Lisboa cresceu consideravelmente durante o século XVI, fundamentalmente como resultado do projecto expansionista da coroa portuguesa. Por um lado, ia-se definindo como capital do império que se construía e, por outro, consolidava-se como...
moreLisboa cresceu consideravelmente durante o século XVI, fundamentalmente como resultado do projecto expansionista da coroa portuguesa. Por um lado, ia-se definindo como capital do império que se construía e, por outro, consolidava-se como entreposto indispensável da nova rede do comércio marítimo internacional.
No início do século XVII, Lisboa surge como uma das cidades mais populosas da Europa, formando com Londres, Paris, Milão, Veneza, Nápoles, Roma e Palermo o grupo dos núcleos urbanos com mais de cem mil habitantes.
Desde Quinhentos e, particularmente, após a Restauração, é notória a preocupação de conferir a Lisboa uma fisionomia e funcionalidade adequadas ao seu duplo estatuto de capital imperial e europeia. Esta preocupação insere-se num projecto mais abrangente de reforma e modernização da sociedade portuguesa. A partir de 1640, mas sobretudo com D.Pedro II, traça-se uma linha de acção régia que visa dar uma imagem e dinâmica específicas ao país, longe do domínio de influência de Espanha. Este país vizinho não deixa de ser fonte de inspiração, mas o objectivo é encontrar para Portugal um espaço próprio na nova Europa que entretanto se configurava. Por outras palavras, reencontrar o lugar perdido e dar-lhe uma nova projecção tendo em conta a realidade europeia de então.
Esta estratégia política, económica e cultural vai ter uma expressão significativa ao nível do ordenamento do crescimento urbano da cidade de Lisboa. Tanto o Senado da Câmara, como a Coroa dirigiram os seus esforços para uma regularização e controle do crescimento da cidade, dando, neste contexto, especial atenção ao problema das infra-estruturas urbanas. No início do século XVIII, esta abordagem é acompanhada pelo reforço da construção da imagem de Lisboa em termos de representação do poder político. Todo este processo se desenvolve num quadro europeu de fecundo debate teórico e criação urbanística que anunciava já a ideia de cidade promovida pelo pensamento Iluminista. A regularidade do traçado, reforçada pela uniformidade dos programas arquitectónicos, são expedientes utilizados para se obter a “formosura” e utilidade pública dos espaços urbanos. Para além de um espaço de representação, a cidade é olhada cada vez mais como uma entidade social e cultural, a ser entendida globalmente. Dentro deste movimento, que se poderá considerar comum, cada país encontrou o seu próprio caminho utilizando os instrumentos teóricos e práticos que mais se coadunavam com a sua experiência e necessidades. Portugal não foi excepção. O papel desempenhado pelos engenheiros militares, enquanto arquitectos e urbanistas, tanto no reino, como particularmente no Império, e uma prática consolidada de tratamento de questões urbanas por parte do Senado da Câmara, em estreita articulação com a Coroa, deram forma a uma estratégia de intervenção urbana na qual se estruturou o programa de Pombal para a reconstrução de Lisboa após 1755.