Resumopara Decisores
Resumopara Decisores
Resumopara Decisores
Comissários:
Professor Sir John Beddington, Chair, Reino Unido
Dr. Mohammed Asaduzzaman, Bangladesh
Drª. Megan Clark, Austrália
Dr. Adrian Fernández, México
Drª. Marion Guillou, França
Professor Molly Jahn, Estados Unidos da América
Professor Lin Erda, China
Professor Tekalign Mamo, Etiópia
Dr. Nguyen Van Bo, Vietname
Dr. Carlos A Nobre, Brasil
Professor Robert Scholes, África do Sul
Drª. Rita Sharma, Índia
Professor Judi Wakhungu, Quénia
A LC A N Ç A R S EG U R A N Ç A A L I M E N TA R F A C E À S M U D A N Ç A S C L I M ÁT I C A S
Comissários: Agradecimentos
Professor Sir John Beddington, Chair, Reino Unido Sr. Odd Arneson, Norwegian Agency for Development Cooperation
Dr. Mohammed Asaduzzaman, Bangladesh Institute of Development (Norad)
Studies, Bangladesh Drª. Marie-Caroline Badjeck, WorldFish Centre
Dr. Adrian Fernández, Metropolitan University, México Sr. Paul Barnett, CSIRO
Drª. Megan Clark, Commonwealth Scientific and Industrial Research Dr. Ademola Braimoh, World Bank
Organisation (CSIRO), Austrália Dr. Bruce Campbell, Consortium of International Agricultural Research
Drª. Marion Guillou, French National Institute for Agricultural Research (CGIAR) Research Program on Climate Change, Agriculture and Food
(INRA), França Security (CCAFS)
Professor Molly Jahn, University of Madison-Wisconsin, Estados Unidos Sr. Volli Carucci, World Food Programme (WFP)
da América Srª. Beatrice Darcy-Vrillon, INRA
Professor Lin Erda, Chinese Academy of Agricultural Sciences, China Professor Alex Evans, New York University
Professor Tekalign Mamo, Ministry of Agriculture, Etiópia Srª. Rebecca Fisher-Lamb, United Kingdom Government Office for
Dr. Nguyen Van Bo, Viet Nam Academy of Agricultural Science, Vietname Science
Dr. Carlos A Nobre, Ministry of Science, Technology and Innovation, Professor Charles Godfray, Oxford University
Brasil Sr. Elwyn Grainger-Jones, International Fund for Agricultural
Professor Robert Scholes, Council for Scientific and Industrial Research Development (IFAD)
(CSIR), África do Sul Dr. Herve Guyomard, INRA
Drª. Rita Sharma, National Advisory Council, Índia Dr. Stefan Hajkowicz, CSIRO
Professor Judi Wakhungu, African Center for Technology Studies (ACTS), Dr .Ulrich Hoffmann, United Nations Conference on Trade and
Quénia Development (UNCTAD)
Sr. David Howlett, University of Leeds
Dr. Brian Keating, CSIRO
Secretariado da Comissão
Sr. Danny Martinez, International Center for Tropical Agriculture (CIAT)
Sr. Musa Muwanga, National Organic Agricultural Movement of Uganda
(NOGAMU)
Coordenadora da Comissão: Drª. Christine Negra
Dr. Henry Neufeldt, World Agroforestry Centre (ICRAF)
Gestora de Comunicações: Srª. Vanessa Meadu
Sr. Randall Purcell, WFP
Coordenadora de Eventos: Srª. Ratih Septivita
Sr. Scott Ronchini, WFP
Assistentes de Investigação: Srª. Cecilia Schubert, Srª. Helena Wright
Professor Cynthia Rosenzweig, Columbia University
Professor Tim Searchinger, German Marshall Fund/Princeton University
Srª. Emmy Simmons, Meridian Institute AGree Initiative
Dr. Egizio Valceschini, INRA
Drª. Sonja Vermeulen, CCAFS
Dr. Paul West, University of Minnesota
Drª. Elizabeth Warham, United Kingdom Government Office for Science
2
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Num planeta com alimentos suficientes para todos, um bilião Em muitas regiões existem grandes falhas entre o rendimento
de pessoas passam fome2. Outro bilião consome para além actual e o rendimento potencial das culturas. Todos os anos,
do necessário, aumentando os riscos de doenças crónicas3. O cerca de 12 milhões de hectares de terras agrícolas, que
sistema alimentar enfrenta a pressão adicional que a poderiam potencialmente produzir 20 milhões de toneladas
população mundial cresce, para cerca de 9 bilhões até 20504, de grãos, são perdidos para a degradação da terra,
e que as dietas estão a mudar em direcção a um maior acrescentando-se os biliões de hectares que já estão
consumo de calorias, gorduras e produtos de origem animal. degradados5. Estima-se que um terço dos alimentos
A insegurança alimentar atinge comunidades por todo o produzidos para consumo humano é perdido ou
mundo onde a pobreza impede o acesso garantido ao desperdiçado em todo o sistema global de alimentos6. É claro
aprovisionamento de alimentos. Além de causar sofrimento que nossas escolhas colectivas relacionadas com os sistemas
humano generalizado, a insegurança alimentar contribui para agrícolas e alimentares devem ser revistas.
a degradação e esgotamento dos recursos naturais, para a
migração para as áreas urbanas e além fronteiras e para a O nosso clima está a mudar e, dados os níveis de gases com
instabilidade política e económica. efeito de estufa já existentes na nossa atmosfera, eles vão
continuar a fazê-lo. Eventos climáticos extremos, tais como
A ineficácia das cadeias de abastecimento de alimentos têm altas temperaturas, secas e inundações, já são mais
um impacto negativo sobre o meio ambiente, menor frequentes e graves e têm terríveis consequências sociais,
produtividade e desperdício de alimentos. As práticas económicas e ecológicas. As temperaturas médias globais
agrícolas actuais, incluindo a desflorestação e o uso ineficaz cada vez mais altas são prováveis se não se registarem
de fertilizantes e resíduos orgânicos, tornam a agricultura mudanças drásticas nas emissões de gases com efeito de
num contribuinte significativo das emissões de gases com estufa através de uma vasta gama de actividades humanas.
efeito de estufa no planeta. Do portão da quinta até aos Nas próximas décadas, a mudança climática global terá um
consumidores, a refrigeração e outras actividades da cadeia efeito adverso total na produção agrícola e levar-nos-á em
de abastecimento são uma importante fonte adicional de direcção, e talvez para além, dos limiares críticos em muitas
emissões de gases com efeito de estufa. Como a procura regiões. Espera-se que as áreas actualmente a sofrerem de
global por culturas de alimentos, de forragem de bioenergia insegurança alimentar vivam, desproporcionalmente, efeitos
está a aumentar, muitos sistemas agrícolas estão a esgotar os negativos. Para reduzir o efeito das mudanças climáticas no
recursos hídricos, da biodiversidade e da fertilidade do solo. fornecimento de alimentos, meios de subsistência e
economias, precisamos aumentar muito a capacidade de
1
Este resumo para decisores políticos é complementado por um relatório detalhado
de descobertas e recomendações, bem como documentos de referência. adaptação (sustentabilidade) na agricultura – face às
2
Food and Agriculture Organization of the United Nations. 2010.
3
Foresight. 2007; WHO / FAO. 2003; Haslam and James. 2005. 5
UNCCD. 2011; Bai et al. 2008.
4
United Nations Population Division. 2010. 6
Gustavsson et al. 2011.
3
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tendências climáticas a longo prazo e à variabilidade Pessoas a viverem em áreas secas 2 biliões
crescente – como uma prioridade urgente. (2007)14
4
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Imagem:
Hugo Ahlenius,
UNEP/GRID-Arendal
Fertilização
-50% -15% 0 +15% +35%
Sem dados
Fonte: Cline. 2007. As projecções assumem um aumento uniforme de 15% em produções devido ao efeito de fertilização de aumentar o CO2 na
atmosfera, em algumas espécies de plantas. (Tenha em atenção que esta análise aos cereais grossos não representa os impactos a nível local que
necessitam de uma análise geograficamente específica.)
acompanhada por uma acção concertada para reduzir as Na Europa, América do Norte e noutros lugares, a conjugação
emissões de gases com efeito de estufa provenientes da de uma agricultura intensiva, de práticas de armazenamento
agricultura para evitar a aceleração das mudanças climáticas de alimentos, de sistemas de retalho e de hábitos
e evitar ameaças à viabilidade, a longo prazo, da agricultura alimentares produzem elevadas emissões de gases com
global. Fazer essas alterações, embora tecnicamente sejam efeito de estufa e de resíduos alimentares per capita. A
viáveis, exigem uma acção urgente, colectiva e diversidade ambiental e humana do planeta proíbe a
substancialmente maior a nível internacional, nacional e local. imposição de uma só solução adequada para todos ("one-
size-fits all").
Dado que as mudanças climáticas amplificam os condutores
ambientais e socioeconómicos da insegurança alimentar, é As preocupações humanitárias, ambientais e de segurança
imperativo que se priorize o onde, como e quando agir. As global exigem um compromisso global para melhorar o lote
ameaças provocadas pelas mudanças climáticas para o
fornecimento de alimentos e meios de subsistência tendem
a ser espacialmente variáveis. Teremos que identificar
"hotspots" globais, onde existem as maiores ameaças e
desenvolver intervenções específicas, práticas para
aumentar a resiliência nessas áreas. Por exemplo, algumas
das regiões produtoras de "foo" mais importantes do mundo
ficam nas mega-deltas que estão ameaçadas por taxas
crescentes de intrusão salina. Em África, as disparidades
pronunciadas entre as colheitas reais e as colheitas
potenciais e a diminuição da base territorial per capita21
inibem a segurança alimentar.
5
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O Vietname, um
importante país
exportador de arroz,
obtém uma
A área florestal na Etiópia produção média de
diminui 1% todos os anos. arroz na estação
98,490,000 metros chuvosa de apenas
cúbicos de lenha foram 63% de produção
consumidos em 200838. económica e de
50% de produção
potencial
climática32.
A agricultura mexicana Estima-se que as perdas
é responsável por pós-colheita da
77% da utilização de produção anual de
água, mas apenas 4% frutas e vegetais na Índia
do PIB e 13% da área seja de 20% devido ao
de terra total. 3,2% da empacotamento33 e
terra mexicana é refrigeração34 no
irrigada42. transporte serem
inadequados.
A maior economia da Uma mudança climática
África, com uma taxa de e a alocação de água
literacia de 88%, mas a excessiva ameaça a
esperança média de vida é Uma das economias mais
desenvolvidas da África Bacia Murray-Darling,
A desflorestação e as mudanças no de apenas 52 anos39. Um que fornece a água para
quinto dos sul-africanos oriental, mas um terço dos
uso do solo associadas à agricultura quenianos estão mais de 3 milhões de
são responsáveis por mais de 70% vivem com menos de 1,25 pessoas e para a
dólares americanos40. subnutridos36. 4 em cada 5
das emissões de gases com efeito de quenianos dependem da irrigação agrícola no
estufa no Brasil, um dos principais agricultura como seu meio valor de 5 biliões de
produtores de alimentos do mundo41. de subsistência37. dólares americanos por
ano35.
Figura 2. Exemplos regionais de ameaças de mudanças climáticas, crescimento populacional e utilização de recursos não
sustentáveis.
22
National Academy of Sciences. 2010. 33
Choudhury. 2006.
23
Nelson et al. 2011. 34
Mittal. 2007.
24
Cabinet Office. 2008. 35
Prosser. 2011.
25
WRAP. 2008. 36
FAO. 2011a.
26
FAO Country Profiles: France; Etilé. 2010; Reardon et al. 2003. 37
World Bank. 2010a.
27
World Bank. 2010a. 38
FAO. 2011b.
28
Foresight. Migration and Global Environmental Change. 2011. 39
FAO Country Profiles: South Africa
29
Foley et al. 2011. 40
World Bank. 2010b.
30
FAO Country Profiles: China 41
World Bank. 2010a.
31
World Bank. 2010a. 42
FAOStat: Mexico
32
Laborte et al. 2011.
6
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de grande proporção da população humana, que está Muitos milhões de pessoas por todo mundo dependem da
actualmente insegura ou vulnerável face à insegurança agricultura para subsistência básica. Os esforços para
alimentar. Isto exige que tenhamos de construir resiliência reduzir as emissões de gases com efeito de estufa líquidas
face às oscilações climáticas e à volatilidade dos preços dos provenientes da agricultura não devem ter efeitos perversos
alimentos, parar a degradação da terra e aumentar as na segurança alimentar e nos meios de subsistência dessas
infraestruturas e os bens produtivos. Existem muitos pontos pessoas. As técnicas de restauro de áreas degradadas e de
para entrar em acção. Muitas políticas e programas captura de carbono no solo para melhorar a produtividade
oferecem uma vasta prova dos múltiplos benefícios para os futura deverão aumentar ou estabilizar a produção de
meios de subsistência e para o ambiente, com participação alimentos. Nos locais onde o caminho para a
significativa em escalas locais e regionais. sustentabilidade a longo prazo significa a redução da
A comunidade mundial deve operar dentro de três limites: a quantidade de alimentos que podem ser produzidos num determinado clima; a
quantidade necessária por uma população em crescimento e em modificação; e o efeito da produção de alimentos no clima. Actualmente, o planeta
funciona fora daquele espaço seguro, como é testemunhado pelo número enorme de pessoas que estão subnutridas. Se as actuais tendências de
crescimento populacional, regimes alimentares, produções das colheitas e mudanças climáticas continuarem, o mundo ainda estará fora deste
"espaço operacional seguro "em 2050. A situação, então, será insustentável e haverá muito pouco espaço de manobra. Várias alterações podem ser
feitas quer para ampliar o espaço seguro quer para nos movermos a nós próprios para esse mesmo espaço. Por exemplo, a procura mundial por
alimentos vai aumentar com o crescimento da população, mas a quantidade de alimentos por pessoa que necessita de ser produzida pode ser
reduzida eliminando-se os desperdícios das cadeias de abastecimento, garantindo um acesso mais justo aos alimentos e avançando-se para
regimes alimentares mais ricos em vegetais e mais eficientes ao nível dos recursos (e mais saudáveis. A inovação agrícola, incluindo uma melhor
gestão hídrica e A comunidade mundial deve operar dentro de três limites: a quantidade de alimentos que podem ser produzidos num determinado
clima; a quantidade necessária por uma população em crescimento e em modificação; e o efeito da produção de alimentos no clima. Actualmente, o
planeta funciona fora daquele espaço seguro, como é testemunhado pelo número enorme de pessoas que estão subnutridas. Se as actuais
tendências de crescimento populacional, regimes alimentares, produções das colheitas e mudanças climáticas continuarem, o mundo ainda estará
fora deste "espaço operacional seguro "em 2050. A situação, então, será insustentável e haverá muito pouco espaço de manobra. Várias alterações
podem ser feitas quer para ampliar o espaço seguro quer para nos movermos a nós próprios para esse mesmo espaço. Por exemplo, a procura
mundial por alimentos vai aumentar com o crescimento da população, mas a quantidade de alimentos por pessoa que necessita de ser produzida
pode ser reduzida eliminando-se os desperdícios das cadeias de abastecimento, garantindo um acesso mais justo aos alimentos e avançando-se
para regimes alimentares mais ricos em vegetais e mais eficientes ao nível dos recursos (e mais saudáveis. A inovação agrícola, incluindo uma
melhor gestão hídrica e uma correspondência cuidadosa das culturas aos ambientes, pode ajudar a adaptar os sistemas alimentares às mudanças
climáticas, mas não se o mundo aquecer excessivamente. Num mundo mais quente será impossível produzir até os níveis actuais de alimentos. A
redução das emissões de gases com efeito de estufa em actividades relacionadas com a agricultura permitirá que as pessoas satisfaçam as suas
necessidades alimentares, enquanto ajuda a manter o clima global dentro de um nível tolerável. Desenvolvido em colaboração com a Universidade
de Minnesota, "Global Landscapes Initiative". Uma versão animada deste diagrama pode ser acedida em http://bit.ly/SafeSpaceClimateFood
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produtividade a curto prazo serão necessários incentivos nossos esforços de forma a assegurar um sistema alimentar
económicos e programas de transição. Devem ser tomadas mais sustentável e saudável para as nossas próprias e
acções específicas para ajudar os mais vulneráveis aquando futuras gerações.
dos aumentos a longo e curto prazo no preço dos alimentos
em vez de se depender de efeitos económicos benéficos. A Como uma comunidade global, precisamos de ir em
segmentação adequada de um port-fólio de intervenções em direcção a um "espaço operacional seguro" que forneça uma
pontos chave de vulnerabilidade, tais como a satisfação das alimentação e nutrição adequadas para todos sem
necessidades alimentares e nutricionais de mães e crianças ultrapassar os limiares críticos ambientais. Definir um rumo
jovens, terão retornos desproporcionalmente positivos na em direcção a este espaço vai exigir tecnologias,
produtividade e desenvolvimento futuros. instituições e políticas inovadoras e colocará à prova a
nossa desenvoltura social, tecnológica e agrícola. Em todas
Os múltiplos desafios emergentes - insegurança alimentar e as circunstâncias, necessitaremos da gestão a vários níveis
desnutrição, mudanças climáticas, a crescente competição que concilia a participação, a aprendizagem e a capacidade
pela energia e água, degradação da terra e da de corrigir o rumo. Para sermos bem sucedidos vamos
biodiversidade - estão ligados de formas complexas e necessitar de uma apreciação de agricultura, forte,
exigem uma abordagem de gestão integrada. A gestão e a vastamente partilhada, como uma empresa multifuncional
governação sustentáveis para melhorarem a segurança que oferece uma alimentação nutritiva, desenvolvimento
nutricional, a prosperidade económica e os resultados rural, serviços ambientais e património cultural, através e
ambientais necessitarão de um sistema global muito melhor além do século 21.
para integrar, em tempo real, as informações espacialmente
explícitas sobre a agricultura, os serviços do ecossistema, os Sem um compromisso global para reduzir as emissões de
mercados e as populações humanas. Os investimentos gases com efeito de estufa de todos os sectores, incluindo a
existentes e futuros na informação e conhecimento devem agricultura, nenhuma sustentabilidade agrícola será
ser estruturados para identificarem limites, informarem suficiente no clima desestabilizado do futuro. Ainda que a
quais os compromissos e fornecerem orientações práticas mudança tenha custos significativos, o custo de permanecer
para um futuro sustentável e não apenas para maximizarem no caminho actual já é enorme e continua a crescer. Dadas
componentes individuais do sistema alimentar. Um sistema as condições já intoleráveis para muitos meios de
de informação como este vai fornecer-nos uma melhor subsistência e ecossistemas, bem como o atraso entre a
compreensão dos sistemas dinâmicos dos quais investigação e desenvolvimento e aplicação generalizada,
dependemos e irá permitir que renovemos e ampliemos os necessitamos de tomar medidas urgentes.
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oferta e obrigações para os distribuidores separarem e Apoiar uma maior transparência e acesso à informação
reduzirem o desperdício de alimentos. nos mercados globais de alimentos e investir em
Promover o diálogo e promover parcerias de trabalho em sistemas de informação interligados com protocolos
toda a cadeia de abastecimento alimentar de forma a comuns baseados em instituições existentes.
garantir a eficácia e a eficiência das medidas de redução Desenvolver, validar e implementar dados espacialmente
de desperdícios (por exemplo, redireccionando o explícitos e sistemas de apoio a decisões que integrem
desperdício de alimentos para outros fins) e não criar informações biofísicas e sócio-económicas, e que
incentivos perversos. permitam aos decisores políticos encontrar medidas de
compromisso entre a intensificação agrícola, a segurança
7. Criar sistemas de informação abrangentes, nutricional as consequências ambientais.
partilhados, integrados que englobem as dimensões
humanas e ecológicas Somente através da implementação de mudanças reais em
todo o sistema alimentar global seremos capazes de
Sustentar e aumentar o investimento na monitorização alcançar a segurança alimentar e um clima estável a longo
regular, no terreno e através de redes de detecção prazo. Isto irá necessitar de uma ruptura na actividade
remota de domínio público, a fim de identificar comercial actual e um forte compromisso partilhado entre os
mudanças no uso do solo, na produção alimentar, no decisores políticos, os investidores, os produtores agrícolas,
clima, no ambiente, na saúde humana e no bem-estar a os consumidores, as empresas do sector alimentar e os
nível mundial. investigadores.
Os decisores políticos necessitam de melhores instrumentos e dados para analisar as opções e os compromissos.
Foto: N Palmer (CIAT)
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sucesso no crescimento de inclusão – uma redução na pobreza da tecnologias de irrigação, assim como para melhorar os sistemas
população de 20% em 2004, para 7% em 2010 – o Brasil tem um industriais e a variedade de culturas. No âmbito do Fundo Especial
conjunto de políticas e programas complementares para reduzir o para as Mudanças Climáticas, foram lançados projectos-piloto para
impacto ambiental da agricultura. Como o quinto maior país desenvolver fontes alternativas de água, adoptar tecnologias de
emissor de gases com efeito de estufa do mundo, 80% do poupança de água e fazer uma gestão sustentável da irrigação e
compromisso do Brasil ao abrigo do Acordo de Copenhaga será drenagem nas bacias dos rios Amarelo, Huaihe e Haihe, bem como
cumprido pelos sectores agrícola e florestal. Estes dois sectores na região de Ningxia Hui. As estratégias bem sucedidas serão
geram mais de 70% das emissões domésticas. Para cumprir a sua integradas em planos nacionais futuros. As metas para as
meta de reduzir a taxa de desflorestação na Amazónia em 80% até mudanças climáticas na China para 2010, como a redução de 15%
2015, o Brasil estabeleceu planos de zoneamento ecológico e de fontes de combustível não-fósseis para consumo de energia e a
económico, bem como um sistema de monitorização por satélite florestação de 40 milhões de hectares, têm sido incentivadas por
para permitir uma acção imediata contra o corte ilegal de árvores49. meio de subsídios, rotulagem energética e incentivos fiscais.
O Plano Nacional do Brasil para as Mudanças Climáticas, que
entrou em vigor em 2008, merece crédito pelos êxitos conseguidos Etiópia: resposta previsível, complementar a longo prazo para a
na redução da desflorestação e na mudança para uma agricultura segurança alimentar
com baixas emissões. As leis de zoneamento agroecológico para a Os apoios às populações cronicamente com insegurança alimentar
cana-de-açúcar e o óleo de palma equilibram o uso competitivo do podem ser concebidos para proteger e criar recursos a nível
solo e visam múltiplos objectivos nos sectores agrícola, florestal, doméstico e comunitário como alternativa aos pedidos alimentares
hídrico e energético50. Os documentos políticos chave, como o de emergência anuais. Na Etiópia, o Programa de Rede de
Plano Nacional, o Plano Amazónia Sustentável e o Plano Nacional Segurança Produtiva (PSNP) adopta uma abordagem orientada
de Recursos Hídricos, proíbem o cultivo de cana-de-açúcar em para o desenvolvimento da ajuda alimentar que cria uma rede de
áreas protegidas, como, por exemplo, a Amazónia e o Pantanal51. O segurança governamental garantida e uma maior previsibilidade
Código Florestal proporciona a manutenção da cobertura florestal para os pequenos agricultores55. Ao combinar o financiamento de
em propriedades privadas nas zonas rurais. O Banco de dadores internacionais (mais de 1,27 milhões de dólares
Desenvolvimento do Brasil também reestruturou as suas directrizes americanos nos últimos seis anos) com infra-estruturas,
de concessão de empréstimos que passam a depender de medidas laboratórios e financiamentos (500.000 dólares por ano)
de protecção ambiental que impedem a desflorestação e a fornecidos pelo governo, o PSNP garante o acesso a alimentos,
poluição da terra e da água. estimula os mercados e reabilita os recursos naturais56. As famílias
com insegurança alimentar crónica constituídas por adultos
China: investigação, políticas e programas-piloto promovem a capazes recebem transferências de dinheiro e alimentação pela
mitigação e a adaptação agrícola participação com a sua mão-de-obra em obras públicas intensivas,
Na China, os recentes avanços na produtividade agrícola e na enquanto outras famílias recebem transferências incondicionais. O
redução da pobreza foram realizados com base num estudo público tem criado iniciativas para melhorar a qualidade do solo, o
significativo da agricultura doméstica e de desenvolvimento. Com abastecimento de água, as condições ecológicas, bem como as
aproximadamente 10% de aumentos anuais desde 2001, a infra-estruturas e serviços sociais, conforme priorizado por uma
Pesquisa & Desenvolvimento agrícola gastou 1,8 biliões de dólares abordagem de planeamento de bacias hidrográficas participativa.
americanos em 2007 e retirou cerca de sete pessoas da pobreza O PSNP está perto de atingir os 7,7 milhões de beneficiários,
por cada 1500 dólares americanos de investimento52. As políticas e encontrando-se actualmente na sua terceira fase e estando
os programas-piloto nacionais também incentivam a adaptação e operacional em 317 distritos administrativos ("woredas"). O
mitigação agrícola53. O Plano para a Construção de Projectos de
Cultivo Protegido irá cobrir 2,7 milhões de hectares em 2009-2015.
Além de aumentar a resistência do solo à seca, serão salvos 1,7 a
2,5 biliões de metros cúbicos de água de irrigação. Até ao final de
2009, 25,6% das pastagens chinesas foram vedadas ao pastoreio
ou haviam sido convertidas em pousio ou usadas para pastoreio
rotativo, enquanto 1,6 milhão de hectares de pastagens
degradadas foram novamente replantadas54. Implementaram-se
estratégias para aumentar a produção de arroz, reduzindo ao
mesmo tempo as emissões de gases com efeito de estufa. Entre
estas estratégias incluem-se o incentivo aos agricultores para o
cultivo de espécies de arroz de baixa emissão e de alto
rendimento, o uso de métodos de irrigação intermitentes e a
transformação da palha em matéria-prima de biomassa para a
produção de combustíveis, produtos e energia. Estabeleceram-se
subsídios para poupar água nas máquinas, equipamentos e
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Programa de Acção relativo a Resíduos e Recursos (WRAP) que nos EUA ou no exterior. Estas normas incluem a garantia de que
trabalha directamente com as empresas, os particulares e as produtos orgânicos são produzidos sem antibióticos, pesticidas,
comunidades no sentido de reduzir os desperdícios alimentares. hormonas ou técnicas de bioengenharia e que seguem os critérios
Os desperdícios domésticos de produtos alimentares e bebidas de conservação do solo e da água, bem como o bem-estar dos
representam 12 biliões de libras de valor perdido e 20 milhões de animais. Os produtos devem ser certificados como sendo 95% ou
toneladas de CO2 equivalentes em emissões todos os anos68. A mais orgânicos para terem o rótulo orgânico USDA, ou 70% ou
pesquisa do WRAP visa encontrar formas de reduzir a quantidade mais orgânicos para terem o rótulo "feito com ingredientes
de alimentos desperdiçada pelos consumidores e abrange os orgânicos"71. As empresas ou particulares que vendem produtos
hábitos, atitudes e comportamentos dos consumidores, bem como com rótulos orgânicos mas não cumprem as normas do USDA
os meios apropriados de comunicar para públicos prioritários e podem ser multados até 10.000 dólares por cada violação. Os
inovação no comércio retalhista. Em parceria com o WRAP, o sector complicados processos de certificação podem excluir os pequenos
grossista fez mudanças para ajudar consumidores a comprarem a agricultores orgânicos. Desta forma, a certificação USDA isenta os
quantidade certa de produtos alimentares com maior facilidade e a produtores orgânicos com vendas orgânicas inferiores a 5000
optimizar sua frescura e valor, e implementou, ainda, campanhas dólares (por exemplo, os agricultores que vendem pequenas
direccionadas para o consumo (por exemplo, "Love Food Hate quantidades nos mercados de produtores).
Waste"). Em resultado disso, 670.000 toneladas de desperdícios
alimentares foram desviadas dos aterros, permitindo poupar 600 Vietname: desenvolvimento de técnicas para obter rendimentos
milhões de libras por ano69. mais elevados e benefícios climáticos
A sustentabilidade agrícola depende do desenvolvimento e da
Estados Unidos da América: padrões de certificação informam aplicação de técnicas agrícolas que criem, simultaneamente, uma
sobre as opções dos consumidores maior produção e rendimento, a resistência às condições
Os governos nacionais desempenham um papel fundamental na climáticas e a mitigação aos gases com efeito de estufa. Face ao
certificação e cumprimento das normas alimentares e de rotulagem declínio estimado de 12-14% na produção mundial de arroz devido
para garantir que os consumidores recebem informações precisas às mudanças climáticas72 por volta de 2050, a Gestão Integrada
sobre a forma como os produtos agrícolas são cultivados e das Culturas (ICM) ajuda os agricultores a melhorarem a sua
processados, sobre o seu valor nutricional e o seu impacto produção enquanto se adaptam às mudanças do clima e à
ambiental. Desde 1990 até 2010, as vendas dos produtos escassez de recursos. O ICM foi criado para ajudar os pequenos
orgânicos nos EUA cresceram de 1 mil milhão de dólares para perto agricultores, reduzindo a necessidade de maiores investimentos e
dos 27 mil milhões70. Isto fez com que a certificação para se mão-de-obra. No método do ICM, o Humedecimento e Secagem
verificar as reclamações dos agricultores de produtos orgânicos se Alternativos (AWD) e a adubação equilibrada nos campos de arroz
tornasse fundamental. As regras de rotulagem sobre produtos diminuem as emissões de metano e dióxido de azoto em
orgânicos implementadas pelo Departamento de Agricultura dos comparação com as inundações contínuas73. Há menos
Estados Unidos (USDA) exigem que os produtos orgânicos necessidade do uso de fertilizantes, entre outros, e assim as
cumpram as normas estabelecidas, quer estes sejam produzidos emissões de gases com efeito de estufa indirectas são
minimizadas. São atribuídos aumentos no rendimento, em parte,
para se obterem sistemas radiculares mais robustos e a uma
melhor resistência a factores bióticos e abióticos. No Vietname, o
programa do ICM teve início em 2002 e por volta de 2004 já
empregava 103.000 agricultores em 13 províncias (ou seja, 15%
da região do delta do Mekong produzia duas colheitas de arroz por
ano). Em comparação com os locais de controlo, estas quintas
tiveram um aumento significativo no rendimento dos cereais e um
uso muito inferior de fertilizantes de azoto, sementes, água e
pesticidas, levando a uma redução significativa dos custos de
produção e a maiores lucros. Um estudo recente afirma que os
agricultores vietnamitas estão a implementar o ICM em mais de 1
milhão de hectares. O Sistema de Intensificação do Arroz (SRI) tem
demonstrado resultados positivos como método alternativo ao ICM
no Vietname. As demonstrações e as campanhas de divulgação no
local financiadas pela Oxfam, têm levado os agricultores a agirem
como agentes de extensão locais e a ajudaram a implementar o SRI
em 21 províncias. Um estudo de 2008 constatou rendimentos SRI
superiores em média 11%, uma diminuição de 16% no uso de
fertilizantes, uma redução de 45% na frequência da aplicação dos
pesticidas, uma redução média de 35% nas despesas de irrigação
Pequena agricultora colhe verduras orgânicas na Virgínia, EUA. e um aumento de 50% no rendimento74.
Foto: L Cheung (USDA)
71
USDA. 2011.
68
WRAP. 2011. www.wrap.org.uk
72
Nelson et al. 2009.
69
Ibid.
73
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70
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74
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19
Alcançar a segurança alimentar face às mudanças climáticas
Resumo para decisores políticos
A Comissão para a Agricultura Sustentável e as Mudanças Climáticas foi criada pelo Programa CGIAR de Pesquisa sobre
Mudanças Climáticas, a Agricultura e Segurança Alimentar (CCAFS) com o apoio da Plataforma Global de Dadores para o
Desenvolvimento Rural (GDPRD) com o intuito de produzir um conjunto claro e autorizado de recomendações de
políticas. A Comissão reúne cientistas acreditados das ciências naturais e sociais que trabalham nas áreas da
agricultura, clima, alimentação e nutrição, economia e recursos naturais em instituições governamentais, académicas e
civis na Austrália, Brasil, Bangladesh, China, Etiópia, França, Quénia, Índia, México, África do Sul, Reino Unido, EUA e
Vietname. Em 2011, os comissários realizaram uma síntese dos mais importantes relatórios de avaliação para articular
claramente as descobertas científicas sobre o impacto potencial das mudanças climáticas sobre a agricultura e a
segurança alimentar mundial e regional, assim como para identificar as acções e os caminhos mais adequados para
alcançar a segurança alimentar no contexto das mudanças do clima.
Recomendações importantes: