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Língua desana

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Desano

Wĩrã

Outros nomes:Desana, Dessana
Falado(a) em:  Brasil
 Colômbia
Região: Noroeste da Amazônia
Total de falantes: 450-3160[1][2]
Família: Tucano
 Tucano oriental
  Desano
Escrita: Alfabeto latino
Estatuto oficial
Língua oficial de: Colômbia e Amazonas, no Brasil.
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---
ISO 639-3: des

A língua desano (nome nativo: wĩrã) é uma língua indígena da família tucano oriental falada na Amazônia, às margens do rio Uaupés e seus afluentes, nos territórios da Colômbia e do Brasil. As estimativas da quantidade de falantes variam, mas diferentes fontes apontam entre 450 e 3160.[1][2]

A língua desano é classificada como "altamente em risco de extinção" e "ameaçada".[1][2] Esta situação se dá devido ao crescimento do abandono da língua pelo povo desano, que tem cada vez mais utilizado a língua tucano, tida como língua franca da região, ou migrado para áreas urbanas, onde o idioma falado é o português ou o espanhol.[3]

Em 2023, foi declarada língua oficial do Amazonas, juntamente com outras 15 línguas indígenas.[4]

Não constam, na literatura, informações claras a respeito da origem do nome desano. Sabe-se que o nome nativo usado para designar tanto a língua quanto o povo é wĩrã,[5] que significa "vento".[3]

Distribuição

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As comunidades desanas se situam às margens do rio Uaupés e de seus afluentes, no noroeste da Amazônia. A maioria dos desanos (3641) vive em território colombiano,[6] mas também há uma quantidade significativa (1699) em território brasileiro.[7] É importante notar que nem todas as pessoas pertencentes ao grupo étnico desano de fato são falantes da língua.

O desano apresenta diversas características em comum com outras línguas da região do Uaupés, devido ao costume da exogamia entre os povos de lá. Na tradição dessas comunidades, o casamento entre pessoas do mesmo grupo étnico e linguístico é mal visto, então há uma constante convivência linguística promovida pela união de pessoas de diferentes línguas e culturas. A herança linguística se dá de forma patrilinear, ou seja, os filhos habitam na comunidade na qual o pai nasceu e falam sua língua. Tal hábito cultural gera uma troca constante de vocabulário e estruturas gramaticais entre as línguas, não só as da família tucano mas também as línguas aruaques e nadahup.[8] Por exemplo, há uma média de 80% de cognatos entre o tucano e o desano.[9]

O quadro a seguir compara vocabulários de várias línguas da família tucano oriental, incluindo o desano.

Comparação lexical das línguas tucanas orientais[10]
Português Tukáno Barasána Yebamasã Wanána Desano Kubéwa
capim ta ta ta ta tana kõria
peixe wai wai wai wai wai moã
cobra pirõ pinõ hinõ pinõno pirõ aĩky
rabo pikõno pikõ hikõ pitxono pingono pikomo
cabelo poari hoa hoari poari poari pora
olho kahpea kahea kahea parieke kuiru diakory
barriga paa paga hera para poaru iapipy
osso o’ãri oãri ngoã koã ngo’ã koãro
flor ori ori ngo ko’oro ngori kowya
fogo pehkame pehkame heame pitxaka peame toabo
água ahko ohko ide ko dehko oko
pele kahsero kahero wiro kasero ga’siro kahe
homem ymã ymã ymã muinõ ymã ymã
mulher numiõ numiõ numiõ numinõ nomeõ numiõ
pai pahky ka’ky haky pahkyra pagy paky
mãe pahko ka’ko hako pahkoro pago pako

Há variações dialetais em diferentes comunidades dos povos desano. Há palavras que existem em dialetos especifícos (ao menos três; o dos buguyeri porã, dos payaterã porã e dos sũmeperu porã). O grupo sihbia masã, cujas comunidades estão situadas no Brasil, é detentor de um dialeto "muito distinto dos outros".[11] Os dialetos das comunidades Dihbuti (no Brasil) e Boreká (na Colômbia) são vistos como os principais da língua desana.[12]

Na língua desano, há quinze ou dezessete fonemas, sendo seis vogais e nove ou onze consoantes.[13] O status da oclusiva e da fricativa glotal é controverso. Enquanto alguns linguistas as classificam como consoantes, outros as consideram fenômenos de "glotalização" e "aspiração", traços laringais de ordem suprassegmental, e não fonemas.[14]

Fonemas vocálicos da língua desano[13]
Anterior Central Posterior
Fechada i ʉ u
Média e o
Aberta a

No desano, todas as vogais têm variações nasais. No entanto, elas não são classificadas separadamente como orais ou nasais, pois a nasalização na língua é um fenômeno suprassegmental, que ocorre nos morfemas.

Alternância vocálica

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Há alguns processos de alternância vocálica no desano. Quando estão no fim de uma palavra dissílaba, os fonemas /e/ e /o/ são pronunciados como [ɛ] e [ɔ], respectivamente. A tabela abaixo mostra alguns desses casos:[15]

Fonemas Fones Significado
/go.be/ [go'bɛ] buraco
/a.be/ [a'bɛ] sol/lua
/de.ko/ [deh'kɔ] água

Outro processo parecido ocorre com o fonema /o/ quando nasalizado. Quando isso acontece, o fonema pode ser realizado como [õ] ou como [ũ].

Fonemas Fones Significado
/~pigo/ [pĩ'ŋũ] ou [pĩ'ŋõ] teia
/~bedo/ [bẽ'ɾũ] ou [bẽ'ɾõ] CLS: círculo
Inventário consonantal da língua desano[13]
Labial Dental Velar Glotal
Plosiva surda p t k (ʔ)
sonora b d ɡ
Fricativa s (h)
Aproximante w j

As consoantes /b/, /d/ e /g/ são pré-nasalizadas após uma vogal nasal.[16]

Fonemas Fones Significado
/~ya-bʉ/ [ɲãmbʉ] eu vi
/~yapi-bu/ [ɲãhmbʉ] cesto de batatas

Oclusiva e fricativa glotais

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A oclusiva (/ʔ/) e a fricativa (/h/) glotais são consideradas consoantes por alguns linguistas.[14][17] O linguista Wilson de Lima Silva as classifica como fenômenos laringais de "glotalização" e "aspiração", e não como segmentos fonêmicos. Ele nota que, se consideradas como consoantes, elas iriam de encontro com as estruturas silábicas básicas do desano, que permitem somente sílabas do tipo CV ou V. Palavras como deko ("água"), realizada como [deh'kɔ], teriam então uma estrutura CVC.CV, algo incompatível com a fonologia desano. Portanto, Silva vê como mais apropriado classificar a oclusiva e a fricativa glotais como fenômenos suprassegmentais.[14]

A língua desano é uma língua de padrão pitch-accent com elementos de sistemas tonais e acentuais.[18] Os tons podem ser altos ou baixos (tons altos destacados em negrito na tabela). Todo radical nominal tem pelo menos um tom alto.[19]

Tons em desano[18]
palavra em desano significado
.'ĩ nome
wã.ĩ tio
mĩ..yũ palmeira buriti
mĩ.hĩ. palmeira "selvagem" (Quararibea pterocalyx)

Estrutura silábica

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A estrutura silábica do desano é predominantemente CV e V. Há também sílabas em formato CVʔ e CVh, sendo a pausa glotal e a aspiração os únicos segmentos que podem estar na posição de coda. Sílabas do tipo CVV são possíveis apenas em casos em que há um som prolongado da mesma vogal. Quando há duas vogais diferentes juntas, elas são interpretadas como pertencentes a sílabas distintas.[20]

Encontro vocálico e organização silábica[20]
fones significado estrutura silábica
[ɲãĩ] periquito CV.V (ɲã.ĩ)
[nõã] osso CV.V (ɲõ.ã)
[gaa] gavião CVV (gaa)
[yee] jaguar CVV (yee)

Harmonia nasal

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A harmonia nasal é um traço marcante de diversas línguas tucanas.[9] No desano, assim como no tucano, ela ocorre sempre no nível dos morfemas e afeta as vogais e consoantes sonoras.[21] Abaixo, alguns exemplos de raízes nasais do desano:

Raízes nasais[21]
fonemas fones significado
/~dobe/ [nõmẽ] fêmea
/~duku/ [nũhkũ] floresta
/~sea/ [sẽʔã] piaba (peixe)

Este processo de nasalização afeta inclusive empréstimos linguísticos do português, cujos morfemas se tornam totalmente nasais ou orais.

Empréstimos linguísticos[22]
palavra em português fones em desano
Maria [baria]
martelo [barateru]
sabão [sabo]
João [ñũ]

Um traço importante da nasalização é a capacidade de contaminação nasal. Os afixos podem ser orais, nasais ou influenciáveis pelos morfemas próximos, passíveis de serem "contaminados" pela nasalização.[23] Isso ocorre nos afixos transparentes (que sofrem contaminação) que tem vogais ou consoantes sonoras como onset. A contaminação tende a ocorrer da esquerda para a direita.

Afixos transparentes[21]
afixos combinados a morfemas orais combinados a morfemas nasais
-go wua-go [wuago] ~kaɾi-go [kãɾĩŋũ]
-de igo-de [igoɾe] ~igũ-de [ĩŋũɾẽ]
-do disi-do [dihsiɾo] ~pigo-do [pĩŋõɾõ]

A ortografia desano foi e segue sendo desenvolvida por pesquisadores em conjunto com grupos nativos. Em regrais gerais, os grafemas correspondem diretamente aos fonemas da língua.[24][25]

Alfabeto ortográfico[25]
consoantes vogais
fonema /p/ /t/ /k/ /b/ /d/ /g/ /s/ /w/ /j/ /i/ /i/ /e/ /a/ /o/ /u/
grafema oral p t k b d/ɾ g s w y i u e a o u
grafema nasal m n ĩ ũ ã õ ũ

A glotalização é simbolizada por um apóstrofo (’) e a aspiração pelo h. A nasalização é marcada por um til (~) precedendo o morfema ou a palavra nasalizada. Não há representação gráfica para os tons.[25]

Na língua desano há cinco tipos de pronome. São eles os pronomes pessoais, reflexivos, recíprocos, demonstrativos e interrogativos.

Pronomes pessoais

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Os pronomes pessoais distinguem pessoa (primeira, segunda ou terceira), número (singular ou plural), gênero (masculino ou feminino na terceira pessoa do singular) e inclusividade (inclusão ou não do interlocutor na primeira pessoa do plural). Os pronomes da terceira pessoa assumem também função anafórica.[26]

Pronomes pessoais do desano[26]
singular plural
masculino feminino inclusivo exclusivo
primeira pessoa yuu [yu'u] ~badi [mãɾĩ] gua [gua]
segunda pessoa ~buu [mũ'ũ] ~bua [mũ'ã]
terceira pessoa ~igu [ĩgũ] igo [igo] ~ida [ĩrã] ou [ẽrã]

Os pronomes ~igu, igo e ~ida são formados a partir da junção do pronome demonstrativo i com os marcadores ~gu (que indica terceira pessoa do singular masculina), go (terceira pessoa do singular feminina) e ~da (plural animado).

Pronomes demonstrativos

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Os pronomes demonstrativos do desano indicam diferença de proximidade. O pronome i ou idi é utilizado para elementos próximos (como este em português) e si é usado para indicar o oposto, a distância do objeto (como aquele). Há também o pronome gahi, que se refere a um novo elemento (sentido aproximado de outro).[27]

Uso de pronomes demonstrativos[27]
desano português
idi-~ye este tópico
i-bu esta cesta
i-do este (inanimado)
si-go aquela mulher
si-pu aquele outro
gai-bu outro cesto

Os substantivos são classificados em número, gênero, animacidade, se são contáveis ou não e se o referente é humano ou não. Todo radical nominal é bimoraico, apresenta ao menos um tom alto e é totalmente oral ou nasal.[19]

Animicidade e gênero

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Nomes animados
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A principal classe nominal do desano é a animacidade. Os nomes animados são divididos entre os que têm ou não referente humano. Os substantivos com referente humano flexionam em gênero e número, com sufixos específicos para marcar estas classificações. Na forma singular feminina é utilizado o sufixo go e na masculina o sufixo gu. O plural não flexiona com gênero e é marcado pelo sufixo ~da, ~ɾa ou a.[28]

Gênero e número em nomes animados com referente humano[28]
raíz sing. feminino sing. masculino plural
mãhĩ- (criança) mãhĩgõ (menina) mãhĩgũ (menino) mãhĩɾã (crianças)
buu- (idoso) bugo (mulher idosa) bugu (homem idoso) mũɾã (idosos/idosas)

Em nomes inerentemente masculinos, como alguns relacionados a parentesco (pai, filho, avô, etc.), a estrutura do plural é a mesma dos nomes no geral. Nos femininos, utiliza-se o nome plural geral/masculino e é adicionada nõmẽ, radical lexical de "feminino", ou ainda o termo sãmã ("vagina"), por vezes reduzido a sã.[28]

mũɾã "homens mais velhos" mũɾã nõmẽ "mulheres mais velhas"
yẽhko "avó" yẽhkosã nõmẽ "avós"

Alguns dos nomes não-humanos seguem as mesmas regras de flexão que os com referentes humanos; são chamados de nível alto dos nomes com referente não-humanos. Isso se dá provavelmente por questões semânticas e culturais, que fazem essas entidades serem vistas como próximas dos humanos. Alguns exemplos são ye ("jaguar"), diaye ("cachorro") e wãhtĩ ("espírito maligno"). Os nomes animados não-humanos de nível baixo não têm flexão de gênero, e o sufixo que indica o plural é o -a, de forma semelhante aos nomes humanos.[29]

Há também a classe de nomes animados coletivos. São usados pra se referir a entidades que costumam ser encontradas em grupo. Para destacar um indivíduo do grupo, é preciso usar o sufixo -mũ. No geral, referem-se a grupos de animais, mas incluem outros elementos, como as estrelas, vistas como seres animados na mitologia desano.

Nomes animados coletivos[29]
coletivo individual
mẽgã maniuaras megãmũ uma maniuara
ĩã minhocas ĩãmũ uma minhoca
mõmẽ abelhas mõmẽmũ uma abelha
nẽhkã estrelas nẽhkãmũ uma estrela
Nomes inanimados
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Os nomes inanimados no desano são divididos principalmente em incontáveis e contáveis. Os incontáveis (chamados também de "nomes de massa") se referem a substâncias como líquidos, espécies vegetais, farinhas e elementos mais genéricos ou abstratos, como "comida", "chão" e "bênção". Eles não flexionam em gênero nem em número e concordam com a terceira pessoa do singular. Alguns deles são formados a partir de radicais verbais, ao adicionar o sufixo normalizador -ɾi.[30]

Nomes incontáveis derivados de radicais verbais[30]
palavra em desano tradução dos morfemas palavra em portugês
ba-ɾi comer-NOM:IN comida
ohte-ɾi plantar-NOM:IN plantação
bayi-ɾi abençoar-NOM:IN bênção

Os nomes contáveis detêm um complexo sistema de classificação. Alguns deles são inerentemente singulares e precisam ser seguidos do sufixo -ɾi para serem pluralizados, enquanto outros são inerentemente plurais e podem ser individualizados ou singularizados por meio de classificadores específicos, que denotam aspectos como formato, aparência e classe. Por exemplo, o classificador u, com sentido de "arredondado", singulariza o nome gahsi ("canoa").[31]

gahsi eheayoɾo gahsiɾu eheayoɾo
gasi ea-yo-do gasi-du ea-yo-do
canoa chegar-EVID:HSAY-NON3.PERF canoa-CLS:arredondado chegar-EVID:HSAY-NON3.PERF
As canoas chegaram. A canoa chegou.

Estes classificadores aparecem também nos nomes singulares. As partes do corpo humano passam por este processo, com o classificador específico -ɾo, ou ainda com classificadores que indicam formatos, em alguns casos.

gãmĩ-ɾõ gãmĩ-ɾĩ
ouvido-CLS:parte.do.corpo ouvidos
-
dihsi-ɾo dihsi-ɾi
boca-CLS:parte.do.corpo bocas
-
dihpu-ɾu dihpu-ɾi
cabeça-CLS:arredondado cabeças
-
wũyũ-gu wũyũ-ɾĩ
pescoço-CLS:cilíndrico pescoços

No total, há mais de cem classificadores no desano, a maioria indicando formatos e atributos físicos.[32] Alguns deles são mais independentes, podendo ser classificados como lexemas, e outros menos, funcionando como morfemas.

Os verbos são divididos principalmente entre estativos e não estativos. Os estativos indicam existência ou não existência, estado, posse, posição, entre outros. Também cumprem função semântica adjetiva, visto que os adjetivos não existem no desano como classe gramatical.[33] Os não-estativos têm uma gama de significações, incluindo movimento, percepção, ações como comer, beber, etc. Há ainda três verbos auxiliares: i ("fazer"), wa'a ("ir") e ãrĩ ("ser" ou "estar").

Evidencialidade

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A evidencialidade é um traço que descreve a proveniência da informação sendo relatada. Em algumas línguas, como no desano, há marcadores gramaticais específicos para os diferentes tipos de evidencialidade: os evidenciais. Eles indicam se o enunciador presenciou um evento, ouviu relatos de segunda ou terceira mão ou ainda se inferiu a informação por meio da razão ou de experimentação.

Tipos de evidência no desano[34]
Direta Indireta
atestada reportada infererida
visual auditivo outro sentido segunda mão terceira mão folclore resultados razão
Ø -ku -~yo -~yu -ya -ka
EVID:NVIS EVID:HSAY EVID:QUOT/FOLK EVID:RES EVID:REAS
ẽrã soekumã
~eda soe-ku-~ba
3PL queimar-EVID:NVIS-3PL-AN.IMPERF
(Eu ouvi/senti) Eles estão queimando (alguma coisa).
-
yuhu eskola iayõɾã ĩɾã
yuu eskola i-a--~yu-~da ~ida
um escola fazer-PERF-EVID:QUOT-3PL:AN.PERF
(Eu soube de terceira mão que) Construíram uma escola.
-
dopa yãmĩɾẽ dehko mẽɾãyã
dopa ~yabi-de deko ~beda-ya
hoje noite-REF água cair-EVID:RES
Esta noite choveu (eu percebi, observando as poças d'água, por exemplo)

Tempo, aspecto e modo

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Há três tempos verbais no desano; o geral, o não-presente e o remoto. O tempo geral não requer um marcador específico, e seu uso é bastante amplo. No geral, é utilizado para indicar ações no presente. O não-presente se refere a ações um pouco distantes no tempo e no espaço, progressivas ou não. O remoto se refere a ações realizadas em um espaço-tempo longínquo, e é fonologicamente marcado por uma mudança no acento.[35]

O aspecto verbal é marcado pelos morfemas -a (perfeito), -di (imperfeito) e -de (particípio). O morfema -a é sempre seguido pelo particípio.

yuɾiadeɾã aɾimã
yudi-a-de-~da ~adi-~ba
ir.abaixo-PRF-PARTIC-3PL:AN.PERF ser-3PL:AN.IMPERF
Eles desceram (o rio até outra vila)

Os morfemas -ka e -bo indicam, respectivamente, predição e especulação e são usados para se referir a eventos futuros.

wuataɾiɾo wa'aboka
wua-taɾi-ɾo waa-bo-ka
ser.grande-ser.longo-NOM ir-SPEC-PREDIC
(A história) será muito longa.

Os modos também são indicados por morfemas: -ke (imperativo, usado para ordens ou pedidos), -ta (admonitivo, usado para alertas ou avisos), -da (exortativo) e -ku (adversativo).[36]

mũ'ã õ duhoke
~bua ~o duo-ke
2PL DEM:PROX ficar-IMP
Fiquem aqui. (ordem/pedido)
-
mũ'ũ bohsenũɾẽ wa'abita
~buu bose-~du-~de waa-bi(di)-ta
2SG festa-CLS:dia-REF ir-NEG-ADMON
Não vão à festa. (alerta)

Concordância

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A concordância é marcada por sufixos no verbo, que indicam não só pessoa, número e gênero como também aspecto perfeito ou imperfeito.

Sufixos de concordância (pessoa, gênero, número e aspecto)[37]
aspecto perfeito aspecto imperfeito
/-bu/ [-bu]

NON3

(qualquer pessoa que não a terceira)

/-do/ [-ɾo]

NON3 (qualquer pessoa que não a terceira)

/-pu/ [-pu]

3SG:M

/~bi/ [-mĩ]

3SG:M

/-po/ [-po]

3SG:F

/~bo/ [-mõ]

3SG:F

/-~da/ [-ɾã]

3PL

/~ba/ [-mã]

3PL

A ordem básica da sentença em desano é sujeito-objeto-verbo (SOV), em outras palavras, o verbo sucede o objeto, que vem após o sujeito.[38] Esta estrutura é comum em diversas línguas e ocorre também no tucano.[39] No primeiro exemplo da tabela, vemos a frase ĩgũ ĩmĩpage gõɾẽãmĩ (ele urinou na areia), sendo ĩgũ o sujeito, ĩmĩpage o objeto direto e gõɾẽãmĩ o verbo. Outras ordens são possíveis, mas raras na língua.

frase sujeito objeto verbo
ĩgũ ĩmĩpage gõɾẽãmĩ

~igu ~ibi-pa-ge ~go-~de-a-~bi 3SG:M areia-CLS:partículas.finas-LOC urinar-PERF-3SG:M-IMPERF Ele urinou na areia.

ĩgũ ĩmĩpage gõɾẽãmĩ
kaɾu pĩɾũɾẽ weheapu

kaɾu ~pidu-de wee-a-pu Carlos cobra-REF matar-PERF-3SG:M.PERF Carlos matou a cobra.

kaɾu pĩɾũɾẽ weheapu
mãɾĩ kaɾuɾe peɾu o'oamõ

mãɾĩ kaɾu-de pedu oo-a-~bo Maria Carlos-REF caxiri dar-PERF-3SG:F.IMPERF Maria deu caxiri a Carlos

mãɾĩ kaɾuɾe + peɾu o'oamõ

Listas de vocabulário

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Nomes de espécies vegetais[40]
Desano Português Nome científico
beɾuɾimẽɾẽ ingá Inga sp.
besumẽɾẽ ingá Inga sp.
bia pimenta Capsicum chinense
bi’imẽɾẽ ingá da cutia Inga sp.
boɾekamẽɾẽ ingá do aracú Inga sp.
boɾepũgʉ̃ umbaúba Cecropia sp.
bumẽɾẽmʉ̃ ingá Inga sp.
bʉhpʉmẽɾẽ ingá da aranha Inga sp.
bʉhpʉgoɾi pau-d'arco
diabaɾi japurá Erisma sp.
diamʉ̃ tipo de umari
doepĩɾõnʉ̃htʉ̃ɾĩpʉ̃
doɾesaɾigʉ
du’guda/du’kumẽ
dʉhkayegʉ
dʉhkʉgʉ maniva Manihot esculenta
ehtoka cubiu Solanum sessiliflorum
ehtokamãhĩɾĩʉ̃ cubiu Solanum stramonifolium
ehtoka poɾamãɾĩɾĩ cubiu Solanum sessiliflorum
gãɾũgʉ̃ cana-de-açúcar Saccharum sp.
gõɾẽgʉ̃ caju Anacardium
gʉhʉsikagʉ
igi cucura Pourouma cecropiifolia
kabu Xanthosoma sp.
kãdʉhkayõ tucumã Astrocaryum aculeatum
kaɾapũya cucura do mato Pourouma cecropiifolia
kãɾẽgʉ̃ abiu Pouteria sp.
kãɾẽpagagʉ araçá Eugenia stipitata
kẽɾõ jatobá Hymenaea courbaril
koasoɾomẽ melancia Citrullus lanatus
mẽɾẽmʉ̃ ingá Inga sp.
mĩhĩ açaí Euterpe oleracea
mõhsãgʉ̃ urucum Bixa orellana
mõmõãɾãmẽɾẽ ingá do macaco barrigudo Inga sp.
mũhĩsõã
mʉ̃gʉ̃ mari-mari Poraqueiba sericea
mʉ̃ĩgʉ̃ muruci Byrsonima crassifolia
mʉ̃ta capim do umari
mũyũtõgʉ̃ buiuiu Clidemia sp.
nẽ buriti Mauritia flexuosa
nĩãda timbó Deguelia utilis
nĩhtĩãyã chicória Eryngium foetidum
nʉ̃hʉ̃oho banana do mato Musa sp.
oho banana Musa sp.
ohodʉhka milho Zea mays
õãsũboɾekagãɾĩ goiaba Psidium sp.
oyodigʉ pau-de-morcego
pakaɾõ yawacana
peada/peamẽ
peɾaseɾiweɾi
pi’kogʉ abiu do mato Pouteria sp.
poamãɾãsĩyãda
pudayaɾigʉ
puikaɾogʉ
sãgãmẽɾĩda coro-coro Gnetum leyboldii
sẽmẽ wacú Monopteryx uaucu
sẽɾãɾũ abacaxi Ananas comosus
sẽɾãmẽɾẽmʉ̃ ingá Inga sp.
seɾipuɾi/suɾipuɾi
sʉɾiamẽ arumã Ischnosiphon polyphyllus
taboɾe capim
taɾusu cariçú
toa irapixuna Dacryodes cf. cuspidata
uhtutõ flor-beijo Psychotria poeppigiana
ũyũgʉ̃ abacate Persea americana
ʉ̃gã inajá Maximiliana maripa
ʉ̃ɾĩ pupunha Bactris gasipaes
wa’bekaɾagʉ cupuaçú Theobroma grandiflorum
wa’inĩmãgʉ̃ timbó Derris elliptica
wa’ɾagʉ castanha Bertholletia excelsa
wãhsũkadikaɾu seringueira Hevea sp.
waigõãɾĩgʉ
weamẽɾẽ ingá Inga sp.
wʉhʉɾʉ arumã Ischnosiphon polyphyllus
ya’pi abiu de macú Campomanesia lineatifolia
yãhpĩda batata-doce Ipomoea batatas
yãhpõãgʉ pau-pombo Tapirira sp.
yãhsãmẽ cuia Crescentia sp.
yãmãpʉgʉ caruru Phytolacca rivinoides
yãmãtaɾusu Clidemia sp.
yũmũyũɾũ
yãmũda cará roxo Dioscorea heptaneura
yaweɾigʉ piru-piru Urera baccifera
yoaɾiho banana-comprida Musa sp.
yopoɾã kãɾẽgʉ̃ abiu da cobra muçurana Pouteria sp.
yũmũpagayõ patauá Oenocarpus bataua
yũmũ bacaba Oenocarpus bacaba
yũmũɾũ paxiúba

Trechos de textos

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Versículo bíblico Mateus 1:2:[41]

Abrahã Isaa pagʉ árĩñumi. Isaa Jacobo pagʉ árĩñumi. Jacobo Judá sã pagʉ árĩñumi.
Abraão gerou a Isaque; e Isaque gerou a Jacó; e Jacó gerou a Judá e a seus irmãos.

Referências
  1. a b c Silva 2012, pp. 18-19.
  2. a b c «Desano». Ethnologue (em inglês). Consultado em 24 de abril de 2022 
  3. a b Silva 2012, pp. 15.
  4. https://www-em-com-br.cdn.ampproject.org/v/s/www.em.com.br/app/noticia/diversidade/2023/07/21/noticia-diversidade,1523437/amp.html?amp_gsa=1&amp_js_v=a9&usqp=mq331AQIUAKwASCAAgM%3D#amp_tf=De%20%251%24s&aoh=17069806520707&referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com&ampshare=https%3A%2F%2Fwww.em.com.br%2Fapp%2Fnoticia%2Fdiversidade%2F2023%2F07%2F21%2Fnoticia-diversidade%2C1523437%2Festado-do-amazonas-passa-a-ter-16-linguas-indigenas-oficiais.shtml  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  5. Alemán M. 2000, pp. 2.
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  10. Rodrigues, Aryon (1986). Línguas brasileiras: Para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola. p. 84. 
  11. Alemán M. 2000, pp. 6.
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Ligações externas

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