RESUMO Este trabalho busca examinar qual seria o papel da psicoterapia como um instrumento capaz de construir pontes entre culturas diferentes, não apenas do ponto de vista do meio cultural externo ou social, mas sim do ponto de vista das...
moreRESUMO Este trabalho busca examinar qual seria o papel da psicoterapia como um instrumento capaz de construir pontes entre culturas diferentes, não apenas do ponto de vista do meio cultural externo ou social, mas sim do ponto de vista das diferentes culturas vigentes em nosso mundo interno. Para isto o trabalho define uma cultura interna como sendo aquela forma de organização mental, constituída por um conjunto particular de impulsos, afetos, vivências, conflitos, defesas, sintomas, comportamentos, etc. Partindo dessas premissas o autor discute como poderia então a psicoterapia funcionar como uma ponte que permite o movimento psíquico de uma determinada cultura mental para outra, promovendo assim o crescimento e o desenvolvimento emocional. Outra constatação discutida pelo autor é que os pacientes que nos procuram, por uma razão ou outra, não estão satisfeitos ou em paz com seu arranjo cultural interior, e apresentam por causa disso variados sintomas, tais como ansiedades, depressões, uso de álcool ou drogas, queixas somáticas, etc. Porém estes sintomas freqüentemente se apresentam desconectados de suas fontes inconscientes originais, necessitando no tratamento a construção de uma ponte interna, através do trabalho compreensivo e interpretativo, que propicie conhecimento (insight) e a possibilidade de movimentação de uma cultura para outra. INTRODUÇÃO O título do congresso me instigou a pensar qual seria o papel da psicoterapia como um instrumento capaz de construir pontes entre culturas diferentes, não apenas do ponto de vista do meio cultural externo ou social, mas sim do ponto de vista das diferentes culturas vigentes em nosso mundo interno. Poderíamos chamar de uma cultura interna aquela forma de organização mental, constituída por um conjunto particular de impulsos, afetos, vivências, conflitos, defesas, sintomas, comportamentos, etc. As diferentes formas de organização mental se expressam num fato clinicamente bem conhecido, isto é, que há pacientes mais regredidos ou menos regredidos, o que não tem necessariamente apenas a ver com a gravidade dos sintomas ou o diagnóstico fenomenológico, mas também com o tipo de estrutura de self e de personalidade vigente, e os mecanismos de defesa usados para sustentar esta determinada estrutura de self. Partindo dessas premissas, como poderia então a psicoterapia funcionar como uma ponte que permitisse o movimento psíquico de uma determinada cultura mental para outra 2 , promovendo assim o crescimento e o desenvolvimento emocional? Outra premissa importante é que os pacientes que nos procuram, por uma razão ou outra, não estão satisfeitos ou em paz com seu arranjo cultural interior, e apresentam por causa disso variados sintomas, tais como ansiedades, depressões, uso de álcool ou drogas, queixas somáticas, etc. Porém estes sintomas freqüentemente se apresentam desconectados de suas fontes inconscientes originais, necessitando no tratamento a construção de uma ponte interna, através do trabalho compreensivo e interpretativo, que propicie conhecimento (insight) e a possibilidade de movimentação de uma cultura para outra. Ponte geralmente é uma edificação humana, construída para unir dois pontos geográficos anteriormente separados, constituindo-se assim em algo que facilita ou possibilita o deslocamento, de 1 Trabalho aceito para apresentação como tema livre no IV Congresso Mundial de Psicoterapia, em Buenos Aires. 2 Por exemplo, de um modo mais primitivo de funcionamento mental para um mais amadurecido.