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O Efeito Da Prática Docente Na Saúde Do Professor Universitário

2016

A atividade docente e mencionada como uma atividade profissional desgastante e razao de diversos problemas de saude. Este artigo estuda a relacao da pratica docente do professor universitario com a sua saude, considerando os numeros de exames e consultas realizadas com uma amostra de 1176 pessoas, sendo que 503 eram docentes de uma Universidade Federal do sul do Brasil. Foram utilizadas como variaveis de controle a idade e o genero. As hipoteses testadas buscam identificar se a atividade docente possui efeito significativo no numero de consultas e exames realizados. Foi utilizada a tecnica de analise de regressao hierarquica linear multipla por minimos quadrados. Os resultados encontrados mostram que a variavel idade e a mais significativa (β=0,146), a variavel genero nao e significativa ao nivel de confianca de 95% e a variavel professor apresenta um coeficiente de (β=-0,092) indicando uma contribuicao negativa para o sistema.

O EFEITO DA PRÁTICA DOCENTE NA SAÚDE DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO Giuliano A. Zandonai1, Diego de C. Fettermann1 1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) giuzandonai@gmail.com; d.fettermann@ufsc.br Resumo: A atividade docente é mencionada como uma atividade profissional desgastante e razão de diversos problemas de saúde. Este artigo estuda a relação da prática docente do professor universitário com a sua saúde, considerando os números de exames e consultas realizadas com uma amostra de 1176 pessoas, sendo que 503 eram docentes de uma Universidade Federal do sul do Brasil. Foram utilizadas como variáveis de controle a idade e o gênero. As hipóteses testadas buscam identificar se a atividade docente possui efeito significativo no número de consultas e exames realizados. Foi utilizada a técnica de análise de regressão hierárquica linear múltipla por mínimos quadrados. Os resultados encontrados mostram que a variável idade é a mais significativa (β=0,146), a variável gênero não é significativa ao nível de confiança de 95% e a variável professor apresenta um coeficiente de (β=-0,092) indicando uma contribuição negativa para o sistema. Palavras-Chave: Professor Universitário; Saúde, Regressão Linear Múltipla. 1. Introdução O progresso científico permitiu ao ser humano a buscar novas formas de trabalho que superam as atividades físicas. A diferença entre trabalho qualificado e não qualificado já vem desde a antiguidade, mas apenas na Idade Moderna é que se passa a fazer a relação de produtivo e não produtivo, tendo seu alicerce a distinção entre trabalho manual e intelectual (WOLECK, 2002). As atividades realizadas por um professor universitário podem ser classificadas como um trabalho intelectual, visto que apresenta sua carga de trabalho distribuída entre lecionar, pesquisa científica, orientação de alunos de graduação e de pós-graduação. O professor tem como objetivo transmitir as informações adquiridas por ele ao longo de sua vida para outras pessoas. Os profissionais de ensino, principalmente os de ensino superior, no Brasil são responsáveis por formar e consolidar os conhecimentos na sociedade, além de transmitir este conhecimento para os futuros profissionais liberais, bacharéis e tecnólogos (FREIRE e FERNANDEZ, 2015). De acordo com Masetto (2012), o professor se vê como um mentor a ser superado pelo aluno para que ocorra o aprendizado, caso não ocorra, a responsabilidade recai sobre o aluno. Diversos estudos indicam que a atividade de professor universitário tem por característica ser estressante a atividade de professor é afetada por fatores externos que vão desde esgotamento físico e mental, até violência em sala de aula e efeitos psicológicos (LIMA e LIMA-FILHO, 2009). Podemos perceber tais atributos nas constantes cobranças exigidas aos professores quanto suas realizações. Cada vez mais o professor tem que se manter atualizado, e também para atualização do seu currículo, sendo refém deste para arrecadações de financiamentos para seus projetos e pesquisas (VITORINO e DAVID, 2015). Os problemas de saúde relacionados a atividade docente dos professores universitários vêm de várias áreas pertinentes ao trabalho que o professor realiza em sala de aula e fora dela, durante suas pesquisas. O entendimento da importância do trabalho para o ser humano e a deficiência de estudos sobre essas áreas, torna o estudo algo imprescindível para o próprio trabalhador, que muitas vezes se encontra insatisfeito com a situação atual dele (MARTINEZ et al., 2004). Estudos indicam que a atividade docente está relacionada a diversos problemas, desde ambientais, físicas até a problemas relacionados a saúde mental do professor, além da exposição à fatores externos, tais como ruídos, temperatura, vibração, iluminação, poluição, atividades monótonas e repetitivas (LIMA e LIMA-FILHO, 2009). Mesmo assim, se faz necessário ressaltar que a falta de sintomas não necessariamente significa boa saúde, mas sim, que é necessária uma melhor análise do fenômeno para diagnosticar a dor sofrida pela pessoa bem como entender e ajudar a mesma para que não desenvolva (VASCONCELOS e DE FARIA, 2009). Os fatores pertinentes à saúde dos professores universitários são abordados por Araújo (2005), com preocupação ao uso da voz, à postura corporal e ao psíquico que são ditos fatores de riscos para esta classe de trabalhadores. Desta forma se configura um cenário em que a prática docente pode estar relacionada a problemas de saúde. Diante disso, o presente trabalho estuda a relação da prática docente do professor universitário com a sua saúde, considerando os números de exames e consultas realizadas. As hipóteses testadas buscam identificar se a atividade docente possui efeito significativo no número de consultas e exames realizados. Foi utilizada a técnica de análise de regressão hierárquica linear múltipla por mínimos quadrados. Para este fim foram coletados de fonte secundária de dados informações sobre 1176 pessoas. Como forma de mensurar a saúde, foram coletados dados de número de consultas e exames realizados por cada elemento da amostra. Também foram utilizadas como variáveis de controle a idade e gênero. Os resultados permitem apresentar um diagnóstico sobre o efeito da atividade docente em geral e em especial para os docentes da Universidade em estudo. Os dados foram disponibilizados por uma operadora de planos de saúde do sul do Brasil, com informações sobre as datas de inscrição do beneficiário, a idade, o número cadastral do beneficiário, o gênero, se é titular ou dependente, a descrição do que foi realizado juntamente com a data do atendimento, o tipo de atendimento, o item de especialidade, subgrupo e especialidade do profissional que atendeu o paciente. Para realizar o estudo, foi filtrado primeiramente os valores duplicados, ou vários valores que correspondiam a um mesmo exame ou consulta. Em seguida, foi retirado valores que correspondiam a outras atividades ou equipamentos que foram necessários para aquela operação, sobrando por fim os números de consultas e exames e suas respectivas especialidades. O sindicato dos professores das universidades federais de Santa Catarina – Apufsc Sindical buscou informações para melhorar a vida dos professores da Universidade de Santa Catarina, tanto dentro de sala de aula quanto fora dela, priorizando o bem-estar do professor. Tendo isso em mente, o objetivo do estudo é de analisar se a qualidade de vida que o professor leva atualmente aumenta o número de exames e consultas realizadas pelo mesmo. Compreendendo que a perda de sentido do trabalho é um fator que pode levar o professor a apresentar perda de energia no trabalho, alternando entre o que ele pode fazer e o que ele consegue fazer (SILVA, 2006). 2. Revisão de Literatura São frequentes os relatos sobre a exaustão do profissional docente na universidade relacionado a sua atividade, que ultrapassa a área de ensino e abrange atividades administrativas, desgastando o professor e sobrecarregando seu tempo, limitando assim seu tempo dedicado a atividades na área de ensino e pesquisa (LIMA e LIMA-FILHO, 2009). Boa parte dessas reclamações são incumbidas de motivos diversos, estes descritos por Araújo (2005). Em um estudo realizado com os docentes da UEFS foram relatados que inadequação das salas de aulas, manutenção de posição inadequada do corpo, permanecer por longos períodos em pé, carregar material didático, exposição constante ao pó de giz e poeira, ventilação inadequada das salas de aula e ausência de espaço para descanso/repouso (Araújo, 2005). Sabendo que o entendimento e compreensão do que é passado pelo professor também depende do seu estado físico e mental, deveria haver uma preocupação em manter o professor saudável em todos os aspectos, porém, mesmo que não exista uma conexão diretamente ligada ao adoecimento pelo fato de ser professor, estas permitem a formação de hipóteses para um estudo mais aprofundado (GASPARINI et al., 2005). Verifica-se uma necessidade de se melhorar a conversa sobre como o trabalho deve ser feito, seus fatores de influencia diretos e indiretos e com isso moldar novas estratégias para um melhor aproveitamento do docente e com isso um melhor aproveitamento do aluno de universidade. Para Silva e Bezerra (2016), apenas pelo fato de ouvir o que o professor tem a dizer já é uma estratégia e com isso seguir para uma educação de melhor qualidade, mas sempre levando em conta que não são apenas os professores os únicos fatores que colaboram com o fator aprendizado do aluno. Um dos fatores relevantes para a pesquisa nesta área são os inúmeros casos de professores que prestaram alguma reclamação na secretaria do seu curso. Analisando os números de reclamações e os números de estudos feitos para se entender o que acontece com o professor universitário, podemos perceber uma enorme deficiência de estudos, isso pode acontecer, pois os professores universitários são considerados os pilares da nossa educação, levando a pensar que eles atuam em boas condições de trabalho (SERVILHA e ARBACH, 2011). De acordo com Gasparini (2005), um dos maiores motivos de afastamento de trabalhadores na área de ensino no período de 2001 a 2002 são os transtornos mentais e comportamentais (15,3%), seguido por doenças do aparelho respiratório (12,2%) e em terceiro as doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (11,5%). Já no ano de 2002 a 2003, temos um aumento por transtornos mentais e comportamentais (16,3%), seguido por uma diminuição tanto em doenças do aparelho respiratório (11,7%) quanto em doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (10,5%). Outros fatores também foram percebidos por Cardoso (2009), que estudou a dor na área superior, inferior e dorso, pelo menos 55% reclamaram de dor em ao menos uma das áreas, 19,7% em uma das áreas, 19,9% em duas áreas e 15,4% apresentavam dor nas três áreas perguntadas. Pereira et al. (2014) nos mostra um estudo com 349 professores de escolas públicas de Florianópolis que responderam um questionário respondendo perguntas sobre ambientes e condições de trabalho e percepção da qualidade de vida, esgotamento físico e mental, problemas físicos e dificuldades encontradas por conta do trabalho, ficando visível a relação entre o adoecimento dos docentes com o seu trabalho. O mesmo ainda nos mostra que 52,8% dos professores reclamam de esgotamento físico e mental, 52,2% de problemas físicos e 40,2% disseram ter alguma influência negativa na saúde ou qualidade de vida por conta do trabalho. Foi observado em um estudo com docentes de uma instituição de ensino superior de Minas Gerais que o esforço no trabalho (β=0,95) e a qualidade de vida (β=1,07) são os fatores mais influentes na função que tange a saúde do docente de ensino superior, ambos com (p-valor < 0,05). E dentre esses fatores ainda vale a pena ressaltar que docentes com alto grau de estresse tem uma frequência relativamente maior de ter algum tipo de transtorno mental (FERREIRA et al., 2015). Normalmente, os docentes não se preocupam com sua qualidade de vida, pois acham que estão com uma saúde boa, sendo apenas 14,3% dos professores de todas as áreas, desde ensino infantil até superior, que afirmaram achar estar com a saúde ruim a regular (SANTOS e MARQUES, 2013) e com isso não procuram médicos para avaliar seus problemas no início, tornando-os piores com o passar do tempo. O mesmo ainda afirma que docentes com mais de 21 anos de carreira tem sua percepção de saúde atual ao menos duas vezes pior do que os demais docentes e os com menos de 10 anos de carreira apresentam o maior nível de percepção de saúde entre o restante dos docentes, tornando o trabalho docente um risco a saúde do docente. 3. Metodologia Os dados levantados assim como os procedimentos de análise realizados buscam mensurar o efeito da atividade docente do professor Universitário de uma Universidade do sul do Brasil em sua saúde. Para tanto, os elementos da amostra foram primeiramente divididos em dois grandes grupos, de professores e não professores. A seguir são apresentadas as informações sobre a amostra. 3.1. Coleta de dados e amostra A coleta de dados foi realizada diretamente do sistema de informação utilizado pela empresa prestadora de serviços de saúde. Posteriormente os dados foram transferidos para planilhas eletrônicas. A amostra utilizada no estudo compreende dados de atendimento do período de 15/01/14 à 27/10/2015 de 1176 usuários do plano de saúde Unimed Florianópolis. Os dados contêm informações referentes a exames, consultas, atendimento domiciliar, pequena cirurgia, pequeno atendimento, pronto socorro, quimioterapia, radioterapia, remoção e terapia realizadas pelos beneficiários. Para atingir o objetivo proposto foram utilizados no estudo somente os dados relacionados ao número de exames e consultas realizadas no período de coleta de dados disponíveis na amostra. Além disso, também foram coletadas informações relacionadas a estratificação da amostra, tais como atividade (professor e não professor), gênero (masculino e feminino), idade (anos). A análise descritiva dos dados da amostra é apresentada na Tabela 1. Professor n= 503 Média (percentual) 66,4632 56,26% Desvio Padrão Não Professor n= 673 Média Desvio Padrão (percentual) 57,8276 23,7045 66,12% Idade 11,9373 Gênero (masc/fem) Número de 5,6043 5,5928 6,4487 6,7520 Consultas Número de Exames 45,2842 61,8699 41,1931 67,3675 Tabela 1 – Média e desvio padrão referentes as amostras de dados coletados. Os resultados indicam uma média de idade alta para os integrantes da amostra, correspondendo a mais de 66 anos para o grupo dos professores e superior a 57 para o grupo dos não professores. Além disso, é majoritariamente composta por elementos do gênero feminino. Apesar de a amostra apresentar uma média de idade superior a encontrada na população brasileira além de uma maior concentração de integrantes do gênero feminino, essas características da amostra são semelhantes às verificadas nos integrantes dos demais planos de saúde disponibilizados pela operadora de saúde. 3.2. Análise de dados Como forma de identificar o efeito da atividade docente na saúde foi realizada uma análise de regressão múltipla. A regressão múltipla busca identificar presença a relação entre uma variável dependente quantitativa e mais de uma variável independente (TABACHANICK e FIDEL, 2013). No caso deste estudo são analisadas duas variáveis dependentes em cada modelo de regressão múltipla por mínimos quadrados (Ordinary Least Squares-OLS). Primeiramente é realizada uma análise de regressão múltipla para a variável número de consultas e posteriormente para a variável número de exames. Cada uma dessas análises é realizada em duas etapas. Na primeira etapa é analisado o efeito das variáveis de controle idade (anos) e gênero (masc/fem) sobre a variável dependente. Na segunda etapa é analisado juntamente com as variáveis de controle o efeito da variável professor (professor/não professor) sobre a quantidade de consultas e exames. Ao compararmos os resultados entre esses dois modelos obtidos é possível identificar o efeito isolado da variável professor (professor/não professor) sobre a quantidade de consultas e exames realizados, e por consequência obter indícios sobre o efeito da prática docente sobre sua saúde. Ao final, são analisados os resíduos obtidos a partir dos modelos gerados procurando identificar a presença das suposições de normalidade e homocedasticidade necessárias para a realização da análise de regressão múltipla (TABACHANICK e FIDEL, 2013). A suposição de ausência de entre as três variáveis independentes não é analisada em razão de que somente uma destas é quantitativa, dificultando mensurar multicolinearidade o nível de associação com as demais variáveis binárias, seguindo procedimento realizado por correlação para examinar as inferências entre todas as variáveis (LAMPINEN, et al., 2015). Podemos observar que Stevenson (1981) define regressão linear múltipla como uma função Yc=a+b1x1+b2x2+⋯+bkxk, sendo “a” onde corta o eixo y, “b” os coeficientes angulares e “k” o número de variáveis independentes, resultando em um hiperespaço onde todas as variáveis interagem entre si. 4. Resultados Hipótese 1: efeito da atividade docente para o número de consultas realizadas. O resultado da primeira etapa do modelo obtido com as variáveis de controle indica que estas são significativas (p-valor<0,001) para explicar o comportamento da variável dependente número de consultas. Ao analisarmos o modelo gerado na segunda etapa da análise verificamos que ao acrescentarmos a variável ser professor (professor/não professor) obteve-se também um modelo significativo (pvalor<0,001). Além disso, a inclusão da variável ser professor é capaz de aumentar de forma significativa (p-valor<0,002) a explicação da variável dependente número de consultas. Apesar disso, ainda se verifica que as variáveis de controle e a variável professor possuem uma baixa capacidade de explicar o número de consultas, visto que o valor do R² ajustado para a segunda etapa é de apenas 0,029 (Tabela 2). Tabela 2 – Resultado da regressão múltipla para a variável dependente número de consultas. R² Ajustado Variáveis 1ª etapa 2ª etapa F Valor Mudança Mudança Sig. Mudança p de R² de F do F Variáveis de controle 0,022 14,142 0,000 Variáveis de controle + Professor 0,029 12,680 0,000 0,008 9,550 0,002 A partir do modelo de regressão obtido na segunda etapa, incluindo as variáveis de controle mais a variável professor são calculados os coeficientes de cada uma das variáveis e sua significância (Tabela 3). Como esperado, é verificado que o efeito da variável idade é altamente significativo para explicar o número de consultas (p-valor<0,001). A variável gênero não é significativa ao nível de confiança de 95% para explicar a quantidade de consultas realizadas. Por fim, a característica de ser professor é significativa (p-valor=0,002) para explicar o número de consultas realizadas. Apesar disso, se verifica que o efeito dessa variável se apresenta de forma inversa, ou seja, a característica de não ser professor (0) aumenta o efeito sobre o número de consultas realizadas. Tabela 3 – Coeficientes da regressão múltipla para o número de consultas para todas as variáveis. Variáveis Constante Idade (anos) Gênero (0-mas/1-fem) Coeficientes 2,127 0,046 0,744 Coeficientes Normalizados 0,146 0,057 Valor p 0,000 0,000 0,052 Professor (0-não professor/1-professor) -1,168 -0,092 0,002 Ao avaliarmos os coeficientes normalizados podemos avaliar o peso de cada uma das variáveis sobre o número de consultas realizadas. Neste caso, como era esperado, verificamos que a variável idade possui maior contribuição (β=0,146). Como a variável gênero não é significativa ao nível de confiança de 95% não é recomendável analisar seu coeficiente. Enquanto isso, a variável professor apresenta um coeficiente com um valor bem menor (β=-0,092) indicando uma menor contribuição, mas mesmo assim significativa (p-valor=0,002). Do mesmo modo em outros estudos são apresentados dados de que os profissionais da saúde são altamente influenciados pela síndrome de Burnout, e que outros fatores tais como significado do trabalho e sentimento de controle não atingiram o nível mínimo para ser considerado nos cálculos (SOUZA e SILVA, 2002). Os perfis de personalidades tipo A, que tem uma maior predisposição a ação e a emoção, sempre tendo um objetivo como foco de suas ações, podendo muitas vezes ignorar ou até mesmo inferiorizar diversas situações que não são do seu interesse (DIAS, 2004). Hipótese 2: efeito da atividade docente para o número de exames realizados. Ao avaliarmos a relação das variáveis independentes com a variável número de exames verificamos que os modelos obtidos nas duas etapas são significativos (p-valor<0,001) (Tabela 3). Apesar disso, a segunda etapa do modelo de regressão, com a inclusão da variável professor não apresenta aumento significativo (pvalor=0,411) na capacidade de previsão do modelo. Este resultado indica que o fato de ser ou não professor não afeta de forma significativa a quantidade de exames realizados, diferente do resultado obtido quanto ao número de consultas. A capacidade de previsão do modelo de regressão realizado, assim como para a variável anterior permanece bastante baixa (R² ajustado=0,060). Tabela 4 – Resultado da regressão múltipla para a variável dependente número de exames. Variáveis 1ª Variáveis de controle etapa 2ª Variáveis de controle etapa + Professor R² Ajustado F Valor p 0,060 38,431 0,000 0,059 25,599 0,000 Mudança de R² Mudança de F Sig. Mudança do F 0,000 0,595 0,441 Novamente são calculados os coeficientes de cada uma das variáveis do modelo de regressão obtido na segunda etapa, incluindo as variáveis de controle mais a variável professor (tabela 5). Assim como na análise anterior, a idade (anos) é altamente significativa para a explicar a quantidade de exames realizados (pvalor=0,000). O coeficiente normalizado da variável idade (β=0,252) indica que sua contribuição é forte para explicar a quantidade de exames realizados. Em contrapartida, tanto a variável gênero (p-valor=0,981) quanto ser professor (pvalor=0,441) não se apresentam de forma significativa para explicar a quantidade de exames realizados. Tabela 5 – Coeficientes da regressão múltipla para o número de exames para todas as variáveis. Variáveis Coeficientes Constante Idade(anos) Gênero (0-mas/1-fem) Professor (0-não professor/1-professor) -6,197 0,818 0,093 -2,967 Coeficientes Normalizados 0,252 0,001 -0,023 Valor p 0,313 0,000 0,981 0,441 5. Conclusões O objetivo deste trabalho foi testar os fatores que influenciavam na saúde de professores universitários. Foram testadas as seguintes hipóteses: hipótese 1 – efeito da atividade docente para o número de consultas realizadas e hipótese 2 – efeito da atividade docente para o número de exames realizados. Os resultados encontrados não confirmaram as hipóteses desenvolvidas encontrando coeficientes e coeficientes normalizados negativos para a variável professor. Foi encontrado indícios que o efeito da atividade docente na amostra analisada não possui efeito significativo sobre o número de consultas e de exames realizados, por outro lado, foi encontrado resultados que mostram a variável idade como a mais significativa (β=0,146). Os resultados contribuíram para desmitificar o efeito negativo que a prática docente exerce sobre a saúde dos professores. Mesmo que estudos anteriores, tais como Cardoso (2009), que realizou uma pesquisa com docentes da educação municipal com foco em dor musculoesquelética, com perguntas que serviam para descrever a pessoa entrevistada, bem como seu trabalho, as condições de trabalho, saúde mental e as principais doenças. Obtendo como resposta, dores na parte superior, inferir ou dorso, sendo relatado que 41,1% de dor nos membros inferiores, 23,7 nos superiores e 41,1% no dorso, indiquem que a prática docente resulta em aumento do stress e malefícios para a saúde, o estudo realizado não apresentou o mesmo resultado. Para estudos futuros recomenda-se um estudo mais aprofundado sobre o efeito da prática docente sobre mais especificamente o nível de stress além da exposição a outros fatores como o ensino em cursos de pós-graduação. Referências CARDOSO, J. P., RIBEIRO, I. D. Q. B., ARAÚJO, T. M. D., CARVALHO, F. M., REIS, E. J. F. B. D. (2009). Prevalência de dor musculoesquelética em professores. P. 604-614. Disponível em < http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/3458>. Acessado em 02 Agosto 2016. DE ARAÚJO, T. M. Mal-estar docente: avaliação de condições de trabalho e saúde em uma instituição de ensino superior. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 29, n. 1, p. 6, 2011. DIAS, A. M. (2004). 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