Mais que a comemoração de uma efeméride como reafirmação
peremptória da exclusividade nacional – ... more Mais que a comemoração de uma efeméride como reafirmação peremptória da exclusividade nacional – tal como tende a ser o olhar historicista –, os duzentos anos da Independência do Brasil convidam a uma reflexão sobre as diversas formas como o Brasil, por intermédio de seus intelectuais, foi sendo interpretado ao longo desse longo percurso histórico. Trata-se, assim, de apelar para o caráter radicalmente histórico e variante das definições sobre as características e os motivos que explicam tanto a existência do Brasil como nação como o conteúdo emprestado ao saldo histórico da relação com sua ex-metrópole – Portugal. A percepção da resiliência de certos significantes históricos, a despeito da variação dos significados, mostra resiliências da memória histórica construída pela intelectualidade e esposada pelas instituições estatais posteriormente à efeméride da Independência. A arquitetura conceitual dessas elaborações, chamarei de “matrizes de compreensão da identidade nacional” brasileira.
Tese de doutoramento em Letras, área de História (História da Cultura) apresentada à Fac. de Letr... more Tese de doutoramento em Letras, área de História (História da Cultura) apresentada à Fac. de Letras de CoimbraEste trabalho tem por propósito o estudo de um problema específico: o das demarcações culturais que têm lugar, em finais do século XIX e inícios do século seguinte, entre Brasil e Portugal. Em ordem ao seu tratamento, percorrem-se duas linhas de análise: uma, é a que procura explicar os contornos da escala cultural luso-brasileira no período em análise; outra, é a equaciona a construção das matrizes identitárias emergentes na referida escala. Para este efeito, desenvolve-se uma pesquisa em três etapas: a) a detecção dos mecanismos de funcionamento articuladores da mencionada escala cultural luso-brasileira; b) a identificação dos fundamentos teóricos mobilizados naquele mesmo âmbito; c) o estudo das matrizes identitárias produzidas no contexto do movimento relacional pluriescalar das culturas "portuguesa" e "brasileira". Esta incursão (trabalhando sobre as noções de historicidade, fundação e origem) evidencia a nuclearidade da história no contexto dos processo de demarcação identitária luso-brasileira.This work has as purpose the study a specific problem: the cultural demarcations that have place, in the ends of nineteen century and begins of twentieth century, between Brazil and Portugal. In order to do his treatment, its search trough two ways of analysis: first, that look for explain the boundaries of the luso-brazilian cultural scale; second, that consider about the construction of identity matrix that emerge on mentioned scale. For do to that, its develops this search in three steps: a) the detection of the functioning mechanisms that articulate this related cultural luso-brazilian scale; b) the identification of theoretic fundaments that is mobilized in this scope; c) the study of identity matrix produced on relational and pluri-scale context of "Portuguese" culture and "Brazilian" culture. This incursion (works about the notions of historicity, foundation and origin) make in evidence the nuclear place of history in the process of demarcation of luso-brazilian identity
A campanha anticolonial contra a presença portuguesa na África mobilizou o cenário internacional ... more A campanha anticolonial contra a presença portuguesa na África mobilizou o cenário internacional em diversos âmbitos. Para além do direto envolvimento dos movimentos de libertação com as superpotências da Guerra Fria (seja na diplomacia, seja no suporte militar), a opinião pública internacional manteve-se atenta aos acontecimentos ocorridos em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau entre 1961 e 1975. Particularmente nos países ocidentais, o contexto dos movimentos de contracultura num amplo espectro das esquerdas chamou atenção para uma tomada de consciência global sobre a relação perniciosa entre o racismo, o colonialismo e o capitalismo. Esses eixos críticos se articulam na criação de diversos comités políticos em apoio à luta pela liberdade de angolanos, moçambicanos e guineenses. Este vínculo vai além das fronteiras lusófonas, manifestando um agenciamento político transnacional de elevada significância. A fundação do Toronto Committee for the Liberation of Portugal’s African Colonies...
A campanha anticolonial contra a presença portuguesa na África mobilizou o cenário internacional ... more A campanha anticolonial contra a presença portuguesa na África mobilizou o cenário internacional em diversos âmbitos. Para além do direto envolvimento dos movimentos de libertação com as superpotências da Guerra Fria (seja na diplomacia, seja no suporte militar), a opinião pública internacional manteve-se atenta aos acontecimentos ocorridos em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau entre 1961 e 1975. Particularmente nos países ocidentais, o contexto dos movimentos de contracultura num amplo espectro das esquerdas chamou atenção para uma tomada de consciência global sobre a relação perniciosa entre o racismo, o colonialismo e o capitalismo. Esses eixos críticos se articulam na criação de diversos comités políticos em apoio à luta pela liberdade de angolanos, moçambicanos e guineenses. Este vínculo vai além das fronteiras lusófonas, manifestando um agenciamento político transnacional de elevada significância. A fundação do Toronto Committee for the Liberation of Portugal’s African Colonies...
O presente artigo aborda a complexidade da construção nacional em Moçambique, tendo especial aten... more O presente artigo aborda a complexidade da construção nacional em Moçambique, tendo especial atenção ao período pós Independência (1975). Inicialmente discute algumas matrizes teóricas sobre o caso das identidades africanas de modo geral e dos nacionalismos africanos de modo particular. Argumenta pela necessidade de abdicar das leituras generalistas e propõe o enfoque do caso moçambicano. Analisa a construção do projeto político e ideológico da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) tendo atenção na forma como é compreendida a construção nacional em Moçambique. Destaca, assim, a maneira como as identidades tradicionais e as heranças do período colonial e racista são contrapostas ao projeto de criação de um “Homem Novo” no país através de uma particular leitura da moçambicanidade
A campanha anticolonial contra a presença portuguesa na África mobilizou o cenário internacional ... more A campanha anticolonial contra a presença portuguesa na África mobilizou o cenário internacional em diversos âmbitos. Para além do direto envolvimento dos movimentos de libertação com as superpotências da Guerra Fria (seja na diplomacia, seja no suporte militar), a opinião pública internacional manteve-se atenta aos acontecimentos ocorridos em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau entre 1961 e 1975. Particularmente nos países ocidentais, o contexto dos movimentos de contracultura num amplo espectro das esquerdas chamou atenção para uma tomada de consciência global sobre a relação perniciosa entre o racismo, o colonialismo e o capitalismo. Esses eixos críticos se articulam na criação de diversos comités políticos em apoio à luta pela liberdade de angolanos, moçambicanos e guineenses. Este vínculo vai além das fronteiras lusófonas, manifestando um agenciamento político transnacional de elevada significância. A fundação do Toronto Committee for the Liberation of Portugal’s African Colonies (TCLPAC), em 1972, enquadra-se nesse cenário geral. Este artigo apresenta a história desta organização canadense engajada na luta contra o colonialismo português. Dá realce à trajetória de um de seus principais fundadores, às peculiaridades do contexto canadense na época e analisa suas ações, seu significado político interno (Canadá) e externo (Angola e Moçambique), bem como os resultados conseguidos até 1975. Depois da independência das ex-colônias portuguesas na África, a organização amplia seus objetivos e troca de nomenclatura, expandindo ainda mais seu alcance.
Este trabalho faz um estudo de caso sobre o multiculturalismo etnico em Santa Cruz do Sul tendo c... more Este trabalho faz um estudo de caso sobre o multiculturalismo etnico em Santa Cruz do Sul tendo como mote dois concursos de beleza, a Rainha da Oktoberfest e A Mais Bela Negra do Rio Grande do Sul. Os eventos ocorrem anualmente no Parque Municipal de Eventos da cidade. A pesquisa tem como objeto de analise o jornal Gazeta do Sul, periodico diario de maior circulacao na regiao do Vale do Rio Pardo. Adotei como estudo de caso os meses de abril e novembro de 1994, periodo que marca os 15 anos dos respectivos eventos. Nesse sentido, as imagens fotograficas desses concursos representam uma ferramenta importante de analise das relacoes de alteridade a partir das representacoes sociais e dos codigos simbolicos especificos de cada grupo.
Todo movimento de definicao se manifesta por intermedio do estabeleci- mento de limittes. A demar... more Todo movimento de definicao se manifesta por intermedio do estabeleci- mento de limittes. A demarcacao conceitual cria um escopo de referencia e sig- nificacao. O estabelecimento, mesmo da objetividade de um problema, consiste na demarcacao de seu conteudo, conforme o filosofo portugues Fernando Gil (1984: 249). O poeta britânico, T. S. Eliot sabia disto. Em suas Nottas para uma Definicao de Culttura, publicado em 1943, Eliot dedica-se a tarefa de definicao conceitual do termo “Cultura”. Segundo ele, “a palavra culttura implica associacoes diferentes segundo o desenvolvimento de um individuo, de um grupo ou classe, ou de ttoda uma sociedade” (1996: 22). Admitindo a valia da analise de Eliot, tem-se como referencia que uma das questoes a ser levada em consideracao, quando a culttura e tratada como um problema, e o fato de que sua definicao esta condicionada a uma escala.
This article traits the complexity of the national building process in Mozambique post-Independen... more This article traits the complexity of the national building process in Mozambique post-Independence (1975). Firstly, discusses some theoretical references for the African identities in general and African nationalism in particular. Argues for the abdication of generalist interpretations and proposes a Mozambican case approach. Analyzes the political and ideological project of FRELIMO (Liberation Front of Mozambique) giving attention to how the national building is understood. Relies, in this case, how the ethnic or traditional identities and the racist and colonial heritages were opposed of the creation of New Man project in the country by a particular reading of Mozambicanity.
Ocupa-se o presente trabalho da perplexidade manifestada pelo
projeto da modernidade — entendida ... more Ocupa-se o presente trabalho da perplexidade manifestada pelo projeto da modernidade — entendida enquanto processo fundado na crença no potencial da razão emancipatória dos povos e no progresso da ciência — no momento da sua adequação ao Brasil. Para tanto, procuramos trabalhar esse fenômeno focando, muito particularmente, o caso de Euclides da Cunha, autor de Os Sertões (publicado, pela primeira vez, em 1902), por considerá-lo expressão de toda a complexidade intelectual decorrente dos desafios impostos pelo caso brasileiro ao projeto moderno. E mais: por considerá-lo também, em virtude do modo tensional como nele se realiza o conhecimento do brasileiro sertanejo, autor de um discurso nuclear na busca de uma identidade nacional brasileira.
Neste artigo circunscrevemos três conceitos debatidos na perspectiva lusófona e que foram propaga... more Neste artigo circunscrevemos três conceitos debatidos na perspectiva lusófona e que foram propagados entre as décadas de 1930 e 1950. O panlusitanismo do Boletim da Sociedade Luso‑Africana do Rio de Janeiro que buscava a difusão ideológica das tradições lusitanas e a exaltação do vasto império colonial; o lusobrasileirismo do intelectual português Nuno Simões que defendia uma aproximação cultural fundamentada nos laços de sangue, língua e história, bem como o lusotropicalismo do ensaísta brasileiro Gilberto Freyre, que postulava uma singular capacidade de colonização dos portugueses, por conta da miscigenação e da adapção aos trópicos. Ao compreender a lusofonia enquanto perspectiva discursiva de matriz cultural, toma‑se com especial interesse a configuração de escala do panlusitanismo, do lusobrasileirismo e do lusotropicalismo, ao passo que a questão central a ser analisada diz respeito a historicidade dos discursos políticos e as redes intelectuais articuladas em torno deles.
Este artigo analisa os jogos de memórias e expectativas observados entre intelectuais e portugues... more Este artigo analisa os jogos de memórias e expectativas observados entre intelectuais e portugueses e brasileiros que manifestaram apreensões relativas a uma putativa ligação luso-brasileira. Nossas reflexões situam-se em dois momentos históricos precisos: a proclamação da República no Brasil (1889) e a realização da 1ª Exposição Colonial do Porto (1934). Para além da importância dos eventos em si, interessa-se pela dimensão da crispação de memóriasprojetivas sobre uma pretensa marca da lusitanidade na América e na África. Nos dois momentos destaca-se a questão da unidade territorial relacionada às hermenêuticas identitárias. O temor da perda de unidade em escala americana, no final do XIX, ou em seus desdobramentos em escala africana, no século XX, buliam na compreensão sobre dada «lusitanidade». A fronteira, como conceito, revela-se um mecanismo de aglutinação de expectativas que interpela diferentes dimensões escalares de referência (Europa, América e África), sendo elemento cons...
Mais que a comemoração de uma efeméride como reafirmação
peremptória da exclusividade nacional – ... more Mais que a comemoração de uma efeméride como reafirmação peremptória da exclusividade nacional – tal como tende a ser o olhar historicista –, os duzentos anos da Independência do Brasil convidam a uma reflexão sobre as diversas formas como o Brasil, por intermédio de seus intelectuais, foi sendo interpretado ao longo desse longo percurso histórico. Trata-se, assim, de apelar para o caráter radicalmente histórico e variante das definições sobre as características e os motivos que explicam tanto a existência do Brasil como nação como o conteúdo emprestado ao saldo histórico da relação com sua ex-metrópole – Portugal. A percepção da resiliência de certos significantes históricos, a despeito da variação dos significados, mostra resiliências da memória histórica construída pela intelectualidade e esposada pelas instituições estatais posteriormente à efeméride da Independência. A arquitetura conceitual dessas elaborações, chamarei de “matrizes de compreensão da identidade nacional” brasileira.
Tese de doutoramento em Letras, área de História (História da Cultura) apresentada à Fac. de Letr... more Tese de doutoramento em Letras, área de História (História da Cultura) apresentada à Fac. de Letras de CoimbraEste trabalho tem por propósito o estudo de um problema específico: o das demarcações culturais que têm lugar, em finais do século XIX e inícios do século seguinte, entre Brasil e Portugal. Em ordem ao seu tratamento, percorrem-se duas linhas de análise: uma, é a que procura explicar os contornos da escala cultural luso-brasileira no período em análise; outra, é a equaciona a construção das matrizes identitárias emergentes na referida escala. Para este efeito, desenvolve-se uma pesquisa em três etapas: a) a detecção dos mecanismos de funcionamento articuladores da mencionada escala cultural luso-brasileira; b) a identificação dos fundamentos teóricos mobilizados naquele mesmo âmbito; c) o estudo das matrizes identitárias produzidas no contexto do movimento relacional pluriescalar das culturas "portuguesa" e "brasileira". Esta incursão (trabalhando sobre as noções de historicidade, fundação e origem) evidencia a nuclearidade da história no contexto dos processo de demarcação identitária luso-brasileira.This work has as purpose the study a specific problem: the cultural demarcations that have place, in the ends of nineteen century and begins of twentieth century, between Brazil and Portugal. In order to do his treatment, its search trough two ways of analysis: first, that look for explain the boundaries of the luso-brazilian cultural scale; second, that consider about the construction of identity matrix that emerge on mentioned scale. For do to that, its develops this search in three steps: a) the detection of the functioning mechanisms that articulate this related cultural luso-brazilian scale; b) the identification of theoretic fundaments that is mobilized in this scope; c) the study of identity matrix produced on relational and pluri-scale context of "Portuguese" culture and "Brazilian" culture. This incursion (works about the notions of historicity, foundation and origin) make in evidence the nuclear place of history in the process of demarcation of luso-brazilian identity
A campanha anticolonial contra a presença portuguesa na África mobilizou o cenário internacional ... more A campanha anticolonial contra a presença portuguesa na África mobilizou o cenário internacional em diversos âmbitos. Para além do direto envolvimento dos movimentos de libertação com as superpotências da Guerra Fria (seja na diplomacia, seja no suporte militar), a opinião pública internacional manteve-se atenta aos acontecimentos ocorridos em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau entre 1961 e 1975. Particularmente nos países ocidentais, o contexto dos movimentos de contracultura num amplo espectro das esquerdas chamou atenção para uma tomada de consciência global sobre a relação perniciosa entre o racismo, o colonialismo e o capitalismo. Esses eixos críticos se articulam na criação de diversos comités políticos em apoio à luta pela liberdade de angolanos, moçambicanos e guineenses. Este vínculo vai além das fronteiras lusófonas, manifestando um agenciamento político transnacional de elevada significância. A fundação do Toronto Committee for the Liberation of Portugal’s African Colonies...
A campanha anticolonial contra a presença portuguesa na África mobilizou o cenário internacional ... more A campanha anticolonial contra a presença portuguesa na África mobilizou o cenário internacional em diversos âmbitos. Para além do direto envolvimento dos movimentos de libertação com as superpotências da Guerra Fria (seja na diplomacia, seja no suporte militar), a opinião pública internacional manteve-se atenta aos acontecimentos ocorridos em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau entre 1961 e 1975. Particularmente nos países ocidentais, o contexto dos movimentos de contracultura num amplo espectro das esquerdas chamou atenção para uma tomada de consciência global sobre a relação perniciosa entre o racismo, o colonialismo e o capitalismo. Esses eixos críticos se articulam na criação de diversos comités políticos em apoio à luta pela liberdade de angolanos, moçambicanos e guineenses. Este vínculo vai além das fronteiras lusófonas, manifestando um agenciamento político transnacional de elevada significância. A fundação do Toronto Committee for the Liberation of Portugal’s African Colonies...
O presente artigo aborda a complexidade da construção nacional em Moçambique, tendo especial aten... more O presente artigo aborda a complexidade da construção nacional em Moçambique, tendo especial atenção ao período pós Independência (1975). Inicialmente discute algumas matrizes teóricas sobre o caso das identidades africanas de modo geral e dos nacionalismos africanos de modo particular. Argumenta pela necessidade de abdicar das leituras generalistas e propõe o enfoque do caso moçambicano. Analisa a construção do projeto político e ideológico da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) tendo atenção na forma como é compreendida a construção nacional em Moçambique. Destaca, assim, a maneira como as identidades tradicionais e as heranças do período colonial e racista são contrapostas ao projeto de criação de um “Homem Novo” no país através de uma particular leitura da moçambicanidade
A campanha anticolonial contra a presença portuguesa na África mobilizou o cenário internacional ... more A campanha anticolonial contra a presença portuguesa na África mobilizou o cenário internacional em diversos âmbitos. Para além do direto envolvimento dos movimentos de libertação com as superpotências da Guerra Fria (seja na diplomacia, seja no suporte militar), a opinião pública internacional manteve-se atenta aos acontecimentos ocorridos em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau entre 1961 e 1975. Particularmente nos países ocidentais, o contexto dos movimentos de contracultura num amplo espectro das esquerdas chamou atenção para uma tomada de consciência global sobre a relação perniciosa entre o racismo, o colonialismo e o capitalismo. Esses eixos críticos se articulam na criação de diversos comités políticos em apoio à luta pela liberdade de angolanos, moçambicanos e guineenses. Este vínculo vai além das fronteiras lusófonas, manifestando um agenciamento político transnacional de elevada significância. A fundação do Toronto Committee for the Liberation of Portugal’s African Colonies (TCLPAC), em 1972, enquadra-se nesse cenário geral. Este artigo apresenta a história desta organização canadense engajada na luta contra o colonialismo português. Dá realce à trajetória de um de seus principais fundadores, às peculiaridades do contexto canadense na época e analisa suas ações, seu significado político interno (Canadá) e externo (Angola e Moçambique), bem como os resultados conseguidos até 1975. Depois da independência das ex-colônias portuguesas na África, a organização amplia seus objetivos e troca de nomenclatura, expandindo ainda mais seu alcance.
Este trabalho faz um estudo de caso sobre o multiculturalismo etnico em Santa Cruz do Sul tendo c... more Este trabalho faz um estudo de caso sobre o multiculturalismo etnico em Santa Cruz do Sul tendo como mote dois concursos de beleza, a Rainha da Oktoberfest e A Mais Bela Negra do Rio Grande do Sul. Os eventos ocorrem anualmente no Parque Municipal de Eventos da cidade. A pesquisa tem como objeto de analise o jornal Gazeta do Sul, periodico diario de maior circulacao na regiao do Vale do Rio Pardo. Adotei como estudo de caso os meses de abril e novembro de 1994, periodo que marca os 15 anos dos respectivos eventos. Nesse sentido, as imagens fotograficas desses concursos representam uma ferramenta importante de analise das relacoes de alteridade a partir das representacoes sociais e dos codigos simbolicos especificos de cada grupo.
Todo movimento de definicao se manifesta por intermedio do estabeleci- mento de limittes. A demar... more Todo movimento de definicao se manifesta por intermedio do estabeleci- mento de limittes. A demarcacao conceitual cria um escopo de referencia e sig- nificacao. O estabelecimento, mesmo da objetividade de um problema, consiste na demarcacao de seu conteudo, conforme o filosofo portugues Fernando Gil (1984: 249). O poeta britânico, T. S. Eliot sabia disto. Em suas Nottas para uma Definicao de Culttura, publicado em 1943, Eliot dedica-se a tarefa de definicao conceitual do termo “Cultura”. Segundo ele, “a palavra culttura implica associacoes diferentes segundo o desenvolvimento de um individuo, de um grupo ou classe, ou de ttoda uma sociedade” (1996: 22). Admitindo a valia da analise de Eliot, tem-se como referencia que uma das questoes a ser levada em consideracao, quando a culttura e tratada como um problema, e o fato de que sua definicao esta condicionada a uma escala.
This article traits the complexity of the national building process in Mozambique post-Independen... more This article traits the complexity of the national building process in Mozambique post-Independence (1975). Firstly, discusses some theoretical references for the African identities in general and African nationalism in particular. Argues for the abdication of generalist interpretations and proposes a Mozambican case approach. Analyzes the political and ideological project of FRELIMO (Liberation Front of Mozambique) giving attention to how the national building is understood. Relies, in this case, how the ethnic or traditional identities and the racist and colonial heritages were opposed of the creation of New Man project in the country by a particular reading of Mozambicanity.
Ocupa-se o presente trabalho da perplexidade manifestada pelo
projeto da modernidade — entendida ... more Ocupa-se o presente trabalho da perplexidade manifestada pelo projeto da modernidade — entendida enquanto processo fundado na crença no potencial da razão emancipatória dos povos e no progresso da ciência — no momento da sua adequação ao Brasil. Para tanto, procuramos trabalhar esse fenômeno focando, muito particularmente, o caso de Euclides da Cunha, autor de Os Sertões (publicado, pela primeira vez, em 1902), por considerá-lo expressão de toda a complexidade intelectual decorrente dos desafios impostos pelo caso brasileiro ao projeto moderno. E mais: por considerá-lo também, em virtude do modo tensional como nele se realiza o conhecimento do brasileiro sertanejo, autor de um discurso nuclear na busca de uma identidade nacional brasileira.
Neste artigo circunscrevemos três conceitos debatidos na perspectiva lusófona e que foram propaga... more Neste artigo circunscrevemos três conceitos debatidos na perspectiva lusófona e que foram propagados entre as décadas de 1930 e 1950. O panlusitanismo do Boletim da Sociedade Luso‑Africana do Rio de Janeiro que buscava a difusão ideológica das tradições lusitanas e a exaltação do vasto império colonial; o lusobrasileirismo do intelectual português Nuno Simões que defendia uma aproximação cultural fundamentada nos laços de sangue, língua e história, bem como o lusotropicalismo do ensaísta brasileiro Gilberto Freyre, que postulava uma singular capacidade de colonização dos portugueses, por conta da miscigenação e da adapção aos trópicos. Ao compreender a lusofonia enquanto perspectiva discursiva de matriz cultural, toma‑se com especial interesse a configuração de escala do panlusitanismo, do lusobrasileirismo e do lusotropicalismo, ao passo que a questão central a ser analisada diz respeito a historicidade dos discursos políticos e as redes intelectuais articuladas em torno deles.
Este artigo analisa os jogos de memórias e expectativas observados entre intelectuais e portugues... more Este artigo analisa os jogos de memórias e expectativas observados entre intelectuais e portugueses e brasileiros que manifestaram apreensões relativas a uma putativa ligação luso-brasileira. Nossas reflexões situam-se em dois momentos históricos precisos: a proclamação da República no Brasil (1889) e a realização da 1ª Exposição Colonial do Porto (1934). Para além da importância dos eventos em si, interessa-se pela dimensão da crispação de memóriasprojetivas sobre uma pretensa marca da lusitanidade na América e na África. Nos dois momentos destaca-se a questão da unidade territorial relacionada às hermenêuticas identitárias. O temor da perda de unidade em escala americana, no final do XIX, ou em seus desdobramentos em escala africana, no século XX, buliam na compreensão sobre dada «lusitanidade». A fronteira, como conceito, revela-se um mecanismo de aglutinação de expectativas que interpela diferentes dimensões escalares de referência (Europa, América e África), sendo elemento cons...
História Intelectual e dos Conceitos. A historicidade e suas múltiplas escalas: Europa, América, África, 2022
O presente livro é o resultado de mais um ano de atuação do GT História Intelectual & História do... more O presente livro é o resultado de mais um ano de atuação do GT História Intelectual & História dos Conceitos – ANPUH/RS vinculado ao grupo do CNPq: História Intelectual e História dos Conceitos: conexões teórico-metodológicas. Este é o segundo livro do GT HIHC em que compartilhamos com os leitores e leitoras as nossas pesquisas. Há, no livro, um amplo leque de temas e de abordagens. Desse modo, o propósito é passar longe dos dogmas e das igrejas de pensamento e, assim, ir ao encontro da abertura da pesquisa e da pluralidade da compreensão histórica.
Livro resultado de minha tese de Doutorado em História (Universidade de Coimbra, 2007). Aborda o ... more Livro resultado de minha tese de Doutorado em História (Universidade de Coimbra, 2007). Aborda o relacionamento entre a Geração de 1870 (a portuguesa e a brasileira) analisando como o repertório teórico disponível na época fundamentou modalidades de relacionamento entre os intelectuais e seus projetos acadêmicos, bem como a forma como, em cada cada, foram construídas interpretações sobre a "cultura brasileira", a "cultura portuguesa" e o "relacionamento luso-brasileiro". Será no gerenciamento dos diferentes positivismos, darwinismos, evolucionismos etc, que serão construídas matrizes de compreensão sobre as nações, seu lastro ou sentido histórico e seu potencial relacionamento.
História intelectual & dos Conceitos. A Historicidade e suas múltiplas escalas. Europa, América e África, 2020
A proposta deste livro é articular o conceito de Historicida¬de em diferentes escalas investigati... more A proposta deste livro é articular o conceito de Historicida¬de em diferentes escalas investigativas: África, América e Euro¬pa. Entenda-se que esta agenda de pesquisa não pressupõe o tra¬tamento nem autônomo nem essencialista de qualquer um dos escopos atrás referidos. Ao contrário, ao mobilizarmos o concei¬to de historicidade, o que se põe em jogo é justamente o caráter deliberado, voluntário e político de qualquer traço demarcador de identidades, de frames geopolíticos ou espaciais. Antes de tudo, quer-se exercitar um olhar para a e sobre a fronteira (como conceito que é) enquanto peça-chave nos processos de leitura e interpretação sociais, em geral, e historiográficas, em particular. Afinal, bem vistas as coisas, é o processo de produção do artesa¬nato da pesquisa histórica – ele próprio – oriundo de processos hermenêuticos com estas categorias. Disto advém seu caráter de constructo. Nisto recai sua natural flexibilidade semântica. Assim sendo, um olhar treinado pelos diversos ensinamentos que repousam tensionadamente entre a história intelectual e a história dos conceitos pode ser (quase) tudo, menos essencialista e historicista. Quem quer que abra as páginas deste livro verá que os conceitos são, sobretudo, mais do que discutidos: eles são tomados por discutíveis. Portanto, o elo comunicativo existente entre história, filosofia, linguística e política perfaz um projeto intelectual aberto, criativo e, por definição, problematizador do status quo historiográfico e da doxa corrente.
A proposta deste livro é articular o conceito de Historicida¬de em diferentes escalas investigati... more A proposta deste livro é articular o conceito de Historicida¬de em diferentes escalas investigativas: África, América e Euro¬pa. Entenda-se que esta agenda de pesquisa não pressupõe o tra¬tamento nem autônomo nem essencialista de qualquer um dos escopos atrás referidos. Ao contrário, ao mobilizarmos o concei¬to de historicidade, o que se põe em jogo é justamente o caráter deliberado, voluntário e político de qualquer traço demarcador de identidades, de frames geopolíticos ou espaciais. Antes de tudo, quer-se exercitar um olhar para a e sobre a fronteira (como conceito que é) enquanto peça-chave nos processos de leitura e interpretação sociais, em geral, e historiográficas, em particular. Afinal, bem vistas as coisas, é o processo de produção do artesa¬nato da pesquisa histórica – ele próprio – oriundo de processos hermenêuticos com estas categorias. Disto advém seu caráter de constructo. Nisto recai sua natural flexibilidade semântica. Assim sendo, um olhar treinado pelos diversos ensinamentos que repousam tensionadamente entre a história intelectual e a história dos conceitos pode ser (quase) tudo, menos essencialista e historicista. Quem quer que abra as páginas deste livro verá que os conceitos são, sobretudo, mais do que discutidos: eles são tomados por discutíveis. Portanto, o elo comunicativo existente entre história, filosofia, linguística e política perfaz um projeto intelectual aberto, criativo e, por definição, problematizador do status quo historiográfico e da doxa corrente.
review of "Não Somos Bandidos": A vida diária de uma guerrilha de direita; A Renamo na época do A... more review of "Não Somos Bandidos": A vida diária de uma guerrilha de direita; A Renamo na época do Acordo de Nkomati (1983-1985)", written bu Michel Cahen (2019)
Ancorada em extensa e consistente pesquisa empírica, o livro de Aurora Almada e Santos presta um ... more Ancorada em extensa e consistente pesquisa empírica, o livro de Aurora Almada e Santos presta um relevante contributo para um melhor entendimen-to do cenário internacional das lutas anticoloniais. Seu foco está centrado no debate ocorrido nas Nações Unidos (NU) no contexto de maior tensão relati-vamente à questão colonial portuguesa (1960-1974). A pesquisa demonstra o impacto que os debates operaram no entendimento das NU sobre o conceito de autodeterminação dos povos e sua aproximação paulatina ao princípio de liberdade, combate à discriminação racial e defesa dos Direitos Humanos. Partindo do paradoxo já apontado por Mazower (2009)-de que a ONU nas-cera atrelada aos interesses das potências coloniais e que acabará por tornar-se no palco de pressão internacional em prol justamente da descolonização-, a autora não se contenta com a explanação nos resultados políticos finais ocor-ridos na arena diplomática.
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peremptória da exclusividade nacional – tal como tende a ser o
olhar historicista –, os duzentos anos da Independência do Brasil
convidam a uma reflexão sobre as diversas formas como o Brasil,
por intermédio de seus intelectuais, foi sendo interpretado ao longo
desse longo percurso histórico. Trata-se, assim, de apelar para
o caráter radicalmente histórico e variante das definições sobre
as características e os motivos que explicam tanto a existência do
Brasil como nação como o conteúdo emprestado ao saldo histórico
da relação com sua ex-metrópole – Portugal. A percepção da resiliência
de certos significantes históricos, a despeito da variação dos
significados, mostra resiliências da memória histórica construída
pela intelectualidade e esposada pelas instituições estatais posteriormente à efeméride da Independência. A arquitetura conceitual
dessas elaborações, chamarei de “matrizes de compreensão da
identidade nacional” brasileira.
projeto da modernidade — entendida enquanto processo fundado na
crença no potencial da razão emancipatória dos povos e no progresso
da ciência — no momento da sua adequação ao Brasil. Para tanto,
procuramos trabalhar esse fenômeno focando, muito particularmente,
o caso de Euclides da Cunha, autor de Os Sertões (publicado, pela
primeira vez, em 1902), por considerá-lo expressão de toda a complexidade
intelectual decorrente dos desafios impostos pelo caso
brasileiro ao projeto moderno. E mais: por considerá-lo também, em
virtude do modo tensional como nele se realiza o conhecimento do
brasileiro sertanejo, autor de um discurso nuclear na busca de uma
identidade nacional brasileira.
peremptória da exclusividade nacional – tal como tende a ser o
olhar historicista –, os duzentos anos da Independência do Brasil
convidam a uma reflexão sobre as diversas formas como o Brasil,
por intermédio de seus intelectuais, foi sendo interpretado ao longo
desse longo percurso histórico. Trata-se, assim, de apelar para
o caráter radicalmente histórico e variante das definições sobre
as características e os motivos que explicam tanto a existência do
Brasil como nação como o conteúdo emprestado ao saldo histórico
da relação com sua ex-metrópole – Portugal. A percepção da resiliência
de certos significantes históricos, a despeito da variação dos
significados, mostra resiliências da memória histórica construída
pela intelectualidade e esposada pelas instituições estatais posteriormente à efeméride da Independência. A arquitetura conceitual
dessas elaborações, chamarei de “matrizes de compreensão da
identidade nacional” brasileira.
projeto da modernidade — entendida enquanto processo fundado na
crença no potencial da razão emancipatória dos povos e no progresso
da ciência — no momento da sua adequação ao Brasil. Para tanto,
procuramos trabalhar esse fenômeno focando, muito particularmente,
o caso de Euclides da Cunha, autor de Os Sertões (publicado, pela
primeira vez, em 1902), por considerá-lo expressão de toda a complexidade
intelectual decorrente dos desafios impostos pelo caso
brasileiro ao projeto moderno. E mais: por considerá-lo também, em
virtude do modo tensional como nele se realiza o conhecimento do
brasileiro sertanejo, autor de um discurso nuclear na busca de uma
identidade nacional brasileira.