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A vacina em pauta: a produção de sen�dos na cobertura da Folha de S. Paulo The vaccine on the agenda: the produc�on of meanings in Folha de S. Paulo’s coverage LUISA MASSARANI Edição v. 40 número 1 / 2021 Contracampo e-ISSN 2238-2577 Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: luisa.massarani7@gmail.com. ORCID: 0000-0002-5710-7242. TATIANE LEAL Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: tatianeclc@gmail.com. ORCID: 0000-0002-0410-809X. Niterói (RJ), 40 (1) jan/2021-abr/2021 IGOR WALTZ A Revista Contracampo é uma Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: igor.waltz@gmail.com. ORCID: 0000-0003-1903-6153. revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense e tem como objetivo contribuir para a reflexão crítica em torno do campo midiático, atuando como espaço de circulação da pesquisa e do pensamento acadêmico. MICHELLE MODESTO Instituto INFNET e Universidade Federal Fluminense (UFF) – Rio de Janeiro/ Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: shellymodesto@gmail.com. ORCID: 0000-0002-8767-7190. ANTONIO MARCOS PEREIRA BROTAS Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – Salvador, Bahia, Brasil. E-mail: brotas@bahia.fiocruz.br. ORCID: 0000-0001-8438-2445. AO CITAR ESTE ARTIGO, UTILIZE A SEGUINTE REFERÊNCIA: MASSARANI, Luisa; LEAL, Tatiane; WALTZ, Igor; MODESTO, Michelle; BROTAS, Antonio Marcos Pereira. A vacina em pauta: a produção de sentidos na cobertura da Folha de S. Paulo. Contracampo, Niterói, v. 40, n. 1, p. XXX-YYY, jan./abr. 2021. Enviado em: 02/12/2020. Revisor A: 08/02/2021; Revisor B: 16/03/2021. Aceite em: 16/03/2021. DOI – http://doi.org/10.22409/contracampo.v40i1.47457 Resumo A mídia é uma das principais fontes para o consumo de informações sobre as vacinas. Com o crescimento da desinformação e da hesitação vacinal, é fundamental compreender como o jornalismo produz sentidos sobre esse recurso de saúde pública. Neste artigo, analisamos a cobertura da Folha de S. Paulo durante um ano com o objetivo de investigar de que formas as vacinas são pautadas pelo jornal. Observamos aspectos como enquadramentos, fontes, explicação de conceitos, benefícios e riscos da vacina. Os resultados mostram que as matérias analisadas assumem importante papel ao aproximar a vacinação do cotidiano e promover seus benefícios. No entanto, a abordagem de riscos e controvérsias e a participação cidadã aparecem em menor escala, demonstrando que há espaço para ampliar as relações entre jornalismo, ciência e sociedade. Palavras-chave Vacina; Mídia e ciência; Jornalismo científico; Comunicação em saúde. Abstract The media is one of the main sources for the consumption of information about vaccines. With the growth of misinformation and vaccine hesitation, it is essential to understand how journalism produces meanings about this public health resource. In this paper, we analyzed Folha de S. Paulo’s coverage for a year to investigate how the newspaper addresses vaccines. We observed aspects such as frameworks, sources, explanation of concepts, and benefits and risks of the vaccine. The results show that the analyzed articles play an essential role in bringing vaccination closer to everyday life and promoting its benefits. However, the approach to risks and controversies and citizen participation appears on a smaller scale, demonstrating room to expand the relationship between journalism, science, and society. Keywords Vaccine; Media and science; Science journalism; Health communication. Introdução Temá�cas relacionadas à saúde e à ciência tradicionalmente ocupam um importante espaço no campo da mídia (RAMALHO et al., 2012). Reportagens, capas de revistas, programas especializados, colunas e seções fixas e atuação de profissionais da área como comentaristas e colunistas evidenciam a existência de uma demanda do público por informações sobre saúde (CATALÁN-MATAMOROS e PEÑAFIELSAIZ, 2019c; LERNER, 2015). Em um cenário em que as mídias se apresentam como uma das principais fontes de informações sobre saúde, ciência e tecnologia, seus conteúdos influenciam decisões co�dianas relacionadas a esse âmbito. Assim, ao lado de especialistas e instituições do campo científico, a mídia se apresenta como um dos principais agentes de construção do imaginário contemporâneo sobre a saúde (CGEE, 2019; OLIVEIRA, 2014). Nesse contexto, uma temá�ca tem se destacado em debates contemporâneos: a vacina (CATALÁNMATAMOROS e PEÑAFIEL-SAIZ, 2019c). De relevância central em coberturas jornalís�cas e conversações nas redes sociais, esse assunto ganhou ainda mais destaque diante da crise causada pela pandemia de COVID-19 em 2020, em que a vacina tem sido considerada como símbolo de esperança para o controle da doença e o restabelecimento de uma possível normalidade após o distanciamento social. Entretanto, a presença das vacinas na mídia não se deve apenas às suas potencialidades para erradicar, prevenir e controlar doenças. Pelo contrário, ela tem sido atribuída à proliferação de informações falsas ou distorcidas sobre sua segurança, confiabilidade e necessidade (CATALÁN-MATAMOROS e PEÑAFIEL-SAIZ, 2019c). Esse quadro de desinformação (WARDLE e DERAKSHAN, 2017) tem sido associado, em diversos países, a um crescimento da hesitação vacinal, ou a relutância ou recusa à vacinação apesar da sua disponibilidade (OMS, 2014). No Brasil, se desde a década de 1990 as coberturas vacinais infan�s ultrapassavam 95%, elas declinaram de 10 a 20 pontos percentuais desde 2016. A ocorrência de surtos de doenças anteriormente controladas, como os de sarampo em 2018, explicitam os riscos e danos da hesitação vacinal no país. No entanto, vários fatores podem contribuir para reduzir a cobertura vacinal, desde a influência da desinformação à dificuldade de obter a vacina (por exemplo, causada por restrições de horário e problemas de acesso aos postos de saúde), além do próprio êxito das polí�cas de vacinação em massa, causando a falsa sensação de que não é mais necessário vacinar e de que as doenças não seriam tão graves (SATO, 2018). Ainda que as causas da hesitação vacinal sejam mul�fatoriais, há consenso de que a informação midiá�ca tem um papel central para a promoção da saúde e o engajamento do público em relação às vacinas (CANCIAN, 2020; CATALÁN-MATAMOROS e PEÑAFIEL-SAIZ, 2019b; SATO, 2018). Um estudo da Avaaz em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) apontou que “mídias tradicionais”, como televisão, rádio e portais de no�cias, são a principal fonte de informação sobre vacinas (68%), à frente inclusive das midias sociais (48%) (AVAAZ, 2019). Dentre essas mídias, o jornalismo assume um papel central, uma vez que as coberturas jornalis�cas sobre vacinação são importantes fatores de impacto sobre a percepção pública frente às campanhas de vacinação (CANCIAN, 2020; SATO, 2018). Diante desse cenário, analisamos neste ar�go a cobertura jornalís�ca da Folha de S. Paulo sobre as vacinas no período de um ano. A par�r do protocolo analí�co proposto pela Rede Ibero-americana de Monitoramento e Capacitação em Jornalismo Cien�fico (MASSARANI e RAMALHO, 2012), o obje�vo geral é compreender os modos como um dos jornais mais lidos do país produz sen�dos sobre as vacinas. Inves�gamos, assim, quais os principais enquadramentos operados, as fontes acionadas para legi�mar as matérias e de que formas riscos, controvérsias e bene�cios das vacinas, bem como a divulgação cien�fica de pesquisas e conceitos relacionados à imunização foram (ou não) abordados nessa cobertura. A pesquisa se jus�fica pela relevância social do tema no contemporâneo, em que a�tudes de hesitação vacinal que ameaçam a saúde pública têm sido associadas ao consumo de informação na mídia. Diante da centralidade do jornalismo para a construção do imaginário sobre saúde, analisar a cobertura acerca da vacinação pode fornecer subsídios para compreender como essa temá�ca tem sido tratada na produção no�ciosa e contribuir para a reflexão sobre as interseções entre os campos da Comunicação, Divulgação Cien�fica e Saúde. Jornalismo e vacinação: a produção de sen�do O jornalismo é um importante aliado dos campos da saúde e da ciência e tecnologia (C&T) na popularização de informações sobre pesquisas cien�ficas, prevenção e cuidados de saúde, e polí�cas públicas (OLIVEIRA, 2014). A prá�ca jornalís�ca também fomenta a par�cipação cidadã, ao aproximar a C&T do co�diano e demonstrar suas interseções com as a�vidades socioeconômicas (OLIVEIRA, 2007). No que se refere às vacinas, o jornalismo assume funções sociais relevantes, como a prestação de serviço, ao informar sobre campanhas de vacinação; a divulgação científica, ao explicar conceitos e pesquisas; e a promoção da saúde, ao reafirmar a importância da imunização para a prevenção e controle de doenças. Além disso, ele fiscaliza e avalia agentes governamentais no campo da saúde em nome do interesse público. No contexto de crescimento da desinformação sobre vacinas, o jornalismo tem ainda uma atuação fundamental na checagem de informações e no mapeamento de temas presentes nas redes (CANCIAN, 2020; OLIVEIRA, 2014). Para compreender a cobertura jornalís�ca sobre a vacinação, uma série de questões deve ser levada em conta. Os sen�dos da saúde e da ciência que aparecem nos jornais não são dados, mas produzidos discursivamente por diversos elementos da narra�va jornalí�ca e de seus modos de produção. A própria divisão em editorias e os sistemas de nomeação dos espaços são elementos importantes para a construção do sen�do. Apesar de Ciência e Saúde contarem com editorias específicas em diversos veículos, esses temas são transversais e inves�gar sua abordagem entre diferentes seções fornece pistas sobre como o assunto é (ou não) tratado nesses espaços (LERNER, 2015). No caso das vacinas, a transversalidade da temá�ca, que se refere a diferentes doenças, pesquisas cien�ficas, questões econômicas e polí�cas, acontecimentos locais e internacionais, a análise dos principais temas abordados, bem como sua localização nessas editorias contribui para o entendimento dos sen�dos produzidos pela cobertura. Além disso, em um contexto mul�mídia, a produção discursiva do jornalismo também engloba recursos imagé�cos e audiovisuais que par�cipam da construção de sen�do (OLIVEIRA, 2014). Uma análise de cinco anos da cobertura jornalís�ca espanhola sobre vacinas encontrou como imagens predominantes fotografias de aplicações da vacina a par�r de seringas, especialmente em bebês. Em seguida, apareceram imagens de doses de vacinas, seguidas por elementos associados à vacinação, como vírus e bactérias, e fotos de cien�stas. Os autores destacam a subrepresentação de infográficos e visualizações de dados (CATALÁN-MATAMOROS e PEÑAFIEL-SAIZ, 2019a). Esses elementos fornecem pistas sobre o imaginário acerca da vacinação naquele país; portanto, uma análise dos recursos mul�mídia da cobertura jornalís�ca brasileira seria oportuna para compreender os significados engendrados em nosso contexto. Ainda sobre a narra�va jornalís�ca, a análise de enquadramentos permite observar os processos de produção de sen�do presentes em um texto, por meio de operações como seleção, ênfase ou silenciamento de determinadas ideias (ENTMAN, 1993). Esse entendimento é baseado no conceito de “quadros”, compreendidos como “marcos interpreta�vos” que permitem aos atores sociais iden�ficar, organizar e dar sen�do às interações vividas em determinados contextos norma�vos (FRANÇA, 2012; PORTO, 2004). De tal modo, inves�gar os enquadramentos possibilita compreender a relação entre valores socialmente par�lhados e os processos de seleção e construção jornalís�ca dos acontecimentos (SILVA e FRANÇA, 2017). Em relação a pautas de saúde, os enquadramentos ar�culados pelas no�cias podem influenciar a opinião pública, as a�tudes individuais e as polí�cas de saúde, uma vez que ele define não apenas a abordagem do tema, mas também possíveis soluções, o que atravessa os rumos do debate público. Como lembra Rothberg (2010), não é possível afirmar que a mídia determine percepções e comportamentos dos indivíduos, mas, ao introduzir e salientar certas ideias, seus efeitos não podem ser totalmente desconsiderados. Assim, no campo da saúde, as soluções discu�das no debate público podem servir de base para a formação de polí�cas púbicas futuras, enquanto aquelas que derivariam de enquadramentos não u�lizados poderiam ficar apagadas nesses espaços (LIMA e SIEGEL, 1999; MENACHE, 1998). A escolha das fontes também é relevante, uma vez que o jornal promove um arranjo par�cular dessas falas e legi�ma determinados atores (em detrimento de outros) como emissores autorizados a discorrer sobre determinado tema (LERNER, 2015). Em uma análise da cobertura da imprensa portuguesa sobre a vacinação, Gomes e Lopes (2019) encontraram uma predominância de fontes oficiais e matérias com uma única fonte, o que indica uma menor pluralidade de perspec�vas, com a sub-representação de pacientes e organizações da sociedade civil. O papel dos cien�stas como fontes nesse �po de matérias também é um importante aspecto a ser considerado na perspec�va do jornalismo como espaço para a divulgação cien�fica e mediação entre esses especialistas e a sociedade. Outros aspectos fundamentais na produção de sen�do das no�cias sobre C&T consistem na explicação de conceitos, bene�cios, riscos e controvérsias da ciência. O jornalismo é considerado um dos principais braços da divulgação cien�fica, exercendo importante papel na difusão de conhecimentos muitas vezes não acessíveis à população apenas pela educação formal (AMORIM e MASSARANI, 2008). Contudo, mais do que transmi�r informações em um modelo de déficit, em que especialistas que detêm o saber transferem-no a quem supostamente não sabe, a divulgação cien�fica deve contribuir para o engajamento do público em relação à C&T, promovendo o diálogo com as audiências, fomentando seu protagonismo e facilitando a apropriação dessas questões em seu co�diano (MASSARANI, 2012). O jornalismo tem um potencial significa�vo para a promoção desse modelo dialógico, uma vez que suas informações podem aproximar a população de debates públicos na área e contribuir para elucidar causas e consequências, a par�r de um referencial cien�fico, para questões que as pessoas enfrentam em suas vidas, como problemas de saúde (AMORIM e MASSARANI, 2008; OLIVEIRA, 2007). No caso das vacinas, a divulgação cien�fica pode contribuir para a promoção da saúde pública. Ainda que sua eficácia seja largamente comprovada dentro da comunidade cien�fica, o crescimento da hesitação vacinal demonstra que as pessoas têm dúvidas em relação às vacinas ou desconfiam dos agentes responsáveis por sua produção ou aplicação. Sato (2020) reforça que essas preocupações não podem ser menosprezadas e precisam ser acolhidas e explicadas por profissionais e especialistas. Estratégias de comunicação em saúde que focam somente nos bene�cios das vacinas, sem buscar responder a essas inquietações, podem falhar em promover sua aceitação por parte do público (DIXON e CLARKE, 2012). Isso não significa que o jornalismo deve realizar um falso balanço entre argumentos pró e contra vacina. Análises da cobertura jornalís�ca norte-americana demonstram que a correlação entre au�smo e vacinação, já descartada por diversos estudos, aparece frequentemente como um entre dois (ou múl�plos) lados da questão. Isso gera uma falsa equivalência entre as evidências cien�ficas que comprovam a eficácia e a segurança da vacinação e uma afirmação que a ciência já comprovou ser improcedente. Entretanto, a saída não é ignorar essas controvérsias, mas contextualizá-las, trazendo um background cien�fico de pesquisas e evidências (DIXON e CLARKE, 2012). Além disso, conceitos cien�ficos relacionados à vacinação, bem como possíveis riscos e danos envolvidos em sua aplicação precisam ser esclarecidos. Pesquisas desenvolvidas no Brasil demonstram que o modo como a cobertura sobre vacina é realizada é um dos fatores que impactam a a�tude do público frente a campanhas de vacinação. A cobertura do surto de febre amarela de 2007-2008 como uma epidemia descontrolada cuja única salvação seria a vacina, sem explicar sua ocorrência silvestre, é um dos fatores que pode ser relacionado à busca indiscriminada pela imunização por pessoas para as quais ela seria contraindicada (SATO, 2018). Já no surto de 2017-2018, destacou-se uma preocupação da cobertura em detalhar as indicações e contra-indicações da vacina contra a febre amarela e explicar que os macacos não seriam transmissores da doença, e sim “animais sen�nela”, que alertam sobre o seu espraiamento (CANCIAN, 2020). Essa atuação jornalís�ca se destacou em um contexto marcado pela proliferação de fake news sobre a doença em mídias sociais (SACRAMENTO e PAIVA, 2020). Portanto, uma cobertura jornalís�ca capaz de explicar conceitos em torno da vacinação, reforçar seus bene�cios e discu�r seus danos e riscos a par�r de uma contextualização cien�fica e social pode contribuir para afastar uma visão maniqueísta da ciência e construir uma cultura cien�fica par�cipa�va (OLIVEIRA, 2007), em que a vacinação possa ser vista como um direito a ser apropriado pelos cidadãos na promoção de seu bem-estar e da saúde pública. Assim, ainda que a relação entre jornalismo e sociedade envolva diferentes processos, inclusive dinâmicas de recepção das no�cias, a análise do conjunto desses aspectos em uma cobertura jornalís�ca pode contribuir para compreender a produção de sen�do sobre vacinação no contemporâneo. Metodologia Neste estudo, optamos por analisar a Folha de S. Paulo, por ser líder de circulação entre os jornais do país, considerando a soma de suas versões impressa e digitais, segundo o Ins�tuto Verificador de Comunicação.1 A posição destacada do jornal no cenário midiá�co brasileiro o localiza como um importante agente formador da opinião pública, entendida como o repertório de posicionamentos, juizos e hipóteses próprio do público (GOMES, 2011). A opinião pública é construída a par�r de representações e imagens compar�lhadas por diferentes grupos de interesses e atores sociais (LIPPMAN, 1922), entre os quais a mídia exerce um importante poder de agendamento (MCCOMBS e GHANEM, 2008; ROTHBERG, 2010). A etapa de coleta foi realizada a par�r do acervo digital da Folha. Realizamos uma busca pelas palavras-chave “vacina”, “imunização” e correlatas, como vacinação, vacinado(a) e an�vacina. Estabelecemos um recorte temporal entre os dias 1º de agosto de 2018 e 31 de julho de 2019, de modo que a amostra abarcasse um ano completo e fosse possível observar circunstâncias sazonais na cobertura. Optamos por inves�gar um momento anterior à pandemia de COVID-19, contexto cujas especificidades demandam uma análise específica, que está em curso. Esses parâmetros geraram um corpus inicial de 603 matérias. Foram eliminadas as duplicadas, as que foram publicadas em subsites da Folha de S. Paulo (como Livraria da Folha) e textos de autoria de leitores. Foram excluídas também as publicações que usassem a imunização de maneira metafórica, como no contexto de reality shows, e as matérias em que as vacinas eram citadas rapidamente, mas não eram o tema central da discussão. Após a aplicação desses critérios de exclusão, chegamos a um corpus de 132 matérias. Na etapa de codificação, as matérias foram subme�das ao protocolo analí�co desenvolvido pela Rede Ibero-Americana de Capacitação e Monitoramento em Jornalismo Cien�fico (MASSARANI e RAMALHO, 2012). Essa ferramenta metodológica foi escolhida por permi�r o mapeamento de diversos aspectos da cobertura jornalís�ca, tais como enquadramentos, fontes, editorias e recursos mul�mídia; incluindo questões relevantes para temá�cas de C&T, como a explicação de conceitos, a abordagem de controvérsias, bene�cios, promessas, danos e riscos; e a representação de cien�stas nas Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/01/folha-cresce-e-lidera-circulacao-entre-jornais-do-pais-em-2019.shtml. Acesso em: 17 nov. 2020. 1 matérias. Para esta pesquisa, as categorias analí�cas como enquadramentos, bene�cios, danos, promessas e riscos foram adaptadas à temá�ca da vacinação. Por fim, a codificação do material a par�r do protocolo permi�u análises quan�ta�vas e qualita�vas da cobertura sobre vacinação na Folha de S. Paulo. Mídia, saúde e co�diano: a vacina na Folha No período de um ano analisado, as vacinas es�veram presentes na cobertura jornalís�ca da Folha de S. Paulo em todos os meses, com maior concentração entre agosto e outubro, período das campanhas contra pólio e sarampo, e em fevereiro e março, meses da vacinação contra gripe e do crescimento de casos de febre amarela em 2019 (Gráfico 1). Gráfico 1 – A presença de matérias sobre vacina em cada mês do período analisado Fonte: Produzido pelos autores Apesar de as campanhas terem sido ganchos importantes, a presença da temá�ca durante todo o ano confirma a relevância da pauta das vacinas para o jornal. Das 132 matérias, foram 115 no�cias e reportagens (87,2%), 13 ar�gos (9,8%) de colunistas fixos e convidados, três editoriais (2,2%) e uma entrevista (0,8%) com o pesquisador Akira Homma, assessor cien�fico sênior da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Um total de 69 matérias (52,3%) esteve inserido na editoria “Co�diano”, voltada para “a cobertura dos principais fatos nas áreas de educação, urbanismo, violência, saúde pública, ambiente, administração pública e comportamento”. 2 Outras 29 matérias (21,9%) foram classificadas na editoria “Equilíbrio e Saúde”, que na definição do jornal, é direcionada ao “bem-estar �sico e mental, informando e inspirando o leitor que busca uma vida mais harmoniosa e saudável”. 3 Por outro lado, nenhuma matéria foi publicada na seção “Ciência”, cujo obje�vo declarado é “tornar compreensível às 2 Disponivel em: h�p://www.publicidade.folha.com.br/folhadigital/editorias/. Acesso em: 15 out. 2020. 3 Idem. pessoas leigas o trabalho de setores especializados”.4 Observa-se que a inserção das vacinas como questões do cotidiano é predominante, o que demonstra que a vacinação é compreendida como um recurso incorporado à vida das pessoas, destacando-se a função do jornal de prestação de serviço sobre campanhas e ações governamentais. Essa abordagem se relaciona à ampliação do conceito de saúde, que deixa de ser vista apenas como a intervenção médica sobre doenças para ser compreendida como recurso para a promoção do bem-estar na vida co�diana (BATISTELLA, 2008). Analisamos ainda os enquadramentos sobre as vacinas privilegiados pela Folha e os modos como o veículo (re)produz ideias e abordagens sobre esse importante recurso de saúde pública. Foi possível iden�ficar no corpus dez enquadramentos, sendo que cada matéria poderia apresentar um ou mais deles. No Quadro 1 sistema�zamos a descrição de cada enquadramento, o número total de matérias em que eles aparecem e o número de matérias em são iden�ficados como o enquadramento principal. Quadro 1 – Descrição e presença dos enquadramentos sobre vacinas identificados na Folha Enquadramento Polí�cas públicas Impacto da C&T Sociocultural Econômico Bioé�co e/ou jurídico Novo desenvolvimento tecnológico 4 Idem. Descrição Ações, programas e estratégias governamentais sobre desenvolvimento, produção e distribuição de vacinas; campanhas, cobertura vacinal e serviços disponíveis no SUS Impacto que o desenvolvimento cien�fico e tecnológico pode gerar na sociedade e na qualidade de vida de indivíduos e da cole�vidade Aspectos culturais e sociais relacionados à vacinação Âmbito econômico e mercadológico do setor de biotecnologia, envolvendo investimentos, patentes e ações de marketing Princípios legais, é�cos e morais envolvendo a produção, distribuição e aplicação de vacinas Anúncio de descobertas, de resultados experimentais, de ensaios clínicos e de novas vacinas Número total de matérias em que está presente Número de matérias em que é o enquadramento principal 93 64 85 24 43 15 20 9 14 9 10 6 Background cien�fico Incertezas cien�ficas Nova pesquisa Controvérsia cien�fica Antecedentes cien�ficos gerais sobre as vacinas, como pesquisas anteriores, recapitulação dos resultados e conclusões já conhecidas Riscos à saúde, efeitos adversos e limites da ciência na produção de conhecimento e na gestão de riscos presentes e futuros Bases cien�ficas e médicas das novas pesquisas e descobertas sobre vacina Controvérsias cien�ficas relacionadas às vacinas 6 1 4 1 3 2 1 1 Fonte: Produzido pelos autores Como iden�ficado acima, “polí�cas públicas” foi o enquadramento predominante, presente em 93 matérias (70,5%) e sendo o principal em 64 (48,5% do total), com o grande enfoque trazido pelo jornal sobre ações públicas para imunização de populaçõesalvo. Esse dado vai ao encontro de trabalhos anteriores a respeito dos debates sobre vacinas em redes sociais no Brasil, que também iden�ficaram uma concentração das conversações em torno das ações governamentais (MASSARANI et al., 2020). No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, foi responsável pela unificação do calendário vacinal e ampliação da cobertura demográfica, etária e de vacinas, consis�ndo em um programa de saúde pública internacionalmente reconhecido e concentrando 90% das demandas por vacinas humanas no setor público (SILVA JUNIOR, 2013; GADELHA et al., 2020). Portanto, a cobertura de ações estatais reflete e reforça a importância do Estado brasileiro no estabelecimento de uma “cultura da imunização” no país, por meio de introdução de novas vacinas e de ações de vacinação em massa (HOCHMAN, 2011). Isso fica evidente, por exemplo, em matérias que destacam a atuação de entes públicos em nível federal, estadual e municipal, como Ministério da Saúde alerta para risco de surto de febre amarela no verão;5 Estados usam shopping, vacina à noite e busca em casa para atingir meta;6 e Prefeitura vai visitar 13 mil casas para vacinar contra febre amarela em SP.7 Essas matérias priorizaram a voz de representantes da área médica e dos órgãos de saúde, com pouco ou nenhum espaço à fala dos cidadãos. Além das “polí�cas públicas”, o enquadramento sobre os “impactos da C&T” também teve destaque, aparecendo em 85 matérias (64,4%) e sendo o principal em 24 (18,2% do total). A importância das vacinas para a saúde e qualidade de vida aparecem especialmente em matérias sobre as quedas nos índices de cobertura vacinal 5 Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/co�diano/2018/08/ministerio-da-saude-alerta-para-risco-de-novo-surto-da-febre-amarela-no-verao.shtml. Acesso em: 10 out. 2020. 6 Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/co�diano/2018/09/estados-usam-shopping-vacina-a-noite-e-busca-em-casa-para-a�ngir-meta.shtml. Acesso em: 10 out. 2020. Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/co�diano/2019/02/prefeitura-vai-visitar-13-mil-casas-para-vacinar-contra-febre-amarela-em-sp.shtml. Acesso em: 10 out. 2020. 7 e a emergência de doenças já controladas, como em Com surto no Norte do país, total de casos de sarampo já é o maior desde 1999;8 Casos de febre amarela põem cidades do litoral paulista em alerta no feriado;9 Sarampo se alastra entre os ianomâmis na Venezuela e mata 72;10 e República Democrática do Congo vive segundo maior surto de ebola.11 A importância da imunização também é reforçada em matérias sobre movimentos an�vacina, enfa�zando os riscos trazidos pela hesitação vacinal. Na cobertura, destacam-se também algumas temá�cas rela�vas às vacinas. As campanhas de vacinação e surtos no Brasil e no exterior fizeram do sarampo a doença com maior espaço na Folha, mencionada em 40 matérias (30,3%). Além disso, também foram abordadas a poliomielite e a gripe (incluindo H1N1), presentes cada uma em 16 matérias (12,1%) e a febre amarela, mencionada em 13 (9,8%). Essas menções es�veram relacionadas a pautas sobre campanhas e ações de vacinação e o risco de reemergência pela queda na cobertura vacinal. Também foram recorrentes debates sociais em torno das vacinas. A questão da obrigatoriedade foi discu�da em 11 textos (8,3%), incluindo três editoriais e ar�gos de opinião. O debate se concentrou em torno da exigência de vacinação para matrícula de crianças em escolas, a possibilidade de multa para pais que deixam de vacinar seus filhos e o argumento da liberdade religiosa. A desinformação e os movimentos an�vacina também se fizeram presentes em nove e seis matérias (9,8% e 4,5%), respec�vamente, com ênfase nos riscos trazidos por esses fenômenos. Na matéria Governo mapeia 14 notícias falsas em média por dia só relacionadas à saúde, a Folha apresenta inclusive um “manual” para evitar a propagação de fake news, incluindo tópicos como “Faça uma busca na internet”; “Cheque a data”; “Leia a no�cia inteira” e “Se a no�cia não tem fonte, não repasse”.12 Outra temá�ca relevante foi a cobertura vacinal. A Folha dedicou 37 matérias (28%) à dificuldade de as campanhas a�ngirem as metas de imunização, especialmente contra sarampo, pólio e gripe H1N1. As matérias se concentraram notadamente no enquadramento “polí�cas públicas” (31 matérias), enfocando as ações do ministério e das secretarias, como antecipação e prolongamento de campanhas, vacinação nas escolas e em domicílios e até mesmo resgate do Zé Go�nha, personagem criado nos anos 1980 para conscien�zação sobre a importância das vacinas. Contudo, apenas uma matéria analisa os possíveis mo�vos da baixa adesão e propõe soluções para ampliar a vacinação. Em Medo de reação, falsa sensação de segurança e estrutura esvaziam vacinação,13 a Folha afirma ter ouvido durante semanas “pais, mães, profissionais de Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/co�diano/2018/08/com-surto-no-norte-do-pais-total-de-casos-de-sarampo-ja-e-o-maior-desde-1999.shtml. Acesso em: 10 out. 2020. 8 Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/co�diano/2018/09/casos-de-febre-amarela-poem-cidades-do-litoral-paulista-em-alerta-no-feriado.shtml. Acesso em: 10 out. 2020. 9 10 Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/10/sarampo-se-alastra-entre-os-ianomamis-na-venezuela-e-mata-72.shtml. Acesso em: 10 out. 2020. Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/12/ebola-chega-a-grandes-cidades-do-congo-que-vive-o-segundo-maior-surto-da-doenca.shtml. Acesso em: 10 out. 2020. 11 12 Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/co�diano/2018/10/governo-mapeia-14-no�cias-falsas-em-media-por-dia-so-relacionadas-a-saude.shtml. Acesso em: 10 out. 2020. 13 Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/co�diano/2018/09/medo-de-reacao-falsa-sensacao-de-seguranca-e-estrutura-esvaziam-vacinacao.shtml. Acesso em: 10 out. 2020. saúde, especialistas e gestores”. Contudo, a reportagem elenca uma série de explicações — falsa sensação de segurança, incompreensão da necessidade de revacinação, horários limitados de funcionamento dos postos etc. — principalmente a par�r da voz das autoridades públicas. Apenas uma única personagem citada nominalmente não é ligada a um órgão de saúde: uma mãe da zona oeste de São Paulo que expressou preocupações sobre possíveis reações adversas. Ou seja, nem quando o jornal diz ouvir familiares e profissionais do atendimento em saúde, a voz desses personagens aparece de modo explícito. De modo geral, a cobertura sobre vacina na Folha privilegia fontes governamentais, sendo as mais recorrentes vinculadas ao governo federal (65 matérias, 49,2%), seguidas pelo estadual (41 matérias, 31,1%) e municipal (27 matérias, 20,5%). Como já evidenciado, o enquadramento predominante de “polí�cas públicas” coloca os entes governamentais como atores principais nesse debate, à frente inclusive de representantes do campo cien�fico e dos profissionais de saúde. A seleção de fontes cons�tui um importante processo de enquadramento na produção jornalís�ca, ao legi�mar informações e construir representações sociais acerca das vacinas. Contudo, as no�cias são também resultado de interações entre jornalistas e outros atores sociais, nas quais as fontes ins�tucionais têm maior poder de agendamento, influenciando a maneira como informações em saúde são tratadas na produção jornalís�ca (GOMES e LOPES, 2019). Também foram fontes das no�cias médicos (30 matérias, 22,7%), pesquisadores (28 matérias, 21,2%), organismos internacionais, como a OMS (20 matérias, 15,1%), sociedades cien�ficas (17 matérias, 12,9%) e profissionais de saúde (cinco matérias, 3,8%). Como já dito, é importante avaliar a forma como cien�stas são enquadrados na produção jornalís�ca. Na cobertura de temas de ciência, esses profissionais aparecem especialmente para conferir credibilidade às informações presentes nas matérias. Nesse sen�do, no corpus analisado há um privilégio de pesquisadores de áreas como imunologia, infectologia, medicina tropical e epidemiologia, além de polí�cas públicas em saúde. Além disso, as 28 matérias que �veram cien�stas como fontes ouviram 35 pesquisadores homens e 11 mulheres, o que explicita uma disparidade de gênero: cien�stas homens aparecem mais do que o triplo de vezes que cien�stas mulheres, tendência já verificada em estudos anteriores com telejornais brasileiros, em que eles aparecem o dobro de vezes e tem maior tempo de fala que elas. Essa assimetria nas representações contribui para reforçar o imaginário predominante no senso comum que associa a figura do cien�sta ao gênero masculino, invisibilizando e afastando mulheres da ciência (CARVALHO e MASSARANI, 2017, MASSARANI et al., 2019; RAMALHO et al., 2012). Já os usuários do SUS, pacientes e seus familiares foram significa�vamente menos ouvidos, presentes em apenas dez matérias (7,5%). Esses cidadãos, em geral, são incorporados às no�cias para personalizar e humanizar os conteúdos cien�ficos e de saúde, em um esforço de aproximá-los com o co�diano dos leitores. Contudo, esse esforço é limitado a menos de um décimo do corpus. Frente ao crescimento da desinformação no debate acerca das vacinas, é compreensível por um lado o privilégio de fontes governamentais, ins�tucionais e profissionais, mas por outro a baixa presença cidadã nesses espaços indica que há ainda oportunidades para ampliar a par�cipação social nos debates públicos sobre vacinas. Outro importante elemento de produção de sen�do são os recursos mul�mídia. As fotografias foram muito recorrentes, usadas em 128 matérias (97%). Também houve o emprego de ilustrações, como infográficos e diagramas (18 matérias, 13,6%), mapas (cinco matérias, 3,8%) e vídeos (3 matérias, 2,3%). Em sua maioria, as fotografias nas matérias da Folha mostram crianças recebendo as vacinas, algumas delas chorando, ou as mãos de profissionais de saúde manuseando seringas e ampolas. É importante observar a forma como essas imagens são empregadas de modo a reforçar o imaginário social a respeito das vacinas (OLIVEIRA, 2014). Por exemplo, fotografias de crianças chorando aparecem repe�damente em diferentes matérias, inclusive em textos sobre a vacinação de idosos. Há também casos de cien�stas que aparecem nas fotos e não são mencionados no texto, apenas fazem parte da galeria de imagens que foi reaproveitada de matérias anteriores. Buscamos observar ainda de que forma a cobertura do jornal contribuiu à difusão do conhecimento cien�fico, por meio da apresentação de conceitos, controvérsias e desdobramentos do atual progresso da ciência. Entre o corpus analisado, 45 textos (34,1%) explicaram algum conceito rela�vo à imunização. A catapora, também conhecida como varicela, é uma infecção viral que causa erupção cutânea, coceira e febre. Em casos graves, pode levar a complicações como inflamação do cérebro, pneumonia e até a morte.14 As duas doses iniciais u�lizam um composto criado a par�r de um vírus de resfriado modificado e que não causa a doença para “entregar” quatro imunógenos — substância que induz respostas imunológicas.15 Por isso, antes do surto, a vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, já era oferecida gratuitamente durante todo ano pelo SUS (grifos nossos). 16 Observar se e como conceitos cien�ficos são apresentados é um importante meio para entender como o veículo presume que seu público está familiarizado com as vacinas e de que forma ele atua para popularizar a ciência e qualificar os debates públicos. Hoje, o volume excessivo de conteúdos sobre ciência e saúde disponíveis na rede dificulta a avaliação da qualidade das informações e da confiabilidade das fontes, o que pode levar os usuários a conclusões infundadas (NAVAS-MARTÍN et al., 2012). Nesse cenário, o jornalismo se cons�tui como um ator fundamental para a divulgação cien�fica. No entanto, a explicação de conceitos se restringiu a 45 matérias (34,1%), o que pode indicar que no restante do corpus as vacinas foram compreendidas como assuntos já dominados pela população. Por outro lado, um número maior de matérias (58, ou 43,9% do total) oferece algum �po de recomendação de saúde aos seus leitores, por exemplo, manter ambientes arejados, higienizar as mãos, evitar contato com pessoas contaminadas, estar em dia com o calendário de vacinação e informar-se sobre vacinas antes de viajar. Buscamos ainda inves�gar se os textos mencionam bene�cios e danos concretos, assim como promessas e riscos potenciais da imunização. Na amostra, 63 matérias (47,7%) mencionam explicitamente um ou mais bene�cios das vacinas e 55 (41,7%) citam uma ou mais promessas. Por outro lado, riscos são bem menos presentes, aparecendo em 23 matérias (17,4%), e apenas uma cita um dano (Quadro 2). Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2018/11/comunidade-an�vacina-esta-por-tras-do-maior-surto-de-catapora-em-decadas-em-estado-americano.shtml. Acesso em: 10 out. 2020. 14 Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/07/brasil-par�cipara-de-fase-avancada-de-teste-de-vacina-contra-hiv.shtml. Acesso em: 10 out. 2020. 15 16 Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/co�diano/2019/07/baixa-imunizacao-contra-sarampo-faz-sao-paulo-levar-campanha-para-escolas.shtml. Acesso em: 10 out. 2020. Quadro 2 – Descrição e presença dos benefícios, danos, promessas e riscos das vacinas identificados na Folha de S. Paulo Categoria Bene�cios Promessas Riscos Danos Número de matérias em que está presente A vacina previne uma ou mais doenças 33 A vacina bloqueia a transmissão de uma doença 19 A vacina erradica uma doença 18 A vacina evita mortes 5 A vacina é eficaz 4 A vacina evita o sofrimento causado por uma doença 3 A vacina cura 1 A vacina é uma conquista 1 A vacina ameniza uma doença 1 A vacina irá prevenir uma ou mais doenças 40 A vacina irá bloquear a transmissão de uma doença 7 A vacina irá erradicar a doença 4 Novas vacinas estão a caminho 2 A vacina não irá causar doença 1 A vacina irá evitar mortes 1 A vacina irá evitar sofrimento causado por uma doenca 1 A vacina irá recuperar o setor pecuário 1 A vacina irá amenizar uma doença 1 A vacina pode fazer mal 17 A vacina pode causar uma doença 3 A vacina pode falhar 2 A vacina pode ser usada como arma biológica 1 A vacina agrava uma doença 1 Menções Fonte: Produzido pelos autores Como exposto no quadro acima, apenas uma matéria no período apresenta um dano concreto. A no�cia Vacina contra dengue não deve ser tomada por quem nunca teve o vírus, diz Anvisa17 aborda a decisão da agência de contraindicar a vacina para pessoas soronega�vas, que podem desenvolver formas mais graves da doença caso venham a ser infectadas pelo mosquito Aedes aegypti. Apesar da importância de enfa�zar bene�cios e promessas das vacinas para reforçar sua relevância para a saúde pública, o esclarecimento de possíveis dúvidas sobre riscos e danos é necessário diante da proliferação da desinformação. A menor ocorrência desses aspectos na cobertura demonstra que essa lacuna ainda pode ser mais enfa�camente explorada pelo jornalismo. Por fim, também foi considerada significa�va a abordagem de possíveis controvérsias em torno das vacinas, presentes em 36 matérias (27,3%). Uma controvérsia pode ser compreendida como o embate de ideias e teorias ou a falta de consenso em 17 Disponível em h�ps://www1.folha.uol.com.br/co�diano/2018/08/vacina-contra-dengue-nao-deve-ser-tomada-por-quem-nunca-teve-o-virus-diz-anvisa.shtml. Acesso em: 10 out. 2020. torno de determinados temas (RAMALHO et al., 2017). Entre os tópicos com maior expressão, estão o movimento an�vacina; a hesitação vacinal; obrigatoriedade da vacina versus liberdades individuais; efeitos adversos e as fake news. Discu�r abertamente essas controvérsias pode contribuir para esclarecer possíveis dúvidas das audiências e para ampliar o debate público. Contudo, em apenas uma matéria uma controvérsia aparece como enquadramento principal: Vacina contra sarampo não causa autismo, reafirma novo estudo com big data. De acordo com a reportagem, “um novo e importante estudo publicado nesta semana não aponta para associação entre a vacina contra o sarampo e o au�smo — um dos mo�vos que pais invocam para não vacinar seus filhos” (grifo nosso).18 Ou seja, mesmo que pesquisas anteriores já tenham descartado o risco, um novo estudo é considerado “importante” frente aos ainda elevados índices de recusa vacinal. Assim, a controvérsia é abordada, mas sem promover um falso balanço, apresentando um contexto dado por pesquisas cien�ficas. Essa prá�ca, verificada em menor escala na cobertura, poderia contribuir para sanar dúvidas do público sobre a vacinação. Considerações finais A análise da cobertura da Folha de S. Paulo revelou aspectos importantes para compreender a produção de sen�dos sobre as vacinas no jornal. Elas são tratadas, primordialmente, como aspectos do cotidiano. Isso se reflete na proeminência dessa editoria frente às demais (52,3%), inclusive a de “Equilíbrio e Saúde” (21,9%). Essa abordagem reforça o entendimento da saúde como conceito amplo, relacionado não apenas a ausência de doença, mas à promoção de uma vida saudável; e o tratamento da vacinação como questão de polí�ca e saúde pública. Destacam-se os papéis de promoção da saúde e de prestação de serviços do jornalismo, com a ênfase na abordagem de campanhas de vacinação e de recomendações de saúde aos leitores. A predominância do enquadramento de políticas públicas (principal em 48,5% e presente em 70,5%) e de fontes governamentais reforça a importância da vacina como recurso de saúde pública e o papel do Estado em sua distribuição à população brasileira. O destaque dos impactos da C&T entre os enquadramentos (principal em 18,2% e presente em 64,4%) também demonstra que a presença ou a ausência da vacinação interfere significa�vamente na vida das pessoas. Os principais ganchos para tratar de impactos se referiam a momentos em que a vacinação estava ameaçada: aumento de doenças, queda da cobertura vacinal e movimento an�vacina. Esse aspecto demonstra que a cobertura dialoga com desafios contemporâneos à promoção da saúde pública, como a desinformação e a hesitação vacinal. O jornalismo se posiciona como ator importante, ao lado da ciência, para conscien�zar sobre a importância das vacinas. No entanto, a sub-representação de pessoas comuns (7,5%) demonstra que a par�cipação cidadã pode ser mais pautada pelo jornal no que se refere à vacinação. O jornalismo da Folha também promoveu a divulgação cien�fica com o reforço dos bene�cios das vacinas (47,4%), o combate à desinformação e a explicação de conceitos (34,1%), ainda que esse úl�mo aspecto possa ser ampliado. Cien�stas, médicos, e sociedades cien�ficas apareceram frequentemente entre as fontes. Contudo, houve disparidade de gênero entre os cien�stas entrevistados, com homens aparecendo mais que o triplo das vezes que mulheres. Além disso, os recursos mul�mídia �veram foco nas fotografias de crianças recebendo uma injeção. O fato de que essas imagens apareceram até mesmo quando as matérias se referiam à vacinação de adultos contribui para a construção de um imaginário 18 Disponível em h�ps://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/03/vacina-contra-sarampo-nao-causa-au�smo-reafirma-novo-estudo-com-big-data.shtml. Acesso em: 11 out. 2020. limitado sobre as vacinas como restritas à infância. Além disso, riscos (17,4%) e controvérsias (27,3%) poderiam ter sido mais abordados pela cobertura, uma vez que a crescente hesitação vacinal demonstra que a população tem dúvidas sobre as vacinas. Esses aspectos têm sido largamente explorados em prá�cas de desinformação, portanto, reforça-se o papel do jornalismo em abordá-los, trazendo contextualização e pesquisas cien�ficas ao invés de invisibilizá-los. A divulgação de pesquisas cien�ficas, por fim, também encontra espaço para crescer na cobertura, uma vez que nenhuma das matérias foi posicionada na editoria de “Ciência”. Assim, a predominância do tratamento da vacina como questão do co�diano, por um lado, produz sen�dos em que o acesso a esse recurso faz parte da vida e deve ser apropriado pelas pessoas. Por outro lado, traz o risco de invisibilizar seu enquadramento como um recurso desenvolvido e em constante aprimoramento pela ciência, sendo alvo de pesquisas cuja divulgação poderia contribuir para sanar dúvidas. Se o imaginário sobre saúde construído na mídia convoca as pessoas a se apropriarem desse campo como aspecto da vida, as relações entre C&T e co�diano ainda encontram espaço para ampliação no jornalismo. 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Luisa Massarani é divulgadora científica e coordenadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), sediado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e do Mestrado Acadêmico em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). É Doutora em Gestão, Educação e Difusão em Biociências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Mestra em Ciência da Informação pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Neste artigo, contribuiu com a proposta geral do estudo sobre a cobertura jornalística das vacinas; a concepção do desenho da pesquisa; a supervisão da redação e da revisão do manuscrito e revisão da versão em língua estrangeira. Ta�ane Leal é pesquisadora de Pós-Doutorado do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), sediado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com bolsa FAPERJ. É Doutora e Mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde também se graduou em Comunicação Social/Jornalismo. Neste artigo, contribuiu com desenvolvimento da discussão teórica; interpretação dos dados; apoio na revisão de texto; redação do manuscrito. Igor Waltz é pesquisador de Pós-Doutorado do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), com bolsa PDR10 da FAPERJ, e pesquisador do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT). É Doutor e Mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde também se graduou em Comunicação Social/Jornalismo. Neste artigo, contribuiu com desenvolvimento da discussão teórica; interpretação dos dados; apoio na revisão de texto; redação do manuscrito. Michelle Modesto é Mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), docente da ECDD/Infnet e pesquisadora do coLAB/UFF. Neste artigo, contribuiu com a coleta e interpretação dos dados. Antonio Marcos Pereira Brotas é pesquisador em saúde pública do Instituto Gonçalo Moniz (IGM/ Fiocruz Bahia). É Doutor em Cultura e Sociedade e Mestre em Comunicação e Cultura Contemporânea pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde também se graduou em Comunicação. Neste artigo, contribuiu com a concepção do desenho da pesquisa.