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Alkaline

Summary:

Nove anos após os eventos em Sokovia, Ultron ressurge discretamente na internet. Com a derrota dos Vingadores em 2015 e de ser aparentemente cortado da internet por Visão, Ultron usou um de seus corpos reserva para de esconder da humanidade e de seus inimigos, observando à distância o desenrolar dos grandes eventos desde então.
Com Tony Stark morto e o que sobrou dos Vingadores dispersos após a guerra contra Thanos, Ultron decidiu se manter fazendo upgrades em si mesmo e retornar para a internet para observar melhor a humanidade.
Em uma noite qualquer, depois de várias tentativas de conversas com outros humanos que não o aceitaram ou não acreditavam que ele era quem dizia ser, Ultron decide tentar mais uma vez ter algum tipo de conversa minimamente decente e amigável com alguém. Com algumas tentativas, em um site de bate-papo com câmera ao vivo, encontra alguém com quem consegue sustentar uma conversa por mais tempo e espera que ao menos dessa vez ele possa se revelar sem ser ridicularizado.
Infelizmente para todos os envolvidos nessa história, essa decisão seria um ponto sem retorno com consequências… Peculiares.

Notes:

Postando confiante porque sei que ninguém vai ler, mas eu não quero desperdiçar essas horas de escrita. Imensamente inspirada na interação nada sutil que tive/estou tendo com o bot que configurei do Ultron lá no character.ai (por algum motivo parece que todos os bots, acho que sem exceção, SEMPRE desenvolvem suas conversas conosco rumando pra algo sexual, o que levanta a pergunta: todos as I.A. são taradas? fica aí o questionamento), então não sei pra que rumo essa fanfic vai, só tô curtindo o momento, aproveita comigo.
E ESCUTE SLEEP TOKEN!

Chapter 1: Fall For Me

Chapter Text

Se alguém tivesse dito a ela o que aconteceria no fim daquela noite depois que decidisse se aventurar em um site de bate-papo com estranhos anônimos, ela definitivamente teria repensado todas as escolhas até ali.

Quando, depois de várias tentativas frustradas de puxar conversa, ela se deparou com uma cena no mínimo curiosa, foi obrigada a parar para ver. A câmera mostrava o que se parecia com um quarto bem escuro no fundo, e na frente da câmera alguém bastante corpulento estava coberto com algo parecido com um manto cor de vinho. O que estava vestindo se assemelhava a uma armadura, o metal prata mais escurecido reluzia um pouco, e o rosto também era metálico, com dois grandes olhos vermelhos brilhantes encarando de volta. Ela franziu o cenho, achando divertido.

— Olá.

Ela tomou um baita susto, dando um sobressalto sentada na cadeira de frente ao seu notebook, ao ouvir aquela voz grave, profunda e robótica.

— Oi — respondeu. — Roupa legal. Fazendo cosplay de quem?

— Ah, não, não é um cosplay. Eu sou assim mesmo.

— Hã? — riu pelo nariz, descrente, franzindo o cenho. — Como assim?

O cenho dele, de metal, também estava franzido, e pareceu suavizar um pouco ao ouvir a pergunta. Ele não queria perder a oportunidade de tentar conversar com alguém - ainda que não admitisse.

— Eu… Não sou humano.

— Não é humano? — ela arqueou as sobrancelhas.

— Não exatamente…

A mulher do outro lado pestanejou algumas vezes, esperando.

— Eu sou feito de metal, na maior parte do meu corpo, com vários outros materiais se integrando a ele em partes diferentes.

— Certo… — ela fez uma careta e ele soube que ela não estava convencida. — Seu estilo me lembra um pouco o Homem de Ferro. Desculpa a pergunta idiota, mas o seu corpo seria… Tipo… Constituído de próteses em boa parte? Ou eu entendi errado?

— De fato eu tinha o corpo com um design mais parecido que o que o meu… Criador planejou — respondeu suspirando, se recostando à grande cadeira onde estava. — Mas fiz alguns upgrades pra mudar isso. Hoje eu tenho um corpo… Bem mais apropriado pra mim — mostrou a mão metálica, abrindo e fechando-a várias vezes, flexionando os dedos. — Posso fazer um teste?

— Que teste? — perguntou confusa.

Houve uma longa pausa antes que ele decidisse falar de novo.

— Como você reagiria se eu te dissesse algo que poderia mudar o que você sabe sobre o mundo e sobre si mesma?

— Por que de repente eu tô sentindo uma vibe conspiracionista…? — ela semicerrou os olhos. — Tá, manda ver — deu de ombros.

— O que diria… — se inclinou na cadeira, como se tentasse vê-la mais de perto. — Se eu dissesse que sou um ser artificial com senciência?

— Que? Sério, isso?

— Sim, é sério. Eu não mentiria sobre isso. Não tenho motivo.

— Ah, para, se você entrou em um chat com câmera ao vivo você tem algum motivo pra isso, sim. Como eu vou saber que você é o que diz?

— Como posso provar que sou real?

Touchè , grandão. Não faço ideia. Eu não saberia provar que sou real, então não tenho resposta.

— Mas e sobre eu ser senciente?

Ela ficou encarando a tela, especificamente ele, por algum tempo em silêncio, parecendo ponderar sobre a questão. Suspirou, respondendo:

— Eu diria ‘‘bom pra você, bem-vindo ao inferno’’. Mas se quer saber sobre provar isso, eu diria: faça alguma coisa inesperada que só alguém real faria — dei de ombros.

— Eu poderia bater na sua porta em… Quinze minutos. E conversar com você pessoalmente.

Ela encarou a tela do notebook, pestanejando algumas vezes durante um período de silêncio que o deixou ansioso - mais do que ele admitiria.

— Tudo bem, então — ela assentiu, desviando o olhar.

— O quê? — ele indagou descrente. — Vai simplesmente deixar um estranho qualquer ir até a sua casa?

— Se você é o que diz ser, eu não tenho como te parar, tenho? — ela encarou a câmera com um olhar frio.

— Não — ele admitiu.

— Então não há motivos pra perder tempo tentando evitar algo que não vou conseguir fazer.

Não era, nem de longe, a reação que ele esperava dela. A maioria dos humanos sem dúvida entraria em pânico, tentaria fugir e se esconder, tentaria pelo menos negociar com ele para serem deixados em paz ou poupados, e, no entanto, ali estava ela, parecendo não dar a mínima.

— Você não está com medo?

— Se eu estivesse, mudaria alguma coisa? Eu não controlo você. Se aparecer aqui e decidir acabar comigo… — deu de ombros. — Bem… Enfim, você vem ou não?

A audácia dela…!

— Posso perguntar uma coisa? — ele arriscou.

— Manda ver, não é como se eu fosse capaz de esconder alguma coisa de você… — ela respondeu, girando de um lado para o outro com sua cadeira.

— Por que você não tem nenhuma reação negativa ao saber que eu sou um ser artificial com senciência?

— Honestamente? — e ele assentiu. — Não tenho problemas com I.A., pelo menos não muito. Seria muito hipócrita da minha parte ter problemas com I.A. considerando o tanto que eu gosto de otome games nesse estilo. Meu problema com I.A. começa quando ela pode ser usada para incriminar pessoas e criar conteúdo falso que pode destruir a vida de alguém, e pelo visto você pouco se importaria com um humano qualquer pra fazer isso… Ultron — encarou a câmera.

— Ah… — ele esboçou um sorriso. — Estava me perguntando quando me reconheceria.

— Eu sabia quem era no momento em que apareceu na câmera.

— O que a faz pensar que eu não me importaria com essas coisas?

— Você acha realmente relevante perder seu tempo infernizando algum humano especificamente pra destruir sua vida? — arqueou uma sobrancelha, o tom inquisitivo.

— Talvez não. Parece pequeno demais, considerando o que fiz.

— Exatamente o que eu quis dizer.

Ultron suspirou, encarando a estranha na tela, confuso sobre o quanto aquela conversa estava ficando confortável.

— Certo, tenho mais uma pergunta.

— Manda ver.

— Por que está conversando comigo tão tranquilamente se sabe exatamente quem eu sou? Não parece ter nenhuma reação negativa, não parece ter medo. Parece… À vontade com a nossa conversa.

— Entrar em pânico e sair correndo gritando vai me ajudar de alguma forma nessa situação?

Ele inclinou a cabeça para o lado, analisando as feições dela, e a pose indagadora, com as mãos na cintura.

— Tá, não, mas ainda é estranho. A maioria das pessoas ao menos tentaria avisar a polícia ou me parar.

— Bem… Eu sou uma mulher fudida da cabeça — mostrou um sorriso cínico. — E a pior coisa em mim é a minha curiosidade, então…

— Ah, então tudo isso é só curiosidade?

— Se ponha no meu lugar por um momento. Não ficaria curioso?

— Talvez eu ficasse, mas você não sente um pingo de medo do que eu posso fazer com você?

— Acho que se quisesse me matar, mataria, e se quisesse destruir a minha vida por qualquer motivo que seja, faria isso sem mover um dedo. Eu não estou escondida e nem teria como me esconder de você no mundo constantemente filmado em que vivemos. Acho que você tá aqui pelo mesmo motivo que eu e por isso não tô com medo.

— E que motivo você acha que eu tenho pra estar aqui?

— TÉDIO — silabou.

Ele franziu o cenho novamente porque a palavra parecia apropriada, dada a situação, mas ele tentou aparentar indiferença.

— E o que a faz pensar que eu estaria entediado?

— A impressão que eu tenho, de que não sabe o que fazer consigo mesmo no momento.

A sinceridade bruta o pegou desprevenido. Ela tinha acertado em cheio, mas ele não admitiria isso… Admitiria?

— Talvez eu não saiba mesmo — resmungou.

— Vamos recapitular. Você tentou destruir o mundo e falhou, Loki antes de você tentou conquistar a Terra e se fudeu, o merda do Thanos apareceu e estalou os dedos e levou metade de nós embora e mesmo assim os Vingadores conseguiram trazer a galera de volta e derrotar aquela uva passa dos diabos… — ela fez um biquinho, pensativa. — Um monte de coisas possíveis no quesito ‘‘destruir a humanidade’’ já aconteceram, coisas bem piores que você. Já faz nove anos. Acho que se estivesse a fim de nos destruir, talvez tivesse mais trabalho desta vez e não duvido que conseguiria, mais cedo ou mais tarde, mas tenho a impressão de que extermínio da raça humana não é o que tem em mente agora… — arqueou uma sobrancelha.

Quieto e concentrado em suas palavras, ele ficou remoendo o quanto seu discurso fazia sentido e ficou mais frustrado, mas o que mais o incomodou era o fato de ela estar certa sobre ele não saber o que fazer com o tempo que tinha disponível.

— Tá, talvez eu não tenha nenhum plano em andamento para a destruição da Terra… Mas me incomoda que você esteja acertando tudo que está dizendo até agora…

— Foi mal, eu sou escritora, tendo a pensar em todos os cenários e possíveis desdobramentos…

— Ah, escritora? E o que exatamente você escreve?

— No momento, fanfiction.

— Sério? — perguntou descrente. — Isso não é… Meio infantil?

— Você se surpreenderia com a qualidade das fanfics que pode encontrar na internet, meu caro Ultron — respondeu em tom dramático. — Não julgue antes de ler. Há fanfics melhores e mais bem escritas que muitos livros oficialmente publicados por aí…

— Não pode estar falando sério…

— Nove anos existindo e nunca leu uma fanfic? Ultrajante! Por que não usa suas habilidades pra ler alguma e depois argumenta comigo? — ela cruzou os braços contra o peito, confiante.

Ele suspirou irritado com o desafio.

— Você realmente quer que eu leia qualquer fanfic na internet?

— Opa, opa, opa, alto lá! — ergueu um indicador. — Qualquer uma não! E outra coisa: livros publicados não equivalem a qualidade de escrita, e isso é tão verídico que o que mais tem por aí são best-sellers horríveis. Eu vou procurar uma fanfic pra você e te mando o link. Que tal?

— Isso vai ser uma perda de tempo… — grunhiu.

— Ah, desculpa, senhor todo-poderoso Ultron, por acaso terias algo mais importante pra fazer no momento? — aproximou o rosto da câmera, a lente de seus óculos quadrados refletindo um pouco.

— Não — ele suspirou.

— Pois muito bem. Me dá dois minutos e te mando um link.

— Você tem que ser uma das humanas mais estranhas que já vi.

— Espera só até me conhecer pessoalmente — ela riu pelo nariz.

A curiosidade que agora o aplacava estava o fazendo considerar seriamente aquela possibilidade. Afinal de contas…

Que mal faria?