O EFEITO DA PRÁTICA DOCENTE NA SAÚDE DO PROFESSOR
UNIVERSITÁRIO
Giuliano A. Zandonai1, Diego de C. Fettermann1
1
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
giuzandonai@gmail.com; d.fettermann@ufsc.br
Resumo: A atividade docente é mencionada como uma atividade profissional
desgastante e razão de diversos problemas de saúde. Este artigo estuda a relação
da prática docente do professor universitário com a sua saúde, considerando os
números de exames e consultas realizadas com uma amostra de 1176 pessoas,
sendo que 503 eram docentes de uma Universidade Federal do sul do Brasil. Foram
utilizadas como variáveis de controle a idade e o gênero. As hipóteses testadas
buscam identificar se a atividade docente possui efeito significativo no número de
consultas e exames realizados. Foi utilizada a técnica de análise de regressão
hierárquica linear múltipla por mínimos quadrados. Os resultados encontrados
mostram que a variável idade é a mais significativa (β=0,146), a variável gênero não
é significativa ao nível de confiança de 95% e a variável professor apresenta um
coeficiente de (β=-0,092) indicando uma contribuição negativa para o sistema.
Palavras-Chave: Professor Universitário; Saúde, Regressão Linear Múltipla.
1. Introdução
O progresso científico permitiu ao ser humano a buscar novas formas de
trabalho que superam as atividades físicas. A diferença entre trabalho qualificado e
não qualificado já vem desde a antiguidade, mas apenas na Idade Moderna é que se
passa a fazer a relação de produtivo e não produtivo, tendo seu alicerce a distinção
entre trabalho manual e intelectual (WOLECK, 2002). As atividades realizadas por
um professor universitário podem ser classificadas como um trabalho intelectual,
visto que apresenta sua carga de trabalho distribuída entre lecionar, pesquisa
científica, orientação de alunos de graduação e de pós-graduação. O professor tem
como objetivo transmitir as informações adquiridas por ele ao longo de sua vida para
outras pessoas. Os profissionais de ensino, principalmente os de ensino superior, no
Brasil são responsáveis por formar e consolidar os conhecimentos na sociedade,
além de transmitir este conhecimento para os futuros profissionais liberais, bacharéis
e tecnólogos (FREIRE e FERNANDEZ, 2015). De acordo com Masetto (2012), o
professor se vê como um mentor a ser superado pelo aluno para que ocorra o
aprendizado, caso não ocorra, a responsabilidade recai sobre o aluno.
Diversos estudos indicam que a atividade de professor universitário tem por
característica ser estressante a atividade de professor é afetada por fatores externos
que vão desde esgotamento físico e mental, até violência em sala de aula e efeitos
psicológicos (LIMA e LIMA-FILHO, 2009). Podemos perceber tais atributos nas
constantes cobranças exigidas aos professores quanto suas realizações. Cada vez
mais o professor tem que se manter atualizado, e também para atualização do seu
currículo, sendo refém deste para arrecadações de financiamentos para seus
projetos e pesquisas (VITORINO e DAVID, 2015). Os problemas de saúde
relacionados a atividade docente dos professores universitários vêm de várias áreas
pertinentes ao trabalho que o professor realiza em sala de aula e fora dela, durante
suas pesquisas. O entendimento da importância do trabalho para o ser humano e a
deficiência de estudos sobre essas áreas, torna o estudo algo imprescindível para o
próprio trabalhador, que muitas vezes se encontra insatisfeito com a situação atual
dele (MARTINEZ et al., 2004). Estudos indicam que a atividade docente está
relacionada a diversos problemas, desde ambientais, físicas até a problemas
relacionados a saúde mental do professor, além da exposição à fatores externos,
tais como ruídos, temperatura, vibração, iluminação, poluição, atividades monótonas
e repetitivas (LIMA e LIMA-FILHO, 2009). Mesmo assim, se faz necessário ressaltar
que a falta de sintomas não necessariamente significa boa saúde, mas sim, que é
necessária uma melhor análise do fenômeno para diagnosticar a dor sofrida pela
pessoa bem como entender e ajudar a mesma para que não desenvolva
(VASCONCELOS e DE FARIA, 2009). Os fatores pertinentes à saúde dos
professores universitários são abordados por Araújo (2005), com preocupação ao
uso da voz, à postura corporal e ao psíquico que são ditos fatores de riscos para
esta classe de trabalhadores.
Desta forma se configura um cenário em que a prática docente pode estar
relacionada a problemas de saúde. Diante disso, o presente trabalho estuda a
relação da prática docente do professor universitário com a sua saúde, considerando
os números de exames e consultas realizadas. As hipóteses testadas buscam
identificar se a atividade docente possui efeito significativo no número de consultas e
exames realizados. Foi utilizada a técnica de análise de regressão hierárquica linear
múltipla por mínimos quadrados. Para este fim foram coletados de fonte secundária
de dados informações sobre 1176 pessoas. Como forma de mensurar a saúde,
foram coletados dados de número de consultas e exames realizados por cada
elemento da amostra. Também foram utilizadas como variáveis de controle a idade e
gênero.
Os resultados permitem apresentar um diagnóstico sobre o efeito da atividade
docente em geral e em especial para os docentes da Universidade em estudo. Os
dados foram disponibilizados por uma operadora de planos de saúde do sul do
Brasil, com informações sobre as datas de inscrição do beneficiário, a idade, o
número cadastral do beneficiário, o gênero, se é titular ou dependente, a descrição
do que foi realizado juntamente com a data do atendimento, o tipo de atendimento, o
item de especialidade, subgrupo e especialidade do profissional que atendeu o
paciente.
Para realizar o estudo, foi filtrado primeiramente os valores duplicados, ou
vários valores que correspondiam a um mesmo exame ou consulta. Em seguida, foi
retirado valores que correspondiam a outras atividades ou equipamentos que foram
necessários para aquela operação, sobrando por fim os números de consultas e
exames e suas respectivas especialidades.
O sindicato dos professores das universidades federais de Santa Catarina –
Apufsc Sindical buscou informações para melhorar a vida dos professores da
Universidade de Santa Catarina, tanto dentro de sala de aula quanto fora dela,
priorizando o bem-estar do professor.
Tendo isso em mente, o objetivo do estudo é de analisar se a qualidade de
vida que o professor leva atualmente aumenta o número de exames e consultas
realizadas pelo mesmo. Compreendendo que a perda de sentido do trabalho é um
fator que pode levar o professor a apresentar perda de energia no trabalho,
alternando entre o que ele pode fazer e o que ele consegue fazer (SILVA, 2006).
2. Revisão de Literatura
São frequentes os relatos sobre a exaustão do profissional docente na
universidade relacionado a sua atividade, que ultrapassa a área de ensino e abrange
atividades administrativas, desgastando o professor e sobrecarregando seu tempo,
limitando assim seu tempo dedicado a atividades na área de ensino e pesquisa
(LIMA e LIMA-FILHO, 2009). Boa parte dessas reclamações são incumbidas de
motivos diversos, estes descritos por Araújo (2005). Em um estudo realizado com os
docentes da UEFS foram relatados que inadequação das salas de aulas,
manutenção de posição inadequada do corpo, permanecer por longos períodos em
pé, carregar material didático, exposição constante ao pó de giz e poeira, ventilação
inadequada das salas de aula e ausência de espaço para descanso/repouso
(Araújo, 2005).
Sabendo que o entendimento e compreensão do que é passado pelo
professor também depende do seu estado físico e mental, deveria haver uma
preocupação em manter o professor saudável em todos os aspectos, porém, mesmo
que não exista uma conexão diretamente ligada ao adoecimento pelo fato de ser
professor, estas permitem a formação de hipóteses para um estudo mais
aprofundado (GASPARINI et al., 2005).
Verifica-se uma necessidade de se melhorar a conversa sobre como o
trabalho deve ser feito, seus fatores de influencia diretos e indiretos e com isso
moldar novas estratégias para um melhor aproveitamento do docente e com isso um
melhor aproveitamento do aluno de universidade. Para Silva e Bezerra (2016),
apenas pelo fato de ouvir o que o professor tem a dizer já é uma estratégia e com
isso seguir para uma educação de melhor qualidade, mas sempre levando em conta
que não são apenas os professores os únicos fatores que colaboram com o fator
aprendizado do aluno.
Um dos fatores relevantes para a pesquisa nesta área são os inúmeros casos
de professores que prestaram alguma reclamação na secretaria do seu curso.
Analisando os números de reclamações e os números de estudos feitos para se
entender o que acontece com o professor universitário, podemos perceber uma
enorme deficiência de estudos, isso pode acontecer, pois os professores
universitários são considerados os pilares da nossa educação, levando a pensar que
eles atuam em boas condições de trabalho (SERVILHA e ARBACH, 2011).
De acordo com Gasparini (2005), um dos maiores motivos de afastamento de
trabalhadores na área de ensino no período de 2001 a 2002 são os transtornos
mentais e comportamentais (15,3%), seguido por doenças do aparelho respiratório
(12,2%) e em terceiro as doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo
(11,5%). Já no ano de 2002 a 2003, temos um aumento por transtornos mentais e
comportamentais (16,3%), seguido por uma diminuição tanto em doenças do
aparelho respiratório (11,7%) quanto em doenças do sistema osteomuscular e do
tecido conjuntivo (10,5%).
Outros fatores também foram percebidos por Cardoso (2009), que estudou a
dor na área superior, inferior e dorso, pelo menos 55% reclamaram de dor em ao
menos uma das áreas, 19,7% em uma das áreas, 19,9% em duas áreas e 15,4%
apresentavam dor nas três áreas perguntadas.
Pereira et al. (2014) nos mostra um estudo com 349 professores de escolas
públicas de Florianópolis que responderam um questionário respondendo perguntas
sobre ambientes e condições de trabalho e percepção da qualidade de vida,
esgotamento físico e mental, problemas físicos e dificuldades encontradas por conta
do trabalho, ficando visível a relação entre o adoecimento dos docentes com o seu
trabalho. O mesmo ainda nos mostra que 52,8% dos professores reclamam de
esgotamento físico e mental, 52,2% de problemas físicos e 40,2% disseram ter
alguma influência negativa na saúde ou qualidade de vida por conta do trabalho.
Foi observado em um estudo com docentes de uma instituição de ensino
superior de Minas Gerais que o esforço no trabalho (β=0,95) e a qualidade de vida
(β=1,07) são os fatores mais influentes na função que tange a saúde do docente de
ensino superior, ambos com (p-valor < 0,05). E dentre esses fatores ainda vale a
pena ressaltar que docentes com alto grau de estresse tem uma frequência
relativamente maior de ter algum tipo de transtorno mental (FERREIRA et al., 2015).
Normalmente, os docentes não se preocupam com sua qualidade de vida,
pois acham que estão com uma saúde boa, sendo apenas 14,3% dos professores
de todas as áreas, desde ensino infantil até superior, que afirmaram achar estar com
a saúde ruim a regular (SANTOS e MARQUES, 2013) e com isso não procuram
médicos para avaliar seus problemas no início, tornando-os piores com o passar do
tempo. O mesmo ainda afirma que docentes com mais de 21 anos de carreira tem
sua percepção de saúde atual ao menos duas vezes pior do que os demais
docentes e os com menos de 10 anos de carreira apresentam o maior nível de
percepção de saúde entre o restante dos docentes, tornando o trabalho docente um
risco a saúde do docente.
3. Metodologia
Os dados levantados assim como os procedimentos de análise realizados
buscam mensurar o efeito da atividade docente do professor Universitário de uma
Universidade do sul do Brasil em sua saúde. Para tanto, os elementos da amostra
foram primeiramente divididos em dois grandes grupos, de professores e não
professores. A seguir são apresentadas as informações sobre a amostra.
3.1. Coleta de dados e amostra
A coleta de dados foi realizada diretamente do sistema de informação
utilizado pela empresa prestadora de serviços de saúde. Posteriormente os dados
foram transferidos para planilhas eletrônicas. A amostra utilizada no estudo
compreende dados de atendimento do período de 15/01/14 à 27/10/2015 de 1176
usuários do plano de saúde Unimed Florianópolis. Os dados contêm informações
referentes a exames, consultas, atendimento domiciliar, pequena cirurgia, pequeno
atendimento, pronto socorro, quimioterapia, radioterapia, remoção e terapia
realizadas pelos beneficiários. Para atingir o objetivo proposto foram utilizados no
estudo somente os dados relacionados ao número de exames e consultas
realizadas no período de coleta de dados disponíveis na amostra. Além disso,
também foram coletadas informações relacionadas a estratificação da amostra, tais
como atividade (professor e não professor), gênero (masculino e feminino), idade
(anos). A análise descritiva dos dados da amostra é apresentada na Tabela 1.
Professor n= 503
Média
(percentual)
66,4632
56,26%
Desvio Padrão
Não Professor n= 673
Média
Desvio Padrão
(percentual)
57,8276
23,7045
66,12%
Idade
11,9373
Gênero (masc/fem)
Número de
5,6043
5,5928
6,4487
6,7520
Consultas
Número de Exames
45,2842
61,8699
41,1931
67,3675
Tabela 1 – Média e desvio padrão referentes as amostras de dados coletados.
Os resultados indicam uma média de idade alta para os integrantes da
amostra, correspondendo a mais de 66 anos para o grupo dos professores e
superior a 57 para o grupo dos não professores. Além disso, é majoritariamente
composta por elementos do gênero feminino. Apesar de a amostra apresentar uma
média de idade superior a encontrada na população brasileira além de uma maior
concentração de integrantes do gênero feminino, essas características da amostra
são semelhantes às verificadas nos integrantes dos demais planos de saúde
disponibilizados pela operadora de saúde.
3.2. Análise de dados
Como forma de identificar o efeito da atividade docente na saúde foi realizada
uma análise de regressão múltipla. A regressão múltipla busca identificar presença a
relação entre uma variável dependente quantitativa e mais de uma variável
independente (TABACHANICK e FIDEL, 2013). No caso deste estudo são
analisadas duas variáveis dependentes em cada modelo de regressão múltipla por
mínimos quadrados (Ordinary Least Squares-OLS). Primeiramente é realizada uma
análise de regressão múltipla para a variável número de consultas e posteriormente
para a variável número de exames. Cada uma dessas análises é realizada em duas
etapas. Na primeira etapa é analisado o efeito das variáveis de controle idade (anos)
e gênero (masc/fem) sobre a variável dependente. Na segunda etapa é analisado
juntamente com as variáveis de controle o efeito da variável professor (professor/não
professor) sobre a quantidade de consultas e exames. Ao compararmos os
resultados entre esses dois modelos obtidos é possível identificar o efeito isolado da
variável professor (professor/não professor) sobre a quantidade de consultas e
exames realizados, e por consequência obter indícios sobre o efeito da prática
docente sobre sua saúde. Ao final, são analisados os resíduos obtidos a partir dos
modelos gerados procurando identificar a presença das suposições de normalidade
e homocedasticidade necessárias para a realização da análise de regressão múltipla
(TABACHANICK e FIDEL, 2013). A suposição de ausência de entre as três variáveis
independentes não é analisada em razão de que somente uma destas é quantitativa,
dificultando mensurar multicolinearidade o nível de associação com as demais
variáveis binárias, seguindo procedimento realizado por correlação para examinar as
inferências entre todas as variáveis (LAMPINEN, et al., 2015).
Podemos observar que Stevenson (1981) define regressão linear múltipla
como uma função Yc=a+b1x1+b2x2+⋯+bkxk, sendo “a” onde corta o eixo y, “b” os
coeficientes angulares e “k” o número de variáveis independentes, resultando em um
hiperespaço onde todas as variáveis interagem entre si.
4. Resultados
Hipótese 1: efeito da atividade docente para o número de consultas
realizadas.
O resultado da primeira etapa do modelo obtido com as variáveis de controle
indica que estas são significativas (p-valor<0,001) para explicar o comportamento da
variável dependente número de consultas. Ao analisarmos o modelo gerado na
segunda etapa da análise verificamos que ao acrescentarmos a variável ser
professor (professor/não professor) obteve-se também um modelo significativo (pvalor<0,001). Além disso, a inclusão da variável ser professor é capaz de aumentar
de forma significativa (p-valor<0,002) a explicação da variável dependente número
de consultas. Apesar disso, ainda se verifica que as variáveis de controle e a
variável professor possuem uma baixa capacidade de explicar o número de
consultas, visto que o valor do R² ajustado para a segunda etapa é de apenas 0,029
(Tabela 2).
Tabela 2 – Resultado da regressão múltipla para a variável dependente número de consultas.
R²
Ajustado
Variáveis
1ª
etapa
2ª
etapa
F
Valor Mudança Mudança Sig. Mudança
p
de R²
de F
do F
Variáveis de controle
0,022
14,142 0,000
Variáveis de controle +
Professor
0,029
12,680 0,000
0,008
9,550
0,002
A partir do modelo de regressão obtido na segunda etapa, incluindo as
variáveis de controle mais a variável professor são calculados os coeficientes de
cada uma das variáveis e sua significância (Tabela 3). Como esperado, é verificado
que o efeito da variável idade é altamente significativo para explicar o número de
consultas (p-valor<0,001). A variável gênero não é significativa ao nível de confiança
de 95% para explicar a quantidade de consultas realizadas. Por fim, a característica
de ser professor é significativa (p-valor=0,002) para explicar o número de consultas
realizadas. Apesar disso, se verifica que o efeito dessa variável se apresenta de
forma inversa, ou seja, a característica de não ser professor (0) aumenta o efeito
sobre o número de consultas realizadas.
Tabela 3 – Coeficientes da regressão múltipla para o número de consultas para todas as variáveis.
Variáveis
Constante
Idade (anos)
Gênero (0-mas/1-fem)
Coeficientes
2,127
0,046
0,744
Coeficientes
Normalizados
0,146
0,057
Valor p
0,000
0,000
0,052
Professor (0-não professor/1-professor)
-1,168
-0,092
0,002
Ao avaliarmos os coeficientes normalizados podemos avaliar o peso de cada
uma das variáveis sobre o número de consultas realizadas. Neste caso, como era
esperado, verificamos que a variável idade possui maior contribuição (β=0,146).
Como a variável gênero não é significativa ao nível de confiança de 95% não é
recomendável analisar seu coeficiente. Enquanto isso, a variável professor
apresenta um coeficiente com um valor bem menor (β=-0,092) indicando uma menor
contribuição, mas mesmo assim significativa (p-valor=0,002).
Do mesmo modo em outros estudos são apresentados dados de que os
profissionais da saúde são altamente influenciados pela síndrome de Burnout, e que
outros fatores tais como significado do trabalho e sentimento de controle não
atingiram o nível mínimo para ser considerado nos cálculos (SOUZA e SILVA, 2002).
Os perfis de personalidades tipo A, que tem uma maior predisposição a ação e a
emoção, sempre tendo um objetivo como foco de suas ações, podendo muitas
vezes ignorar ou até mesmo inferiorizar diversas situações que não são do seu
interesse (DIAS, 2004).
Hipótese 2: efeito da atividade docente para o número de exames realizados.
Ao avaliarmos a relação das variáveis independentes com a variável número
de exames verificamos que os modelos obtidos nas duas etapas são significativos
(p-valor<0,001) (Tabela 3). Apesar disso, a segunda etapa do modelo de regressão,
com a inclusão da variável professor não apresenta aumento significativo (pvalor=0,411) na capacidade de previsão do modelo. Este resultado indica que o fato
de ser ou não professor não afeta de forma significativa a quantidade de exames
realizados, diferente do resultado obtido quanto ao número de consultas. A
capacidade de previsão do modelo de regressão realizado, assim como para a
variável anterior permanece bastante baixa (R² ajustado=0,060).
Tabela 4 – Resultado da regressão múltipla para a variável dependente número de exames.
Variáveis
1ª
Variáveis de controle
etapa
2ª
Variáveis de controle
etapa
+ Professor
R²
Ajustado
F
Valor
p
0,060
38,431 0,000
0,059
25,599 0,000
Mudança
de R²
Mudança
de F
Sig. Mudança
do F
0,000
0,595
0,441
Novamente são calculados os coeficientes de cada uma das variáveis do
modelo de regressão obtido na segunda etapa, incluindo as variáveis de controle
mais a variável professor (tabela 5). Assim como na análise anterior, a idade (anos)
é altamente significativa para a explicar a quantidade de exames realizados (pvalor=0,000). O coeficiente normalizado da variável idade (β=0,252) indica que sua
contribuição é forte para explicar a quantidade de exames realizados. Em
contrapartida, tanto a variável gênero (p-valor=0,981) quanto ser professor (pvalor=0,441) não se apresentam de forma significativa para explicar a quantidade de
exames realizados.
Tabela 5 – Coeficientes da regressão múltipla para o número de exames para todas as variáveis.
Variáveis
Coeficientes
Constante
Idade(anos)
Gênero (0-mas/1-fem)
Professor (0-não professor/1-professor)
-6,197
0,818
0,093
-2,967
Coeficientes
Normalizados
0,252
0,001
-0,023
Valor p
0,313
0,000
0,981
0,441
5. Conclusões
O objetivo deste trabalho foi testar os fatores que influenciavam na saúde de
professores universitários. Foram testadas as seguintes hipóteses: hipótese 1 –
efeito da atividade docente para o número de consultas realizadas e hipótese 2 –
efeito da atividade docente para o número de exames realizados. Os resultados
encontrados não confirmaram as hipóteses desenvolvidas encontrando coeficientes
e coeficientes normalizados negativos para a variável professor.
Foi encontrado indícios que o efeito da atividade docente na amostra
analisada não possui efeito significativo sobre o número de consultas e de exames
realizados, por outro lado, foi encontrado resultados que mostram a variável idade
como a mais significativa (β=0,146).
Os resultados contribuíram para desmitificar o efeito negativo que a prática
docente exerce sobre a saúde dos professores. Mesmo que estudos anteriores, tais
como Cardoso (2009), que realizou uma pesquisa com docentes da educação
municipal com foco em dor musculoesquelética, com perguntas que serviam para
descrever a pessoa entrevistada, bem como seu trabalho, as condições de trabalho,
saúde mental e as principais doenças. Obtendo como resposta, dores na parte
superior, inferir ou dorso, sendo relatado que 41,1% de dor nos membros inferiores,
23,7 nos superiores e 41,1% no dorso, indiquem que a prática docente resulta em
aumento do stress e malefícios para a saúde, o estudo realizado não apresentou o
mesmo resultado.
Para estudos futuros recomenda-se um estudo mais aprofundado sobre o
efeito da prática docente sobre mais especificamente o nível de stress além da
exposição a outros fatores como o ensino em cursos de pós-graduação.
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