[go: up one dir, main page]

Academia.eduAcademia.edu

Simbiose

2021, AntHropológicas Visual

Uma conversa com Dona Prazeres, parteira tradicional, cuja trajetória de saberes é uma “simbiose entre o tradicional e o contemporâneo, entre o popular e o biomédico. D. Prazeres transita entre mundos e realidades contrastantes e assim mantém uma constante incorporação e construção de saberes.

VIDEO Simbiose Júlia Morim Sinopse: 2020 Volume 6, Coleção 2 (n.2) ISSN: 2525 - 3781 Simbiose é fruto de minha proximidade com Dona Prazeres e com parteiras pernambucanas. Essa relação se iniciou em 2008 a partir de uma pesquisa voltada para (re)conhecer o universo do partejar tradicional em Pernambuco, que se desdobrou em ações de salvaguarda dos saberes e práticas das parteiras tradicionais, compondo o Museu da Parteira, um museu em processo que vem construindo e propagando narrativas imagéticas, expográficas, documentais e biográficas acerca desse universo. Inserido nesse contexto, o filme foi a primeira peça audiovisual produzida e teve Prazeres como protagonista pela forma clara e sagaz com que ela articula ideias e questionamentos sobre sua prática e seu ofício na atualidade, fazendo-nos refletir sobre coexistências e hierarquias de saberes, entre outras questões. Maria dos Prazeres de Souza, moradora do simples bairro de Pacheco-Sucupira, em Jaboatão dos Guararapes (PE), é uma senhora de baixa estatura, negra, sempre sorridente e com os cabelos arrumados. Tem como característica marcante o gosto pela conversa. Adora contar causos, explicar fatos. Nascida em 1939, é parteira há mais de 50 anos e já ajudou mais de 5.000 crianças a chegar no mundo. Sua trajetória no ofício assimila saberes tradicionais e biomédicos. Parteiras são mulheres – curiosas, aparadeiras, parteiras do mato, assistentes, fazedoras de emergência, como se denominam – que, com um chamado, sem dia nem hora exatos, saem de casa para receber mais uma vida em suas mãos. No caminho “pedem a Deus” e aos santos aos quais são devotas. Ao chegar à casa da mulher que está “com as dores”, a experiência e a espera são aliadas. Conversas, massagens “para ajeitar a criança”, chás “para esquentar o menino e ele procurar seu caminho”, simpatias “para soltar a placenta”, rezas para ajudar um trabalho de parto “aperreado” - saberes e costumes repassados entre gerações. O prazer e a felicidade em “pegar menino” e “salvar vidas” são recompensados com reconhecimento e prestígio: são chamadas de comadres, madrinhas, mães de umbigo. O filme foi pensado como uma conversa. A casa, espaço de atuação das parteiras, foi o cenário. Sua história de vida e sua constante construção e incorporação de saberes foi o eixo central da narrativa. Prazeres iniciou-se no ofício a partir de um chamado na ausência de sua mãe, que era a parteira da comunidade. A experiência prática deu-lhe base para “pegar menino”. A curiosidade – “eu era muito curiosa, sabe” – instigou-lhe a saber como é o “outro lado”. A formação em enfermagem obstétrica ampliou sua atuação para além da comunidade e a instrumentou com linguagens distintas. Como Prazeres é pura palavra, o filme conformou-se em uma conversa intimista, afetuosa e reflexiva sobre os sentidos e significados de ser parteira. Segundo ela, ser parteira é ser mãe, companheira, amiga, mediadora de conflitos, juíza, advogada. Ser parteira é uma simbiose. Sinopsis: Symbiosis is the result of my contact with Dona Prazeres and midwives from Pernambuco. This relationship began in 2008 with research aimed at (re)knowing the universe of traditional midwifery in Pernambuco, which unfolded into actions to safeguard the knowledge and practices of traditional midwives, composing the Midwife Museum, a museum in process that has been building and propagating imagetic, expographic, documentary and biographical narratives about this universe. In this context, the film was the first audiovisual piece produced and had Prazeres as its protagonist, due to the clear and sagacious way in which she articulates ideas and questions about her practice, making us think about coexistence and hierarchy of knowledge, among other things. Maria dos Prazeres de Souza, a resident of the poor neighborhood of Pacheco-Sucupira in Jaboatão dos Guararapes (PE), is a small black lady who likes to keep her hair neat and is always smiling. Her striking feature is her taste for conversation. She loves to tell stories and explain facts. Born in 1939, she has been a midwife for more than 50 years and has helped more than 5000 children to come into this world. Her career in the trade mixes traditional and biomedical knowledge. Midwives are women who, when called to duty, no matter day or time of the day, leave their houses to welcome another life into their hands. On their way to the women homes they pray to God and to the saints to whom they are devoted. When they reach the woman who is in labor they combine experience with patience by means of conversation, massages to best position the baby, tea to “warm the baby up and help him find his way”, prayers to release the placenta and help in a difficult delivery – knowledge passed on between generations. The pleasure and happiness in handle a baby’s deliver and save lives is rewarded with recognition and prestige: they are affectionately called comadres, godmothers, ““The mother who cuts the babies umbilical cord”. The film was thought as a conversation. The house, the space where the midwives work, was the setting. Prazeres’ life story and her constant construction and incorporation of knowledge are at the center of the narrative. Her first experience as a midwife happened when she had to deliver a baby because her mother, the midwife of the community, was not available. Practical experience gave her the knowledge she needed to welcome a newborn baby. Curiosity – “I was very curious, you know”- prompted her to try to find out what “the other side” was like. The training as a nurse midwife took her beyond her community and enabled her to use distinct languages in her area of expertise. As Prazeres is pure word, the film took the form of an intimate conversation about the meanings of being a midwife. According to her, to be a midwife is to be a mother, a companion, a friend, a conflict mediator, a judge, a lawyer. Being a midwife is a symbiosis. Palavras-chave: Parteira Tradicional; Simbiose: Saberes. Keywords: Traditional Midwife; Symbiosis; Knowledge. Ficha técnica: Autora: Júlia Morim. ANTHROPOLÓGICAS VISUAL Volume 6, Coleção 2 (n.2), 2020 Direção, pesquisa e edição: Júlia Morim, Maria Chaves, Sa Luapo, Marcelo Lacerda e Marco Antônio Duarte. Datasheet: Author: Júlia Morim. Direction, research and editing: Júlia Morim, Maria Chaves, Sa Luapo, Marcelo Lacerda e Marco Antônio Duarte.Marco Antônio Duarte. ANTHROPOLÓGICAS VISUAL Volume 6, Coleção 2 (n.2), 2020