Os povos tradicionais caiçaras da Península da Juatinga, região mais isolada do município de Para... more Os povos tradicionais caiçaras da Península da Juatinga, região mais isolada do município de Paraty, enfrentam diversos conflitos socioambientais, decorrente de apropriações mercantis de seus territórios e de implementação de políticas que não levam em consideração suas reais necessidade e demandas. Diante de ameaças e dificuldades de permanecer nos seus territórios, a educação escolar se tornou condição objetiva de existência desses povos, uma vez que a falta de escolas e ausência de certos conhecimentos traz uma série de dificuldades, incluindo o exercício legal de práticas tradicionais, como a pesca. A luta por uma educação, que reafirme a identidade ética e politica dos caiçaras e que reconheça suas tradições, é parte constitutiva da luta pelo direito de reprodução dos seus modos de vida nos territórios tradicionais. Este texto traz parte dos resultados da pesquisa de doutorado, em andamento, que tem como objetivo analisar a relação entre a luta pela permanência no território tradicional e o acesso à educação formal. Evidencia-se uma clara disputa pelo projeto de educação em Paraty. De um lado, têm-se o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), que é movimento social de articulação entre indígenas, quilombolas e caiçaras de Angra, Paraty e Ubatuba, demandando uma educação diferenciada que venha qualificar as lutas políticas feitas pelos povos tradicionais e garantir a permanência no território tradicionais e seus modos de vida. Entretanto, na dinâmica contraditória de materialização desse direito social, o que vem sendo oferecido pelo município é uma educação aligeirada vinculada à ideologia dominante, por meio de parcerias público-privadas, que cumprem o papel de mascarar os conflitos de classe e de reproduzir a dominação social.
As comunidades caiçaras de Martim de Sá, Saco das Anchovas e Cairuçu das Pedras são as mais isola... more As comunidades caiçaras de Martim de Sá, Saco das Anchovas e Cairuçu das Pedras são as mais isoladas do centro urbano de Paraty e enfrentam diversos conflitos que ameaçam a sua permanência em seus territórios tradicionais. Embora possuam uma diversidade de conhecimentos locais, nunca tiveram acesso à educação formal, sendo a falta de escola um dos principais problemas apontados por esses grupos, destacando-se a dificuldade de tirar documentos, pressão do conselho tutelar, perda dos benefícios concedidos pelo programa bolsa família e migração compulsória para outras regiões. O Projeto de extensão “Cerco de Saberes” tem como objetivo alfabetizar esse grupo através da metodologia da educação popular e da valorização da cultura caiçara. Foram feitas reuniões nessas comunidades para identificar os problemas e as necessidades para a construção de uma escola caiçara e a primeira etapa da alfabetização aconteceu entre junho a agosto de 2014 com a educação de crianças e jovens. Diversas atividades foram desenvolvidas tendo como inspiração as práticas e saberes tradicionais. Ao final deste processo identificou-se desafios e conquistas na implementação e desenvolvimento da escola. A escola possibilitou o resgate de conhecimentos tradicionais, a troca de saberes, a aproximação entre gerações e acredita-se que contribuiu para a valorização dos saberes locais, através de uma educação, que levou em consideração a cultura e os conflitos existentes na região. Espera-se motivar os adultos a buscarem por esta troca de conhecimentos, possibilitada pela escola caiçara, para poderem continuar lutando pela justiça ambiental.
4o volume do livro com os trabalhos apresentados no II Congresso Nacional de Educação Ambiental, ... more 4o volume do livro com os trabalhos apresentados no II Congresso Nacional de Educação Ambiental, realizado na Universidade Federal da Paraiba (UFPB) em João Pessoa (PB) entre os dias 12 a 15 de Outubro de 2011.
A Península da Juatinga é a região mais isolada do município de Paraty-RJ e abriga diversos núcle... more A Península da Juatinga é a região mais isolada do município de Paraty-RJ e abriga diversos núcleos populacionais que se autorreconhecem como povos tradicionais caiçaras. Esses grupos enfrentam diversos conflitos socioambientais decorrentes dos diferentes modos de uso e apropriação do território e suas formas de regulação (especulação imobiliária, grilagem de terras, leis ambientais), ameaçando a permanência em seus territórios tradicionais. Diante do modelo de desenvolvimento econômico que se estabeleceu no município e sua inserção na dinâmica industrial capitalista, a educação escolar se tornou necessária como condição objetiva e material de existência desses povos, uma vez que a falta de escolas em algumas comunidades e a impossibilidade de concluir o ensino básico em outras comunidades têm trazido uma série de dificuldades, tais como: impossibilidade de tirar diversos documentos (como a carteira de pescador); a perda de benefícios do governo; pressão do conselho tutelar para a matrícula de crianças e jovens na escola; migração compulsória para outros lugares. A luta pela educação dos povos e comunidades tradicionais, como parte constitutiva de suas lutas pelo direito de reproduzirem seus modos de vida, está inserida no contexto da resistência contra o sistema do capital. Desta forma, esta pesquisa teve como objetivo geral analisar a relação entre a luta pelo território tradicional dos povos caiçaras da Península da Juatinga e o acesso à educação formal, explicitando os conflitos territoriais que os expropriam dos seus meios de produção e a disputa em torno do projeto de educação pela conquista da hegemonia frente à expansão do capital em Paraty. Para tanto, foram realizadas entrevistas com caiçaras e lideranças locais, representante do Sindicato dos servidores públicos municipais de Paraty, professores que atuam nas escolas localizadas nas comunidades tradicionais, coordenadores das escolas e da Secretaria Municipal de Educação. A escola vem sendo reivindicada pelos povos tradicionais, mas a educação escolar não é uma realidade pronta, estando em disputa, cabendo às lutas sociais consolidá-la como uma instituição de fato pública. Evidencia-se uma clara disputa pelo projeto de educação em Paraty. De um lado, o poder público, através de parcerias públicas privadas, oferece uma educação escolar aligeirada vinculada à ideologia das classes dominantes, que através dos seus aparelhos privados de hegemonia, como a Fundação Roberto Marinho, o Instituto Alpargatas, o Comunitas e a Fundação Itaú Social, subordinam a classe trabalhadora ao empresariado, contribuindo, através da educação, para reproduzir uma ideologia de fim dos conflitos de classe, enfraquecendo a luta histórica dos movimentos sociais contra os mecanismos de expropriação e dominação social. Do outro lado, temos os povos tradicionais, organizados no Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), que é um movimento de articulação entre os povos tradicionais indígenas, quilombolas e caiçaras de Angra do Reis-RJ, Paraty e Ubatuba-SP, lutando por uma educação que fortaleça não só o movimento, mas, principalmente, que garanta a permanência dos povos tradicionais em seus territórios, construindo uma outra hegemonia. Se antes a expulsão dos caiçaras de seus territórios se dava de modo violento (coerção), atualmente se dá basicamente por mecanismos materiais e ideológicos de convencimento (consenso) dos caiçaras para aderirem ao projeto hegemônico de sociedade. Tais mecanismos materiais envolvem dificuldades de continuarem exercendo suas práticas tradicionais, a negação de direitos sociais e a precarização dos seus modos de vida, que apoiados em uma malha discursiva, reproduzida pela educação escolar, difunde uma ideologia favorável à vida urbano-industrial como única opção, levando-os a deixar seus territórios em busca de acesso a políticas públicas e direitos, na certeza de melhores condições de vida na cidade.
RESUMO As instituições de ensino superior (IES) vêm sendo chamadas para buscar soluções para a cr... more RESUMO As instituições de ensino superior (IES) vêm sendo chamadas para buscar soluções para a crise ambiental. Entretanto, as diferentes visões sobre o meio ambiente podem retardar ações que levem a reais mudanças. As ações ambientais realizadas dentro das IES são consideradas ainda pontuais e pouco expressivas, sendo a visão naturalista e a crença no tecnicismo predominantes. A inserção das empresas dentro dos cursos ambientais pode influenciar a produção do conhecimento e reduzir a formação universitária ao atendimento aos interesses do mercado, retardando a superação dos problemas ambientais, uma vez que críticas sobre o atual modelo de exploração/ produção/consumo/lucro da sociedade não são incorporadas. A ambientalização das IES públicas surge então como um desafio. Algumas mudanças são necessárias tanto nas estruturas acadêmicas quanto no fazer pedagógico para que estas possam se apropriar do saber ambiental.
O projeto “Cerco de saberes: construindo a Escola da Praia de Martim de Sá” é destinado à promoçã... more O projeto “Cerco de saberes: construindo a Escola da Praia de Martim de Sá” é destinado à promoção de atividades diversificadas que contribuam com o processo de alfabetização e de letramento de crianças e adolescentes caiçaras. A comunidade escolhida é a que habita, há várias gerações, o território correspondente à Reserva Ecológica da Juatinga, localizada em Paraty (RJ), Brasil. Apresentamos o relato da experiência num projeto de extensão universitária que busca valorizar os saberes caiçaras e promover a emancipação ante a movimentos excludentes diferenciados que tornam essas comunidades tradicionais brasileiras vulneráveis e excluídas do atual modelo de desenvolvimento social. Tem‑se a preocupação de atender à demanda apresentada pela comunidade caiçara para o desenvolvimento de um currículo diferenciado, que inclui círculos de cultura de processos alfabetizadores e de letramento. As atividades da Escola da Praia de Martin de Sá envolvem interação dialógica entre educadores e educandos caiçaras, o que inclui atividades de Leitura do Mundo, produção escrita e pesquisas em campo. O processo de alfabetização apoia‑se na valorização da identidade caiçara, a começar pela reflexão sobre o nome das crianças e de suas famílias e pelo reconhecimento da diversidade ecológica do lugar que habitam há gerações; o letramento desenvolve‑se com base no fortalecimento da Leitura do Mundo caiçara, estimulando a escrita com referência aos saberes sobre o mar e a natureza apresentados pelas crianças. Entre outros elementos, destacamos a amorosidade entre caiçaras, educadores e educandos como fator essencial para a mobilização da equipe e colaboradores no enfrentamento das adversidades que vêm impedindo a instalação de uma escola oficial.
Resumo: Diante do enfrentamento de diversos conflitos socioambientais, os povos tradicionais caiç... more Resumo: Diante do enfrentamento de diversos conflitos socioambientais, os povos tradicionais caiçaras da Península da Juatinga, Paraty-RJ, passaram a demandar o acesso à educação escolar. Este artigo tem como objetivo discutir a relação entre a educação demandada pelos povos caiçaras com a educação ambiental (EA) crítica, trazendo parte dos resultados da pesquisa, concluída em 2017, relativos à revisão bibliográfica e às entrevistas realizadas com lideranças caiçaras. A educação demanda pelos caiçaras é aquela que busca a reafirmação da identidade politica desse grupo e que reconhece as suas lutas pelo direito de reprodução dos seus modos de vida nos territórios tradicionais. Considera-se como essencial, na construção desta educação, a abordagem das questões socioambientais através da perspectiva da educação ambiental critica, uma vez que esta abordagem está comprometida com a emergência dos grupos em situação de dominação e pode vir a contribuir para a intervenção na realidade. Palavras-chave: educação ambiental crítica; educação escolar; povos tradicionais caiçaras. Abstract: As consequence of facing various socio-environmental conflicts, caiçaras traditional people of Peninsula da Juatinga, Paraty-RJ, began to demand access to school education. This article aims to discuss the relation between the education demanded by caiçaras people with critical environmental education, bringing part of the results of the doctoral research, completed in 2017, regarding the bibliographic review and the interviews conducted with caiçaras leaders. The education that they demand is the one that seeks to reaffirm the political identity of this group and recognizes their struggles for the right to reproduce their ways of life in the traditional territories. It is considered as essential in the construction of this education, the approach of socio-environmental issues through the perspective of critical environmental education, since this approach is committed to the emergence of groups in situations of domination and may contribute to their intervention in the reality.
Os povos tradicionais caiçaras da Península da Juatinga, região ambientalmente
bem conservada e a... more Os povos tradicionais caiçaras da Península da Juatinga, região ambientalmente bem conservada e a mais isolada de Paraty-RJ, enfrentam diversos conflitos socioambientais decorrentes da expansão capitalista sobre os seus territórios, modificando seus modos de vida e impedindo ou dificultando a sua reprodução material e simbólica. Com isso, a educação escolar se tornou necessária como condição objetiva de existência desses povos, uma vez que a falta de escolas e ausência de conhecimentos científicos têm trazido uma série de dificuldades, incluindo a manutenção de suas práticas tradicionais (seus trabalhos). Este artigo tem como objetivo discutir a relação entre a luta pelo território tradicional e o acesso à educação formal, tendo Gramsci como referencial teórico. A escola vem sendo reivindicada pelos povos tradicionais, mas a educação escolar não é uma realidade pronta, estando em disputa, cabendo às lutas sociais consolidá-la como uma instituição de fato pública. Evidencia-se uma clara disputa pelo projeto de educação em Paraty. De um lado, o poder público, através de parcerias públicas privadas, oferece uma educação escolar aligeirada vinculada à ideologia das classes dominantes, que através dos seus aparelhos privados de hegemonia, como a Fundação Roberto Marinho, o Instituto Alpargatas, o Comunitas e a Fundação Itaú Social, subordinam a classe trabalhadora ao empresariado, contribuindo, através da educação, para reproduzir uma ideologia de fim dos conflitos de classe, enfraquecendo a luta histórica dos movimentos sociais contra os mecanismos de expropriação e dominação social. Do outro lado, temos os intelectuais orgânicos dos povos tradicionais, organizados no Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), que é um movimento de articulação entre os povos tradicionais indígenas, quilombolas e caiçaras de Angra do Reis-RJ, Paraty e Ubatuba-SP, lutando por uma educação que fortaleça não só o movimento, mas, principalmente, que garanta a permanência dos povos tradicionais em seus territórios, construindo uma outra hegemonia. Se antes a expulsão dos caiçaras de seus territórios se dava de modo violento (coerção), atualmente se dá basicamente por mecanismos materiais e ideológicos de convencimento (consenso) dos caiçaras para aderirem ao projeto hegemônico de sociedade. Tais mecanismos materiais envolvem dificuldades de continuarem exercendo suas práticas tradicionais, a negação de direitos sociais e a precarização dos seus modos de vida, que apoiados em uma malha discursiva, reproduzida pela educação escolar, difunde uma ideologia favorável à vida urbano-industrial como única opção, levando-os a deixar seus territórios em busca de acesso a políticas públicas e direitos, na certeza de melhores condições de vida na cidade.
Os povos tradicionais caiçaras da Península da Juatinga, região mais isolada do município de Para... more Os povos tradicionais caiçaras da Península da Juatinga, região mais isolada do município de Paraty, enfrentam diversos conflitos socioambientais, decorrente de apropriações mercantis de seus territórios e de implementação de políticas que não levam em consideração suas reais necessidade e demandas. Diante de ameaças e dificuldades de permanecer nos seus territórios, a educação escolar se tornou condição objetiva de existência desses povos, uma vez que a falta de escolas e ausência de certos conhecimentos traz uma série de dificuldades, incluindo o exercício legal de práticas tradicionais, como a pesca. A luta por uma educação, que reafirme a identidade ética e politica dos caiçaras e que reconheça suas tradições, é parte constitutiva da luta pelo direito de reprodução dos seus modos de vida nos territórios tradicionais. Este texto traz parte dos resultados da pesquisa de doutorado, em andamento, que tem como objetivo analisar a relação entre a luta pela permanência no território tradicional e o acesso à educação formal. Evidencia-se uma clara disputa pelo projeto de educação em Paraty. De um lado, têm-se o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), que é movimento social de articulação entre indígenas, quilombolas e caiçaras de Angra, Paraty e Ubatuba, demandando uma educação diferenciada que venha qualificar as lutas políticas feitas pelos povos tradicionais e garantir a permanência no território tradicionais e seus modos de vida. Entretanto, na dinâmica contraditória de materialização desse direito social, o que vem sendo oferecido pelo município é uma educação aligeirada vinculada à ideologia dominante, por meio de parcerias público-privadas, que cumprem o papel de mascarar os conflitos de classe e de reproduzir a dominação social.
As comunidades caiçaras de Martim de Sá, Saco das Anchovas e Cairuçu das Pedras são as mais isola... more As comunidades caiçaras de Martim de Sá, Saco das Anchovas e Cairuçu das Pedras são as mais isoladas do centro urbano de Paraty e enfrentam diversos conflitos que ameaçam a sua permanência em seus territórios tradicionais. Embora possuam uma diversidade de conhecimentos locais, nunca tiveram acesso à educação formal, sendo a falta de escola um dos principais problemas apontados por esses grupos, destacando-se a dificuldade de tirar documentos, pressão do conselho tutelar, perda dos benefícios concedidos pelo programa bolsa família e migração compulsória para outras regiões. O Projeto de extensão “Cerco de Saberes” tem como objetivo alfabetizar esse grupo através da metodologia da educação popular e da valorização da cultura caiçara. Foram feitas reuniões nessas comunidades para identificar os problemas e as necessidades para a construção de uma escola caiçara e a primeira etapa da alfabetização aconteceu entre junho a agosto de 2014 com a educação de crianças e jovens. Diversas atividades foram desenvolvidas tendo como inspiração as práticas e saberes tradicionais. Ao final deste processo identificou-se desafios e conquistas na implementação e desenvolvimento da escola. A escola possibilitou o resgate de conhecimentos tradicionais, a troca de saberes, a aproximação entre gerações e acredita-se que contribuiu para a valorização dos saberes locais, através de uma educação, que levou em consideração a cultura e os conflitos existentes na região. Espera-se motivar os adultos a buscarem por esta troca de conhecimentos, possibilitada pela escola caiçara, para poderem continuar lutando pela justiça ambiental.
4o volume do livro com os trabalhos apresentados no II Congresso Nacional de Educação Ambiental, ... more 4o volume do livro com os trabalhos apresentados no II Congresso Nacional de Educação Ambiental, realizado na Universidade Federal da Paraiba (UFPB) em João Pessoa (PB) entre os dias 12 a 15 de Outubro de 2011.
A Península da Juatinga é a região mais isolada do município de Paraty-RJ e abriga diversos núcle... more A Península da Juatinga é a região mais isolada do município de Paraty-RJ e abriga diversos núcleos populacionais que se autorreconhecem como povos tradicionais caiçaras. Esses grupos enfrentam diversos conflitos socioambientais decorrentes dos diferentes modos de uso e apropriação do território e suas formas de regulação (especulação imobiliária, grilagem de terras, leis ambientais), ameaçando a permanência em seus territórios tradicionais. Diante do modelo de desenvolvimento econômico que se estabeleceu no município e sua inserção na dinâmica industrial capitalista, a educação escolar se tornou necessária como condição objetiva e material de existência desses povos, uma vez que a falta de escolas em algumas comunidades e a impossibilidade de concluir o ensino básico em outras comunidades têm trazido uma série de dificuldades, tais como: impossibilidade de tirar diversos documentos (como a carteira de pescador); a perda de benefícios do governo; pressão do conselho tutelar para a matrícula de crianças e jovens na escola; migração compulsória para outros lugares. A luta pela educação dos povos e comunidades tradicionais, como parte constitutiva de suas lutas pelo direito de reproduzirem seus modos de vida, está inserida no contexto da resistência contra o sistema do capital. Desta forma, esta pesquisa teve como objetivo geral analisar a relação entre a luta pelo território tradicional dos povos caiçaras da Península da Juatinga e o acesso à educação formal, explicitando os conflitos territoriais que os expropriam dos seus meios de produção e a disputa em torno do projeto de educação pela conquista da hegemonia frente à expansão do capital em Paraty. Para tanto, foram realizadas entrevistas com caiçaras e lideranças locais, representante do Sindicato dos servidores públicos municipais de Paraty, professores que atuam nas escolas localizadas nas comunidades tradicionais, coordenadores das escolas e da Secretaria Municipal de Educação. A escola vem sendo reivindicada pelos povos tradicionais, mas a educação escolar não é uma realidade pronta, estando em disputa, cabendo às lutas sociais consolidá-la como uma instituição de fato pública. Evidencia-se uma clara disputa pelo projeto de educação em Paraty. De um lado, o poder público, através de parcerias públicas privadas, oferece uma educação escolar aligeirada vinculada à ideologia das classes dominantes, que através dos seus aparelhos privados de hegemonia, como a Fundação Roberto Marinho, o Instituto Alpargatas, o Comunitas e a Fundação Itaú Social, subordinam a classe trabalhadora ao empresariado, contribuindo, através da educação, para reproduzir uma ideologia de fim dos conflitos de classe, enfraquecendo a luta histórica dos movimentos sociais contra os mecanismos de expropriação e dominação social. Do outro lado, temos os povos tradicionais, organizados no Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), que é um movimento de articulação entre os povos tradicionais indígenas, quilombolas e caiçaras de Angra do Reis-RJ, Paraty e Ubatuba-SP, lutando por uma educação que fortaleça não só o movimento, mas, principalmente, que garanta a permanência dos povos tradicionais em seus territórios, construindo uma outra hegemonia. Se antes a expulsão dos caiçaras de seus territórios se dava de modo violento (coerção), atualmente se dá basicamente por mecanismos materiais e ideológicos de convencimento (consenso) dos caiçaras para aderirem ao projeto hegemônico de sociedade. Tais mecanismos materiais envolvem dificuldades de continuarem exercendo suas práticas tradicionais, a negação de direitos sociais e a precarização dos seus modos de vida, que apoiados em uma malha discursiva, reproduzida pela educação escolar, difunde uma ideologia favorável à vida urbano-industrial como única opção, levando-os a deixar seus territórios em busca de acesso a políticas públicas e direitos, na certeza de melhores condições de vida na cidade.
RESUMO As instituições de ensino superior (IES) vêm sendo chamadas para buscar soluções para a cr... more RESUMO As instituições de ensino superior (IES) vêm sendo chamadas para buscar soluções para a crise ambiental. Entretanto, as diferentes visões sobre o meio ambiente podem retardar ações que levem a reais mudanças. As ações ambientais realizadas dentro das IES são consideradas ainda pontuais e pouco expressivas, sendo a visão naturalista e a crença no tecnicismo predominantes. A inserção das empresas dentro dos cursos ambientais pode influenciar a produção do conhecimento e reduzir a formação universitária ao atendimento aos interesses do mercado, retardando a superação dos problemas ambientais, uma vez que críticas sobre o atual modelo de exploração/ produção/consumo/lucro da sociedade não são incorporadas. A ambientalização das IES públicas surge então como um desafio. Algumas mudanças são necessárias tanto nas estruturas acadêmicas quanto no fazer pedagógico para que estas possam se apropriar do saber ambiental.
O projeto “Cerco de saberes: construindo a Escola da Praia de Martim de Sá” é destinado à promoçã... more O projeto “Cerco de saberes: construindo a Escola da Praia de Martim de Sá” é destinado à promoção de atividades diversificadas que contribuam com o processo de alfabetização e de letramento de crianças e adolescentes caiçaras. A comunidade escolhida é a que habita, há várias gerações, o território correspondente à Reserva Ecológica da Juatinga, localizada em Paraty (RJ), Brasil. Apresentamos o relato da experiência num projeto de extensão universitária que busca valorizar os saberes caiçaras e promover a emancipação ante a movimentos excludentes diferenciados que tornam essas comunidades tradicionais brasileiras vulneráveis e excluídas do atual modelo de desenvolvimento social. Tem‑se a preocupação de atender à demanda apresentada pela comunidade caiçara para o desenvolvimento de um currículo diferenciado, que inclui círculos de cultura de processos alfabetizadores e de letramento. As atividades da Escola da Praia de Martin de Sá envolvem interação dialógica entre educadores e educandos caiçaras, o que inclui atividades de Leitura do Mundo, produção escrita e pesquisas em campo. O processo de alfabetização apoia‑se na valorização da identidade caiçara, a começar pela reflexão sobre o nome das crianças e de suas famílias e pelo reconhecimento da diversidade ecológica do lugar que habitam há gerações; o letramento desenvolve‑se com base no fortalecimento da Leitura do Mundo caiçara, estimulando a escrita com referência aos saberes sobre o mar e a natureza apresentados pelas crianças. Entre outros elementos, destacamos a amorosidade entre caiçaras, educadores e educandos como fator essencial para a mobilização da equipe e colaboradores no enfrentamento das adversidades que vêm impedindo a instalação de uma escola oficial.
Resumo: Diante do enfrentamento de diversos conflitos socioambientais, os povos tradicionais caiç... more Resumo: Diante do enfrentamento de diversos conflitos socioambientais, os povos tradicionais caiçaras da Península da Juatinga, Paraty-RJ, passaram a demandar o acesso à educação escolar. Este artigo tem como objetivo discutir a relação entre a educação demandada pelos povos caiçaras com a educação ambiental (EA) crítica, trazendo parte dos resultados da pesquisa, concluída em 2017, relativos à revisão bibliográfica e às entrevistas realizadas com lideranças caiçaras. A educação demanda pelos caiçaras é aquela que busca a reafirmação da identidade politica desse grupo e que reconhece as suas lutas pelo direito de reprodução dos seus modos de vida nos territórios tradicionais. Considera-se como essencial, na construção desta educação, a abordagem das questões socioambientais através da perspectiva da educação ambiental critica, uma vez que esta abordagem está comprometida com a emergência dos grupos em situação de dominação e pode vir a contribuir para a intervenção na realidade. Palavras-chave: educação ambiental crítica; educação escolar; povos tradicionais caiçaras. Abstract: As consequence of facing various socio-environmental conflicts, caiçaras traditional people of Peninsula da Juatinga, Paraty-RJ, began to demand access to school education. This article aims to discuss the relation between the education demanded by caiçaras people with critical environmental education, bringing part of the results of the doctoral research, completed in 2017, regarding the bibliographic review and the interviews conducted with caiçaras leaders. The education that they demand is the one that seeks to reaffirm the political identity of this group and recognizes their struggles for the right to reproduce their ways of life in the traditional territories. It is considered as essential in the construction of this education, the approach of socio-environmental issues through the perspective of critical environmental education, since this approach is committed to the emergence of groups in situations of domination and may contribute to their intervention in the reality.
Os povos tradicionais caiçaras da Península da Juatinga, região ambientalmente
bem conservada e a... more Os povos tradicionais caiçaras da Península da Juatinga, região ambientalmente bem conservada e a mais isolada de Paraty-RJ, enfrentam diversos conflitos socioambientais decorrentes da expansão capitalista sobre os seus territórios, modificando seus modos de vida e impedindo ou dificultando a sua reprodução material e simbólica. Com isso, a educação escolar se tornou necessária como condição objetiva de existência desses povos, uma vez que a falta de escolas e ausência de conhecimentos científicos têm trazido uma série de dificuldades, incluindo a manutenção de suas práticas tradicionais (seus trabalhos). Este artigo tem como objetivo discutir a relação entre a luta pelo território tradicional e o acesso à educação formal, tendo Gramsci como referencial teórico. A escola vem sendo reivindicada pelos povos tradicionais, mas a educação escolar não é uma realidade pronta, estando em disputa, cabendo às lutas sociais consolidá-la como uma instituição de fato pública. Evidencia-se uma clara disputa pelo projeto de educação em Paraty. De um lado, o poder público, através de parcerias públicas privadas, oferece uma educação escolar aligeirada vinculada à ideologia das classes dominantes, que através dos seus aparelhos privados de hegemonia, como a Fundação Roberto Marinho, o Instituto Alpargatas, o Comunitas e a Fundação Itaú Social, subordinam a classe trabalhadora ao empresariado, contribuindo, através da educação, para reproduzir uma ideologia de fim dos conflitos de classe, enfraquecendo a luta histórica dos movimentos sociais contra os mecanismos de expropriação e dominação social. Do outro lado, temos os intelectuais orgânicos dos povos tradicionais, organizados no Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), que é um movimento de articulação entre os povos tradicionais indígenas, quilombolas e caiçaras de Angra do Reis-RJ, Paraty e Ubatuba-SP, lutando por uma educação que fortaleça não só o movimento, mas, principalmente, que garanta a permanência dos povos tradicionais em seus territórios, construindo uma outra hegemonia. Se antes a expulsão dos caiçaras de seus territórios se dava de modo violento (coerção), atualmente se dá basicamente por mecanismos materiais e ideológicos de convencimento (consenso) dos caiçaras para aderirem ao projeto hegemônico de sociedade. Tais mecanismos materiais envolvem dificuldades de continuarem exercendo suas práticas tradicionais, a negação de direitos sociais e a precarização dos seus modos de vida, que apoiados em uma malha discursiva, reproduzida pela educação escolar, difunde uma ideologia favorável à vida urbano-industrial como única opção, levando-os a deixar seus territórios em busca de acesso a políticas públicas e direitos, na certeza de melhores condições de vida na cidade.
Uploads
Books
Palavras-chave: Caiçara, Educação, Conflitos.
Papers
Conference Presentations
bem conservada e a mais isolada de Paraty-RJ, enfrentam diversos conflitos socioambientais
decorrentes da expansão capitalista sobre os seus territórios, modificando seus modos de
vida e impedindo ou dificultando a sua reprodução material e simbólica. Com isso, a
educação escolar se tornou necessária como condição objetiva de existência desses povos,
uma vez que a falta de escolas e ausência de conhecimentos científicos têm trazido uma série
de dificuldades, incluindo a manutenção de suas práticas tradicionais (seus trabalhos). Este
artigo tem como objetivo discutir a relação entre a luta pelo território tradicional e o acesso
à educação formal, tendo Gramsci como referencial teórico. A escola vem sendo
reivindicada pelos povos tradicionais, mas a educação escolar não é uma realidade pronta,
estando em disputa, cabendo às lutas sociais consolidá-la como uma instituição de fato
pública. Evidencia-se uma clara disputa pelo projeto de educação em Paraty. De um lado, o
poder público, através de parcerias públicas privadas, oferece uma educação escolar
aligeirada vinculada à ideologia das classes dominantes, que através dos seus aparelhos
privados de hegemonia, como a Fundação Roberto Marinho, o Instituto Alpargatas, o
Comunitas e a Fundação Itaú Social, subordinam a classe trabalhadora ao empresariado,
contribuindo, através da educação, para reproduzir uma ideologia de fim dos conflitos de
classe, enfraquecendo a luta histórica dos movimentos sociais contra os mecanismos de
expropriação e dominação social. Do outro lado, temos os intelectuais orgânicos dos povos
tradicionais, organizados no Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), que é um
movimento de articulação entre os povos tradicionais indígenas, quilombolas e caiçaras de
Angra do Reis-RJ, Paraty e Ubatuba-SP, lutando por uma educação que fortaleça não só o
movimento, mas, principalmente, que garanta a permanência dos povos tradicionais em seus
territórios, construindo uma outra hegemonia. Se antes a expulsão dos caiçaras de seus
territórios se dava de modo violento (coerção), atualmente se dá basicamente por
mecanismos materiais e ideológicos de convencimento (consenso) dos caiçaras para
aderirem ao projeto hegemônico de sociedade. Tais mecanismos materiais envolvem
dificuldades de continuarem exercendo suas práticas tradicionais, a negação de direitos
sociais e a precarização dos seus modos de vida, que apoiados em uma malha discursiva,
reproduzida pela educação escolar, difunde uma ideologia favorável à vida urbano-industrial
como única opção, levando-os a deixar seus territórios em busca de acesso a políticas
públicas e direitos, na certeza de melhores condições de vida na cidade.
Palavras-chave: Caiçara, Educação, Conflitos.
bem conservada e a mais isolada de Paraty-RJ, enfrentam diversos conflitos socioambientais
decorrentes da expansão capitalista sobre os seus territórios, modificando seus modos de
vida e impedindo ou dificultando a sua reprodução material e simbólica. Com isso, a
educação escolar se tornou necessária como condição objetiva de existência desses povos,
uma vez que a falta de escolas e ausência de conhecimentos científicos têm trazido uma série
de dificuldades, incluindo a manutenção de suas práticas tradicionais (seus trabalhos). Este
artigo tem como objetivo discutir a relação entre a luta pelo território tradicional e o acesso
à educação formal, tendo Gramsci como referencial teórico. A escola vem sendo
reivindicada pelos povos tradicionais, mas a educação escolar não é uma realidade pronta,
estando em disputa, cabendo às lutas sociais consolidá-la como uma instituição de fato
pública. Evidencia-se uma clara disputa pelo projeto de educação em Paraty. De um lado, o
poder público, através de parcerias públicas privadas, oferece uma educação escolar
aligeirada vinculada à ideologia das classes dominantes, que através dos seus aparelhos
privados de hegemonia, como a Fundação Roberto Marinho, o Instituto Alpargatas, o
Comunitas e a Fundação Itaú Social, subordinam a classe trabalhadora ao empresariado,
contribuindo, através da educação, para reproduzir uma ideologia de fim dos conflitos de
classe, enfraquecendo a luta histórica dos movimentos sociais contra os mecanismos de
expropriação e dominação social. Do outro lado, temos os intelectuais orgânicos dos povos
tradicionais, organizados no Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), que é um
movimento de articulação entre os povos tradicionais indígenas, quilombolas e caiçaras de
Angra do Reis-RJ, Paraty e Ubatuba-SP, lutando por uma educação que fortaleça não só o
movimento, mas, principalmente, que garanta a permanência dos povos tradicionais em seus
territórios, construindo uma outra hegemonia. Se antes a expulsão dos caiçaras de seus
territórios se dava de modo violento (coerção), atualmente se dá basicamente por
mecanismos materiais e ideológicos de convencimento (consenso) dos caiçaras para
aderirem ao projeto hegemônico de sociedade. Tais mecanismos materiais envolvem
dificuldades de continuarem exercendo suas práticas tradicionais, a negação de direitos
sociais e a precarização dos seus modos de vida, que apoiados em uma malha discursiva,
reproduzida pela educação escolar, difunde uma ideologia favorável à vida urbano-industrial
como única opção, levando-os a deixar seus territórios em busca de acesso a políticas
públicas e direitos, na certeza de melhores condições de vida na cidade.