grupos de idosos, Hiperdia, fumo, Monitoramento de indicadores
(período mínimo de quatro anos).
cárie e periodontal.
cardiopatas).
Abordagem Coletiva
Procedimentos reabilitadores que Ações de promoção à saúde e
prevenção (para controle da atividade
preservem os elementos dentais.
da doença e dos seus fatores de
Organização de uma rede de
risco).
cuidados progressivos em saúde
bucal.
Dimensionar a demanda e organizar a
oferta de procedimentos em
Laboratórios Regionais de Próteses
Dentárias (LRPD).
Investigação de casos diagnosticados
de perda precoce de elementos
dentais na área de abrangência .
Medidas
de
saúde
pública
intersetoriais e educativas (fluoretação
da água de abastecimento).
Escovação dental supervisionada.
Entrega de escova e dentifrício
fluoretado e de fio dental.
Aplicação tópica de flúor .
Incorporação e universalização de Gengivite
tecnologias preventivas individuais
Ações educativas para controle de
e coletivas para as doenças bucais
placa.
mais comuns.
Remoção ou tratamento de fatores
Universalização e acesso precoce da
retentivos de placa.
população da área de abrangência
aos procedimentos de controle Raspagem e polimento .
coletivo da cárie e doença Utilização de controle químico da
periodontal, Tratamento Restaurador placa .
Atraumático e controle da doença
Monitoramento e controle dos fatores
periodontal.
de risco.
Oferta
de
procedimentos
Avaliação do controle.
Abordagem Individual reabilitadores de baixa complexidade
de placa e da atividade de doença.
como os tratamentos endodônticos
conservadores
em
dentes Periodontite
permanentes.
Controle de placa pelo binômio
Oferta de próteses dentárias com o
objetivo de construir uma política de
inclusão social de adultos e idosos
edêntulos, minimizando as sequelas
da prática odontológica mutiladora.
Vigilância sobre os sinais de
atividade da doença (manchas
brancas e cavidades) em ambientes
coletivos (grupos de idosos, ILPI).
Verificação dos sinais da atividade da
doença.
Tratamento da doença cárie ativa
Instrução sobre higiene bucal e dieta.
Adequação do Meio Bucal: remoção
de placa, remoção da dentina cariada
e selamento das cavidades com
ionômero de vidro e remoção de
fatores retentivos de placa.
Uso tópico de flúor.
Retorno para manutenção.
usuário/profissional.
Controle dos fatores de risco (fumo
e diabetes).
Fases da intervenção: uma de
controle da doença e uma de
Organização da rede de cuidados, tratamento das manifestações
com fluxos de referência e clínicas.
contrarreferência para as diversas
especialidades nos CEO.
Quadro 14: Resumo de problemas bucais e possíveis abordagens.
Fonte: Brasil, 2006.
Uso de medicações
80
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
Cerca de um terço dos idosos utiliza algum tipo de medicamento,
prescrito ou não, pelo menos uma vez ao dia. No entanto, há aqueles
que utilizam vários deles: cardiovasculares, anti-hipertensivos,
analgésicos, sedativos, laxantes, antiácidos, entre outros. O uso
concomitante de tantos medicamentos aumenta o risco de reações
adversas e diminui os níveis de segurança em seu uso: troca de
dosagens, de horários de ingestão, causando resultados desastrosos
ou, no mínimo, anulando os efeitos do medicamento.
Embora, em algumas situações, seja indicado o uso de múltiplos
fármacos, pela presença de condições agudas e crônicas de
adoecimento, uma revisão periódica e criteriosa de todas as
medicações em uso é importante. Na revisão, avaliam-se os
benefícios da terapia medicamentosa, os riscos de reações adversas
e de interações medicamentosas, considerando o risco para reações
que afetem o equilíbrio, a mobilidade, que causem tonturas, quedas,
constipação, incontinência urinária, certiicando-se dos menores
riscos e maiores benefícios da terapia utilizada.
A administração de terapia medicamentosa é um fator importante para
manter um idoso saudável, mas envolve, também, riscos signiicativos
por envolver habilidades complexas que, quando comprometidas,
podem se tornar avassaladoras. Membros da equipe de saúde
podem atuar de forma colaborativa com os idosos garantindo a sua
segurança e o uso apropriado dos medicamentos, ensinando formas
alternativas de reconhecer o nome e o modo de ingeri-los, utilizando
como referência símbolos e práticas do cotidiano do idoso para
facilitar, por exemplo, a memorização do horário do medicamento.
As estratégias educativas incluem checar com o idoso, na consulta
odontológica ou na visita domiciliar, o uso dos remédios, construir
com ele novas embalagens que auxiliem na identiicação, estimular
a ajuda dos familiares neste controle, orientar sobre os efeitos dos
medicamentos, suas interações com os alimentos e com outros
medicamentos.
As reações farmacológicas adversas na cavidade bucal
A cavidade bucal é comumente acometida por reações farmacológicas
adversas, embora muitas vezes estes distúrbios passem despercebidos
tanto pelos proissionais da saúde, como pelos indivíduos acometidos.
Isto se torna evidente quando a população idosa é avaliada. Suas
peculiaridades isiológicas, patológicas e sociais fazem com que as
condições bucais iquem em segundo plano.
Os distúrbios gustativos são comuns. Dentre eles, encontram-se a
diminuição ou a perda da sensibilidade gustativa. Tais alterações são
Unidade 5 - Ações da Clínica aos Principais Agravos à Saúde Bucal do Idoso
81
provavelmente devidas à atuação destas drogas na composição da
saliva e do luxo salivar.
Esta informação deve ser compartilhada com o idoso, pois no caso da
persistência do uso da medicação, os sintomas não serão eliminados.
Por outro lado, com a suspensão do medicamento, a remissão é
gradativa, podendo levar até aproximadamente 8 semanas.
A ação tópica, ou seja, direta, dos medicamentos na cavidade
bucal pode, além de desencadear ulcerações bucais, tais como,
queimaduras, causar um incremento nos desaios cariogênicos, pelo
desequilíbrio do pH bucal, quando estes fármacos são veiculados
com altas concentrações de açúcar. O processo de cárie dentária
também pode ser desencadeado por ação indireta. Primeiro, pela
possibilidade de redução do luxo salivar, diicultando a ação dos
tampões salivares, e segundo, pela xerostomia, pela tendência de
alterações comportamentais provocada, tais como, a ingestão de
balas para a diminuição da sensação de boca seca.
Também as infecções orais podem ser induzidas ou agravadas
pelos fármacos corticoesteróides, antimicrobianos, antineoplásicos
e imunossupressores. A terapia com agentes neurolépticos pode
desencadear um distúrbio motor irreversível chamado de disquenesia,
caracterizada pela movimentação involuntária de lábios, língua e boca.
O quadro pode manifestar-se meses após o início do tratamento.
Medicamentos que afetem o sistema imunológico do idoso podem
acarretar o aparecimento da estomatite aftosa geralmente na mucosa
bucal, repercutindo na rotina de cuidado à saúde bucal, bem como na
utilização de próteses removíveis. Distúrbios como glossite, lesões
vesículo-bolhosas, reações liquenóides, eritema multiforme e lupus
eritematoso também foram citados como possíveis manifestações
bucais relacionadas ao consumo de medicamentos.
Saliva, hipossalivação e xerostomia no idoso
A saliva é uma secreção exógena, mucoserosa, com coloração clara
e pH levemente ácido, produzida pelas glândulas salivares maiores
e menores. Apresenta em sua composição 99% de água e 1% de
eletrólitos, imunoglobulinas, proteínas, enzimas, mucinas e produtos
nitrogenados. Quando a ela somam-se o luido crevicular, células
sanguíneas, bactérias e seus produtos, vírus, células descamadas do
epitélio bucal e secreções pulmonares expectoradas, é conceituada
82
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
como saliva total.
Um luxo salivar adequado é pré-requisito essencial para uma boa
saúde bucal. A saliva não apenas torna a função oral possível, mas
também protege os tecidos bucais de agentes nocivos derivados de
microorganismos, alimentos e drogas. A função salivar no processo
de digestão foi a primeira a ser estudada. A identiicação e o
conhecimento dos seus componentes evidenciaram a complexidade
do luído salivar. Suas funções incluem:
a)
capacidade tampão;
b)
formação do bolo alimentar;
c)
evidenciação do sabor;
d) ação antibacteriana, antifúngica e antiviral;
e)
lubriicação;
f)
remineralização; e
g)
proteção frente à desmineralização.
O controle da produção e excreção salivar é realizado por meio do sistema
nervoso autônomo, sendo o impulso nervoso transmitido através do
neurotransmissor acetilcolina. Este conhecimento é importante, pois os
fármacos podem atuar neste sistema, afetando assim a secreção salivar.
Os chamados parassimpaticomiméticos produzem efeitos semelhantes
ao da acetilcolina, proporcionando a elevação da secreção. Já os
parassimpaticolíticos, antagonistas competitivos da mesma, possuem
como efeito a inibição da secreção salivar.
A lubriicação é a mais antiga das funções salivares descrita. Não
somente dos alimentos consumidos, mas também dos tecidos moles
e duros da cavidade bucal. Um luxo salivar insuiciente certamente
causará problemas, como a retenção e a impacção dos alimentos
nos elementos dentários, diiculdade na alimentação, aumento na
formação de placa bacteriana, entre outros. A saliva atua ainda na
manutenção do pH bucal, por meio dos tampões bicarbonato, íons
fosfato e peptídeos ricos em histidina.
Recapitulando então: os indivíduos acometidos por alterações
salivares, provenientes da diminuição ou da ausência total de luxo
salivar, possuem uma maior predisposição a patologias bucais,
como maior suscetibilidade a infecções, lesões atípicas de cárie,
lesões na mucosa bucal, saburra lingual, halitose, diiculdades
Unidade 5 - Ações da Clínica aos Principais Agravos à Saúde Bucal do Idoso
83
de deglutição, principalmente de alimentos secos, problemas na
fala e na utilização de próteses removíveis, alterações nas funções
sensoriais e quimiossensoriais, entre outros. Todos esses fatores
afetam o convívio social e diminuem a qualidade de vida do indivíduo.
Na Prática
Sialometria é o exame que analisa o fluxo salivar com o objetivo de
quantificar o volume e o funcionamento fisiológico das glândulas
salivares, em repouso ou quando estimuladas, em função do tempo de
excreção. Para tanto, é necessário o dispositivo denominado sialômetro.
A maioria dos estudos considera como parâmetro da hipossalivação,
na análise do fluxo salivar total em repouso, valores iguais ou menores
que 0,1 ml/min. Entretanto, valores entre 0,1 e 0,2 ml/min. já podem ser
considerados como abaixo do normal.
A hipofunção das glândulas salivares e a xerostomia, apesar de serem
entidades distintas, estão frequentemente associadas. Estudos
apontam uma forte correlação entre o número de medicamentos
ingeridos e a presença de xerostomia. Este é caso bastante comum
e típico da pessoa idosa.
Existe uma confusão no uso dos termos xerostomia e hipossalivação, já que
muitas vezes são empregados como sinônimos. A hipofunção das glândulas
salivares é um sinal referente à hipossalivação, ou seja, diminuição objetiva
do fluxo salivar abaixo dos níveis considerados normais. Já a xerostomia se
refere ao sintoma relacionado à sensação de boca seca.
Durante muito tempo, estudos sobre xerostomia/hipossalivação em
idosos atribuíam este achado clínico como uma alteração associada
ao envelhecimento. Tal concepção baseava-se especialmente
na não distinção entre o que era resultado de uma “alteração
normal” do envelhecimento e o resultado de patologias associadas
ao envelhecimento e seus tratamentos que podiam modiicar
signiicativamente o luxo salivar em pessoas mais velhas. Por outro
lado, alterações observadas no parênquima das glândulas salivares
durante o envelhecimento reforçavam esta concepção. De fato,
as glândulas salivares têm seu parênquima substituído por tecido
84
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
adiposo e ibroso, mas não é claro se as mencionadas alterações
morfológicas determinam uma modiicação funcional durante o
envelhecimento.
Alguns estudos populacionais de larga escala têm mostrado que o
luxo não estimulado total diminui com o aumento da idade, enquanto
outros falham em demonstrar esta relação. Entretanto, tanto a
hipossalivação como a xerostomia parecem ter uma prevalência
aumentada com a idade e são mais frequentes entre as mulheres.
A partir de um levantamento dos medicamentos mais comumente
usados por idosos no Brasil, Padilha; Souza (1997) listou 32 que
apresentavam a xerostomia (boca seca) com possível efeito colateral.
Conheça, a seguir no quadro 15, os fármacos levantados pela autora:
Alguns hábitos como o uso do fumo, do álcool, o consumo de bebidas
com cafeína e a respiração bucal têm sido associados com xerostomia.
Manejo da “boca seca”
Quando não for possível a substituição dos medicamentos, o
tratamento da boca seca será paliativo, ou seja, controlará os sinais
e os sintomas.
A comunicação entre proissionais deve incluir a discussão sobre a
possibilidade de ajustes na terapia medicamentosa, na dieta e no
acompanhamento das diversas alternativas de tratamento paliativo
ou não.
Alguns procedimentos são indicados para o estímulo da produção
de saliva:
a)
o estímulo à mastigação é a primeira recomendação, pois induz
a produção de saliva. O estímulo de sucção também favorece a
salivação. O uso de gomas de mascar e balas sem açúcar pode
ser eiciente para estimular a produção de saliva;
b)
o aumento do consumo de água é recomendado, já que muitas
pessoas não tomam água em quantidade adequada o que
contribui para o agravamento da boca seca;
c)
o uso de soluções que contenham álcool na sua composição
Unidade 5 - Ações da Clínica aos Principais Agravos à Saúde Bucal do Idoso
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Captopril
Carbamazepina
Carbidopa/Levodopa
Cimetidina
Cinarizina
Cloridrato de Biperideno
Cloridrato de Clonidina
Cloridrato de Fluoxetina
Cloridrato de Imipramina
Cloridrato de Paroxetina
Cloridrato de Prometazina
Cloridrato de Propanolol
Cloridrato de Tioridazina
Cloridrato de Verapamil
Clortalidona
Diazepam
Diclofenaco Sódico
Dinitrato de Isossorbida
Dipirona Sódica
Fenitoína
Flurazepam
Furosemida
Hidroclorodiazida
Levomepromazina
Metildopa
Nifedipina
Nizaditina
Paracetamol
Penicilina V
Propatilnitrato
Triexifenidil
Urapidil
Quadro 15: Fármacos associados
à xerostomia.
Fonte: Padilha; Souza, 1997.
85
deve ser evitado, pois ressecam ainda mais a boca;
d) a lubriicação frequente dos lábios (vaselina ou bastão hidratante);
e)
a dieta é parte importante no tratamento do idoso com boca
seca. Devemos atentar para o fato de que a baixa produção de
saliva associada à ingestão de alimentos açucarados e pastosos
deterioram ainda mais sua condição de saúde bucal;
f)
o uso de substitutos de saliva (saliva artiicial) pode diminuir a
sensação de boca seca por hidratar a mucosa, conigurando-se em
um modo de controlar os sintomas indesejados. No entanto, devido
ao seu custo, pode icar inacessível a uma parcela das pessoas;
g)
o uso de enxaguatórios antibacterianos (como clorexidine) pode
ser apropriado como coadjuvantes da higiene bucal quando esta
se encontra prejudicada. Para idosos dentados, é importante
rever o esquema de aplicação de luoretos, tanto no domicílio
como em consultório.
Relação entre doenças sistêmicas e doenças bucais
Numa visão contemporânea, a promoção do cuidado à saúde bucal
direcionado às pessoas idosas não pode deixar de considerar a
comprovada relação entre o estado de saúde geral e as condições de
saúde bucal. Como uma via de mão dupla, os termos desta relação
se interferem mutuamente e podem, ao entrar num ciclo inindável de
agravos à saúde, prejudicar o processo de envelhecimento saudável.
Pesquisas recentes alertam para a estreita relação entre saúde bucal
e saúde geral, demonstrando que a má condição de saúde bucal,
principalmente a presença de doenças periodontais, constitui fator
predisponente a doenças sistêmicas, como pneumonia, cardiopatias
e diabetes, bem como agrava/debilita o estado geral de saúde dos
idosos. Da mesma forma, a má condição de saúde pode ocasionar
problemas bucais ou agravar os já existentes.
A seguir, exibimos um quadro relacionando-se as doenças sistêmicas
mais prevalentes no idoso e a repercussão bucal (Quadro 16):
86
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
RELAÇÃO COM SAÚDE BUCAL
DOENÇAS SISTÊMICAS
Comprometimento da capacidade de mastigação, sorriso ou fala; perda da habilidade manual; prejuízo na
autolimpeza dos dentes (por perda da tonicidade muscular nas regiões onde ocorre hemiparalisia facial);
Doenças cerebrovasculares drogas podem causar efeitos colaterais como: sangramento gengival, complicações na cicatrização de tecidos
moles, estomatites, principalmente, boca seca causada por uma diminuição do luxo salivar; suspensão de
anticoagulantes pré-procedimento cirúrgico.
Doenças cardíacas
Devem ser analisadas as condições do idoso para profilaxia adequada à prevenção da endocardite bacteriana;
diminuição da ansiedade e o stress no momento do atendimento odontológico; suspensão de anticoagulantes
pré-procedimento cirúrgico.
Diabete Mellitus
Alta prevalência de problemas bucais nos idosos mal-controlados; procedimentos eletivos devem ser
postergados no caso dos níveis glicêmicos alterados.
Osteoporose
Perda de inserção periodontal em idosos com osteoporose, correlação entre osteoporose e doença periodontal
ainda necessita de estudos mais aprofundados.
Doença de Alzheimer
Higiene bucal ruim; prevalência aumentada da doença periodontal, xerostomia/hipossalivação; possibilidade
de início de lesões cariosas diversas.
Artrite
Perda da habilidade manual necessária para desempenhar uma higiene bucal; pode limitar a abertura bucal
e tornar a mastigação desconfortável; tratamento odontológico deve ser realizado em consultas de curta
duração.
Doença de Parkinson
Movimentos involuntários e distúrbios psíquicos
causam deficiência motora e prejuízo na higiene bucal.
Depressão
Idoso poliqueixoso, insatisfeito; medicamentos antidepressivos têm como efeito colateral a hipossalivação.
Quadro 16: Doenças sistêmicas mais prevalentes no idoso e a repercussão bucal.
Fonte: Manetta; Montenegro; Brunetti, 1998.
Na medida em que se compreenda e que se conscientize da
importância da saúde bucal no processo de envelhecimento
saudável, será crescente a demanda pelos cuidados à saúde bucal
dos idosos. Por isso, é indispensável que a responsabilidade pelo
cuidado com a saúde bucal seja assumida por todos os membros da
equipe de saúde.
5.2 Odontologia de Mínima Intervenção, Tratamento Restaurador
e Atraumático e Arcada Dental Reduzida
A Política Nacional de Saúde Bucal sugere que sejam adotadas
tecnologias simpliicadas para a assistência odontológica ao idoso,
no intuito de ampliar o acesso e permitir a inclusão de procedimentos
resolutivos à prática odontológica, que sejam fundamentados na
melhor evidência cientíica disponível.
Unidade 5 - Ações da Clínica aos Principais Agravos à Saúde Bucal do Idoso
87
Para além desse argumento, também se considera que os idosos
podem se beneiciar de um rol maior de procedimentos realizados na
atenção básica e que, embasados em conceitos atuais condizentes
com a isiologia da cavidade bucal, possam suportar um novo modo
de pensar as práticas odontológicas individuais e coletivas e os
campos de ação do dentista com relação à saúde bucal do idoso.
Muito pode ser feito ou, dito de outro modo, os idosos podem e
devem se beneiciar do extenso rol de procedimentos fornecidos
na atenção básica. O serviço deve procurar abandonar as antigas
práticas/posturas mutiladoras, focadas somente na extração dentária.
O atendimento clínico dos idosos na atenção básica deve procurar
otimizar o máximo de recursos próprios desse nível de atenção,
considerando a heterogeneidade de tal grupo populacional. Busca-se
aqui tratar sobre os conceitos de Odontologia de Mínima Intervenção,
Tratamento Restaurador e Atraumático e Arcada Dental Reduzida.
O plano de tratamento individual do idoso deve:
a)
considerar a real condição do idoso em receber assistência
odontológica na UBS: deslocamento, acompanhante, ansiedade;
b)
considerar a duração do tratamento e a necessidade de
encaminhamentos para a viabilidade e realização dos
procedimentos;
c)
deinir o papel dos cuidadores (proissionais, leigos ou familiares)
na manutenção da saúde bucal do idoso;
d) minimizar o estresse e a ansiedade das consultas odontológicas:
reduzir o tempo de espera, deinir o horário de atendimento,
realizar consultas de curta duração, e procurar uma boa
comunicação, tanto verbal como escrita;
e)
enfatizar, com otimismo, a possibilidade de manutenção da
saúde bucal nesta fase da vida.
O Estatuto do Idoso garante o direito de prioridade no agendamento das
consultas, inclusive as odontológicas. O agendamento deve considerar
este importante direito conquistado.
88
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
A seguir, foram selecionadas três ilosoias que estão em consonância
com as diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal, na área do
idoso, como tecnologias simpliicadas que podem ser utilizadas na
assistência odontológica na atenção básica e que possibilitam maior
impacto e cobertura.
Odontologia de Mínima Intervenção
A Odontologia de Mínima Intervenção é aqui apresentada como
um referencial contemporâneo, baseado em evidências cientíicas,
para a abordagem dos problemas bucais de idosos dentados. Este
conceito pode ser aplicado como fundamento para a assistência
clínica odontológica a idosos na atenção básica de saúde no
SUS, preconizando o controle das doenças bucais pelo dentista,
compartilhando responsabilidades com a equipe de saúde e
familiares ou seus cuidadores. Nesse caso, a abordagem se inicia
pela deinição do risco de adoecimento bucal apresentado pelo
idoso, com enfoque na prevenção e na detecção precoce das
doenças bucais. Especialmente em relação à cárie dentária, é dado
ênfase à possibilidade de remineralização, sendo que restaurações e
intervenções cirúrgicas são realizadas quando o dentista, juntamente
com o idoso e/ou cuidador, acharem conveniente e necessário, e
principalmente após a doença ter sido controlada.
Chalmers (2006) propôs um Protocolo para Odontologia de Mínima
Intervenção em Idosos segundo classiicação de risco (Quadro 17):
CARACTERÍSTICA DO IDOSO
UTILIZAÇÃO DE CREME
DENTAL FLUORETADO
Baixo risco à cárie e hipersensibilidade
2x ao dia
Baixo risco à cárie e gengivite
2x ao dia
Alto risco à cárie e disfunção salivar
2x ao dia
BOCHECHO DE GLUCONATO DE
CLOREXIDINE A 0,12%
---1x ao dia por 4 semanas seguido de
revisão -regressão da gengivite
1x dia por 4 semanas seguido de revisão
VERNIZ FLUORETADO
1 ou 2 aplicações anuais
1 ou 2 aplicações anuais
3 ou mais aplicações anuais
Quadro 17: Intervenção em Idosos segundo classificação de risco.
Fonte: Chalmers, 2006.
Consideram-se fatores de risco proximais de adoecimento bucal
na população idosa: presença de doenças sistêmicas, capacidade
funcional comprometida, higiene bucal deiciente, tabagismo,
etilismo, polifarmácia, disfunção salivar, dieta rica em açúcares,
próteses ixas/removíveis e restaurações mal adaptadas, exposição
radicular, pouco/nenhum contato com luoretos, falta de acesso ou
baixa periodicidade no uso dos serviços odontológicos.
Unidade 5 - Ações da Clínica aos Principais Agravos à Saúde Bucal do Idoso
89
Arcada Dental Reduzida
Como não se pode predizer a quantidade ideal de dentes necessária
para uma boa função oral, deve-se preservar tantas unidades oclusais
quantas forem possíveis para que o idoso tenha satisfeitas suas
demandas funcionais. A manutenção de dentes naturais, saudáveis,
em plena função por toda a vida, promovendo benefícios biológicos e
sociais como estética, conforto e habilidade para mastigar, degustar
e falar, é considerado sinal de um envelhecimento de sucesso.
A completa reabilitação das arcadas dentárias muitas vezes torna-se
impossível devido às condições físicas e mentais do paciente ou por
razões inanceiras. Torna-se necessária uma abordagem diferenciada
para que se evite mudanças drásticas na condição bucal, mantendo
um adequado nível de função oral com uma quantidade suiciente de
dentes.
Idosos têm necessidades funcionais diferentes dos mais jovens
e podem não necessitar da reabilitação completa das arcadas. O
conceito de arcada dental reduzida baseia-se na manutenção dos
dentes anteriores e pré-molares, em ambas as arcadas, para evitar
reabilitações complexas na região de molares. Uma arcada dental
reduzida, portanto, constitui uma dentição na qual a maioria dos
dentes posteriores foi perdida, mais frequentemente molares. Esse
conceito vem sendo reformulado e aprimorado ao longo dos anos.
Em 1982, a Organização Mundial da Saúde adotou como meta para a
saúde bucal a retenção de dentes ao longo da vida que proporcionem
estética e função, constituindo uma dentição natural com não menos
que 20 dentes, sem considerar a necessidade de próteses.
Tradicionalmente,
idosos
têm
recebido
tratamentos
(e
sobretratamentos) que levam ao uso de próteses muitas vezes
em detrimento da dentição natural, por desgastes excessivos na
realização de preparos e extrações dentárias. Com o aumento do
número de indivíduos mantendo seus dentes naturais, a ilosoia de
tratamento, bem como as técnicas resturadoras/protéticas, devem
sofrer modiicações, e as conservadoras divulgadas e implementadas.
O conhecimento e o aprofundamento das questões referentes
à aplicação dos conceitos da Arcada Dental Reduzida devem ser
estimulados para que os dentistas dominem e, consequentemente,
ofereçam mais esta alternativa de tratamento à população geral.
Tratamento Restaurador Atraumático
O tratamento restaurador atraumático é considerado uma estratégia
de tratamento apropriado de dentes com lesões cariosas que não
apresentem exposição pulpar. Consiste na remoção de tecido
90
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
cariado manualmente, sem o auxílio de equipamento odontológico instrumentos rotatórios, cadeira, reletor e unidade auxiliar e sem uso
de anestésicos, seguido de selamento da cavidade com cimentos
ionoméricos.
Pode ser entendido como uma abordagem coletiva para a redução da
infecção bucal até posterior vinculação ao agendamento programado
na unidade de saúde. Esta técnica pode ser utilizada integrada
a programas educativo-preventivos dirigidos a populações com
acesso restrito a serviços tradicionais (incluindo idosos acamados
e institucionalizados), mas não exclusivamente. Pode também ser
considerada uma opção para atendimento clínico de idosos na UBS
e visita domiciliar.
Na Prática
A escolha pelos cimentos ionoméricos se justifica por suas propriedades:
bom selamento cavitário, lenta e continuada liberação de flúor,
biocompatibilidade com a polpa e a gengiva. Os melhores resultados
são conseguidos nas restaurações de uma face. É imprescindível seguir
corretamente as instruções do fabricante para a mistura. O preparo
cavitário pode ser feito com a ampliação da abertura no esmalte dentário
com instrumento cortante (como cinzel), remoção da dentina cariada
amolecida em especial na junção E/D com curetas (iniciar nas paredes
laterais em direção a pulpar, deixar as camadas inferiores próximas à polpa).
O instrumental Básico é composto por espelho bucal, sonda exploradora,
pinça, escavadores de dentina pequenos e médios (seu uso vai depender
do tamanho da cavidade), cinzel, placa de vidro e espátula de manipulação,
espátula de inserção, matriz e porta-matriz, cunhas de madeira, rolos
de algodão, bolinhas de algodão, cimento de ionômero de vidro (pó e
líquido), vaselina, em ambiente com boa iluminação. Após a remoção da
dentina cariada, procede-se ao isolamento relativo do dente com algodão,
secagem da cavidade com bolinhas algodão, condicionamento da dentina
com líquido do CIV, preparo do ionômero, inserção do ionômero na cavidade
e colocação do dedo sobre o material para espalhamento. Manter uma leve
pressão até o endurecimento do CIV. Depois, remover o excesso de material
com cinzel, cobrir a restauração com vaselina, testar a oclusão e retirar os
resíduos, aplicar outra camada de vaselina. O paciente deve ser orientado
a esperar uma hora para se alimentar.
Unidade 5 - Ações da Clínica aos Principais Agravos à Saúde Bucal do Idoso
91
Entre as vantagens da técnica, citam-se: tecnologia simpliicada,
boa relação custo-benefício, bases cientíicas apropriadas, permite
acesso a coletividades, mantém estrutura dental, gera menor
desconforto ao idoso e otimiza o trabalho do dentista.
Saiba Mais
Como leitura complementar indicamos:
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretária de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa
idosa. Brasília, 2006. (Cadernos de atenção básica, n. 19).
MELLO, A. L. S. F.; ERDMANN, A. L..; CAETANO, J. C. Saúde bucal do
idoso: por uma política inclusiva. Texto & Contexto Enfermagem, v. 17,
n. 4, p. 696-704, 2008.
SÍNTESE DA UNIDADE
Esta Unidade possibilitou que você entrasse em contato com as
ações clínicas para o enfrentamento dos principais agravos à saúde
bucal dos idosos. Revisou as alterações bucais decorrentes do
envelhecimento e os principais problemas bucais apresentados pelos
idosos. Também abordou as relações entre as doenças sistêmicas
e as doenças bucais no idoso, a polifarmácia, bem como as
consequências do uso de fármacos na cavidade bucal, característica
frequente nos idosos, principalmente aquelas relativas às alterações
no luxo salivar. Destacou a abordagem da Odontologia de Mínima
Intervenção como uma alternativa para manejo dos problemas
bucais apresentados pelo idoso, no âmbito clínico, com a aplicação
da técnica do Tratamento Restaurador Atraumático e do conceito de
Arcada Dental Reduzida.
92
Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
CARO (A) ESPECIALIZANDO (A)
Aqui você chega ao inal do Módulo 8 do Eixo 2, que teve como
foco central a Atenção à Saúde do Idoso. Entre os conteúdos
abordados e distribuídos nas 2 unidades, você teve a oportunidade
de na primeira unidade, conceitos sobre a abordagem familiar no
âmbito social do idoso pelos membros da Equipe da Saúde da
Família, as alterações isiológicas causadas pelo envelhecimento e
as demandas odontológicas e estudou as ações do cuidado à saúde
bucal do idoso. Na segunda unidade, foram discutidos temas como
o enfrentamento dos principais agravos à saúde bucal do idoso,
você pode fazer uma revisão acerca de algumas alterações bucais e
aprendeu sobre a técnica da odontologia de mínima intervenção. No
âmbito mundial, viu, igualmente, que a saúde do idoso ganha força
e está contemplada em vários acordos internacionais, onde o Brasil
é signatário.
Os conteúdos aqui apresentados e discutidos visam a sua qualiicação
proissional. Mantenha esta dedicação em todas as etapas do curso!
Desejamos a todos muito sucesso e um bom aprendizado!
Unidade 5 - Ações da Clínica aos Principais Agravos à Saúde Bucal do Idoso
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Atenção Básica. Saúde bucal. Brasília, 2006. (Cadernos de atenção
básica, n. 17). Disponível em: <http://dtr2001.saude.gov.br/editora/produtos/
livros/popup/saude_bucal.html>. Acesso em: 22 jul. 2010.
CHALMERS, J. M. Minimal intervention dentistry: strategies for addressing
the new caries challenge in older patients. Journal of the Canadian Dental
Association, v. 72, n. 5, p. 427-433, 2006.
MANETTA, C. E.; MONTENEGRO, F. L. B.; BRUNETTI, R. F. Interações entre
a medicina e a odontologia no tratamento do paciente geriátrico - Parte I.
Revista Atualidades em Geriatria, v. 3, n. 19, p. 27-32, out. 1998.
PADILHA, D. M. P.; SOUZA, M. A. L. Estado dentário e edentulismo
observados em dois grupos de idosos do Brasil e da Inglaterra. Revista
Odonto Ciência, n. 24, 1997.
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Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
AUTORES
Jussara Gue Martini
Possui graduação em Enfermagem pela Universidade do Vale do Rio
dos Sinos (1979), especialização em Metodologia do Ensino Superior
pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1982) , especialização
em Enfermagem Médico Cirúrgica pela Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (1987) , especialização em Enfermagem Comunitária
pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1990), especialização
On Line em Investigação Sobre o fenômeno das Drogas pela
Universidade de São Paulo (2006), especialização em Acupuntura
pelo Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos (2005), mestrado em
Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1993) e
doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (1999). Atuou como docente e pesquisadora dos cursos de
Enfermagem e Pedagogia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos,
no período de 1982 a 2004, tendo exercido, na mesma instituição,
as funções de Chefe de Departamento de Educação, Coordenadora
de Pós-Graduação e Pesquisa do Centro de Ciências Humanas e de
Diretora de Administração do Centro de Ciências Humanas. Atuou
como enfermeira da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, no período
de 1995 a 1999. Participou como conselheira no Conselho Municipal
de Saúde de Porto Alegre, de 1995 a 1999 e como conselheira do
Conselho Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, de 1998 a 2004,
exercendo a Coordenação da Comissão de DST/AIDS do Conselho
estadual. Atualmente é Professora e pesquisadora do Departamento
de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
(PEN) e preceptora do Programa de Residência Integrada em Saúde
da Família (PRISF) da Universidade Federal de Santa Catarina. Integra
a diretoria da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) - Gestão
2007 - 2010, exercendo a Diretoria de Publicações e Comunicação
Social. Possui experiência na área de Educação em Enfermagem,
Enfermagem na Atenção Básica no Cuidado às pessoas que vivem
com HIV/AIDS, atuando principalmente nos seguintes temas:
representações sociais de HIV/AIDS, educação em enfermagem,
enfermagem em atenção básica. No campo das representações
proissionais, foi Diretora de Educação e Presidente da ABEn RS
(1998-2001 e 2001-2004), Segunda tesoureira da ABEn Nacional
(2004-2007) e Diretora de Publicações e Comunicação Social da
ABEn - Nacional (2007-2010).
Unidade 5 - Ações da Clínica aos Principais Agravos à Saúde Bucal do Idoso
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Ana Lúcia S. F. Mello
Possui graduação em Odontologia pela Universidade Federal de Santa
Catarina (1998), mestrado em Odontologia em Saúde Bucal Coletiva
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2001), doutorado
em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005)
e Doutorado em Odontologia em Saúde Coletiva também pela
UFSC (2009). Ainda realizou Pós-Doutorado no Grupo de Estudos e
Pesquisas em Administração e Gerência do Cuidado em Enfermagem
e Saúde (GEPADES/ PEN/UFSC). Desenvolve trabalhos na área do
Cuidado à Saúde, com ênfase em Melhores Práticas e Odontologia
em Saúde Coletiva, atuando principalmente nos seguintes temas:
cuidado à saúde, cuidado à saúde bucal, odontologia em saúde
bucal coletiva, saúde do idoso, odontogeriatria, instituições de longa
permanência, melhores práticas em saúde, serviços de saúde,
políticas públicas em saúde, saúde da família e promoção da saúde.
André Junqueira Xavier
Atualmente é presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia de Santa Catarina - SBGG-SC. Especialista em
Geriatria pela Escola Nacional de Saúde Pública - ENSP/FIOCRUZ,
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC/
RS e pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia SBGG/
AMB. Possui graduação em Medicina pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (1989), mestrado em Ciências da Computação
pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002) e doutorado em
Informática na saude UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo/
UNIFESP pela Universidade Federal de São Paulo (2007). Atualmente
é professor de Geriatria e Medicina Preventiva da Universidade do Sul
de Santa Catarina. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase
em Geriatria, atuando principalmente nos seguintes temas: geriatria,
gerontologia, informática, envelhecimento prevenção e interação.
Lúcio José Botelho
Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Santa
Catarina (1977) e mestrado em Saúde Pública pela Universidade
Federal de Santa Catarina (2003). É professor adjunto IV da
Universidade Federal de Santa Catarina, atuando principalmente nos
seguintes temas: epidemiologia, mortalidade infantil, indicador de
mortalidade infantil e acidentes de trânsito. Atualmente é Reitor da
Universidade Federal de Santa Catarina.
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Mello
Saúde do Idoso - Odontologia
Unidade 5 - Ações da Clínica aos Principais Agravos à Saúde Bucal do Idoso
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O módulo 8, que tem como foco a saúde do idoso, irá
discutir e refletir sobre a atenção à saúde do idoso no
âmbito da atenção básica com o intuito de
instrumentalizar o trabalho dos profissionais da equipe
saúde da família para assistir essa população
específica com ênfase na promoção da saúde, incluindo
políticas direcionadas ao idoso no Brasil e no mundo,
papel dos membros da equipe de saúde da família no
planejamento de ações e avaliação de riscos em saúde
do idoso, bem como as ações da clínica e do cuidado
relacionados aos principais agravos de saúde, e de
forma integral e personalizada, considerando seu
contexto social, cultural, econômico e político e
determinantes de saúde.
Secretaria de Estado da Saúde
Santa Catarina