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FACULDADE DE LETRAS UNIVERSIDADE DE COIMBRA FICHEIRO EPIGRÁFICO (Suplemento de «Conimbriga») 223 INSCRIÇÕES 785-786 INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA, ESTUDOS EUROPEUS, ARQUEOLOGIA E ARTES COIMBRA 2021 ISSN 0870-2004 FICHEIRO EPIGRÁFICO é um suplemento da revista CONIMBRIGA, destinado a divulgar inscrições romanas inéditas de toda a Península Ibérica, que começou a publicar-se em 1982. Todos os volumes estão disponíveis no endereço http://www.uc.pt/fluc/ iarq/documentos_index/ficheiro. Publica-se em fascículos de 16 páginas, cuja periodicidade depende da frequência com que forem recebidos os textos. As inscrições são numeradas de forma contínua, de modo a facilitar a preparação de índices, que são publicados no termo de cada série de dez fascículos. Cada «ficha» deverá conter indicação, o mais pormenorizada possível, das condições do achado e do actual paradeiro da peça. Far-se-á uma descrição completa do monumento, a leitura interpretada da inscrição e o respectivo comentário paleográfico. Será bem-vindo um comentário de integração histórico-onomástica, ainda que breve. José d’Encarnação Toda a colaboração deve ser dirigida a: fe.revista@uc.pt Ficheiro Epigráfico | Instituto de Arqueologia | Palácio de Sub-Ripas Rua de Sub-Ripas 3000-395 COIMBRA | PORTUGAL A publicação deste fascículo só foi possível graças ao patrocínio de: Composto em ADOBE in Design, Versão 16.2.1 | José Luís Madeira | IA | DHEEAA | FLUC | UC | 2021 785 ARA FUNERÁRIA ANEPÍGRAFA A ara surgiu, a 13 de Julho de 2021, no âmbito dos Trabalhos Arqueológicos de Acompanhamento do Projecto Agrícola do Monte do Pasto (concelhos de Cuba, Ferreira do Alentejo e Alvito). Apareceu, descontextualizada, como resultado dos trabalhos de espedrega, quando se fazia a verificação dos elementos pétreos que estavam a ser depositados numa charca nas proximidades do Monte de Monforte (Fig. 1). Após um primeiro registo, foi removida para o Monte, devido ao risco que corria de poderem vir a ser depostos mais elementos pétreos que a pudessem fracturar ainda mais. Como o local em si não se apresentava seguro, solicitou-se ao Presidente da Câmara de Alvito que fosse guardada nos depósitos camarários, mesmo que apenas temporariamente. Lá se encontra. Das prospecções efectuadas no local resulta não se ter verificado mais nenhum tipo de presença quer de materiais quer de contextos arqueológicos perceptíveis. Também se não ficou a saber donde poderiam ter vindo as pedras trazidas para o local. De mármore de Trigaches, pátina rosada, moldurada nas quatro faces, está praticamente intacta: ligeiras escoriações nos topos dianteiros dos toros e uma escoriação maior ao nível da aresta dianteira da direita. Dimensões: 90 x 44 x 24/20/25. Ficheiro Epigráfico | 2021 | 223 | 3 No capitel (Fig. 2), os toros, lisos, abraçam um fastígio liso também, paracircular (com 20 cm de ‘diâmetro’), que assume aparência triangular à frente e atrás. Seguem-se-lhe um toro, moldura de gola encurtada e filete directo. Foi preparado, por rebaixamento, na face dianteira do fuste um campo epigráfico, de 24 x 30, que não chegou a ser utilizado, pois – mesmo recorrendo ao Método do Resíduo Morfológico de Hugo Pires – se não detectou qualquer vestígio de letreiro, ainda que ténue (Fig. 3). A base tem moldura de garganta reversa antes do amplo soco que é alisado na sua face inferior, o que dá a entender ter sido o monumento destinado a possuir «vida» autónoma, ou seja, sem qualquer reentrância, por exemplo, onde deveria encaixar-se. Na face lateral esquerda (Fig. 4), um jarro cónico, em relevo, de pé e asa que vai desde a boca até meio do bojo. Tem 20 cm de alto, 10 cm na boca (medidos na horizontal) e pé de 3 cm. Na face lateral direita (Fig. 5), em relevo, uma pátera de pega para baixo. Mede 20 cm de comprimento no total, 12 cm de diâmetro externo e 8 no interno.. No tardoz (Fig. 6), mais maltratado, há marcas de ter sido reutilizada como peso de lagar. A cavidade superior, de contornos irregulares, mede 28 cm no sentido longitudinal e 10 no vertical; rectangular e de vértices boleados, a de baixo mede 20 cm no sentido longitudinal e 10 no vertical. Monumento com estas características proveio necessariamente de oficina dedicada a fornecer, mui provavelmente, aglomerado urbano habitado por clientela de gosto apurado. A presença do jarro e da pátera, a simbolizar os objectos usados para a purificação do corpo antes de ser cremado ou inumado, justificam a sua classificação como ara funerária. O requinte patente na boa qualidade estética do monumento é passível de lhe atribuir uma datação do século II da nossa era. Marco Valente 1 José d’encarnação 2 1 Membro Colaborador do Centro das Arqueologias do Instituto Politécnico de Tomar. 2 Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património. Ficheiro Epigráfico | 2021 | 223 | 4 1 2 785 Ficheiro Epigráfico | 2021 | 223 | 5 3 4 5 785 Ficheiro Epigráfico | 2021 | 223 | 6 6 785 Ficheiro Epigráfico | 2021 | 223 | 7