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REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 Ensaio não-destrutivo em estruturas offshore Non-destructive testing in offshore structures DOI: 10.54033/cadpedv20n5-020 Recebimento dos originais: 20/10/2023 Aceitação para publicação: 20/11/2023 Francisco José da Rocha Cardoso Tecnólogo em Construção Naval Instituição: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - campus Zona Oeste Endereço: Av. Manuel Caldeira de Alvarenga, 1203, Campo Grande, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 23070-200 E-mail: franciscocardoso45@hotmail.com Heitor Ferreira Werner Tecnólogo em Construção Naval Instituição: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - campus Zona Oeste Endereço: Av. Manuel Caldeira de Alvarenga, 1203, Campo Grande, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 23070-200 E-mail: heitor.werner.s@gmail.com Tatiana Santos da Cunha Doutora em Engenharia Civil, Sistemas Petrolíferos Instituição: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - campus Zona Oeste, Departamento de Naval e Pesca Endereço: Av. Manuel Caldeira de Alvarenga, 1203, Campo Grande, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 23070-200 E-mail: tcunharj@gmail.com Patrícia dos Santos Matta Doutora em Ciências em Engenharia Civil, Estruturas Offshore Instituição: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - campus Zona Oeste, Departamento de Naval e Pesca Endereço: Av. Manuel Caldeira de Alvarenga, 1203, Campo Grande, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 23070-200 E-mail: patricia.matta@uerj.br Page 1394 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 Tetyana Gurova Doutora em Engenharia Metalúrgica Instituição: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - campus Zona Oeste, Departamento de Naval e Pesca Endereço: Av. Manuel Caldeira de Alvarenga, 1203, Campo Grande, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 23070-200 E-mail: gurova@lts.coppe.ufrj.br Maria Iaponeide Fernandes Macêdo Doutora em Ciências Instituição: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - campus Zona Oeste, Departamento de Materiais Endereço: Av. Manuel Caldeira de Alvarenga, 1203, Campo Grande, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 23070-200 E-mail: maria.macedo@uerj.br RESUMO A medição de potencial eletroquímico é uma técnica de ensaio não destrutivo usada para o acompanhamento do nível da proteção catódica das estruturas submersas indicando a possibilidade de corrosão ou nível de proteção de uma estrutura. Por meio desta, é possível realizar a inspeção de estruturas marítimas submersas desde que se tenha conhecimento de corrosão eletroquímica e de proteção catódica. A inspeção é realizada a partir de um equipamento desenvolvido para o ensaio, por meio de um procedimento que descreve a execução da medição de potencial eletroquímico das partes submersas de instalações marítimas, através do inspetor submarino ou medição remota, garantindo assim treinamento e orientação técnica que geram relatórios e o acompanhamento do estado da proteção catódica, os quais analisados de forma adequada geram ações que minimizam e corrigem eventuais problemas. Com base no exposto, este estudo apresenta como se dá o ensaio não destrutivo de medição de potencial eletroquímico diante das normas estabelecidas pela Petrobras e o procedimento de inspeção submarina, de acordo com os padrões de classificação. Conclui-se que a medição deve ser capaz de identificar se a proteção está agindo de forma correta, podendo assim determinar se a superfície da estrutura está protegida ou se está sofrendo algum processo corrosivo. Sendo este tipo de ensaio um dos métodos mais empregados para a proteção de estruturas de aço e outros metais em ambiente marítimo, submersas parcial ou totalmente. Palavras-chave: potencial eletroquímico, inspeção submarina, proteção catódica, ensaio não destrutivo. ABSTRACT Electrochemical potential measurement is a non-destructive testing technique used to monitor the level of cathodic protection of submerged structures, indicating the possibility of corrosion or the level of protection of a structure. Through this, it is possible to carry out the inspection of submerged marine structures as long as one has knowledge of electrochemical corrosion and Page 1395 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 cathodic protection. The inspection is carried out using equipment developed for the test, through a procedure that describes the measurement of the electrochemical potential of the submerged parts of marine installations, through the underwater inspector or remote measurement, thus guaranteeing training and technical guidance that generate reports and monitor the status of cathodic protection, which, when properly analyzed, generate actions that minimize and correct any problems. Based on the above, this study presents how the nondestructible test for measuring the electrochemical potential takes place in view of the standards established by Petrobras and the underwater inspection procedure, in accordance with the classification standards. It is concluded that the measurement must be able to identify whether the protection is acting correctly, thus being able to determine whether the surface of the structure is protected or if it is undergoing a corrosive process. This type of test is one of the most used methods for the protection of steel structures and other metals in a marine environment, partially or totally submerged. Keywords: electrochemical potential, submarine inspection, cathodic protection, non-destructive testing. 1 INTRODUÇÃO A corrosão refere-se à deterioração de materiais devido à ação do meio, sendo a "corrosão metálica" o termo associado à deterioração de metais por processos químicos ou eletroquímicos. A utilização industrial de metais é possível devido à capacidade de retardar a corrosão por meio de processos como polarização e passivação, permitindo o uso desses materiais (Duarte et al, 2000). A medição de potencial eletroquímico é uma técnica não destrutiva usada para avaliar a proteção catódica de estruturas submersas, indicando o nível de corrosão ou proteção. Ela envolve a medição do potencial do eletrodo de trabalho usando um eletrodo de referência estável (Sardella, 2007). Inspeções de estruturas marinhas submersas requerem conhecimento de corrosão e proteção catódica. A execução dessas inspeções é facilitada pelo uso de equipamentos específicos e procedimentos bem definidos, garantindo treinamento técnico, relatórios de acompanhamento e ações corretivas quando necessário (Duarte et al, 2000). Com base no exposto, este estudo objetiva ressaltar a prática de um ensaio não destrutivo de medição de potencial eletroquímico, seguindo as normas Petrobras e procedimentos de inspeção submarina, de tal forma que seja possível melhorar as práticas de inspeção na indústria naval e atender aos requisitos em constante evolução. Page 1396 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 CORROSÃO A maioria dos metais não é adequada para uso industrial, e sua utilização só se torna viável graças aos processos de polarização, passivação e proteção. Esse aspecto é de grande relevância, especialmente em termos econômicos, devido aos custos astronômicos associados à corrosão, conservação de recursos minerais e consumo de energia (Gentil, 1996). A aplicação da proteção catódica, que requer a presença de uma estrutura em contato com um eletrólito onde os ânodos fornecem a corrente necessária, é ampla (Nunes, 2007). A corrosão, em contraste com os processos metalúrgicos, envolve a estabilidade de compostos de baixa energia interna. A obtenção de um metal por processos metalúrgicos aumenta sua energia, tornando-o suscetível à corrosão em condições adequadas, revertendo-o ao seu composto original e liberando energia (Duarte et al, 2000). Isso contribui para o aumento do consumo de energia, e para prevenir a corrosão, são utilizados métodos como revestimentos protetores, inibidores de corrosão, proteção catódica e proteção anódica (Gentil, 1996). Além disso, existem várias formas de corrosão, como a uniforme, por placas, alveolar, por pites, intergranular ou intercristalina, e transgranular ou transcristalina (Gentil, 2007). A avaliação das taxas de corrosão é essencial para determinar a vida útil de equipamentos e instalações, geralmente expressa em mdd (miligramas por decímetro quadrado de área exposta por dia) (Gentil, 2007). 2.2 MECANISMOS ELETROQUÍMICOS DA CORROSÃO A corrosão é frequentemente causada por reações eletroquímicas entre metais e eletrólitos, geralmente compostos por substâncias químicas e água, formando pilhas que geram corrente elétrica (Gomes, 1991). Esse mecanismo ocorre na presença de um eletrólito, muitas vezes em meio aquoso, como água contendo sais, ácidos ou bases, tornando-se conhecido como corrosão eletroquímica (Gentil, 2007). As reações envolvem processos de oxidação na área anódica, levando o metal do estado reduzido para o estado iônico, sendo representado por equações iônicas gerais. Pode-se escrever a equação iônica geral de oxidação dos metais da seguinte forma: Page 1397 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 𝑀 → 𝑀𝑛 + ne (1) Sendo M um metal qualquer que age como redutor e n o número de elétrons cedidos pelo metal quando se transforma em íon. Na área catódica que é uma área protegida (não ocorre desgaste) as reações são de redução de íons do meio corrosivo onde as principais reações são: Em meios aerados – caso normal de água do mar e naturais. 𝐻2 𝑂 + 1 𝑂 + 2𝑂𝐻 − 2 2 (2) Em meios desaerados – caso comum em águas doces industriais. 2𝐻2 𝑂 + 2𝑒 → 𝐻2 + 2𝑂𝐻 (3) A reação anódica tem como consequência a dissolução do metal, portanto, corrosão e a reação catódica conduzem à redução de espécies presentes no meio, sem a participação do metal sobre o qual tem lugar. O mecanismo se traduz no funcionamento de uma pilha de corrosão que requer quatro elementos imprescindíveis, a saber: o anodo (eletrodo em que há oxidação (corrosão) e onde a corrente elétrica, na forma de íons metálicos positivos, entra no eletrólito); eletrólito que é condutor (usualmente um líquido) contendo íons que transportam a corrente elétrica do anodo para o catodo; catodo: eletrodo onde a corrente elétrica sai do eletrólito ou o eletrodo no qual as cargas negativas (elétrons) provocam reações de redução; e circuito metálico que refere-se a ligação metálica entre o anodo e o Catodo por onde escoam os elétrons no sentido anodo-catodo. Retirando-se um desses componentes elimina-se a pilha e, consequentemente, diminui a possibilidade de corrosão (Gentil, 2007). Page 1398 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 2.3 POTENCIAL DO ELETRODO Sempre que se tem um metal em contato com um eletrólito, desenvolvese no metal e no eletrodo uma diferença de potencial entre as duas fases, a sólida e a líquida, observado na figura 1. Figura 1 - Estágio inicial da reação anódica Fonte: ABRACO 2022 A diferença de potencial eletroquímico é uma característica complexa que depende de vários fatores, incluindo o metal, a composição do eletrólito e outras variáveis. Quando um metal é colocado em uma solução eletrolítica, ocorre uma diferença de potencial entre o metal e o meio circundante. Essa diferença de potencial é de natureza elétrica e química e é conhecida como diferença de potencial eletroquímico. À medida que a reação continua e o eletrólito se satura com íons metálicos na interface metal/meio, a entrada de um íon adicional na solução provoca a redução de outro íon que se deposita no próprio metal, mantendo o equilíbrio das cargas. Essa reação torna-se reversível, resultando em uma diferença de potencial com cargas elétricas de polaridade oposta no eletrólito e no metal. (Gentil, 2007). O potencial eletroquímico, que pode variar dependendo de diversos fatores, incluindo o tipo de metal e as características do eletrólito, como tipo, concentração, temperatura, grau de aeração e agitação (Gentil, 2007), é uma propriedade intrínseca de cada metal quando as variáveis ligadas ao eletrólito são fixadas. Essa relação entre um metal e um eletrólito é chamada de meia pilha, meia célula, semicélula ou eletrodo. A fim de comparar os potenciais entre diferentes elementos, utiliza-se um eletrodo de hidrogênio padrão como Page 1399 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 referência, com seu potencial arbitrariamente definido como zero. O potencial padrão de um elemento é a diferença de potencial, em volts, entre o elemento e uma solução contendo 1 mol de seus íons em relação ao eletrodo de hidrogênio (Gentil, 2007). Figura 2 - Medição do potencial padrão Fonte: PETROBRAS, 2022 ∆v se: Positivo = se os elétrons se deslocam do eletrodo do Hidrogênio; Negativo = se os elétrons se deslocam do metal considerado para o eletrodo de hidrogênio. Desse modo, compara-se com ele o potencial de cada metal, em condições padronizadas, ou seja: Eletrólito constituído de uma solução molar de íons do metal considerado, à temperatura de 25º Nesse caso, têm-se as seguintes reações em equilíbrio: 𝐻2 ↔ 2𝐻 + + 2𝑒, ∆𝑉 = 0 𝑀 ↔ 𝑀𝑛+ 2𝑒, ∆𝑉 ≠ 0 (5) (6) A medição direta do potencial é materialmente impraticável, por isso foi desenvolvido um eletrodo de referência conhecido como eletrodo normal de hidrogênio, onde seu potencial é zero em qualquer temperatura. 2.4 ELETRODO PADRÃO DE HIDROGÊNIO O equilíbrio entre íons de hidrogênio e hidrogênio gasoso pode ser dado como: Page 1400 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 2𝐻 + + 2𝑒 ↔ 𝐻2 (7) O hidrogênio é um gás, e por isso, se utiliza um eletrodo inerte, ou seja, um material não reativo que conduz corrente elétrica; normalmente esse eletrodo é a platina. O gás H2 é borbulhado em torno do eletrodo de platina que está mergulhado numa solução que contém íons H+. O eletrodo de hidrogênio consiste em um eletrodo de platina imerso em uma solução de íons hidrogênio na qual hidrogênio gasoso H2, a 1 atm., é borbulhado. O eletrodo de hidrogênio é difícil de ser construído e usado, outros eletrodos de referência são frequentemente preferidos na prática, além do eletrodo de hidrogênio existe um grande número de outros eletrodos de referência, embora não são de utilização comum, mas que são construídos e usados para aplicações específicas, por exemplo, calomelano, prata-cloreto de prata e cobre-sulfato de cobre. Os eletrodos de calomelano e prata-cloreto de prata são considerados de segunda espécie, isto é constituído por um metal em contato com um sal pouco solúvel desse metal, estando o conjunto imerso numa solução contendo ânions do sal. (Gentil, 2007). 𝐶𝑢/𝑆𝑂4 𝑆𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑑𝑜, 𝑑𝑒 𝐴𝑔/𝐴𝑔𝐶𝑙 𝑒 𝑜 𝑑𝑒 𝑍𝑛 (8) O eletrodo de cobre-sulfato de cobre saturado consiste em cobre metálico imerso em sulfato de cobre (CuSO4) saturado. A reação de equilíbrio é: −2 − 𝐶𝑢𝑎𝑞 𝑒 ↔ 𝐶𝑢𝑠𝑜𝑙 (9) O potencial do eletrodo varia com a concentração de Cu2+, e sua precisão, embora adequada para a maioria das pesquisas em corrosão, é inferior à dos eletrodos de calomelano saturado e de prata-cloreto de prata. É utilizado, principalmente, em medidas de campo. Page 1401 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 2.5 ELETRODO DE CALOMELANO SATURADO (ECS) Este eletrodo consiste em mercúrio em equilíbrio com Hg2, cuja atividade é determinada pela solubilidade (Figura 3) Hg2 Cl2 e suas semi-reações são: − 2𝐻𝑔𝑙 + 2𝐶𝑙(𝑎𝑞) → 𝐻𝑔2 𝐶𝑙2(𝑠) + 2𝑒 (10) Figura 3 - Eletrodo de calomelano saturado Fonte: UFSC, 2022 E° = + 0.241 V No eletrodo de calomelano, o fio de platina encontra-se recoberto por mercúrio puro, o qual, por sua vez, é recoberto por Hg2Cl2 sólido (calomelano), que é ligeiramente solúvel em KCl, o último preenchendo a célula e provendo contato eletrolítico. Nota: O potencial do eletrodo de calomelano (ECS) em relação ao EPH varia de acordo com a concentração de cloreto, a qual depende da concentração de KCl. 2.6 ELETRODO DE PRATA- CLORETO DE PRATA Este eletrodo consiste de um fio de platina revestido de prata, que é por sua vez convertido parcialmente em AgCl imergindo-o em solução de ácido clorídrico diluído. O eletrodo é então imerso em solução de cloreto de potássio (KCl)). Este eletrodo, é representado por AgCl(sol.) e KCl(aq.) (Figura 4). Apresenta a reação equilíbrio (Gentil, 2007). Page 1402 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 Figura 4 - Eletrodo de prata cloreto de prata Fonte: UFSC, 2022 E° = + 0,222V Nota: O potencial desse eletrodo varia com a concentração de Cl solução. Quando se ligam dois eletrodos através de um circuito metálico externo obtém-se uma pilha eletroquímica. Os eletrodos podem estar em recipientes separados ou não. No primeiro caso, para estabelecer a condutância iônica usase uma ponte salina unindo os dois eletrólitos. No segundo caso usa-se uma parede porosa separando os dois eletrólitos (Gentil, 1996). 3 AS PILHAS ELETROQUÍMICAS Conforme Gentil (2007), uma pilha eletrolítica converte energia elétrica em energia química, desencadeando reações nos eletrodos. O ânodo é onde ocorre a oxidação, e o cátodo é onde ocorre a redução. No ânodo, há aumento de elétrons livres na fase metálica, concentração de íons metálicos na solução (anólito), íons em estado de oxidação mais elevado na solução e diminuição da massa do eletrodo, associada à corrosão. No cátodo, ocorre o oposto. Os metais têm tendência à oxidação e corrosão devido à perda de elétrons. Portanto, uma tabela, chamada "Tabela Padrão de Potenciais de Metais a 25ºC" (Gentil, 2007)., que indica a ordem de oxidação preferencial dos metais, é valiosa. Ela é adotada e recomendada pela IUAPAC. Page 1403 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 4 POTENCIAL PADRÃO DE METAIS A 25 º C. PARA A REAÇÃO Reação de eletrodo Tabela 1- Potencial padrão de redução a 25°C. Potencial Eo (Volt) Reação de Eletrodo -3,045 Potencial Eo (Volt) -0,25 -2,925 -0,2 -2,906 -0,14 -2,866 -0,13 -2,714 0 -2,363 +0,15 -1,662 +0,34 -1,628 +0,401(*) -1,529 +0,771 -1,180 +0,788 -1,100 +0,799 -,744 +0,987 0,440 +1,190 -0,403 +1,228(*) -0,277 +1,498 Fonte: OCEÂNICA, 1994. (*) Reações inseridas por serem reações importantes Os metais que estão acima do hidrogênio na tabela, à medida que se sobe na tabela, são, com maior tendência a oxidação, mais anódicos e menos nobres. Os metais que estão abaixo do hidrogênio na referida tabela e à medida que desce na mesma, são ditos menos reativos, com menor tendência a oxidação, ditos mais reativos menos anódicos e mais nobres, a forma reduzida de um metal superior pode reduzir a forma oxidada de um metal inferior (Duarte et al, 2000). 5 PRINCIPAIS CAUSAS DAS PILHAS DE CORROSÃO 5.1 PILHAS DE ELETRODOS DIFERENTES 5.1.1 Pilhas Galvânicas Surgem sempre entre dois metais ou ligas metálicas diferentes, colocados em contato elétrico na presença de um eletrólito. A diferença de potencial da pilha será tão mais acentuada, quanto mais distantes estiverem os materiais na Page 1404 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 tabela de potenciais no eletrólito considerado. O metal mais ativo na tabela de potencial de eletrodo é o que funciona como ânodo da pilha, isto é, cede elétrons sendo, portanto corroído (Gentil, 2007). 5.1.2 Pilhas de Ação Local Essas pilhas, conhecidas como pilhas de ação local, são as mais comuns na natureza. Elas ocorrem quando diferentes partes do mesmo metal, atuando como anodos e catodos, entram em contato direto em presença de um eletrólito. Isso ocorre devido a várias heterogeneidades, resultantes de fatores como composição química, textura do material, tensões internas e outros. As principais causas que determinam a formação das pilhas de ação local incluem a presença de inclusões, segregações, bolhas e trincas, variações nas tensões e deformações, diferenças no acabamento superficial, variações no tamanho e contornos de grão, tratamentos térmicos diversos, materiais de diferentes épocas de fabricação e gradientes de temperatura. 5.1.3 Pilha Ativa-Passiva: Em materiais que formam películas protetoras, como o cromo, alumínio, aços inoxidáveis e titânio, a película protetora consiste em uma camada do produto de corrosão que torna a superfície metálica passiva, agindo como áreas catódicas. No entanto, íons halogenetos, como cloreto, brometo e iodeto, podem prejudicar essa passivação. Danos na película, especialmente causados pelo cloreto, podem criar uma área anódica em meio a uma grande área catódica, formando uma pilha ativa-passiva com uma diferença de potencial de cerca de 0,5V (Gentil, 2007). Além disso, a pilha de concentração iônica ocorre em materiais metálicos da mesma natureza expostos a concentrações diferentes de seus próprios íons. Quando a concentração de íons no eletrólito diminui, o eletrodo se torna mais ativo. Essa pilha é comum em frestas quando o meio corrosivo é líquido, onde a área interna da fresta, com maior concentração de íons metálicos, atua como área catódica, enquanto a parte externa, menos concentrada, funciona como área anódica, resultando na corrosão das bordas da fresta. A natureza elétrica dos eletrodos é determinada pela concentração iônica (Gentil, 2007). Page 1405 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 5.1.4 Pilha de Aeração (Oxigenação) Diferencial: A pilha de aeração diferencial envolve eletrodos do mesmo material metálico em contato com um eletrólito, mas em regiões com diferentes teores de gases dissolvidos, geralmente encontradas em locais com aeração variada. Isso cria uma diferença de concentração de oxigênio, onde o eletrodo mais aerado age como catodo e o menos aerado como anodo, embora o raciocínio inverso seja válido. Essa pilha é comum em frestas, com as áreas anódicas e catódicas invertidas em relação à pilha de concentração iônica diferencial (Gentil, 2007). 5.1.5 Pilha Eletrolítica Diferente das pilhas espontâneas vistas anteriormente, na pilha eletrolítica, sua diferença de potencial é gerada por uma fonte de energia externa, sem a necessidade de eletrodos de natureza química distinta. Nesse tipo de pilha, um dos eletrodos funciona como anodo ativo, perdendo elétrons e oxidando-se (Gentil, 2007). Os principais meios corrosivos incluem a atmosfera, solos, águas naturais e água do mar. Na atmosfera, o eletrólito se forma quando a água condensa na superfície metálica, na presença de sais ou gases no ambiente, podendo ser acelerado por poeira e poluentes. Nos solos, a umidade, sais minerais e bactérias compõem o eletrólito, podendo variar em acidez ou basicidade. Águas naturais, como rios, lagos e águas subterrâneas, podem conter sais minerais, ácidos ou bases, resíduos industriais, bactérias, poluentes e gases dissolvidos. A água do mar, por sua vez, é corrosiva devido à salinidade e à composição química única, caracterizada por uma alta concentração de solutos com pouca variação geográfica. Embora a salinidade possa variar, as relações entre os íons principais permanecem constantes, seguindo o princípio de Marchet ou regra das proporções constantes. A Tabela 2 apresenta a composição média de uma amostra de água do mar (LIBES, 2009). Page 1406 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 Íon Cloreto Sódio Sulfato Magnésio Cálcio Potássio Bicarbonato Brometo Carbonato Borato Fluoreto Tabela 2 - Composição média da água do mar Símbolo Concentração(g/kg) Cl– 19,35 Na+ 10,78 SO42– 2,71 Mg2+ 1,28 Ca2+ 0,41 K+ 0,4 HCO3– 0,11 Br– 0,07 CO32– 0,02 B(OH)40,01 F– 0 total 35,15 Proporção (%) 55,06 30,68 7,72 3,65 1,17 1,14 0,3 0,19 0,05 0,02 0 100 Fonte: Wikipédia 2022 6 PROCESSOS DE CONTROLE DE CORROSÃO 6.1 VELOCIDADE DE CORROSÃO A velocidade com que se processa a corrosão é dada pela massa de material desgastado em uma determinada área durante determinado tempo, ou seja, pela taxa de corrosão, da massa desgastada por unidade de área na unidade de tempo. A massa deteriorada pode ser calculada pela Lei de Faraday (Nunes, 2007; (Gentil, 2007). 6.2 PROTEÇÃO CATÓDICA A proteção catódica é um processo que controla a corrosão em superfícies metálicas enterradas ou submersas. Funciona como uma célula eletroquímica em que a superfície a ser protegida atua como o catodo. A proteção catódica é baseada na corrosão eletroquímica, onde existem áreas anódicas e catódicas no metal. A corrosão ocorre quando a corrente flui das áreas anódicas para as áreas catódicas através do eletrólito circundante, resultando no desgaste das áreas anódicas e na proteção das áreas catódicas. Para evitar a corrosão, todo o objeto a ser protegido é transformado em uma área catódica, transferindo as áreas anódicas para outro material de menor desgaste ou com desgaste controlado (Duarte et al, 2000). Page 1407 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 6.3 INFLUÊNCIA DOS REVESTIMENTOS PROTETORES O controle da corrosão por proteção catódica é frequentemente combinado com o uso de revestimentos protetores. A aplicação de revestimentos reduz significativamente a superfície exposta à corrosão, o que resulta em uma redução na quantidade de corrente necessária para proteger a estrutura. O uso de revestimentos anticorrosivos torna a proteção catódica mais econômica. Os revestimentos utilizados podem variar de tintas de baixa espessura a materiais mais espessos, como piche de carvão, massa epóxi, fibra de vidro e outros (Duarte et al, 2000). A criação de uma célula eletroquímica ou eletrolítica artificial como resultado desse processo faz com que o potencial do metal seja reduzido, tornando todas as áreas catódicas. Isso implica que em uma superfície catódica, apenas reações de redução ocorrem, evitando assim a dissolução do material metálico. Além disso, a área ao redor do catodo tem seu pH elevado, o que favorece a imunidade do metal à corrosão. Esse processo também envolve a polarização da superfície metálica, que ocorre por meio da polarização por ativação devido à sobretensão do hidrogênio, que é liberado e parcialmente adsorvido no catodo, e da polarização ôhmica, causada pela precipitação de compostos insolúveis, como CaCO3 e Mg (OH)2. 6.4 TIPOS DE PROTEÇÃO A Proteção Catódica é uma técnica usada para controlar a corrosão de uma superfície metálica, tornando-a o cátodo de uma célula eletroquímica. Um método simples de proteção conecta o metal a ser protegido a um “metal de sacrifício” mais facilmente corrosivo para atuar como o ânodo, quando se aplica proteção catódica a uma estrutura, é extremamente importante para o técnico em corrosão saber se a estrutura encontra-se realmente protegida contra a corrosão em toda sua extensão (Duarte et al, 2000) São dois os processos para proteção catódica de estruturas metálicas, os quais se fundamentam no mesmo princípio, ou seja, por injeção de corrente na estrutura através do eletrólito. Page 1408 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 6.4.1 Proteção Catódica Galvânica A corrente elétrica origina-se da força eletromotriz (f.e.m) existente entre o metal a proteger e um outro escolhido como ânodo, e que ocupa uma posição mais elevada na tabela de potenciais eletroquímicos. Na prática os materiais mais utilizados como ânodos são: Mg, e de Al, por apresentarem a maior diferença de potencial em relação aos metais comumente usados em estruturas, principalmente o aço. A diferença de potenciais galvânicos muito pequenas, não superior a 1,2 Volts dependendo do par galvânico, considerado para que tenha uma injeção de corrente capaz de proteger a estrutura, é necessário que a resistência global do circuito seja baixa. Desse fato resulta que a proteção galvânica só é eficaz em eletrólitos de baixa resistividade, exemplo, água do mar e em solo de até 3.000 ohms/cm. de resistividade. 6.4.2 Proteção Catódica por Corrente Impressa Neste sistema a corrente elétrica origina-se da força eletromotriz (f.e.m) de uma fonte geradora de corrente contínua (retificador, bateria ou gerador) utilizando um dispersor de corrente no eletrólito constituído de ânodos inertes (leito de ânodos) a fonte geradora poderá ter a corrente que se deseja, bem como a força eletromotriz pretendida em função de resistividade do eletrólito e se aplica a todos os eletrólitos de baixa, média, alta e altíssima resistividade (Duarte et al, 2000). Os ânodos mais utilizados em corrente impressa (Quadro 1), e os diversos tipos de ânodos empregados de acordo com o eletrólito considerando a menor perda de massa por amperes/ano. Quadro 1 - Anodos mais utilizados em corrente impressa Material do Anodo Tipo de Eletrólito Grafite Solo e água doce Ferro-Silício Solo e água doce Ferro-Silício- Cromo Solo, água do mar e água doce Chumbo-Prata-Antimônio Água do mar Titânio Platinizado Água do mar Fonte: USP, /2020. Page 1409 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 7 MEDIÇÃO DE POTENCIAL ELETROQUÍMICO O ensaio tem como objetivo monitorar a integridade das partes submersas de estruturas marítimas, garantindo que a proteção catódica esteja funcionando eficazmente e evitando a corrosão indesejável. A medição do potencial eletroquímico da estrutura desempenha um papel crucial nesse acompanhamento, permitindo a detecção precoce de problemas e reduzindo os custos de correção. A medição de potencial eletroquímico é fundamental para verificar o desempenho da proteção catódica, que visa criar um potencial elétrico para proteger a estrutura contra a corrosão do ambiente marinho ou reduzir seus efeitos. A Norma N-1814 estabelece as condições necessárias para medir o potencial eletroquímico das partes submersas de instalações marítimas, seja por meio de inspeção subaquática ou medição remota. Ela se aplica a partir da data de sua edição e fornece requisitos técnicos e práticas recomendadas. Além disso, documentos complementares, como a Norma N-1732 sobre nodos de Liga de Zinco e a Norma N-1793 sobre Qualificação de Pessoal em Inspeção Subaquática, são referenciados e contêm diretrizes relevantes para esta Norma. 7.1 APARELHAGEM PARA MEDIÇÃO DE POTENCIAL ELETROQUÍMICO O aparelho de medição deve conter um voltímetro e um eletrodo de referência, ambos com certificado de calibração. A distância entre a semicélula de Ag/AgCl e a ponta do aparelho deve ser de 50 mm quando acoplados. Caso contrário, é necessário realizar um ensaio de laboratório para aprovação. Quando o voltímetro e o eletrodo de referência estão fisicamente separados, devem estar a 50 mm de distância entre si e do ponto a ser medido, conforme definido no procedimento aprovado. Um multímetro digital de alta impedância com especificações mínimas, incluindo 3 3/4 dígitos, 4000 contagens, resolução de ± 1 mV e precisão de 0,3%, com escala de 200 mV e certificado de calibração, é necessário para testar a aparelhagem no campo. O eletrodo de referência a ser usado é a semicélula prata/cloreto de prata (Ag/AgCl). A aparelhagem também deve incluir um bloco-padrão de zinco em conformidade com a norma PETROBRAS N-1732, com número de identificação marcado de forma indelével e um certificado de análise química rastreável ao Page 1410 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 bloco. Quando não acoplado ao voltímetro, o eletrodo de prata/cloreto de prata deve ser armazenado em um frasco escuro contendo uma solução de cloreto de potássio (KCL) 3 mols, com adição de 10 g/L de cloreto de prata. 7.2 ELETRODO DE CALOMELANO SATURADO (ECS) Para verificar a aparelhagem no campo, é necessário utilizar três ECS calibrados previamente em laboratório. O ECS deve ser armazenado e manuseado da seguinte forma: ● Antes de usar, verifique se o eletrodo está completo com a solução saturada de cloreto de potássio (KCl a 3 mol). É recomendável que a solução saturada contenha cristais visíveis de KCl, e não deve conter bolhas de ar em seu interior. ● Utilize um recipiente não metálico com dimensões que permitam o manuseio do medidor de potencial e que possibilite um giro de 360º em torno de seu eixo. O recipiente deve ser mantido submerso. ● Utilize um equipamento portátil com voltímetro e eletrodo de refe- rência acoplados, calibrados e identificados. Algumas observações importantes a serem consideradas incluem a necessidade de que todos os certificados de calibração estejam devidamente rastreados aos instrumentos, identificados, e que estejam dentro do prazo de validade, que é de 6 meses. Além disso, é fundamental que o multímetro seja submetido à calibração por um laboratório devidamente credenciado pela Rede Brasileira de Calibração (RBC) para garantir a precisão e confiabilidade das medições. 7.3 CONDIÇÕES GERAIS O Inspetor Subaquático responsável pela execução das medições deve atender aos requisitos de qualificação estabelecidos na norma PETROBRAS N1793. Quanto ao procedimento de inspeção, este deve ser emitido pelo órgão da PETROBRAS ou pela firma executante, apresentando um nome identificador, numeração, indicação da revisão e data de emissão. Page 1411 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 A inspeção do potencial eletroquímico realizada pelo mergulhador pode ser efetuada por meio de duas técnicas distintas: 1. Utilizando uma unidade portátil encapsulada. 2. Empregando um voltímetro na superfície, com cabos de ligação elétrica e um eletrodo para medição. 7.4 O BATHYCORROMETER O Bathycorrometer, desenvolvido pela ROXBY ENGINEERING INTERNATIONAL em 1971 para inspeção submarina, é uma unidade portátil avançada operada por mergulhadores, projetada para determinar a corrosão de estruturas submersas. Equipado com um visor digital de fácil leitura e baterias recarregáveis, o modelo atual é baseado na unidade original que está em serviço desde 1971. O aparelho fornece leituras diretas do potencial de corrosão no ponto de aplicação, sendo operado pelo contato da ponta probe com a estrutura a ser medida. A bateria normalmente proporciona 50 horas de uso contínuo antes de requerer uma recarga de 10 minutos por hora de utilização. Figura 5 - Visor de cristal líquido Fonte: END SUB, 2022 7.5 TESTE DA APARELHAGEM NO CAMPO Com Voltímetro e Eletrodo de Referência Acoplados, efetuar a limpeza da superfície do bloco-padrão de Zn utilizando escova com cerdas de nylon e fazer a imersão em recipiente não metálico contendo água do mar, por, no mínimo, 1 hora. Conectar o bloco-padrão de Zn ao polo positivo do voltímetro ver (Figura 6). Page 1412 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 Figura 6 - Voltímetro e eletrodo de referência Fonte: OCEÂNICA, 2000. Conectar o ECS, selecionar conforme o polo negativo do voltímetro. Mergulhar sua ponteira no recipiente que contém o bloco de Zn, aproximandoos até 50 mm, o tempo suficiente para a estabilização e realização da leitura no multímetro da diferença de potencial entre ECS e o bloco de Zn. Registrar a leitura no registro de medição de potencial eletroquímico. Desconectar o bloco-padrão de Zn do pólo positivo do voltímetro e do eletrodo de calomelano saturado. Efetuar a leitura do potencial do bloco-padrão de Zn diretamente com o equipamento portátil, Bathycorrometer, que também deve ter permanecido imerso, no mínimo, por 1 hora antes do teste e registrar o valor. Figura 7 - Bathycorrometer bloco de zinco Fonte: OCEÂNICA, 2000. Page 1413 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 Subtrair o valor do potencial lido com o ECS, do valor do potencial lido com o equipamento portátil, considerando-se aceitável a diferença de (-8 ± 5) mV. Diferença = - {Leitura Equipamento/Zn} - {Leitura ECS/Zn} = (-8 ± 5) mV (De -13 mV a -3 mV) Nota: A leitura, descrita, deve ser efetuada com os polos do bloco-padrão de Zn e do ECS, desconectados do voltímetro. Durante todo o tempo de uso, o aparelho e o bloco de Zn devem ficar imersos. Equipamento com Voltímetro e Eletrodo de Referência Não Acoplados Após 1 hora de imersão em água do mar, em recipiente não metálico, conectar o bloco de Zn ao polo positivo do voltímetro. Conectar o ECS, selecionado conforme o item 4.6.2, ao polo negativo do voltímetro e efetuar a leitura. O ECS deve ser mantido no recipiente o tempo suficiente para a estabilização e realização da leitura, considerando-se aceitáveis valores de (-8 ± 5) mV. Nota: No teste de campo deve ser mantida à distância de 50 mm entre o bloco de Zn e o ECS. 7.6 OCASIÃO DO TESTE O teste de aparelhagem no campo deve ser executado no início, nas interrupções, término da jornada de trabalho e em casos de suspeita de mau funcionamento do sistema. Preparação de Superfícies As medições do potencial eletroquímico devem ser tomadas antes de qualquer limpeza de superfície. Recomenda-se a limpeza dos pontos selecionados para medição, apenas o suficiente para garantir o perfeito contato elétrico com a ponta de contato (“probe”) do aparelho (Prática Recomendada). 7.7 EXECUÇÃO DO ENSAIO O procedimento de execução do ensaio deve ser abrangente e minucioso, abrangendo todas as etapas, desde a preparação da superfície até o registro dos resultados. Antes de iniciar as medições, o aparelho de medição de potencial Page 1414 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 eletroquímico deve ser submerso em água do mar por no mínimo 1 hora e deve permanecer submerso durante todo o trabalho. Caso o voltímetro esteja fisicamente afastado do eletrodo de referência, ele deve ser posicionado a uma distância de 50 mm do ponto a ser medido. Cada medição deve ser realizada duas vezes, afastando e restabelecendo o contato elétrico, e o valor de menor magnitude deve ser registrado como o potencial eletroquímico do ponto. Se houver uma diferença maior que 10 mV entre as medições, o teste deve ser repetido no campo e as medições no ponto devem ser refeitas. Registre as leituras somente quando estiverem estabilizadas, e um período de 15 segundos é recomendado para considerar a leitura como estabilizada conforme a Prática Recomendada. 7.8 REGISTRO DOS RESULTADOS As medidas do potencial eletroquímico devem ser registradas em um formulário contendo, no mínimo, as seguintes informações*; ● Identificação da firma executante e título do formulário; ● Identificação da instalação, data e especificação da inspeção; ● Identificação do inspetor; ● Tipo do equipamento utilizado e sua identificação; ● Identificação dos pontos de medição; ● Registro dos valores medidos em “volts” (V); ● Registro do teste da aparelhagem no campo; ● Identificação da fiscalização; Identificação do procedimento de inspeção e número da revisão 8 AVALIAÇÃO DAS MEDIÇÕES DE POTENCIAL ELETROQUÍMICO 8.1 PROTEÇÃO CATÓDICA POR SISTEMA GALVÂNICO ● Qualquer medição de potencial eletroquímico mais positivo que – 0800V, em relação ao eletrodo de medição de AgAg/Cl, é indicativo de proteção Catódica deficiente e consequentemente risco de dano por corrosão. Page 1415 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 ● Potenciais eletroquímicos entre – 0800V à 1,100 V, em relação ao eletrodo de Ag/AgCl, é a faixa de potencial eletroquímico em que o aço se encontra protegido catódicamente. ● O potencial eletroquímico medido no anodo de liga de Alumínio, deverá apresentar valores prováveis entre – 1,050V até –1,100V em relação ao eletrodo de Ag/AgCl. ● O potencial eletroquímico medido no anodo de liga de Zinco, de- verá apresentar valores prováveis entre – 0800V até – 1,050V em relação ao eletrodo de Ag/AgCl. 8.2 PROTEÇÃO CATÓDICA POR SISTEMA DE CORRENTE IMPRESSA ● Estruturas de aço carbono encontram-se protegidas catodicamente para valores mais negativos que – 0800V, em relação ao eletrodo de Ag/AgCl. ● Os valores de potenciais mais adequados para estruturas de aço carbono situam-se entre – 0800V até – 1,100V, em relação ao eletrodo de Ag/AgCl. Medições de potenciais muito próximas aos anodos de corrente impressa poderão apresentar valores bem superiores ao mencionado no item anterior 9 CONCLUSÕES Os sistemas de proteção catódica são de fundamental importância para garantir a integridade e a segurança das estruturas marítimas nas partes submersas. O ambiente marinho salino e outros efeitos fazem com que estruturas marítimas sejam expostas a fadiga, degradação e processo corrosivo. A fim de assegurar a integridade estrutural, minimizando o risco para o meio ambiente e para os trabalhadores, e para as unidades marítimas, as partes submersas dessas estruturas, devem ser periodicamente inspecionadas a fim de assegurar sua integridade estrutural, evitando assim, paradas indesejáveis das operações e da produção. As inspeções realizadas nas estruturas marítimas são feitas para acompanhar o grau de corrosão dos equipamentos, como manutenções preventivas que são essenciais para manter a proteção dos equipamentos e para avaliar a manutenção corretiva, caso seja necessária. Page 1416 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 A medição de potencial eletroquímico é um ensaio não destrutivo. Por meio desse ensaio é que se determina o potencial da estrutura em relação ao meio corrosivo, com a finalidade de avaliar a condição do material metálico, se está protegido ou se sofre algum processo corrosivo. A medição é feita para verificar a eficiência da corrente de proteção catódica gerada. Nesse contexto, a medição deve ser capaz de identificar se a proteção está agindo de forma eficiente e, onde não está, podendo assim determinar se a superfície da estrutura está protegida ou se está sofrendo algum processo corrosivo. A proteção contra corrosão, a utilização da proteção catódica galvânica, o uso do ânodo de zinco, em estruturas metálicas submersas, a corrosão em ambiente marinho e seus principais fatores, foram analisadas apenas em estruturas navais, pois a área de aplicação da proteção catódica é muito vasta, sendo um dos métodos mais empregados para a proteção de estruturas de aço e outros metais em ambiente marítimo, submersas parcial ou totalmente. A limitação deste ensaio deve-se ao fato, de que o equipamento de medição e a estrutura devem estar imersos em um eletrólito. Para futuros trabalhos, recomenda-se o desenvolvimento de ligas alternativas que retardem processos corrosivos bem como o desenvolvimento de ligas de materiais constituinte dos anodos de sacrifícios, fontes de energia mais baratas que prolonguem a vida útil destes metais, de tal forma que possa auxiliar a sociedade e a academia por meio de avanço tecnológico, uma vez que os custos da corrosão evidentemente se elevam, tornando-se um fator de grande importância a ser considerado já na fase de projeto de grandes instalações industriais para evitar ou minimizar futuros processos corrosivos. Somas milionárias poderiam ser economizadas se todas as medidas econômicas viáveis fossem usadas para a prevenção contra a corrosão. AGRADECIMENTOS The authors acknowledge the financial support from the Brazilian National Council for Scientific and Technological Development – CNPq and National Fund for Scientific and Technological Development – FNDCT/Ministry of Science, Page 1417 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 Technology and Innovations – MCTI, Research Projects 405503/2022-9, and the Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Prodocência Program). APOIO FINANCEIRO CNPq - Projeto de Desenvolvimento de CT&I para os Setores de Transporte Aquaviário e Construção Naval - processo 405503/2022-9 e PR2 UERJ. Page 1418 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda. ISSN: 1983-0882 REFERÊNCIAS ABRACO. Corrosão e Proteção. 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Especialista em Corrosão e Proteção Catódica - Qualificado pela Abendi na Técnica SM – PE – N3 N° SNQC: 06533. PETROBRAS. Catálogo de Normas Técnicas, 2019. SARDELLA, Antônio. Curso de Química. Química Geral - Volume 1. 1ª ed. 22 de janeiro de 2007. Page 1419 REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.20, n.5, p. 1394-1419. 2023.