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Neste texto, escolhemos, analisar fragmentos da trajetória de Pepetela, um dos mais importantes intelectuais angolanos da atualidade, com obras editadas em diversos países de língua portuguesa e traduzidas em vários idiomas, ou seja, um... more
Neste texto, escolhemos, analisar fragmentos da trajetória de Pepetela, um dos mais importantes intelectuais angolanos da atualidade, com obras editadas em diversos países de língua portuguesa e traduzidas em vários idiomas, ou seja, um literato de renome, premiado em seu país e no estrangeiro, com uma constante intervenção social por meio de romances, artigos, entrevistas e palestras. Esse intelectual gerou uma produção literária e jornalística que interroga as demandas de seu tempo e lugar, expondo as grandes questões sociais e políticas, as relações entre os grupos sociais e as ideologias em confronto. Entendê-lo significa compreender bocados da história de Angola na segunda metade do século XX e no início do atual (SCHMIDT, 2000: 55-6). Como intelectual, Pepetela é um ser multifacetado, cuja atuação e discurso geraram reflexões que ganharam notoriedade em seu país e no estrangeiro. Encontramo-lo como um ator cultural engajado, a serviço de determinadas causas fulcrais na vida nacional angolana, agindo, mesmo que de forma nem sempre perceptível, como uma " testemunha ou consciência " , um crítico das práticas e discursos na sociedade angolana em suas diversas temporalidades. Estudá-lo supõem narrar uma biografia que intercruza com pontos nodais da história de seu país. Portanto, o conhecimento de suas vivências, tal como são por ele narradas, iluminam as relações entre seu pensamento, sua inscrição social e suas práticas, objetos mais amplos de nossa pesquisa. Analisaremos neste texto parte do primeiro depoimento a nós concedido por Pepetela em 23 de novembro de 2008. Em nossa análise, buscamos a inserção de sua vida no contexto múltiplo no qual ela se esclarece, em razão de abordamos a sua individualidade não como o " ponto de partida da história " , mas como um resultado criado também por ela. Tentamos articular e entender as significações dos seus discursos e práticas públicas, captando os seus impactos dentro de um contexto múltiplo e específico. Perceber Pepetela enquanto membro de uma família, uma cultura, uma classe, de organizações políticas e culturais é vê-lo como o centro de uma extensa rede de interconexões extremamente densa e diversificada. Contudo, a sua atuação não se reduz ao seu contexto, pois o mesmo gerou uma enorme variedade de tendências
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Este artigo esquadrinha as relações de poder, em Angola, emergentes em Predadores, romance escrito por Pepetela, um dos mais instigantes intelectuais angolanos da atualidade. Ao delinear como o autor narra o “outro”, em especial, a... more
Este artigo esquadrinha as relações de poder, em Angola, emergentes em Predadores,
romance escrito por Pepetela, um dos mais instigantes intelectuais angolanos da atualidade. Ao
delinear como o autor narra o “outro”, em especial, a apropriação do público pelo privado, assim como
o oportunismo político, detectamos os contornos de seu posicionamento político. As principais
temáticas sobre as relações de poder, recortadas nessa obra, comprovam que a sua literatura estrutura
uma crítica sócio-política, extremamente perspicaz, da sociedade e dos Estados angolanos
contemporâneos.
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Ao pensar a literatura como fonte de um conhecimento para a narrativa historiográfica, pois como essa, a literatura também tece reflexões sobre o cultural, o social e o político de uma sociedade, os analisa e os critica, oferecendo à... more
Ao pensar a literatura como fonte de um conhecimento para a narrativa historiográfica, pois como essa, a literatura também tece reflexões sobre o cultural, o social e o político de uma sociedade,  os analisa e os critica,  oferecendo à crítica do historiador uma material rico para se perceber como os escritores ao ficcionar tecem profundas conclusões sobre o quotidiano de sua ou de outra sociedade. Pepetela, um dos mais importantes literatos angolanos, é um exemplar desse fato. Ele descreveu enredos tão passíveis de terem ocorrido na sociedade angolana que a partir deles, podemos inferir um profunda análise reflexiva sobre as relações de poder em Angola. Esse trabalho pretende se debruçar sobre algumas obras de Pepetela, em especial O Cão e os Calús (1985), Geração da Utopia (1992) e O Desejo de Kianda (1995) e Predadores (2005), fazendo o historiador reconhecer as contradições de uma Angola em nada sufragante da utopia de uma sociedade mais isonônima, igualitária, e democrática. Utilizando-se da ironia como estratégia discursiva, os narradores e personagens pepetelianos permitiram-nos observar como o autor oercebeu as relações de poderes que envolveram Estado e sociedade em Angola. Assim, Pepetela ao permitir o falar do outro fala se si e de suas posições ante a realidade dos macro e dos micropoderes em seu país. Em suas estórias, quando enfoca o período socializante do Estado Angolano (1975-1991), critica a prática pouco profunda da análise política de certos quadros da base política do Movimento pela Libertação de Angola (MPLA), assim como o frequente manejar superficial e dogmático do Marxismo de vários membros do movimento, depois partido. A crítica ao uso de um jargão revolucionário socialista que não condiz profundamente com a realidade dos fatos, que não permite vislumbrar, muitas vezes, a permanência e mesmo o acutilar de práticas aburguesantes convivendo com um discurso e uma simbologia socialista. Ademais,  constatava então também a despolitazação de setores da população como uma ameaça ao ideal de uma utopia socialista.  Os livros por nós examinados teceram duras condenações ao oportunismo político seja sob o regime socializante, seja sob o capitalismo liberal selvagem que lhe seguiu, não poupou aqueles que se fizeram passar por socialistas ou fiéis ao novo regime apenas para angariar posições e benesses e não por reais convicções políticas. Não poupou as ineficências da burocracia estatal, apontando a a malversação das empresas públicas e e das moradias de propriedade estatal sob o período socialista. No entanto, percebeu claramente que a adoção do livre mercado e do multipartidarismo capenga não transformou a idéia de que o exercício de um cargo público correspondia constatemente ao ganho de propinas e o chafurdar na corrupção. Não livrou o escritor de descrever todos as práticas autoritárias dos dois grandes movimentos, depois partidos: seja as da União Nacional par a Independência Total de Angola (UNITA), a qual se hojerizou, já que pertecera a um caldo cultural crioulo e progressista, seja as do MPLA, ao qual pertenceu, mas cujas falhas não hesitou em apontar. Um cáustico para os inimigos e para  com os quais um dia teve relações estreitas. A crítica interna ao que considerava desvios do ideal nacional e socialista dentro do  MPLA  já aparecera quando escrevera e publicara Mayombe, momento em que era um dos seus importantes quadros. Em seus livros aparecem vários exercícios táticos  dos fracos, bem a Michel De Certau  de Invenção do Quotidano, para contornar o autoritarismo dos poderosos burocratas e políticos e depois, também, dos ricos. Durante a opção pelo socialismo do MPLA, testilhou contra o aburguesamento dos dirigentes e dos intelectuais, categorias quais então pertencia, ganhando talvez por isso alguns oponentes. Reportou a formação das clientelas escusas dos socialmente grandes, médios e, até dos pequenos que transpassavam as várias esferas do Estado angolano a procura de cargos, benesses, propinas ou prevaricação em trocas de mútuas fidelidades ou de sórdidas cumplícidades. Não titubeou em apontar que todas essas práticas laxistas favoreciam o absenteísmo nas repartições públicas, prejudicando o bom préstimo ao interesse da res publica.  Foi sarcasticamente inclemente com a apropriação privada dos bens públicos, na verdade, permitiu-nos inferir que a aparente desordem na administração era benéfica à apropriação privada de benefícios. Ou seja, fala-nos o tempo todo de práticas patrimonialistas, sem assim nomeá-las. A todo esse jogo corrupto que permeava o serviço público nada ameaçava, pois campeava nos textos irônicos do escritor a impunidade e a não transparência. Elementos de diversos estratos sociais, quando os princípios éticos não eram levados em conta, buscavam abocanhar alguma parte desse quinhão, logicamente os mais altos na hierarquia política e sócio-econômica devoravam grandes porções, mas mesmo o pequeno policial não deixava de acharcar com o pedido de uma “gasosa” para deixar alguma possível infração impune. Pepetela permite-nos inferir que o processo de  implantação do multipartidarismo em Angola após 1991 foi uma falsa democratização como ocorreu também em vários Estados Africanos entre fins da década de 1970 e 1992. Exemplificava Pepetela como a nova economia de mercado, que trunculentamente desabrochava, instigou na antiga burocracia dita socialista a se metamorfosear em novos burgueses se apropriados de ativos do Estado e dos privilégios por exercerem determinados cargos públicos vitais. Seus personagens de ficção (ficção?) elucidam como a instabilidade política ou os atrativos econômicos fizeram elementos dessa nova e predadora burguesia angolana a investir no estrangeiros, participando muitas vezes de uma fuga ilegal de capitais.  Da corrupção dos agentes públicos, atestamos que Pepetela, muito provavelmente sem os lê-los, com a sua ironica análise do Estado e da sociedade angolana aponta fatos que  aspectos das teorias sobre o Estado Africano enunciadas por Bayart com a sua “política do ventre” ou com a “criminalização” do Estado, por Medard com o seu Estado Neo-patrimonial, por Chaball e Daloz com a idéia de que a desordem pode ser um instrumento político
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"Utopia of a Nation: The Construction of the Angolan Social Imaginary in the Literary Production of the Post-Independence" by Fábia Barbosa Ribeiro, review of the book Angola: Nation and Literature (1975-1985), published by Editora... more
"Utopia of a Nation: The Construction of the Angolan Social Imaginary in the Literary Production of the Post-Independence" by Fábia Barbosa Ribeiro, review of the book Angola: Nation and Literature (1975-1985), published by Editora Prismas, Curitiba, 2016.
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Book Review "Angola: History, Nation and Literature (1975-1985)" by Silvio de Almeida Carvalho Filho published by Editora Prismas, Curitiba, Brazil, 2016. Author: Matheus Pereira Serva.
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