Eunice de Morais
Mestre (2003) e doutora em Letras pela UFPR (2009), professora Associada do curso de graduação em Letras desde 2012. Integra a equipe editorial da Revista Uniletras/UEPG e atua no conselho editorial da Revista Scripta Alumnis - UNIANDRADE, da Revista Muitas Vozes e da Editora Texto e Contexto. Desenvolve, na UEPG, o projeto de pesquisa continuada "Estudos sobre ficção, História e Memória: Gêneros de Fronteira e participa, desde 2005, no Grupo de pesquisa (CNPq) "Estudos sobre ficção histórica no Brasil", coordenado pela Prof.ª Dr.ª Marilene Weinhardt e também da linha de pesquisa Subjetividade, Texto e Ensino. Tem publicado artigos e resenhas em periódicos especializados e capítulo de livros, os quais versam sobre os estudos da ficção histórica de língua portuguesa e de língua estrangeira. Atuou como coordenadora geral do Congresso Internacional de Estudos em Linguagem , nas edições de 2015 e 2017, implementando atividades de pesquisa e extensão universitária.
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Based on the historical discourse in the Chronicles of Rui de Pina and Fernão Lopes about the lives of Dom Affonso IV and Dom Pedro I of Portugal, this article intends to analyze the episodes related to Inês de Castro, in the fictional works Os Lusíadas (1572), by Luís Vaz de Camões, and “Teorema” (1963), by Herberto Helder. It intends to understand, specifically, the way in which the citizens appear in each work and verify how the perspective adopted by the narrator affects this representation, in addition, it tries to apprehend a critical content along with the fictional-historical discourse. While intending to understand the relationship between fiction and historical truth, as well as the actions of the characters in their contexts, we study the historical narratives by the chroniclers and compare them to the fictional narratives. We also study, among other points, the the theory of historical fiction based on Marilene Weinhardt (1994, 2010), the combination between history and art in Camon's work by Mauro Cavaliere (2002), and the writing of the chroniclers and objectives of this type of narrative according to Antônio José Saraiva (1999). The research, finally, reveals that the difference in perspective chosen by the author substantially changes the way of representing the citizens, especially considering the objective with which each narrative was written.
língua portuguesa, constam estudos sobre ficção em língua portuguesa.
Não se trata de perspectiva panorâmica. Portanto, presenças e ausências não têm qualquer significado valorativo, bem como nacionalidade e gênero não são critérios orientadores da seleção. A escolha de temas e autores é resultado dos recortes realizados pelos trabalhos dos pesquisadores.
O ponto de junção é a ficcionalização da história. Assim, é acidental que, na seção I, compareçam três representantes de dois países, entre os quais, duas mulheres. A seção II abre-se com um representante europeu da literatura em língua portuguesa. Os capítulos que abordam a produção brasileira foram ordenados cronologicamente, conforme a sequência de publicação das obras estudadas. Como alguns trabalhos selecionam mais de um título, levou-se em consideração a data mais recuada. Em “Ficção histórica hispano-americana contemporânea: leituras de María Rosa Lojo”, após uma breve contextualização das relações entre ficção, história e memória, Antonio R. Esteves explora, como exemplo da presença da ficção histórica na literatura latino-americana contemporânea, a obra da escritora argentina María Rosa Lojo, que construiu uma sólida narrativa no umbral na qual se misturam ficção e história. Para esse capítulo, foram escolhidos três relatos do livro Amores insólitos de nuestra historia, publicado inicialmente em 2001, que mostram como a escritora se propõe a discutir a complexa identidade de seu país, construída por meio da antinomia civilização versus barbárie criada por Domingo Faustino Sarmiento em seu livro Facundo: Civilización y barbárie (1845), por meio do qual se estrutura discursivamente a cultura argentina. María Rosa Lojo, em sua obra em geral, e nos relatos em questão, se dedica a corroer esse pilar, subvertendo uma série de lugares comuns dessa cultura. Sob o título “Para voltar ao meu corpo e poder dizer, enfim, o que sentimos: de El furgón de los locos”, Emerson Peretti realiza, por meio do diálogo com outros textos sobre memória, estética, trauma e representação, uma leitura dos expedientes da memória no título de Carlos Liscano (2007). Em seu romance/testemunho, o escritor estabelece uma volta simbólica ao próprio corpo, que permanece em seu longo confinamento, no Penal de Libertad, no Uruguai, durante a última ditadura.
Essa tentativa de reincorporação ao ser perdido põe em movimento um
conjunto de recursos mnemônicos e estéticos que trabalham nos limites entre a memória traumática e sua representação artística. O estudo aborda as três partes do livro como atos de condicionamento de diferentes ordens – sobre a espera, sobre a dor, sobre o trauma – que constituem fundamentalmente o trabalho de luto nesta narrativa.
Em “Lo tenía en la punta de la lengua: a consciência histórica plasmada
na pentalogia de Cristina Bajo via anacronismo verbal”, Phelipe de Lima
Cerdeira toma o anacronismo verbal como o eixo central de discussão,
viabilizando, assim, uma leitura da pentalogia a Saga de los Osorio (1995-2017), de Cristina Bajo. Para pensar a respeito de como Bajo transforma questões linguísticas em recursos para contar as guerras civis argentinas, a abordagem problematiza como a escritora se filia, estrategicamente, a uma linhagem scottiniana para narrar, demonstrando que o diálogo entre os discursos ficcional e histórico ainda se faz valer na produção contemporânea no país. Ao recontar uma parte da história com base no deslocamento do discurso histórico argentino canônico, a leitura da pentalogia permite uma sensação familiar, a ideia de um passado-presente que parece ter sido acionado, aguçado, que fica latente, na ponta da língua.
Eduarda da Matta, no capítulo “Pessoa em ficção, Reis na história”
apresenta uma leitura da obra O ano da morte de Ricardo Reis (1984), de José Saramago, pelo viés da ficção histórica. A inserção do poeta Fernando Pessoa e de seu heterônimo Ricardo Reis no mesmo plano ficcional, considerando o cenário romanesco, início da ditadura salazarista em Portugal, são os pontos que regem a análise deste capítulo. O estudo se inicia com uma apresentação de como a história é vista pela ficção em algumas obras do autor português. Características, modos de narrar e similaridades discursivas são apontadas e brevemente comentadas pelo caminho até que a discussão se volte ao romance em questão. Geisa Mueller investiga, sob o título “A autorreferencialidade em O Garatuja, de José de Alencar”, o uso da ironia romântica nesse romance histórico publicado em 1873. A ironia romântica perscrutada na narrativa remete à ironia elaborada nos fragmentos de Friedrich Schlegel, publicados na Athenäum em 1798. Neste sentido, a autorreferencialidade é observada na composição caricatural do construto de Alencar, visto que a duplicidade estrutural da narrativa engendra a metalinguagem constitutiva da discussão política realizada no romance. Com base nos estudos sobre ficção histórica e considerando as fronteiras porosas entre história e literatura, em “Ficção histórica e D. Pedro I do Brasil: uma leitura de As maluquices do Imperador, de Paulo Setúbal, e de O Chalaça, de José Roberto Torero”, Stanis David Lacowicz analisa a configuração discursiva de D. Pedro I do Brasil nos romances citados no título, publicações de 1927 e 1994, respectivamente. Para tanto, parte do conceito de figuração da personagem, de Carlos Reis (2015), da teorização de Célia Fernández Prieto (1998) sobre romance histórico, bem como das propostas de Wolfgang Iser (1996a;1996b), tanto sobre a relação entre fictício e imaginário, quanto sobre a importância do leitor na constituição do texto literário. Os romances Boca do Inferno (1989), A Última Quimera (1995) e Dias e Dias (2003), de Ana Miranda, constituem o objeto de “Discursos de nação Ressignificações da história pela ficção em novos moinhos”. Eunice de Morais revela as fronteiras marcadas pelo
contexto espacial e temporal de cada narrativa. A análise da focalização das narrativas sobre o contexto social e ideológico de cada momento histórico vivido pelos poetas faz transparecer a complexidade das opções políticas e ideológicas de cada um deles nos romances. Ao mesmo tempo, demonstra o quanto estas opções fazem parte de uma lógica contextual e cultural nos processos de formação, afirmação e reafirmação da condição nacional. O texto vem delinear, de certo modo, a revisitação dos discursos de nação que os poetas inseridos em seu contexto representam. Esta revisitação, por si só, já indica a permanência e importância do tema. Em “O jogo do ventriloquismo no romance Viagem ao México, de Silviano Santiago” Helder Santos Rocha analisa alguns elementos que estruturam a narrativa dessa publicação de 1995, com enfoque no jogo estético com as referências históricas. Diferentemente de uma relação harmônica ou mesmo de uma submissão da ficção ao documento histórico, o romance de Santiago propõe uma tensão criativa com o referente acerca de aspectos da vida do dramaturgo e poeta Antonin Artaud, sobretudo a famosa viagem ao País dos Tahaumaras, episódio relevante de sua biografia. A leitura elegeu a “cena” fictícia do romance que esboça a problemática do ventriloquismo como metáfora para a compreensão do jogo estético, ancorando-se em conceitos críticos de Iser, Derrida, Hutcheon, Célia Fernandez Prieto, além de questões relevantes levantadas pela fortuna crítica da ficção de Santiago, a exemplo de Bulhões Carvalho, Eneida de Souza, Garramuño e outros. Gisele Thiel Della Cruz apresenta, no estudo “A ficção histórica escrita por mulheres”, um levantamento das obras de ficção histórica que foram produzidas no Brasil a partir dos anos 1970, tendo como referências as pesquisas de Esteves (2010) e Weinhardt (2008). À vista do levantamento, propõe algumas questões referentes ao espaço ocupado pelas obras de criação escritas por mulheres no cenário literário nacional. Em um segundo momento, pensando no filão da ficção histórica escrita por mulheres, o estudo analisa os elementos técnico-formais do romance de Ana Maria Gonçalves, Um defeito de cor (2006), em uma narrativa possivelmente “contestatória e/ou antiantropocêntrica”. O que se propõe é identificar recursos narrativos utilizados pela autora para reconstruir as possíveis imagens e referências da mulher e mais especificamente da mulher negra na sociedade brasileira do século XIX, tendo como ponto departida a trajetória de vida da personagem ficcional Kehinde.
circulam entre história, memória, ficção e rostidade. O título Trama de
Mulheres: Ficção, História e Rostidade apresenta, de imediato, a percepção dos meandros temáticos aos quais as mulheres autoras têm se aventurado quando deixam o enclausuramento do Eu que navega pelo desconhecido da imaginação e fantasia e buscam lançar seu olhar para além do horizonte, para além do tempo mergulhando no passado que se propõe histórico e por vezes nas reminiscências da memória. Em outro momento, os estudos apresentam facetas da desrostificação seguida da construção de uma nova rostidade como forma de desenclausuramento, des silenciamento no confronto com novas configurações da realidade circundante ou desterritorializada.
aprofundamento dos debates sobre a linguagem/textos transversais,
reveladores das permanências e transformações individuais, sociais,
culturais e políticas implicadas na relação local/global e nas distintas
performances de identidades. Nesse sentido, o CIEL acolheu e,
traz a público, trabalhos científicos que discutem sobre linguagens/
textos em relação às bases epistemológicas e às perspectivas teóricas
das Ciências Humanas, incluindo neste rol, por exemplo, o processo
de globalização, os diálogos interculturais e as políticas linguísticas,
sociais, culturais e de ensino, bem como o percurso histórico de
permanências e transformações nestes campos de investigação, de
modo a revelar o pensamento crítico e teórico contemporâneo sobre
a configuração da produção literária, artística, científica e cultural.
assinalar a preocupação dos autores com as transformações nos
campos do ensino, das relações da literatura com outras linguagens,
bem como com a necessidade de rediscutir as questões relativas aos
tabus linguísticos. Há, nessas perspectivas de pesquisa, um voltar-se
diretamente e objetivamente para questões de alta preocupação
da sociedade contemporânea sobre a valorização do ser, em sua
subjetividade e individualidade, para a construção de uma coletividade
harmônica.
A partir de uma visão global dos textos publicados neste volume, apresentamos uma resposta à percepção do necessário e urgente
aprofundamento dos debates sobre a linguagem/textos transversais,
reveladores das permanências e transformações individuais, sociais,
culturais e políticas implicadas na relação local/global e nas distintas
performances de identidades. Nesse sentido, o CIEL acolheu e, traz a público, trabalhos científicos que discutem sobre linguagens/textos em relação às bases epistemológicas e às perspectivas teóricas das Ciências Humanas, incluindo neste rol, por exemplo, o processo
de globalização, os diálogos interculturais e as políticas linguísticas,
sociais, culturais e de ensino, bem como o percurso histórico de permanências e transformações nestes campos de investigação, de
modo a revelar o pensamento crítico e teórico contemporâneo sobre
a configuração da produção literária, artística, científica e cultural.
Based on the historical discourse in the Chronicles of Rui de Pina and Fernão Lopes about the lives of Dom Affonso IV and Dom Pedro I of Portugal, this article intends to analyze the episodes related to Inês de Castro, in the fictional works Os Lusíadas (1572), by Luís Vaz de Camões, and “Teorema” (1963), by Herberto Helder. It intends to understand, specifically, the way in which the citizens appear in each work and verify how the perspective adopted by the narrator affects this representation, in addition, it tries to apprehend a critical content along with the fictional-historical discourse. While intending to understand the relationship between fiction and historical truth, as well as the actions of the characters in their contexts, we study the historical narratives by the chroniclers and compare them to the fictional narratives. We also study, among other points, the the theory of historical fiction based on Marilene Weinhardt (1994, 2010), the combination between history and art in Camon's work by Mauro Cavaliere (2002), and the writing of the chroniclers and objectives of this type of narrative according to Antônio José Saraiva (1999). The research, finally, reveals that the difference in perspective chosen by the author substantially changes the way of representing the citizens, especially considering the objective with which each narrative was written.
língua portuguesa, constam estudos sobre ficção em língua portuguesa.
Não se trata de perspectiva panorâmica. Portanto, presenças e ausências não têm qualquer significado valorativo, bem como nacionalidade e gênero não são critérios orientadores da seleção. A escolha de temas e autores é resultado dos recortes realizados pelos trabalhos dos pesquisadores.
O ponto de junção é a ficcionalização da história. Assim, é acidental que, na seção I, compareçam três representantes de dois países, entre os quais, duas mulheres. A seção II abre-se com um representante europeu da literatura em língua portuguesa. Os capítulos que abordam a produção brasileira foram ordenados cronologicamente, conforme a sequência de publicação das obras estudadas. Como alguns trabalhos selecionam mais de um título, levou-se em consideração a data mais recuada. Em “Ficção histórica hispano-americana contemporânea: leituras de María Rosa Lojo”, após uma breve contextualização das relações entre ficção, história e memória, Antonio R. Esteves explora, como exemplo da presença da ficção histórica na literatura latino-americana contemporânea, a obra da escritora argentina María Rosa Lojo, que construiu uma sólida narrativa no umbral na qual se misturam ficção e história. Para esse capítulo, foram escolhidos três relatos do livro Amores insólitos de nuestra historia, publicado inicialmente em 2001, que mostram como a escritora se propõe a discutir a complexa identidade de seu país, construída por meio da antinomia civilização versus barbárie criada por Domingo Faustino Sarmiento em seu livro Facundo: Civilización y barbárie (1845), por meio do qual se estrutura discursivamente a cultura argentina. María Rosa Lojo, em sua obra em geral, e nos relatos em questão, se dedica a corroer esse pilar, subvertendo uma série de lugares comuns dessa cultura. Sob o título “Para voltar ao meu corpo e poder dizer, enfim, o que sentimos: de El furgón de los locos”, Emerson Peretti realiza, por meio do diálogo com outros textos sobre memória, estética, trauma e representação, uma leitura dos expedientes da memória no título de Carlos Liscano (2007). Em seu romance/testemunho, o escritor estabelece uma volta simbólica ao próprio corpo, que permanece em seu longo confinamento, no Penal de Libertad, no Uruguai, durante a última ditadura.
Essa tentativa de reincorporação ao ser perdido põe em movimento um
conjunto de recursos mnemônicos e estéticos que trabalham nos limites entre a memória traumática e sua representação artística. O estudo aborda as três partes do livro como atos de condicionamento de diferentes ordens – sobre a espera, sobre a dor, sobre o trauma – que constituem fundamentalmente o trabalho de luto nesta narrativa.
Em “Lo tenía en la punta de la lengua: a consciência histórica plasmada
na pentalogia de Cristina Bajo via anacronismo verbal”, Phelipe de Lima
Cerdeira toma o anacronismo verbal como o eixo central de discussão,
viabilizando, assim, uma leitura da pentalogia a Saga de los Osorio (1995-2017), de Cristina Bajo. Para pensar a respeito de como Bajo transforma questões linguísticas em recursos para contar as guerras civis argentinas, a abordagem problematiza como a escritora se filia, estrategicamente, a uma linhagem scottiniana para narrar, demonstrando que o diálogo entre os discursos ficcional e histórico ainda se faz valer na produção contemporânea no país. Ao recontar uma parte da história com base no deslocamento do discurso histórico argentino canônico, a leitura da pentalogia permite uma sensação familiar, a ideia de um passado-presente que parece ter sido acionado, aguçado, que fica latente, na ponta da língua.
Eduarda da Matta, no capítulo “Pessoa em ficção, Reis na história”
apresenta uma leitura da obra O ano da morte de Ricardo Reis (1984), de José Saramago, pelo viés da ficção histórica. A inserção do poeta Fernando Pessoa e de seu heterônimo Ricardo Reis no mesmo plano ficcional, considerando o cenário romanesco, início da ditadura salazarista em Portugal, são os pontos que regem a análise deste capítulo. O estudo se inicia com uma apresentação de como a história é vista pela ficção em algumas obras do autor português. Características, modos de narrar e similaridades discursivas são apontadas e brevemente comentadas pelo caminho até que a discussão se volte ao romance em questão. Geisa Mueller investiga, sob o título “A autorreferencialidade em O Garatuja, de José de Alencar”, o uso da ironia romântica nesse romance histórico publicado em 1873. A ironia romântica perscrutada na narrativa remete à ironia elaborada nos fragmentos de Friedrich Schlegel, publicados na Athenäum em 1798. Neste sentido, a autorreferencialidade é observada na composição caricatural do construto de Alencar, visto que a duplicidade estrutural da narrativa engendra a metalinguagem constitutiva da discussão política realizada no romance. Com base nos estudos sobre ficção histórica e considerando as fronteiras porosas entre história e literatura, em “Ficção histórica e D. Pedro I do Brasil: uma leitura de As maluquices do Imperador, de Paulo Setúbal, e de O Chalaça, de José Roberto Torero”, Stanis David Lacowicz analisa a configuração discursiva de D. Pedro I do Brasil nos romances citados no título, publicações de 1927 e 1994, respectivamente. Para tanto, parte do conceito de figuração da personagem, de Carlos Reis (2015), da teorização de Célia Fernández Prieto (1998) sobre romance histórico, bem como das propostas de Wolfgang Iser (1996a;1996b), tanto sobre a relação entre fictício e imaginário, quanto sobre a importância do leitor na constituição do texto literário. Os romances Boca do Inferno (1989), A Última Quimera (1995) e Dias e Dias (2003), de Ana Miranda, constituem o objeto de “Discursos de nação Ressignificações da história pela ficção em novos moinhos”. Eunice de Morais revela as fronteiras marcadas pelo
contexto espacial e temporal de cada narrativa. A análise da focalização das narrativas sobre o contexto social e ideológico de cada momento histórico vivido pelos poetas faz transparecer a complexidade das opções políticas e ideológicas de cada um deles nos romances. Ao mesmo tempo, demonstra o quanto estas opções fazem parte de uma lógica contextual e cultural nos processos de formação, afirmação e reafirmação da condição nacional. O texto vem delinear, de certo modo, a revisitação dos discursos de nação que os poetas inseridos em seu contexto representam. Esta revisitação, por si só, já indica a permanência e importância do tema. Em “O jogo do ventriloquismo no romance Viagem ao México, de Silviano Santiago” Helder Santos Rocha analisa alguns elementos que estruturam a narrativa dessa publicação de 1995, com enfoque no jogo estético com as referências históricas. Diferentemente de uma relação harmônica ou mesmo de uma submissão da ficção ao documento histórico, o romance de Santiago propõe uma tensão criativa com o referente acerca de aspectos da vida do dramaturgo e poeta Antonin Artaud, sobretudo a famosa viagem ao País dos Tahaumaras, episódio relevante de sua biografia. A leitura elegeu a “cena” fictícia do romance que esboça a problemática do ventriloquismo como metáfora para a compreensão do jogo estético, ancorando-se em conceitos críticos de Iser, Derrida, Hutcheon, Célia Fernandez Prieto, além de questões relevantes levantadas pela fortuna crítica da ficção de Santiago, a exemplo de Bulhões Carvalho, Eneida de Souza, Garramuño e outros. Gisele Thiel Della Cruz apresenta, no estudo “A ficção histórica escrita por mulheres”, um levantamento das obras de ficção histórica que foram produzidas no Brasil a partir dos anos 1970, tendo como referências as pesquisas de Esteves (2010) e Weinhardt (2008). À vista do levantamento, propõe algumas questões referentes ao espaço ocupado pelas obras de criação escritas por mulheres no cenário literário nacional. Em um segundo momento, pensando no filão da ficção histórica escrita por mulheres, o estudo analisa os elementos técnico-formais do romance de Ana Maria Gonçalves, Um defeito de cor (2006), em uma narrativa possivelmente “contestatória e/ou antiantropocêntrica”. O que se propõe é identificar recursos narrativos utilizados pela autora para reconstruir as possíveis imagens e referências da mulher e mais especificamente da mulher negra na sociedade brasileira do século XIX, tendo como ponto departida a trajetória de vida da personagem ficcional Kehinde.
circulam entre história, memória, ficção e rostidade. O título Trama de
Mulheres: Ficção, História e Rostidade apresenta, de imediato, a percepção dos meandros temáticos aos quais as mulheres autoras têm se aventurado quando deixam o enclausuramento do Eu que navega pelo desconhecido da imaginação e fantasia e buscam lançar seu olhar para além do horizonte, para além do tempo mergulhando no passado que se propõe histórico e por vezes nas reminiscências da memória. Em outro momento, os estudos apresentam facetas da desrostificação seguida da construção de uma nova rostidade como forma de desenclausuramento, des silenciamento no confronto com novas configurações da realidade circundante ou desterritorializada.
aprofundamento dos debates sobre a linguagem/textos transversais,
reveladores das permanências e transformações individuais, sociais,
culturais e políticas implicadas na relação local/global e nas distintas
performances de identidades. Nesse sentido, o CIEL acolheu e,
traz a público, trabalhos científicos que discutem sobre linguagens/
textos em relação às bases epistemológicas e às perspectivas teóricas
das Ciências Humanas, incluindo neste rol, por exemplo, o processo
de globalização, os diálogos interculturais e as políticas linguísticas,
sociais, culturais e de ensino, bem como o percurso histórico de
permanências e transformações nestes campos de investigação, de
modo a revelar o pensamento crítico e teórico contemporâneo sobre
a configuração da produção literária, artística, científica e cultural.
assinalar a preocupação dos autores com as transformações nos
campos do ensino, das relações da literatura com outras linguagens,
bem como com a necessidade de rediscutir as questões relativas aos
tabus linguísticos. Há, nessas perspectivas de pesquisa, um voltar-se
diretamente e objetivamente para questões de alta preocupação
da sociedade contemporânea sobre a valorização do ser, em sua
subjetividade e individualidade, para a construção de uma coletividade
harmônica.
A partir de uma visão global dos textos publicados neste volume, apresentamos uma resposta à percepção do necessário e urgente
aprofundamento dos debates sobre a linguagem/textos transversais,
reveladores das permanências e transformações individuais, sociais,
culturais e políticas implicadas na relação local/global e nas distintas
performances de identidades. Nesse sentido, o CIEL acolheu e, traz a público, trabalhos científicos que discutem sobre linguagens/textos em relação às bases epistemológicas e às perspectivas teóricas das Ciências Humanas, incluindo neste rol, por exemplo, o processo
de globalização, os diálogos interculturais e as políticas linguísticas,
sociais, culturais e de ensino, bem como o percurso histórico de permanências e transformações nestes campos de investigação, de
modo a revelar o pensamento crítico e teórico contemporâneo sobre
a configuração da produção literária, artística, científica e cultural.