Curso/semestre: Pedagogia/ Segundo semestre
Disciplina: Relações Sociais e Processos Educacionais
Professora: Profa. Dra. Ana Maria Stabelini
Nomes: Camila Reiko Nishikawa - 822786; Camilly Lima - 822334; Caroline Moreira -
823981; Laura da Silva Pereira - 823987; Lucia Vaz Natal- 822951; Maria Victória Silva
Costa - 822644
Trabalho Final
TEMA: EDUCAÇÃO POPULAR E DIREITOS HUMANOS
INTRODUÇÃO
A educação popular no Brasil está historicamente vinculada a iniciativas progressistas
de educar o povo da cidade e do campo, operários e trabalhadores. Além disso, está associada
a movimentos que advogam por uma educação laica e acessível a todos, bem como às lutas de
grupos minoritários, como negros e mulheres, que se educam através de práticas sociais.
Devido à sua forte conexão com os movimentos populares, a educação popular está
intrinsecamente ligada à conscientização sobre os direitos, por meio da alfabetização, do
acesso à cultura e da consciência política. Desse modo, ela promove a participação social e a
autonomia dos indivíduos. A abordagem da educação popular é dialógica, respeitando as
experiências dos educandos e valorizando os conhecimentos que trazem consigo, com o
objetivo de provocar transformações sociais.
Dessa forma, enquanto esses movimentos lutam pelos direitos individuais e coletivos
para promover igualdade e dignidade, também desempenham um papel educativo.
Simultaneamente, buscam formar sujeitos engajados em modificar uma realidade injusta e
desigual, contribuindo assim para a efetivação da educação como um direito humano
universal.
CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS
Segundo Carreira (2015), direitos são de todos os seres humanos simplesmente pelo
fato de integrarem a humanidade, independente do vínculo a um Estado nacional ou a
determinado grupo social e que têm na dignidade humana o seu fundamento ético. Sendo
assim, os direitos humanos são categorizados como universais, interdependentes e indivisíveis
(Carreira, 2015), e devem atender a todas as pessoas. São universais pois estão dissociados de
características específicas dos indivíduos, como etnia, religião, gênero, ou qualquer outra
particularidade. São interdependentes, pois todos estão relacionados entre si, necessitando uns
dos outros para se realizarem. Sua indivisibilidade propõe a ausência da hierarquia entre eles,
nenhum é melhor que outro, todos são importantes pois dão acesso a uma vida digna a todos
os seres humanos. Nesse contexto, a dignidade humana é a compreensão de que todos os seres
humanos são iguais em “valor”. Assim, a dignidade é o princípio fundamental para a
construção dos direitos humanos, sustentando a universalidade e indivisibilidade.
O conceito de direitos humanos universais está intrinsecamente ligado à ideia de uma
“cultura da paz”, que estabelece leis entre as nações e busca promover o bem-estar geral da
sociedade atual. A educação, nessa perspectiva, revela-se como um dos pilares cruciais para a
concretização dessa cultura, pois uma sociedade educada é extremamente necessária para o
progresso geral. Além disso, ela também é vista por muitos como um meio para a realização
de outros direitos. Dessa forma, pessoas com acesso à uma educação de qualidade não apenas
têm um conhecimento maior, mas também têm uma grande probabilidade de exercer seus
direitos, fazendo da educação um direito universal. Portanto, para a realização de todos os
direitos, é necessário primeiro o acesso à educação.
É também importante pontuar a centralidade do Estado na garantia dos direitos
humanos. Nos últimos tempos, os direitos humanos se tornaram um espaço de disputa, onde
os movimentos sociais evitam naturalizar as desigualdades e discriminações. Esses direitos
estão interligados, incluindo tantos os direitos civis e políticos (integridade, liberdade de
expressão e crença), quanto os direitos sociais, educacionais, culturais e ambientais
(necessidades básicas humanas). Assim, é possível notar a complexidade, diversidade e
abrangência na promoção dos direitos humanos. Para sua concretização, é necessário a
participação ativa do Estado e da população, se manifestando ao impulsionar políticas
públicas que garantam direitos de todas as pessoas que enfrentam explicitamente as diferentes
desigualdades construídas historicamente (Carreira, 2015).
A EDUCAÇÃO COMO DIREITO HUMANO NO BRASIL
Com o final da Segunda Guerra Mundial e diante das graves violações cometidas
contra a população, incluindo o desrespeito ao direito à vida, vinculado ao mínimo existencial
e essencial ao princípio da dignidade da pessoa humana, surgiu a necessidade de buscar uma
condição digna de vida para os seres humanos, o que resultou no reconhecimento da
necessidade de direitos e garantias fundamentais, como educação, saúde, trabalho, lazer,
segurança, assistência social, entre outros. Tais prerrogativas são consideradas Direitos
Humanos Fundamentais, os quais devem ser assegurados globalmente, independentemente de
estarem ou não expressamente contemplados nas constituições nacionais (Ferreira; Santos,
2016, p. 284).
No Brasil, antes da instauração da ditadura militar, o tema dos direitos humanos não
ocupava espaço nos debates políticos e programas educacionais, limitando-se aos currículos
dos estudos jurídicos. Foi então, durante o regime militar, que os direitos humanos passaram a
ganhar destaque. Dessa forma, comissões de direitos humanos, compostas por juristas,
membros da Igreja Católica, acadêmicos e movimentos sociais, foram incorporadas ao cenário
das lutas políticas, debates, denúncias, cobertura jornalística e teses acadêmicas a nível
nacional e a temática passou a disputar espaço no discurso predominante (Silveira 2007, p.
81).
Como apresentado por Silveira et al. (2007), a repressão durante a ditadura permitiu
que os direitos humanos conquistassem um espaço, inclusive em meios de comunicação
conservadores. Isso se deve, em parte, à abordagem que fragmenta os direitos, diferenciando
aqueles relacionados à repressão, violência cotidiana, violência familiar e violação dos
direitos das minorias políticas, como mulheres, indígenas, homossexuais e negros. Desse
modo, em um processo caracterizado por muitos conflitos, a atuação dos movimentos negros,
de mulheres, de povos indígenas, de pessoas com deficiência, LGBTs e ambientalistas,
ampliou a agenda de direitos humanos ao longo das últimas décadas (Carreira, 2015, p. 54).
A maior conquista da educação em direitos humanos foi a garantia de igualdade de
direitos, proteção da integridade física e o reconhecimento do direito de afirmar diferenças,
que sendo originada na resistência à ditadura, incorporou-se ao discurso democrático,
deixando de ser associada apenas à repressão política.
Dessa maneira, dentre os diversos direitos, a educação é, sem dúvida, um dos mais
cruciais, sendo considerada um instrumento capaz de transformar toda uma sociedade. Isso
ocorre porque ela promove a formação humanística e científica, permitindo a transmissão e
ampliação do conhecimento do cidadão, capacitando-o a perceber valores e exercer seu juízo
crítico com base em seus próprios aprendizados. A educação é, portanto, responsável pela
transmissão de valores que dignificam o ser humano, conferindo-lhe a capacidade de pensar,
raciocinar e julgar sobre o que lhe é apresentado, atuando como agente crucial na promoção
dos direitos humanos, da mesma forma que os direitos humanos exercem um papel essencial
na promoção da educação.
CONCEITO DE EDUCAÇÃO POPULAR
A partir da contextualização de direitos humanos, pode-se concluir que a educação de
fato é um direito humano, por ter como principal fundamento ético a dignidade humana.
Nesse sentido, de acordo com Pereira (2010), a dignidade é o pilar que sustenta a igualdade e
os direitos humanos, sendo o reconhecimento mútuo de todos os indivíduos como iguais em
valor.
Nessa perspectiva, na década de 50 inicia-se, na América Latina, a história de ideias,
práticas e acontecimentos no campo da educação, a Educação Popular. Segundo Freire (1993,
p. 17), pode ser conceituada como o esforço para a mobilização, organização e capacitação
das classes populares. Desse modo, pode-se considerar esse esforço, uma forma de
transformação social, que é capaz de refletir em todos os indivíduos. Os pilares da Educação
Popular são a escola e a vida política, não no seu sentido partidário. A primeira, é o saber
popular orientado para mudanças, a fim de remover obstáculos da sociedade. E, a segunda,
por sua vez, é constituída pelos educadores, intelectuais, tendo por papel principal a
organização do saber popular, e possui por ponto de partida situações de reconhecimento.
Logo, a Educação Popular inicia-se a partir da realidade da população, tendo compromisso
ético com a mudança da realidade de indivíduos que sofrem múltiplos modos de violências e
opressões, além de também lutar pela inserção desse grupo em todos os espaços educativos da
vida social.
Sendo assim, a Educação Popular é um movimento que possui como objetivo a
mudança no contexto de vida dos indivíduos das classes populares, que lutam em busca da
igualdade. Hodiernamente, ela se constitui em um mosaico de teorias e práticas, mas o que ela
tem em comum nas diversas partes do mundo, é o compromisso com as classes populares,
buscando uma ciência social e educativa, integradora e igualitária.
CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO POPULAR NO BRASIL
A Educação Popular passou por um processo de desenvolvimento ao longo do tempo
para ser implementada e aprimorada. Destinada a atender às necessidades e interesses de
todos, teve suas origens nos movimentos sociais e, ao longo do tempo, conseguiu integrar-se
em instituições educacionais mais formais. Segundo a pesquisadora Ercília de Paula (2009, p.
6136), a Educação Popular teve seu início na década de 1920 com o Manifesto dos Pioneiros
da Escola Nova, no qual os intelectuais brasileiros defendiam uma educação popular para
todos. Esse período foi marcado pelo rápido crescimento da industrialização e urbanização,
além de uma situação política e econômica conturbada, que resultou em aumento da
desigualdade social e urbana. Diante desse contexto, surgiu uma necessidade urgente de que a
educação pudesse atender às demandas das classes trabalhadoras urbanas. A Educação
Popular emergiu como resposta a essa necessidade, com um foco central na emancipação e na
transformação social.
Há cinco momentos importantes na história da Educação Popular, segundo o professor
Carlos Rodrigues Brandão (2014). No primeiro momento, grupos de esquerda iniciaram ações
para proporcionar educação ao povo das áreas urbanas e rurais, acreditando na educação
como um instrumento de formação e luta. Eles instituíram processos fundamentais para a
formação e consolidação da história da educação brasileira, utilizando estratégias de
mobilização nas comunidades para realizar o trabalho de base.
No segundo momento, durante o processo de independência do Brasil e a chegada de
imigrantes europeus, principalmente italianos e espanhóis, foram criados projetos
educacionais com pequenas escolas para os trabalhadores e seus filhos. A independência do
Brasil ocorreu em 1822, e a chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808 ocasionou
uma série de mudanças que contribuíram para o desenvolvimento comercial e econômico do
país.
No terceiro momento, a partir dos anos 1920, surgiram movimentos voltados para a
democratização do ensino e da cultura laica. Esses movimentos lutavam pela escola pública
no Brasil e pela quebra da hegemonia confessional católica na educação.
No quarto momento, nos anos 1960, houve uma experiência de cultura popular
liderada por Paulo Freire. O principal objetivo era valorizar a cultura nacional do Brasil, em
contraposição à cultura colonialista, principalmente dos Estados Unidos. No quinto momento,
surgiram movimentos populares focados em questões de negros, mulheres, meninos e
meninas de rua, entre outros. Esses espaços eram onde as pessoas aprendiam através de
práticas sociais, buscando enfrentar as desigualdades e promover a inclusão social.
A Educação Popular não surgiu em um vácuo, mas como resposta às necessidades e
desafios enfrentados pelas pessoas, especialmente as das classes trabalhadoras urbanas e
rurais. Desde seu início, esteve intrinsecamente ligada à luta por justiça social, igualdade e
emancipação. Seja defendendo a educação para todos no Manifesto dos Pioneiros da Escola
Nova, promovendo a escola pública e a cultura laica, ou valorizando a cultura nacional em
oposição à colonialista, a Educação Popular sempre buscou desafiar as circunstâncias e
promover a transformação social. Sendo um testemunho de resistência, resiliência e
esperança, uma narrativa em constante evolução à medida que novos desafios surgem e a
busca por uma educação justa e equitativa continua.
EDUCAÇÃO NÃO FORMAL
A educação não formal está diretamente ligada aos princípios básicos da educação
popular. Essa abordagem flexível é essencial para criar uma sociedade em que as pessoas
participem ativamente e estejam conscientes das questões ao seu redor.
A educação não formal refere-se a um processo de aprendizado que ocorre fora do
contexto da educação formal, ou seja, fora das instituições escolares tradicionais. Este tipo de
educação é caracterizado pela ausência de um currículo estruturado e pela flexibilidade em
abordar temas específicos de interesse, muitas vezes relacionados a questões sociais, políticas
e culturais. A educação não formal pode ser encontrada em organizações da sociedade civil,
como associações de bairro, movimentos sociais, grupos religiosos, entre outros, e tem como
objetivo principal o desenvolvimento de habilidades, competências e conscientização que não
são necessariamente abordadas no ambiente escolar formal.
No eixo V do PNDH-3, que fala da “educação e cultura em direitos humanos”,
afirma-se que “a educação não formal em Direitos Humanos é orientada pelos
princípios da emancipação e da autonomia, configurando-se como processo de
sensibilização e formação da consciência crítica” (Brasil, 2009, p. 185)
Uma característica distintiva da educação não formal é a sua abordagem participativa e
horizontal, que enfatiza o diálogo e a interação entre os participantes. Essa abordagem busca
promover a participação ativa dos educandos no processo de aprendizado, incentivando a
reflexão crítica e a construção coletiva do conhecimento. Além disso, a educação não formal é
reconhecida por sua capacidade de mobilização e engajamento social. Através de
organizações da sociedade civil, ela possibilita a promoção da cidadania, a capacitação das
pessoas para a defesa de seus direitos e a mobilização em torno de temas específicos,
contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
A educação não formal, ao proporcionar um processo de aprendizado flexível e
adaptado às necessidades específicas dos educandos, contribui para o desenvolvimento de
habilidades, competências e conscientização que muitas vezes não são abordadas de forma
abrangente no contexto da educação formal.
Ao estudarmos a educação não formal desenvolvida junto a grupos sociais organizados
ou movimentos sociais devemos atentar para as questões das metodologias e modos de
funcionamento, por serem aspectos mais relevantes do processo de aprendizagem (Gohn,
2011, p. 112).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de a educação ser considerada um direito humano universal, em um país
desigual como o Brasil, esse direito muitas vezes não se concretiza devido às condições de
vida dos indivíduos, tornando o acesso à educação, principalmente de qualidade, muito difícil.
Nesse cenário, homens e mulheres lutam diariamente para construir e manter uma educação
popular, enfrentando as condições desfavoráveis em que vivem.
Essa luta é coletiva, realizada por meio de movimentos sociais, sindicais, partidos
políticos e entidades civis que promovem uma educação não formal, visando estimular o
pensamento crítico acerca da realidade na qual os sujeitos estão inseridos e o papel que
desempenham na sociedade, bem como os direitos que lhes são garantidos. Essas
organizações também estimulam propostas para novas políticas públicas em diversos âmbitos,
incluindo o educacional.
Em suma, a interseção entre educação popular e direitos humanos é vital para
promover uma sociedade justa, igualitária e participativa, onde todos tenham acesso a
oportunidades de aprendizado e sejam respeitados em seus direitos fundamentais. Esses dois
elementos se complementam, contribuindo para a construção de comunidades mais
conscientes, capacitadas, democráticas e engajadas na defesa dos direitos humanos.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, C. R. Educação Popular no Brasil. In: Gadotti, M. (org.). Alfabetizar e
conscientizar: Paulo Freire, 50 anos de Angicos. São Paulo: Editora Instituto Paulo Freire,
2014.
CARREIRA, D. A emergência da diversidade. In Igualdade e Diferenças nas Políticas
Educacionais: a agenda das diversidades nos governos Lula e Dilma. Tese de Doutoramento.
São Paulo, Faculdade de Educação da USP, 2015. (p. 49-75)
FERREIRA, M. E.; SANTOS, R. A. D. A educação como direito humano fundamental. In:
XXV CONGRESSO DO CONPEDI - CURITIBA: DIREITOS SOCIAIS E POLITICAS
PUBLICAS II, Curitiba- PR, dez./2005, p. 284. Disponível em:
http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/02q8agmu/56tv1cja/11av5BshvIpFmeYn.pdf .
Acesso em: 30 jan. 2024.
FREIRE, P; NOGUEIRA, A. Que fazer: teoria e prática em educação popular. 4ª ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.
GOHN, Maria da Glória. Educação não formal e cultura política: impactos sobre o
associativismo do terceiro setor. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2011.
PAULA, E. M. A. T. Educação Popular, educação não formal e pedagogia social: análise
de conceitos e implicações para educação brasileira e formação de professores. In: IX
Congresso nacional de educação – Educere – III Encontro sul brasileiro de psicopedagogia,
2009, Curitiba. Anais… Curitiba, PUC-PR, p. 6133-6146. Disponível em
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2103_1034.pdf Acesso em: 30
jan. 2024.
SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. Instituto Paulo Freire.
Cadernos de formação: educação popular e direitos humanos. São Paulo: SMDHC, 2015.
Disponível em:
https://www.paulofreire.org/images/pdfs/livros/Cadernos_Formacao_Educacao_Popular.pdf .
Acesso em: 30 jan. 2024.
SILVEIRA, R. M. G., et al. Educação em Direitos Humanos : Fundamentos teóricos-
metodológicos. João Pessoa : Editora Universitária. 2007, p. 81. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/dados/livros/edh/br/fundamentos/06_cap_1_artigo_03.pdf. Acesso
em: 30 jan. 2024.