Huceine I Bei
Huceine I Bei | |
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Bei de Tunes | |
Hussein I Bey.jpg | |
Reinado | 1705 – 1735 |
Antecessor(a) | Ibraim Xarife |
Sucessor(a) | Alboácem Ali I |
Nascimento | 1675 |
El Kef | |
Morte | 13 de maio de 1740 (65 anos) |
Nome de nascimento | Abu-Muhammad Hussayn ibn Ali al-Turki ou Hussein ben Ali |
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Dinastia | Husseinitas |
Pai | Ali Aturqui |
Mãe | Lala Haféssia Axarnia |
Filho(s) |
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Abu Maomé Huceine ibne Ali Aturci (Abu-Muhammad Hussayn ibn Ali al-Turki; em árabe: حسين باي الأول; em turco: Hüseyin bin Ali et-Türkî; El Kef, 1675[1][nt 1][nt 2][nt 3] — Cairuão, 13 de maio de 1740),[2] conhecido como Huceine ibne Ali, foi bei de Tunes entre 1705 e 1735 com o título de Huceine I Bei.
Ascensão
[editar | editar código-fonte]Huceine era filho de Ali, o Turco, um janízaro (militar de elite do Império Otomano) originário da ilha de Creta, que era lugar-tenente de Ibraim Xarife, o comandante dos janízaros ao serviço dos beis murádidas,[3], e de Lalla Hafsia al-Charnia, da tribo dos Charni instalada na região de El Kef.[nt 1] Não se sabe se o pai era de origem turca ou grega. O nome Aturqui (at-Turki) sugere que seria turco, mas em Creta era frequentemente usado como sinónimo de "muçulmano" e era aplicado tanto às pessoas de etnia turca como ao gregos convertidos ao Islão.[nt 2][carece de fontes]
Tendo-se alistado na milícia turca de Tunes, Huceine torna-se comandante de cavalaria (agha dos sipahi) e depois tesoureiro (khaznadar) dos beis murádidas. Participa no golpe de estado de Ibraim Xarife que derruba Murade III, o último bei murádida, em 1702. Após as desordens que se seguem à tomada do poder de Ibraim Xarife e à sua captura pelo dei de Argel, Huceine toma o controlo da milícia turca tunisina e é proclamado bei em 12 de julho de 1705,[4] tomando posse três dias depois, instaurando o que viria a ser a dinastia husseinita.[nt 1]
Depois da execução do dei Maomé Coja Alasfar em janeiro de 1706, faz eleger dei pelo divã alguém da sua confiança, o que consagra a sua popularidade entre os janízaros. Como governador em nome dos Otomanos, apoia-se não só nos turcos a quem deve a sua ascensão ao poder, mas também em personalidades locais tunisinas. No entanto, o seu círculo mais próximo é composto sobretudo de mamelucos, como Aamade Xelbi, kahia da mhalla, Rajabe Caznadar, tesoureiro do bei, e Slimane Kahia Alquibir, kahia do Dar El Pacha, que casa com filhas suas. O seu homem de confiança e agente de ligação com o reino francês é um escravo francês, de nome Rennaud e natural de Toulon,[nt 1] um homem letrado que o ajudou a tomar o poder.[nt 2][carece de fontes]
Reinado
[editar | editar código-fonte]Huceine constata rapidamente que a sua capital era um exemplo deplorável do «enfraquecimento das regras religiosas e do relaxamento dos costumes.» Segundo ele, a observância das tradições islâmicas tinha-se dissipado devido à diversidade de origens que compunham então a população tunisina. Homem piedoso, o bei ambiciona que a vida social se volte a reger por essas tradições e reagrupar os diversos elementos étnicos sob a égide do Islão. Esta situação é relatada pelo cronista Maomé Seguir ibne Iúçufe, quando escreve que ele «volta a honrar os preceitos da suna ilustre» e dá o exemplo da mais viva piedade: a sua fé ardente e visita assiduamente as personalidades religiosas mias pias, indo ao seu encontro em suas casas e nas suas zauias. Trazia sempre um rosário entre os dedos e repetia constantemente o nome de Deus acompanhado de orações ao Profeta.[nt 1][carece de fontes]
Huceine mandou construir numerosos edifícios dedicados ao culto e ao ensino, nomeadamente as mesquitas dos Tintureiros em Tunes, inaugurada a 6 de abril de 1727, do Bardo[5] e outra ao pé da sepultura do santo Abuçaíde Calafe ibne Iáia Atamimi Albeji (Side Abuçaíde)[6] e as madrassas (medersas) Ennakhla e El Husseinya em Tunes e várias outras em cidades do interior do país como Cairuão, Sousse, Sfax e Nefta.[7] Também mandou construir fontes públicas e grandes cisternas para assegurar o abastecimento de água à população.[6] No campo do urbanismo, ordenou a realização de numerosas obras em Cairuão, como o restauro das muralhas, pois a cidade tinha sofrido muita degradação durante o reinado do último soberano murádida.[8][nt 1]
A ordem e a segurança foram plenamente restabelecidas em todo o país, ao ponto de se dizer que uma jovem podia ir sem perigo de Tunes a Tozeur levando na cabeça uma coroa de diamantes. A segurança interior favoreceu os negócios e trouxe uma prosperidade que o país não conhecia há muito tempo[9] devido à guerra civil à qual a chegada ao poder de Huceine pôs fim. Durante o reinado de Huceine assistiu-se ao aparecimento de uma verdadeira aristocracia indígena — desde a conquista turca que a elite tunisina era composta sobretudo por otomanos. As famílias feudais gravitam em torno do bei e obtêm cargos de feitores fiscais, armadores corsários e de caides em várias províncias, como as famílias Sebaï e Khayachi, caides no Sahel e em Cabo Bon. Em Djerba e Sfax ganham importância famílias de origem comerciante, como os Ben Ayed e os Djellouli.[nt 1][carece de fontes]
No entanto, o comércio com o estrangeiro poderia ter sido mais ativo se o bei, que muitos censuram por ter uma certa tendência para a avareza, não tivesse monopolizado em seu proveito, através de rendas, todo o comércio externo, encarecendo os preços de venda dos produtos destinados à exportação. Os acontecimentos que se seguiram aos primeiros anos mostram que o bei não logrou que toda a população apoiasse o seu governo.[nt 1][carece de fontes]
Revolta, deposição e morte
[editar | editar código-fonte]Em 1709, Huceine coloca no seu harém uma jovem corsa (a Córsega era então uma possessão de Génova) com treze anos de idade, capturada no mar por corsários tunisinos. Esta jovem dá-lhe dois filhos: Maomé e Ali, nascidos respetivamente em 1710 e 1712.[10]
Na mesma altura, o governo de Huceine proclamou que no futuro o poder passaria a ser transmitido por ordem de primogenitura masculina na descendência do bei reinante. Esta decisão teve como consequência que o filho mais velho do bei passasse a ter o título de "bei do campo" (militar ou acampamento) quando atingisse a maioridade legal em 1725, título esse detido até então pelo sobrinho do soberano, Ali Paxá (Alboácem Ali), que em compensação recebe o título de paxá.[11] Ressentido por ter sido afastado do poder, Ali Paxá começa a instigar intrigas contra Huceine, ao ponto deste vigiar todos os seus movimentos no seu palácio e de dotar de portas as muralhas os arrabaldes que ainda não as tinham. Apesar de todas as precauções tomadas, Ali Paxá, através de subornos, consegue evadir-se com o seu filho Iunus a 20 de fevereiro de 1728.[12] Esta fuga teve as mais funestas consequências para Huceine Bei, pois não obstante os cavaleiros lançados em sua perseguição, Ali Paxá consegue juntar-se às tribos dos Hanencha e dos Ousseltia, que convence a revoltarem-se. Posteriormente Ali Paxá refugia-se junto do dei de Argel.[nt 1][carece de fontes]
O dei mantém presos Ali e o seu filho Iunus em troca de um tributo anual pago por Huceine Bei. O tributo deixa de ser pago em 1735,[13] o que leva o dei a apoiar a causa de Ali Paxá e a invadir a Tunísia, indo ao encontro do bei, que é derrotado na batalha de Smindja, travada a 4 de setembro de 1735.[14] Huceine Bei foge primeiro para Sousse e depois para Cairuão, onde se refugia com os seus dois filhos Maomé e Ali. Ao saberem da vitória de Ali Paxá, os seus partidários decidem obrigam as autoridades encarregadas da defesa de Tunes a capitularem sem condições. O pai e os dois filhos de Ali Paxá, que estão presos na prisão do Bardo, são imediatamente libertados e encarregados de levar ao vencedor as chaves da cidade. Cercado em Cairuão, Huceine Bei é capturado sob as muralhas e decapitado por Iunus Bei a 13 de maio de 1740. A sua cabeça é levada a Ali Paxá para ser enterrada no mausoléu de Sidi Kacem es-Sbabti, na almedina de Tunes.[15][nt 1]
- ↑ a b c d e f g h i j Trechos baseados no artigo «Hussein Ier Bey» na Wikipédia em francês (acessado nesta versão).
- ↑ a b c Trechos baseados no artigo «Al-Husayn I ibn Ali at-Turki» na Wikipédia em inglês (acessado nesta versão).
- ↑ Algumas fontes[quem?] registam 669 como o ano de nascimento. [carece de fontes]
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Bey, El Mokhtar (1993), Le fondateur, Hussein Ben Ali, 1705-1735/1740: de la dynastie husseinite (em francês), Tunes, OCLC 35007947
- Dhiaf, Ibn Abi (1990), Présent des hommes de notre temps. Chroniques des rois de Tunis et du pacte fondamental (em francês), II, Tunes: Maison tunisienne de l'édition
- Pavy, Auguste (1977), Histoire de la Tunisie, ISBN 1235120864 (em francês) 2ª ed. , Tunes: Bouslama