[go: up one dir, main page]

Saltar para o conteúdo

Língua protomaia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A língua protomaia é o ancestral hipotético das línguas maias actualmente faladas bem como das já extintas, incluindo o maia clássico documentado nas inscrições hieroglíficas maias.

A língua protomaia tem os sons abaixo, de acordo com a reconstrução efectuada por Campbell e Kaufman (1985).

Cinco vogais: a, e, i, o e u. Cada uma delas ocorre com uma versão curta e uma versão longa: aa, ee, ii, oo e uu,

  Bilabial Alveolar Palatal Velar Uvular Glotal
  simples ejectiva simples ejectiva simples ejectiva simples ejectiva simples ejectiva simples
Oclusivas p  [p] b'  [ɓ] t   [t] t'  [t'] ty  [tʲ] ty'  [tʲ'] k  [k] k'  [k'] q  [q] q'  [q']  '   [ʔ]
Africadas   ts  [ʦʰ] ts'  [ʦ’] ch  [ʧʰ] ch'  [ʧ’]          
Fricativas   s  [s] x  [ʃ]   j  [X] h  [h]
Nasais   m  [m]   n  [n]     nh  [ŋ]    
Líquidas   l  [l]  r  [r]        
Deslizes       y  [j]   w  [w]    

Regras sonoras

[editar | editar código-fonte]

O seguinte conjunto de mudanças de sons do protomaia para as línguas modernas é usado como base da classificação das línguas maias. Cada mudança de som pode ser partilhada por várias línguas; um fundo cinzento indica que não ocorreu qualquer mudança.

Resumo das correspondências sonoras entre o protomaia e os grupos modernos das línguas maias
Huastecano Iucatecano Cholano-Tseltalano Canjobalano-Chujeano Quicheano-Mameano
Cholano Tseltalano Canjobalano Chujeano Quicheano Mameano
Quiché Caqchiquel-
Tsutuil
Mam Ixil
*w > b
*h > w/_o,u
*q > k, *q' > k'
*ŋ > h *ŋ > n *ŋ > x
*e: > i, *o: > u
*a: > ɨ
*-t > -tʃ *t > tʃ
*-h > -j
CVʔVC > CVʔC
*r > t
*r > j
*tʃ > tʂ
*-ɓ > -ʔ/VCV_#

Desenvolvimentos

[editar | editar código-fonte]

As oclusivas palatalizadas [tʲ'] e [tʲ] não passaram para qualquer um dos grupos modernos. Pelo contrário, reflectem-se de modo diferente nos diferentes ramos permitindo uma reconstrução destes fonemas como oclusivas palatalizadas. No ramo oriental (Chujeano-Canjobalano e Cholano) reflectem-se como [ts] e [ts'] e no iucateco e quicheano como [ʧʰ] e [ʧ’].[1]

reflexos dos [tʲ'] e [tʲ] protomaias [2]
Protomaia Canjobal Mam Quiché Português
*tʲeːʔ teʔ tseʔ ʧeːʔ árvore
*tʲaʔŋ tan tsaʔX ʧaːX cinzas

A líquida protomaia [r] reflecte-se como [j] nas línguas orientais (Chujeano-Canjobalano e Cholano), Huastecano e Iucatecano e como [ʧʰ] no Mameano e [r] no Quicheano e Pocom.[1]

reflexos do [r] protomaia [2]
Protomaia Iucateco Ixil Quiché Português
*raʔʃ jaʔʃ tʃaʔʃ raʃ verde
*kar kaj tʃaj kar peixe

A velar nasal protomaia *[ŋ] é reflectida como [x] no ramo ocidental (Quicheano, Mameano), como [n] em Canjobalano, Cholano e Iucatecano, e apenas conservado como [ŋ] em Chuj e Popti.[3] No Huastecano *[ŋ] é reflectido como [h].

reflexos do [ŋ] protomaia [2]
Protomaia Canjobal Ixil Popti Português
*ŋeːh ne xeh ŋeh cauda

O estatuto divergente do huasteco é revelado por várias inovações não partilhadas com outros grupos. O huasteco é o único ramo que substituiu o *[w] protomaia por [b].

O huasteco (mas não o chicomucelteco) é também a única língua maia que possui um fonema velar labializado, [kʷ]; porém, sabe-se que se trata de um desenvolvimento pós-colonial: comparando documentos da época colonial em huasteco com o huasteco moderno, pode ver-se que onde se encontra o [kʷ] moderno encontravam-se originalmente sequências de *[k] seguidas por uma vogal arredondada e um deslize. Por exemplo, a palavra "abutre", que em huasteco moderno se pronuncia [kʷiːʃ], escrevia-se <cuyx> no huasteco colonial, e pronunciava-se *[kuwiːʃ].

O agrupamento dos ramos cholano e iucatecano baseia-se parcialmente na inovadora mudança do *[a] curto para [ɨ]. Todas as línguas cholanas alteraram as vogais longas protomaias *[eː] e *[oː] para [i] e [u] respectivamente. O estatuto independente do iucatecano é evidenciado pelo facto de todas as línguas iucatecanas haverem substituído o *[t] protomaia por [ʧ] na posição final de palavra.

As línguas quicheano-mameanas e canjobalanas, retiveram as paragens uvulares protomaias ([q] e [q’]); em todos os restantes ramos estes sons fundiram-se com [k] e [k’], respectivamente. Portanto, pode dizer-se que o agrupamento quicheano-mameano assenta sobretudo em retenções partilhadas em lugar de inovações.

O mameano distingue-se do quicheano em larga medida por uma mudança em cadeia que alterou *[r] para [t], *[t] para [ʧ], *[ʧ] para [ʈʂ] e *[ʃ] para [ʂ]. Estas africadas e fricativas retroflexas estenderam-se mais tarde ao canjobal por contacto linguístico.[4]

Dentro do ramo quicheano, o caqchiquel e o tsutuil diferem do quiché por terem mudado os *[w] e *[ɓ] finais protomaias para [j] e [ʔ] respectivamente em palavras polissilábicas.[5]

Outras mudanças são gerais em toda a família maia. Por exemplo, a glotal fricativa protomaia *[h], que nenhuma língua reteve como tal, tem numerosos reflexos nas várias línguas filhas dependendo da sua posição na palavra. Em alguns casos alongou uma vogal precedente nas línguas que mantiveram a métrica das vogais. Noutras línguas tornou-se [w], [j], [ʔ], [x], ou desapareceu.[6]

Outras inovações esporádicas ocorreram independentemente em vários ramos. Por exemplo, desapareceu a métrica distintiva das vogais no canjobalano-chujeano (excepto no mochó e acateco), caqchiquel e chol. Outras línguas transformaram a distinção da métrica numa de vogais tensas versus vogais relaxadas, perdendo mais tarde esta distinção, na maioria dos casos. No entanto, o caqchiquel manteve uma vogal tipo schwa centralizada e relaxada como reflexo do [a] protomaia.[7]

Duas línguas, o iucateco e o uspanteco, além de um dialecto de tsotsil,[8] introduziram uma distinção tonal entre as vogais, com tons baixos e altos correspondendo à anterior métrica das vogais além de reflectir *[h] e *[ʔ].

Referências
  1. a b England (1994), p.35.
  2. a b c adaptado da lista cognata em England (1994)
  3. England (1994), pp.30-31.
  4. Campbell (1997), p.164.
  5. Campbell, Lyle, (1998), "Historical Linguistics", Thames & Hudson p. 170.
  6. England (1994), p. 37.
  7. England (1994), pp.110–111.
  8. Tzotzil de San Bartolo segundo Suárez (1983), p. 51. Antonio Garciá de Leon descreve a história fonológica das línguas tseltalanas e refere a tonogénese do tsotsil de San Bartolo nos seus "Elementos del Tzotzil colonial y moderno" Mexico UNAM, 1971.
  • England, Nora C., 1994, Autonomia de los Idiomas Mayas: Historia e identidad. (Ukuta'mil Ramaq'iil Utzijob'aal ri Maya' Amaaq'.) Cholsamaj. Guatemala.
  • Handbook of Middle American Indians, 1967, 1969, R. Wauchope (séries ed.). Vol 7 (ethnographic sketches of Mayan groups), Volume 5 (linguistic sketches and other useful materials). F 1434, H 3, LAC (ref).
  • Lyle Campbell and Terrence Kaufman, Annual Review of Anthropology. 1985. "Mayan Linguistics: Where are We Now?".
  • Bibiliography of Maya related topics from the University of Texas Anthropology website

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]