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Magdalena López et al. (orgs.): Literaturas e Culturas em Portugal e na América Hispânica. Novas perspectivas em diálogo. Ribeirão: Húmus 2014

Iberoamericana, v. 16, n. 61, 310-314.

Iberoamericana, XVI, 61 (2016), 305-327 LIT ERAT URAS LAT IN OAME R ICAN AS : HIS TO R IA Y C R ÍTIC A 310 indianistas que irrumpieron con fuerza a ines del siglo xx, principalmente entre los pueblos originarios andinos y que llegaron a ser un componente importante de los movimientos antiglobalización y contra el neoliberalismo de principios de siglo.2 Uno de sus segmentos, localizado en el pueblo aymará, formuló las tesis más radicales del indianismo en lo se reiere a la ruptura con el mundo moderno, su cultura, su ciencia, su medicina y aun los conceptos de democracia y de ciudadanía. No obstante de los puntos críticos al trabajo de Juan José Bautista que hemos señalado con antelación, podemos airmar que su libro es un aporte signiicativo a una problemática ya clásica en el debate latinoamericano entre los historiadores de las ideas sobre la recepción de la modernidad europeo-occidental y su modo de implantación en América Latina. Su libro es apasionante porque es un alegato sobre la dignidad y el valor de las culturas de nuestros pueblos originarios olvidados y oprimidos por las élites criollas blancas, que siempre se sintieron ajenas a la cultura de sus pueblos vernáculos. Este es un libro denso ilosóicamente, que muestra un conocimiento profundo y ino de la tradición europea en sus grandes pensadores de la modernidad, como, Hegel, Marx, Heidegger, Habermas y muchos más, un ensayo erudito que se visualiza a través de las muchas notas y referencias, densas en contenido. Hugo Cancino Troncoso (Aalborg Universitet) 2 Véase al respecto: Fernando Mires (1992): El discurso de la indignidad. La cuestión indígena en América Latina. Quito: Abya-Yala. Magdalena López / Ângela Fernandes / Isabel Araújo Branco / Margarida Borges / Raquel Baltasar / Sonia Miceli (orgs.): Literaturas e Culturas em Portugal e na América Hispânica. Novas perspectivas em diálogo. Ribeirão: Húmus 2014 (ACT. 29-Alteridades, Cruzamentos, Transferências). 296 páginas. A coletânea de ensaios, Literaturas e Culturas em Portugal e na América Hispânica. Novas perspectivas em diálogo, foi elaborada por membros do projeto DIIA – Diálogos Ibéricos e Ibero-Americanos, do Centro de Estudos Comparatistas (CEC) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. No âmbito deste projeto Magdalena López, Ângela Fernandes, Isabel Araújo Branco, Margarida Borges, Raquel Baltasar e Sonia Miceli coorganizaram em Abril de 2013 o colóquio internacional ACT 29 (Alteridades, Cruzamentos, Transferências), juntamente com o Programa Gulbenkian Próximo Futuro. Trata-se de um evento anual do CEC, realizado a cada ano por um dos vários grupos de investigação do centro. A maior parte das contribuições do volume remontam-se às comunicações apresentadas no colóquio. As relações entre as literaturas e culturas portuguesa e hispano-americana são, de facto, pouco exploradas, razão pela qual este volume bilingue é muito bemvindo. Trata-se de um trabalho quase pioneiro que analisa um vasto leque de temas relevantes. As organizadoras criaram cinco secções temáticas com o objetivo de visibilizar alguns ios condutores nos 21 ensaios. Estas são: (1) Identidades em questão, (2) Sujeitos à margem e identidades transfronteiriças, (3) Representação 311 Iberoamericana, XVI, 61 (2016), 305-327 comparam-se fenómenos culturais parecidos que se desenvolveram em contextos diferentes e de maneira isolada um do outro, e confrontam-se, de forma exemplar, as respostas literárias e artísticas a realidades em certo sentido comparáveis, além de se estudarem fenómenos de receção e de mercado. As organizadoras do volume não foram rígidas, de maneira que as várias contribuições se caracterizam por uma série de abordagens de diferente índole que apresentam interessantes resultados e ao mesmo tempo abrem pautas prometedoras para futuras investigações. Encontramos assim leituras comparadas de García Márquez e Gil Vicente (Isabel Branco), Gonçalo Tavares e Jorge Luis Borges (Márcia Neves), Rubén Darío e Eugénio de Castro (Miguel Mochila), Fernando Pessoa e José Juan Tablada (Alejandro Palma), Ana María Shúa e Ana Hatherly (Cristina Ribeiro), Cristina Rivera Garza e Dulce María Cardoso (Alicia Ramírez), José Saramago e Miguel Otero Silva (Raquel Baltazar), António Lobo Antunes, Enrique Vila-Matas e César Aira (Felipe Cammaert), bem como confrontações entre o cinema português e chileno (Silvia Donoso) ou o muralismo mexicano e a azulejaria portuguesa (Armando Aguilar). Comentarei de seguida apenas alguns dos ensaios que me pareceram especialmente interessantes e sinalizarei aspetos que, numa leitura transversal, permitem pô-los em diálogo. Abordarei ensaios que lidam (1) com conceitos de espaço, (2) com as relações culturais entre Portugal e o México, e (3) com a receção da literatura hispano-americana em Portugal. Além disso formularei eventuais desiderata que, à partida, não pretendem ser uma crítica L ITE R ATUR AS L ATIN OAM E R ICAN AS : HIS T ORIA Y CRÍT ICA da memória, (4) Metaicção e autoria, (5) Recepção, releituras e conluências. É claro que esta proposta não pretende ser limitadora e que o volume permite uma leitura transversal que revela outras possibilidades de conexão entre os ensaios. O conjunto pode ser lido como uma tentativa de deslocar e desestabilizar os caminhos mais usuais e tradicionais dos estudos literários tais como o estudo de literaturas nacionais ou os diálogos entre os países latino-americanos com as suas antigas metrópoles, ou seja, trocas culturais entre a América Hispânica e Espanha, bem como entre o Brasil e Portugal, além das múltiplas inluências que estes países receberam de outras metrópoles europeias, nomeadamente a França e a Grã Bretanha, e mais recentemente de Estados Unidos. Estes diálogos, certamente essenciais para a compreensão da história, da literatura e da cultura em geral, apresentam uma longa tradição nos estudos literários, que não deve, no entanto, impossibilitar a análise nem de outros diálogos existentes, nem de diálogos possíveis embora ainda inexistentes. Assim, esta coletânea visa um caminho de abertura neste sentido sem querer ser rigorosamente sistemática nem conclusiva e muito menos normativa. A exploração e postulação de um diálogo entre Portugal e a América Hispânica implica, por um lado, revelar situações de contato direto (tal como o diálogo entre artistas contemporâneos, ou a receção da obra de um/a autor/a de uma época distante por um/a autor/a dos nossos dias) e, por outro lado, criar nexos onde não os havia, ou seja, pôr em diálogo dois universos culturais que não costumam dialogar diretamente. Assim, descobremse intertextualidades diretas e indiretas, Iberoamericana, XVI, 61 (2016), 305-327 LIT ERAT URAS LAT IN OAME R ICAN AS : HIS TO R IA Y C R ÍTIC A 312 aos ensaios – que por questões de espaço são curtos – mas sim um incentivo para investigações futuras. Relativamente aos ensaios que trabalham com conceitos de espaço, destaca-se o de Magdalena López sobre os romances cubanos Otras plegarias atendidas (2003), de Mylene Fernández Pintado e Desde los blancos manicomios (2008), de Margarita Mateo Palmer. Magdalena López parte de um texto de Odette Casamayor-Cineros sobre a incerteza pós-soviética na atual narrativa cubana para estabelecer uma “ética do desenraizamento” (“ética del desarraigo”, p. 51) que abrange um agenciamento “utópico” (que mantém a premissa de um certo progresso social) e um agenciamento “ingrávido” (p. 51), ou seja, sem gravidade, (que abandonou a ideia do telos histórico). Tema central dos romances é a deslocação das personagens entre Cuba y Estados Unidos. López destaca sobretudo o papel do manicómio e do hospital psiquiátrico – espaços de transitoriedade em que convivem pacientes de diferentes países e ideologias – e chega a conclusão que nestes romances prevalece uma noção de territorialidades quebradas, viagens interiores, e subversões semióticas espaciais. Também Silvia Ruzzi trabalha com conceitos de espaço no seu ensaio sobre o escritor e teórico mexicano Heriberto Yépez. Yépez tem-se dedicado especialmente a narrar e teorizar a fronteira do Norte mexicano. A nível cultural e identitário não se trata de uma linha demarcatória, senão de uma área fronteiriça, um espaço de interação entre culturas – um lugar transnacional e multiterritorial, em que, contudo, regem as forças hegemônicas de uma cultura sobre a outra. Para Heriberto Yépez, explica Ruzzi, a fronteira México- Estados Unidos, não constitui um espaço híbrido de fusão cultural. Trata-se antes de um espaço heterogéneo em que as assimetrias, desigualdades e a repulsão entre as culturas se tornam mais visíveis. Para Yépez, a metáfora da hibridização é ingénua, visto que a mistura cultural é um processo involuntário destinado a esbater ou mesmo apagar as contradições entre as culturas, acabando por ser uma estratégia conservadora. Ora, embora os ensaios de López e Ruzzi não estabeleçam ainda uma ponte entre América Hispânica e Portugal, pautam já um caminho possível para este diálogo. Seria interessante explorar em que medida estes conceitos de espaço e de fronteira poderiam ajudar a semantizar as fronteiras culturais entre Portugal e as suas ex-colónias – sempre tendo em conta as disparidades culturais e históricas. O conceito da hibridez não foi criticado apenas por teóricos hispano-americanos, mas também por escritores e teóricos africanos porque o consideram neocolonialista e inadequado para libertar as culturas africanas do olhar exógeno hegemônico. O México é um país abordado em vários ensaios do volume. O trabalho de Alicia Ramírez Olivares põe a literatura mexicana em confronto com a portuguesa ao analisar a voz feminina em dois romances policiais: La muerte me da (2008), da escritora mexicana Cristina Rivera Garza, e Campo de sangue (2005), da escritora portuguesa Dulce Maria Cardoso. Em ambos os romances leva-se a cabo um ato de castração simbólica (e no primeiro também física) que se traduz na ressigniicação da linguagem e no empoderamento da voz feminina, visto que funciona como uma metáfora de apropriação do espaço 313 Iberoamericana, XVI, 61 (2016), 305-327 dos anos 1970 a 90 conhecido como o boom, que não fazia distinções nítidas entre as regiões e os países. Esta homogeneização supericial permitiu vender ou mercantilizar a literatura hispano-americana primeiro com a etiqueta exotizante do realismo mágico e mais tarde com a da violência. No entanto, os processos de receção diferem de acordo com os países, e a entrada de certas obras literárias em Portugal, principalmente durante a Ditadura, mas também no período que a ela se seguiu, aconteceu num ritmo muito mais lento relativamente a outros países, como a França ou a Alemanha, por exemplo. Ora, o ensaio de Margarida Borges contém, por um lado, uma série de dados relevantes em relação às estratégias das editorias portuguesas até 1990 e, por outro lado, Ana Bela Morais, reconstrói pormenorizadamente a censura aos ilmes ibero-americanos na governação de Marcello Caetano. Ambos os ensaios poderiam dialogar e enriquecer-se mutuamente numa investigação mais ampla. Em todo caso, María Fondo acrescenta um aspeto isolado, o boom de Roberto Bolaño, e postula um novo paradigma, o “realismo visceral” (p. 237) que supostamente substitui o do “realismo mágico”. Na Alemanha pode-se observar um certo desfasamento em relação a receção dos novos paradigmas literários hispano-americanos. O “macondismo” (representado pelo êxito de Isabel Allende e as suas consequências “nocivas”) e o tema da “violência” (p. ex. nas vestes do romance policial) parece ser uma condição sine qua non para o êxito da literatura hispano-americana no mercado alemão. Mas, nos países hispano-americanos, há tempo que estes paradigmas foram substituídos por uma L ITE R ATUR AS L ATIN OAM E R ICAN AS : HIS T ORIA Y CRÍT ICA feminino. Os romances apresentam uma série de preocupações em comum que justiicam a comparação que leva a alguns resultados interessantes. Contudo, não se encontram no ensaio referências ao contexto cultural concreto em que se inscrevem, no que diz respeito por exemplo aos processos de empoderamento da mulher no México e em Portugal, países que passaram por processos históricos díspares. Esta questão talvez possa ajudar a diferenciar as abordagens das escritoras. O ensaio de Armando Trinidad Aguilar de León explora as relações entre os murais mexicanos pós-revolucionários (nomeadamente os de Diego Rivera) e a arte dos azulejos portuguesa do século xvi até ao Estado Novo no que diz respeito à representação de icções históricas em espaços públicos com o objetivo de criar uma determinada imagem da identidade nacional. Aguilar de León resume a evolução de ambas as artes, surgidas em contextos diferentes e isoladas uma da outra, salienta as origens e inluências (a árabe e a pré-hispânica), para depois concentrarse sobretudo na semelhante função social de ambas que consiste na representação (didática) de grandes eventos da história nacional com destaque para certos heróis (p. ex. Afonso Henriques ou Emiliano Zapata). A temática do ensaio parece-me profundamente enriquecedora e relevante para o volume na medida em que se centra na pintura enquanto a maioria dos ensaios se dedica ao estudo da literatura. O último eixo temático que gostaria de comentar é a questão da receção da literatura e cultura hispano-americana em Portugal. A literatura hispano-americana entrou no mercado europeu como um todo, através do fenómeno de mercado LIT ERAT URAS LAT IN OAME R ICAN AS : HIS TO R IA Y C R ÍTIC A 314 ampla série de novas vertentes que exigem a pluralidade e não se limitam à América Latina como espaço identitário, pelo que seria útil, também, um trabalho de análise das etiquetas de venda em relação ao mercado português na atualidade. Este volume traz à luz uma série de temas pertinentes e pouco explorados, ao mesmo tempo que levanta questões para futuros trabalhos. Neste sentido, considero-o um trabalho de levantamento e análise que se revela essencial no contexto dos diálogos entre a América Hispânica e Portugal, quer pela novidade que traz, quer pelos caminhos que abre a uma necessária investigação futura de aprofundamento da análise aqui já bem começada. Trata-se portanto de um livro que constitui um incentivo bem-sucedido para chamar a nossa atenção para o facto de que houve e continua a haver interligações culturais interessantíssimas entre Portugal e a América Hispânica e que estas merecem uma exploração mais sistemática e mais profunda – tarefa a que se continua a dedicar, certamente, o grupo de investigação DIIA. Iberoamericana, XVI, 61 (2016), 305-327 Doris Wieser (Georg-August-Universität Göttingen) Mariano Siskin: Cosmopolitan desires. Global Modernity and World Literature in Latin America. Evanston: Northwestern University Press 2014. 358 páginas. A pesar de los historiadores de la globalización que consideran que sus inicios se remontan al momento en que la especie humana se instaló en el extremo sur del continente americano, hacia el 10.000 a.C., y a pesar de los teóricos de la literatura mundial, que conceden (y al mismo tiempo desatienden) que la literatura latinoamericana ha sido un modelo para los procesos de independencia expresiva y de redeinición de las relaciones centro-periferia que tuvieron lugar tras la Segunda Guerra Mundial, América Latina no ha dejado de ser un convidado de piedra en el banquete de lo que Pascale Casanova dio en llamar “república mundial de las letras”. Dejando a un lado excepciones, como, por ejemplo, Una modernidad periférica (1988) de Beatriz Sarlo, artículos como “Lost in Translation: Borges, the Western Tradition and Fictions of Latin America” (1999) de Sylvia Molloy o, si se me permite, Literatura posnacional, de Bernat Castany Prado (Editum, 2007), los estudiosos de la literatura latinoamericana han sentido mucho menos “deseo de mundo”, que es la feliz metáfora que desarrolla Mariano Siskind en el libro que aquí reseñamos, Cosmopolitan desires (2014), que los intelectuales cosmopolitas latinoamericanos de los que este habla. Siskind, profesor de Humanidades en la Universidad de Harvard, realiza en este libro un riguroso y documentado estudio sobre las obras y discursos literarios que buscan, no siempre conscientemente, la construcción de un espacio simbólico mundial (“world-making discourses”, p. 7). Las diferentes calas en la historia de la literatura mundial no están ordenadas siguiendo un orden cronológico –no se trata, pues, de una historia de la literatura mundial en Latinoamérica– sino un orden lógico, o sistemático, puesto que las dos partes del libro se ocupan de dos aspectos teóricos