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Caiapós

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Kaiapó)
 Nota: Não confundir com Caapores. Para a língua falada pelos cayapós, veja Língua caiapó.
Caiapó
Kayapó
Mebêngôkre
Jovens caiapós
População total

11 675 (Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena/Secretaria Especial de Saúde Indígena, 2014)

Regiões com população significativa
Pará Pará [1]
 Mato Grosso
Nordeste de  São Paulo
Línguas
Caiapó
Religiões
Animismo
Etnia
Nativo-americanos
Grupos étnicos relacionados
Caiapós-xicrins, Caiapós-mecranotis, Caiapós-paus-d'arco, Caiapós-metuctires, Caiapós-cubem-cram-quens, Caiapós-gorotires, Caiapós-aucres, Caiapós-cararaôs,Caiapós-quicretuns

Os caiapós, também conhecidos como kayapó, kaiapó, mẽbêngôkre[2] ou mebêngôkre (endônimos),[3] são um grupo étnico (um grupo linguístico de povos indígenas do Brasil), habitantes da Amazônia brasileira.

Desde tempos imemoriais, ocupam áreas no interior do Brasil em pequenas aldeias, onde viviam de caça, pesca, milho, mandioca, mel, e frutas. No século XVIII, na região nordeste do atual Estado de São Paulo, o grupo étnico teve seu primeiro contato com as populações de origem europeia, bandeirantes que eram liderados por Bartolomeu Bueno da Silva - o Anhanguera - buscavam por ouro, pedras preciosas e indígenas para serem comercializados com escravos. [1]

Já na região da bacia inferior do rio Tocantins, no começo do século XIX os caiapós começaram a sofrer ataques dos homens brancos, que mataram e escravizaram muitos caiapós. Ainda que mais numerosos que os invasores, as bordunas dos caiapós nada podiam fazer diante dos mosquetes dos invasores. Como resultado, os caiapós migraram para o oeste. Trinta anos depois, porém, os homens brancos voltaram a atacar os caiapós. Desta vez, houve uma cisão entre os caiapósː uma parte deles queria estabelecer a paz com os homens brancos, e outra parte queria continuar a fuga para o oeste. Os caiapós que optaram pela relação amistosa com os brancos desapareceram, em grande parte vitimados por pestes trazidas pelos brancos.

Nas décadas de 1950 e 1960, houve uma tentativa de aproximação por parte de agentes do governo brasileiro com a intenção de pacificar os caiapós. Como resultado, hoje, a maior parte dos caiapós está em contato permanente com a sociedade brasileira.[3]

Nos anos 1980, dois caiapós se tornaram conhecidos do grande públicoː Tutu Pombo e Raoni. O primeiro, como o primeiro líder indígena brasileiro a explorar comercialmente as reservas indígenas, ao permitir a extração de ouro e mogno em troca de dinheiro. O segundo, como um defensor do meio ambiente e do modo de vida tradicional indígena.

A língua caiapó pertence ao tronco linguístico macrojê. O conhecimento da língua portuguesa varia de grupo para grupo, dependendo de seu grau de interação social com a sociedade não índigena.[3]

Denominação

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O termo Kayapó é um exônimo que data do início do século XIX, tendo sido criado por grupos indígenas vizinhos desta etnia. Significa 'homens semelhantes aos macacos' e está, provavelmente, ligado a certos rituais do grupo, nos quais os homens dançam usando máscaras de macaco. O endônimo dos chamados kayapó é mebengokre, que significa, literalmente, 'homens do buraco (ou poço) d'água'.[3][4]

Os caiapós são um grupo indígena brasileiro que se divide nos subgrupos:kayapó-aucre, kayapó-cararaô, caiapó-cubem-cram-quem, caiapó-gorotire, caiapó-mecranoti, caiapó-metuctire, caiapó-pau-d'arco, caiapó-quicretum e caiapó-xicrim. No passado, eram também chamados de coroados, e os de Mato Grosso, coroás.

Sua principal atividade econômica é a agricultura itinerante praticada por homens, mulheres e meninos. Através do método de desbravar e queimar (queimada), cada par limpa um local na floresta de cerca de cinquenta por trinta metros onde estabelecem suas hortas, nas quais semeiam batata, cará, mandioca, algodão, milho e, ao lado das árvores, plantam cupá, uma videira com gavinhas comestíveis. Alguns grupos introduziram, em suas hortas, arroz, feijão, mamão e tabaco. Usam fertilizantes e pesticidas.

Recolhem mel e frutos de palmeiras silvestres como o babaçu. A castanha-do-pará, que anteriormente era recolhida pelas mulheres para seu autoconsumo, hoje é recolhida pelos homens e vendida a compradores estatais ou privados. O óleo certificado de castanha, feito pelos caiapós da Terra Indígena Baú, de Novo Progresso, recebeu o selo verde, uma certificação que atesta práticas legais e impulsiona a venda para as indústrias de cosméticos. No entanto, a sua substituição por outras matérias-primas tem feito os caiapós venderem o óleo para a indústria de biocombustível a um preço dez vezes menor.[5]

Espécies de árvores plantadas pelos Kayapó[6]
Nome Kayapó Nome em português Nome científico alimento usos
motu marmeleiro Alibertia edulis Sim isca/caça
roi-krãti marmelada-do-campo Alibertia sp. isca/caça
ongrê araticum Annona crassiflora Sim
jacá jaca Artocarpus intergrifoliam Sim
roi-ti-(mrã) tucumã Astrocaryum tucuma Sim sal
woti tucum ou cumari Astrocaryum vulgare Sim óleo
pi'ỳ castanha-do-pará Bertholletia excelsa Sim
pỳ kumrenx urucu (1 de 3 variedades) Bixa orellana pintura corporal
pỳ poi ti urucu (1 de 3 variedades) Bixa orellana
pỳ krã re urucu (1 de 3 variedades) Bixa orellana
kutenk murici Byrsonima crassifolia Sim
pri kà ti piqui (1 de 3 variedades) Caryocar villosum Sim
pri krã ti piqui (1 de 3 variedades) Caryocar villosum isca/caça
pri kumrenx piqui (1 de 3 variedades) Caryocar villosum Sim
pdigô ngrã ngrã Lima Citrus aurantiifolia Sim
pidgô ti laranja-da-terra Citrus aurantium Sim
pidgô poi re limão Citrus × limonia Sim
kapê café Coffea arabica Sim
kudjá redjô cereja Kayapó Cordia sp. Sim isca/caça
kremp uxi Endopleura uchi Sim
pidjô nore jambo Syzygium jambos Sim isca/caça
kamere kàk açaí Euterpe oleracea Sim isca/caça
mroti, mrotire jenipapo Genipa americana Sim pintura corporal
pi-ô-tire mangaba Hancornia speciosa Sim
moi (motx) jatobá Hymenaea courbaril Sim isca/caça
kohnjô-kô, jaka, kryre, poire, tire ngrãngrã, tyk ingá (6 variedades) Inga spp. Sim isca/caça
kromu sapucaia Lecythis usitata Sim
pi'ỳ tê krê ti sapucaia Lecythis usitata var. paraensis Sim
kuben poi re manga Mangifera indica Sim
krwya no kamrek maçaranduba Manilkara huberi isca/caça, isca/pesca
ngrwa ràre buritirana Mauritia martiana Sim
ngrwa buriti Mauritia flexuosa Sim
rikre inajá Attalea maripa Sim sal
kamere bacaba Oenocarpus bacaba Sim isca/caça
babaçu Attalea speciosa Sim sal/óleo
ngra djàre piaçaba Attalea funifera Sim
kamô pariri Parinari montana Sim isca/caça
kaprã abacate Persea americana Sim
pĩ panhê ka tire bacuri Platonia insignis Sim isca/caça
atwyra krã krê imbaúba Pourouma cecropiifolia Sim isca/caça
kamokô tuturuba Pouteria macrophylla Sim isca/caça
pidjó kamrek goiaba Psidium guajava Sim
tytyti diô banana-brava Ravenala guyanensis Sim
biri biribá Rollinia mucosa Sim
miêchet ti jurubeba Solanum paniculatum Sim
bàrere-krã-kryre taperebá Spondias lutea Sim
kuben krã ti cacau Theobroma cacao Sim isca/pesca
bàri-djó cupuaçu Theobroma grandiflorum Sim

São bons caçadores, mas, atualmente, a caça não é abundante. Entre as presas que conseguem obter, se destacam os da família Tayassuidae. Os homens tecem cestos, cintos e faixas para carregar e fabricam paus, lanças, arcos e flechas para a caça. As mulheres fabricam pulseiras, fitas e cordas.

Atualmente, os caiapós do Pará são tidos como os índios mais ricos do Brasil. Sua riqueza vem da exploração de mogno, ouro e óleo de castanha-do-pará, além de dividendos de róialtis advindos da mineração industrial em suas terras.[7]

Organização social

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Em 2 de junho de 2010, o cacique Akiaboro, líder geral de todas as aldeias Caiapó, fala à imprensa após participar da 13ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista. Foto:Renato Araújo/ABr.

Cada comunidade é independente das demais, mas todas apresentam a mesma estrutura. Se constrói uma aldeia com uma praça central para as festas e, ao redor, as casas de cada família. O ngobe é a "casa dos homens", situada no extremo norte da praça, onde eles se reúnem, praticam trabalhos artesanais e pernoitam. Os homens se dividem em dois lados, cada um com um benadióro (chefe) e seus oopen (partidários).

As casas das esposas do chefe estão uma no extremo leste da aldeia e outra a oeste. São seminômades. Várias vezes ao ano, correm pelas florestas para a caça, coleta e estabelecimento de novas colheitas; alguns desses períodos são curtos e breves e outros relativamente longos, durante os quais abandonam a aldeia. Como comunidades sobreviventes, se mencionam os kubenkrâkên, gorotire, xikrin, menkragnoti e metüktire.

Uma forma organizativa fundamental através da qual cada pessoa se articula em sua comunidade é o grupo patronímico ou seguimento de nomes. As meninas e as mulheres formam o mesmo grupo das irmãs do pai, enquanto que os meninos e os homens são do grupo dos irmãos da mãe.

Jovens índias caiapós do Pará participando de cerimônia

O sistema de parentesco se assemelha ao tipo Omaha, o qual permitiria pensar em linhagens patrilineares, que, no entanto, não existem ou são substituídas pela adesão a segmentos determinados pela descendência em linha cruzada: cada pessoa pertence a uma categoria de acordo com sua idade, sexo e número de filhos. Os guerreiros (maiores de 17 anos) participam das assembleias no ngobe, onde se tomam as decisões políticas.

O matrimônio se contrai em idade precoce, por vezes consentido pelas mães dos noivos, sendo proibida a união entre primos cruzados. Se trata de um evento público que está previsto após a menarca (primeira menstruação) das meninas (entre 10 e 12 anos). As mães e tias dos recém-casados preparam e interrompem sem prejuízos a noite de núpcias. O divórcio é possível, mas o segundo casamento é privado.

A decoração do corpo é uma questão importante na sociedade. Dedica-se bastante tempo para raspar o cabelo e fazer desenhos coloridos na pele. Homens, mulheres e crianças ficam com a parte superior da cabeça completamente raspada. As mulheres deixam cair para trás o resto do cabelo, enquanto os homens fazem um rolo. Levam grinaldas de penas, brincos, colares e cintos e alguns homens usam um disco em seu lábio inferior. Anteriormente, todos os homens o portavam.

Não usam bebidas fermentadas nem plantas alucinógenas.

Há um mundo celeste do qual provém a humanidade. Os primeiros seres humanos que chegaram à Terra vieram de lá por uma longa corda, igual formigas por um tronco. Isto foi possível porque um homem viu um tatu e o seguiu até que entrou num buraco, que depois foi usado pelas pessoas para vir a este mundo. Também as plantas celestes baixaram do mundo celestial quando a filha da chuva brigou com a mãe, desceu a este mundo e foi acolhida por um homem, a quem entregou as plantas.

Muitos relatos explicam os fatos culturais, desde a obtenção do fogo até a casa da onça-pintada. As danças são levadas muito a sério, pois explicam a relação com a natureza, a sociedade e a história.

  • FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 313.
  • Posey, Darrell A. 1986. Manejo de floresta secundária, capoeira, campos e cerrados (Kayapó). In: Ribeiro, Darcy (editor); Ribeiro, Berta G. (coord.). Suma Etnológica Brasileira, Vol. 1: Etnobiologia, p. 172-186. Petrópolis: Vozes, Finep.
Referências
  1. a b «Ribeirão Preto surgiu como povoamento Caiapó-Bandeirante e rota para Goiás». Assembleia Legislativa Do Estado De São Paulo. 14 de janeiro de 2013. Consultado em 10 de outubro de 2024 
  2. Oliveira, Ester de Souza; Passos, João Lucas Moraes (7 de outubro de 2019). «Limites e lugares: entre caminhos mẽbêngôkre». Ilha Revista de Antropologia (1): 170–196. ISSN 2175-8034. doi:10.5007/2175-8034.2019v21n1p170. Consultado em 7 de fevereiro de 2021 
  3. a b c d «Mẽbengôkre Kayapó». Povos Indígenas no Brasil - pib.socioambiental.org. Consultado em 9 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2024 
  4. Kayapó / Mebêngôkre. Site do XII Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros.
  5. Caiapós têm dificuldade para vender óleo certificado de castanha - O Estado de S.Paulo, 26 de fevereiro de 2010 (visitado em 26-2-2010).
  6. Posey, Darrell (1986). Ribeiro, Darcy; Ribeiro, Berta G. (coord.), eds. «Manejo de floresta secundária, capoeira, campos e cerrados (Kayapó).». Petrópolis. Suma Etnológica Brasileira. Vol. 1: Etnobiologia: p. 172-186. 
  7. Caiapós. Disponível em http://www.portalamazonia.com.br/amazoniadeaz/interna.php?id=320. Acesso em 27 de janeiro de 2019.

Ligações externas

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