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Ebook investir exterior

Investimentos, AUTOR: Leandro Ruschel

Nº. 1 __ 2016 Introdução ............................................. 03 Abertura de conta ................................ 07 Impostos nos EUA ................................ 10 Onde Investir ........................................ 14 É estrategista da XP Securities e proisisonal CFP® (certiied inancial planner). Tem mais de 12 anos de experiência em alocação de recursos de clientes de alta renda no Brasil e nos EUA. Hoje mora em Miami e atua no mercado inanceiro internacional. Nº. 2 __ 2016 Imagine que um investidor que nasceu em Santa Catarina goste tanto de sua terra-natal que decida aplicar o próprio dinheiro apenas em ações de empresas fundadas por catarinenses ou com sede no Estado. Faz algum sentido investir dessa maneira? Ainda que esse catarinense possa ter obtido lucros elevados com a valorização das ações da Weg ou da BRF nos últimos anos, é bem provável que, com tão poucas possibilidades de investimento, ele também tenha aplicado – e perdido dinheiro – com papéis da Teka ou da Hering, do setor têxtil. Mas a essa altura talvez você esteja pensando: que tipo de investidor seria tão bairrista a ponto de só comprar empresas do seu próprio Estado? Pois saiba que, de certa forma, é assim que investem mais de 99% dos brasileiros – não em relação ao Estado de origem, mas em relação à nacionalidade. Pense em quantos dos seus amigos investem em ações ou títulos de empresas americanas que você perceberá que o país-sede da companhia conta muito na hora em que um brasileiro vai montar seu portfólio de investimentos – ainda que inconscientemente ou por achar que investir no exterior é muito complexo. O grande problema de concentrar a carteira no país de origem é que nem sempre as melhores oportunidades estão lá – o que ica evidente nos ciclos econômicos ruins como o atual. Com ao redor de 400 empresas abertas, a Bovespa é hoje um lago bem raso, que responde por cerca de 1% do mercado acionário mundial. Como a maioria dos peixes nem passa por suas águas, um investidor vai precisar de muita sorte para pescar o maior deles na Bovespa. Se houver um boom das empresas pontocom, por exemplo, é provável que a maior parte dos investidores brasileiros ique a ver navios. Caso a indústria farmacêutica faça descobertas revolucionárias nos próximos anos, você e seus amigos não vão ganhar nenhum dinheiro com isso. Além de restringir as possibilidades de lucro, a baixa diversiicação também aumenta o risco do investidor. Imagine, apenas por um exercício hipotético, que o presidente Michel Temer decida aumentar o Imposto de Renda pago por todas as empresas brasileiras. As ações da Bovespa sofreriam, não é mesmo? Mas se sairia menos mal quem tivesse aplicado uma parte do dinheiro nos EUA. Nº. 3 __ 2016 A tendência de concentrar o dinheiro em empresas locais não é exclusividade dos brasileiros, ainda que, aqui, o fenômeno seja mais acentuado. O percentual da poupança investida no próprio mercado local é equivalente a 99% no Brasil, 82% nos EUA, 58% na Alemanha e apenas 32% na Holanda, segundo estudo da gestora de recursos Mint Capital. Os investidores brasileiros têm até mesmo preferências regionais. O levantamento da Mint mostra, entre outros exemplos, que tradicionais fundos de ações cariocas preferem investir na empresa de educação Estácio, também do Rio de Janeiro, enquanto os gestores paulistas possuem uma alocação muito mais relevante na concorrente Kroton, com sede em São Paulo. Acha que é coincidência? Pois saiba que nas inanças comportamentais há até um nome para isso: viés doméstico. Os principais fatores que explicam o viés doméstico dos investidores brasileiros não são apenas psicológicos. Em primeiro lugar, é preciso considerar que a maioria da população é remunerada em reais e tem despesas em reais. Muita gente parece ignorar que diversos preços da economia – como de eletrônicos, carros, viagens, etc. – seguem de perto a cotação do dólar. O segundo fator é o desconhecimento do mercado americano ou europeu. As pessoas se sentem mais confortáveis ao investir no que conhecem. Se já é difícil para muita gente escolher ações na Bovespa na hora de montar uma carteira, imagine quando existe a possibilidade de investir em dezenas de milhares de empresas em âmbito global? Com tantas opções, como escolher onde colocar o dinheiro, não é mesmo? Por último, há a eterna concorrência da renda ixa. Considerando que a taxa Selic garante um retorno anual de 14,25%, só vale a pena correr algum tipo de risco para ganhar mais que isso. Como boa parte do mundo desenvolvido trabalha com juros reais negativos, a decisão de investir no exterior se torna ainda menos óbvia. Nº. 4 __ 2016 Para a maior parte dos especialistas em inanças, o ideal seria avaliar quanto você gasta em dólar ou em produtos importados e deixar exatamente esse volume de recursos atrelados ao dólar. Então se você gasta R$ 100.000 em viagens internacionais e produtos importados por ano, por exemplo, é isso que você deveria ter em ativos internacionais. Assim você zera seu risco cambial. É exatamente assim que agem os diretores inanceiros das maiores empresas brasileiras. Já os especialistas em alocação de recursos costumam ter uma visão um pouco diferente, principalmente quando não estão assessorando investidores extremamente conservadores. Se você possui patrimônio para investir e tolera algum risco, faz sentido diversiicar os riscos que vai correr de forma que, se tudo der errado, a perda seja tolerável. A exposição cambial e o investimento no exterior podem ajudar muito os resultados de uma carteira em tempos bicudos de perdas tanto na Bolsa e quanto na renda ixa. Entre 2010 e 2015, o Ibovespa, principal índice de ações brasileiro, acumulou uma desvalorização de 27,66%. Os juros pagos pelos títulos brasileiros também são bem mais altos hoje do que eram no começo da década – o que gera perdas para quem comprou preixados ou papéis atrelados à inlação. Já o S&P 500, o indicador das Bolsas americanas mais olhado pelo mercado, se valorizou 83,30% no mesmo período. Muitos dos fundos de investimento brasileiros mais rentáveis desta década carregaram durante anos na carteira ativos negociados nos EUA ou dólares. Então não tenha dúvida que, em alguns momentos, mandar dinheiro para fora será muito mais rentável que deixá-lo aqui. À medida que seu patrimônio cresce, mais faz sentido deixar uma parte de seus recursos no exterior. Se você é trader ou vive dos ganhos em Bolsa, não há por que ignorar que existe um mercado muito maior, mais aberto e com muito mais oportunidades de ganho que o Brasil. Para quem planeja morar, trabalhar, adquirir um imóvel, fazer uma pós-graduação ou passar um tempo viajando no exterior faz ainda mais sentido enviar parte do dinheiro para fora e investi-lo em moeda forte. Nº. 5 __ 2016 Uma das vantagens de investir nos EUA é diversiicar a carteira com a exposição a produtos de investimento diferentes das existentes no Brasil. Os EUA respondem por cerca de 50% do mercado acionário mundial. As maiores empresas de outros países também costumam ter ADRs (american depositary receipts) negociados nas Bolsas americanas – Vale, Petrobras, Itaú e Bradesco estão entre as companhias brasileiras com papéis negociados em Nova York. O mercado de “bonds” (dividas de empresas e países emitidas no exterior) também é gigantesco – e, ao contrário do que se vê no Brasil, bastante popular entre pessoas físicas. Há ainda a possibilidade de investir em fundos imobiliários – ou nos REITs, como são chamados nos EUA. Se você já está meio entediado de pescar peixinhos no lago raso, será que não chegou a hora de experimentar o oceano? Nº. 6 __ 2016 O primeiro passo para investir no mercado americano é abrir uma conta bancária lá. Aqui sempre faço questão de lembrar que ter conta nos EUA é perfeitamente legal. Muitos brasileiros ainda acham que isso é ilegal ou que é somente um subterfúgio usado por gente que quer esconder recursos de origem ilícita. Não que não haja remessas ilegais de dinheiro, evasão de divisas, uso de doleiros, etc. – basta ver a quantidade de políticos e funcionários públicos que vêm sendo investigados ou presos por manter contas em paraísos iscais para abrigar o dinheiro oriundo de propinas. Agora se a origem de seu dinheiro é lícita, pode icar tranquilo que você não terá problemas. Veja o que diz a própria Receita Federal: “As pessoas físicas e jurídicas podem comprar e vender moedas estrangeiras ou realizar transferências internacionais em reais sem limitação de valor na forma estabelecida pelo Banco Central, observada a legalidade da transação inclusive tributária.” Convencido? Para fazer a remessa do dinheiro, basta usar um banco ou corretora de câmbio autorizada pelo Banco Central. Há centenas de instituições financeiras onde você pode abrir conta legalmente nos EUA. Grandes bancos brasileiros como o Itaú, o Banco do Brasil e o Safra possuem uma excelente infraestrutura em cidades como Miami. Gigantes mundiais da indústria de private banking como o suíço UBS também são muito fortes nos EUA. Fora os bancos americanos de grande porte, que estão espalhados por todo o país. Mandar dinheiro para fora do país embute alguns custos. No momento em que for fechada a operação de câmbio, o cliente terá de pagar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A alíquota é de 0,38%. Ou seja, se você for enviar R$ 10.000 para o exterior, terá de pagar R$ 38 à Receita Federal. Independente do banco que prestar o serviço de câmbio para você, não haverá como escapar desse imposto. Já os custos de transação podem ser altos ou baixos: depende apenas de você encontrar as melhores condições. Acredito que a forma mais barata para fechar a operação de câmbio seja por meio do Banco do Brasil. Se você não é correntista do BB, primeiro deverá abrir uma conta numa agência do banco no Brasil. Faz sentido optar pela conta digital, que é totalmente isenta de tarifas para transações fechadas apenas por meios eletrônicos, como pela internet, pelo caixa automático ou pelo telefone – só operações feitas nas agências ou que envolvem cheques serão cobradas. Em seguida, deverá abrir uma conta no BB Americas, a subsidiária do BB nos EUA voltada ao varejo. Ali você terá os mesmos serviços oferecidos pelos bancos americanos, como Nº. 7 __ 2016 conta corrente, conta poupança, cartão de débito e crédito, investimentos imobiliários, etc. Também terá no BB Americas a conveniência de poder optar por atendimento e pelos serviços em inglês, português ou espanhol. O único ponto em que o BB Americas peca é nos investimentos, que serão restritos a poucos produtos. Mas vou apresentar uma solução para isso mais adiante. Abertas as duas contas no BB Brasil e no BB Americas, o cliente precisará fechar a operação de câmbio para só depois enviar o dinheiro ao exterior. A cotação da transferência internacional através do BB é baseada no câmbio comercial com uma variação de cerca de R$ 0,03 para compra da moeda. Por exemplo, se a cotação do dólar comercial estiver em R$ 3,50, o valor cobrado pelo BB será em torno de R$ 3,53. O resto do mercado costuma trabalhar com um “spread” bem maior sobre a cotação comercial, que pode chegar a R$ 0,15 ou até R$ 0,30 por dólar. Então se você planeja mandar bastante dinheiro para fora, só com a opção pelo BB já estará economizando muito com o câmbio. Além da cotação favorável, outra grande vantagem do cliente BB é a isenção de tarifas bancárias para a transferência de recursos para conta do BB Americas – muitos bancos cobram taxas por remessa, além do spread. A parte operacional também é muito simples. Pelo internet banking o cliente do BB pode fazer transferências de até US$ 3.000, até quatro vezes num período de 30 dias. Se isso não for suiciente, o cliente deverá comparecer a alguma agência do BB e nesse caso poderá fazer remessas superiores a US$ 3.000. O BB Americas cobra uma tarifa mensal de US$ 15 dos correntistas – mas clientes com a partir de US$ 10.000 no banco icam isentos dessa cobrança. Outra vantagem é ter acesso a um cartão de crédito emitido nos EUA e que não estará sujeito ao pagamento de IOF para compras em dólar. Para saber os documentos exigidos para a abertura de conta ou mais informações, o e-mail de contato do pessoal do BB em Miami é aberturadeconta@bbamericas.com. O BB Americas provavelmente já vai resolver a maior parte de suas necessidades em termos de operações bancárias, saques, pagamentos, transferências, cartões, etc. No entanto, na hora de investir vale a pena buscar uma corretora especializada em aplicações inanceiras. O BB vai lhe oferecer principalmente o investimento em CD, uma espécie de CDB, que paga uma taxa de juros em dólar próxima a 1% ao ano. Nº. 8 __ 2016 Também haverá mais uma quantidade minguada de outras opções, como a compra de títulos de renda ixa de empresas brasileiras emitidos no mercado internacional. Não vejo motivo para você se contentar só com isso, já que um investidor com dinheiro nos EUA pode ter acesso a dezenas de milhares de ações, títulos de renda fixa, fundos ou outros ativos com uma corretora. Meu conselho é bem simples: faça como os americanos, que vão ao banco quando precisam de crédito e buscam uma corretora na hora de investir. Algumas das maiores corretoras brasileiras também possuem unidades nos EUA e oferecem o importante diferencial do atendimento em português. A XP Investimentos, por exemplo, atua em solo americano por meio da XP Securities, que possui toda a estrutura necessária para atender traders e investidores que querem negociar ativos nos EUA ou se sentem mais protegidos deixando uma parte do patrimônio investido em países desenvolvidos. A XP Securities tem como principais diferenciais custos, agilidade e assessores de investimento que falam português. Caso você tenha alguma dúvida sobre a abertura de conta na XP Securities, envie e-mail para private@xpsecurities.com Nº. 9 __ 2016 Outro aspecto burocrático que o investidor precisa ter em mente é que, ao enviar seu dinheiro ao exterior, icará sujeito à legislação tributária e sucessória do país para onde os recursos foram enviados. As regras para o pagamento de Imposto de Renda nos EUA são bem diferentes das brasileiras. Também existem normas para o pagamento de IR por pessoas físicas e uma legislação completamente diferente para quem abre uma empresa com im especíico de investir no exterior. Vamos tratar primeiro das regras vigentes para as pessoas físicas. Quem aplica dinheiro nos EUA como pessoa física terá de pagar Imposto de Renda de 15% para volumes de até US$ 1 milhão de dólares, podendo chegar até 30%, para volumes superiores a US$ 20 milhões de dólares. A alíquota incidirá sobre o lucro obtido nos EUA sempre que for feita a venda de ativos com ganho de capital. O pagamento é feito no mês seguinte à venda, por meio de um Darf (documento de arrecadação de receitas federais) pago no Brasil. Até aí nenhuma novidade em relação àquilo que todo investidor faz quando investe em ações na Bovespa. Só que para aplicações em Bolsa nos EUA, eventuais prejuízos registrados em um mês não poderão ser utilizados para abater o imposto nos meses seguintes. A variação cambial também entra na conta, uma vez que o cálculo do ganho de capital será feito em reais. Muito pouca gente sabe disso, mas vendas de ativos inferiores a R$ 35.000 por mês também icam isentas nos EUA da mesma forma que na Bovespa. no Brasil os dividendos recebidos são isentos de IR e que há apenas a cobrança de IR para a distribuição de juros sobre o capital próprio com a alíquota de 15%. Em relação à renda ixa, as regras são diferentes da renda variável. As pessoas físicas vão pagar sobre os juros recebidos imposto segundo a tabela progressiva de IR. Se você registrar perdas vendendo um título de renda ixa antes do vencimento – muita gente não sabe, mas, sim, isso é possível – não poderá usar esse prejuízo para abater o IR a ser pago sobre o lucro dos meses seguintes. Todas as alíquotas citadas até agora serão pagas à Receita Federal no Brasil – somente os dividendos sobre as ações é que serão cobrados nos EUA. Já a regra dos proventos é completamente diferente e bastante complexa. Os dividendos pagos aos cotistas de fundos de investimento serão tributados com a tabela progressiva do IR – ou seja, com alíquotas que variam de 0 a 27,5%, de acordo com o valor dos rendimentos. No caso de quem compra uma ação diretamente na Bolsa e recebe o dividendo, a Receita dos EUA cobrará na fonte o IR com uma alíquota de 30% - no Brasil nada será cobrado sobre esse dividendo para evitar a bitributação. Vale lembrar que Nº. 10 __ 2016 Mas o maior problema de fazer operações nos EUA com uma conta em nome da pessoa física é o imposto sobre a herança que será cobrado dos herdeiros em caso de falecimento do investidor. A alíquota mínima do imposto sobre herança será de 40% em nível federal e ainda há uma cobrança estadual (alíquota varia de acordo como Estado). Isso quer dizer que se alguém morre e deixa US$ 1.000.000 para os herdeiros, eles terão de pagar ao menos US$ 400.00 para o isco e icarão com no máximo US$ 600.000. Aqui é possível fazer planejamento sucessório, uma vez que esse imposto não incide em fundos ofshore e sobre “bonds” (títulos de renda ixa) estrangeiros. Outro detalhe: se um sujeito tiver dinheiro numa conta conjunta com “rights of survivorship” com a esposa e morrer, o dinheiro da conta ica para a esposa sem que seja necessário pagar imposto sobre isso. Devido a essas regras que em seu conjunto podem ser consideradas bastante punitivas, pode fazer mais sentido investir nos EUA por meio de um trust, uma ofshore ou uma empresa americana. Ainda que essas estruturas volta e meia apareçam em escândalos de corrupção envolvendo políticos de Brasília, saiba que são veículos absolutamente legais desde que a origem do dinheiro seja lícita. A vantagem mais espetacular de abrir uma ofshore, mandar o dinheiro para lá e só então investir no mercado de capitais americano é que o IR sobre o ganho de capital obtido só será cobrado quando o dinheiro for distribuído para os acionistas. Essa é uma vantagem tributária brasileira que praticamente nenhum país do mundo confere a seus cidadãos. E, no aspecto sucessório, não haverá a sobretaxação, já que, em caso de falecimento do dono de uma empresa ofshore, ela continua a existir – suas cotas apenas são transferidas aos herdeiros sem a cobrança de imposto. Com a abertura de uma ofshore o investidor só não vai escapar do pagamento de 30% de imposto sobre dividendos, que nos EUA é recolhido na fonte pela sua corretora. Para que as regras sejam mais bem compreendidas e a comparação ique mais fácil, preparei esse quadroresumo que mostra como pessoas físicas e as ofshores serão tributadas nos EUA: Nº. 11 __ 2016 Nº. 12 __ 2016 A tabela deixa claro que abrir uma ofshore pode permitir uma enorme economia com o pagamento de impostos. As principais vantagens dessa estrutura são eiciência iscal, a proteção e o planeamento sucessório. A desvantagem é basicamente o custo de estruturação e manutenção da empresa, o que torna essa estrutura mais indicada para investidores de médio e grande porte. Os custos de abertura, encerramento e manutenção da ofshore variam muito dependendo da instituição escolhida para constituí-la e do tamanho da empresa. Mas, dentro de tudo que tenho visto, para estruturas simples no Caribe estimo que o custo de abertura ique entre US$ 2.000 e US$ 5.000 e a manutenção anual, entre US$ 1.000 e US$ 3.000. Já para companhias mais soisticadas, os custos podem ser bem mais elevados. O diferimento iscal que a estrutura ofshore permite é ainda mais interessante para investidores com peril mais agressivo, que costumam fazer muitas alterações na carteira, uma vez que o imposto só será pago quando os recursos forem trazidos de volta ao Brasil. Em relação aos custos, quanto maior o patrimônio do cliente e quanto mais tempo o dinheiro permanecer lá fora, maior será a diluição dessas despesas. Em suma, levando tudo isso em consideração e baseado na minha experiência com clientes ao longo dos anos, caso o investidor tenha alguma preocupação especíica em relação a proteção ou sucessão ou tenha um patrimônio no exterior superior a US$ 300.000, de uma maneira geral vale a pena estudar a montagem dessa estrutura junto com um advogado especializado e um consultor inanceiro. Na maior parte das vezes será extremamente vantajoso. Uma questão muito importante que precisa ser reforçada é a questão da legalidade da estrutura. A todo momento a gente lê no noticiário que um político que recebia propina tinha uma ofshore no exterior. E por esse motivo a estrutura acaba sendo associada à ilegalidade. Muitas pessoas que possuem recursos não-declarados optam pela estrutura de uma ofshore no exterior para diicultar a identiicação do proprietário da conta. Mas não há nenhuma ilegalidade para o investidor que opta pela estrutura, usa recursos devidamente declarados para capitalizá-la e informa suas contas anualmente em sua declaração de IR e ao Banco Central. Um último lembrete sobre o pagamento de impostos no exterior: todo brasileiro que tiver mais de US$ 100.000 fora do Brasil no dia 31 de dezembro de um ano deverá informar à Receita Federal a existência desses bens na declaração do IR do ano seguinte e também terá de entregar ao Banco Central uma declaração especíica de bens no exterior. Não se preocupe que declarar a existência de bens não é fato gerador para a cobrança do IR – você só paga imposto quando vende ativos com ganho de capital e embolsa esse lucro. Nº. 13 __ 2016 Assim que você tiver aberto conta no exterior, tiver optado por investir por meio de uma empresa ou na pessoa física e já tiver enviado o dinheiro para fora, chegará a hora de começar a pensar nos ativos que serão comprados. A seguir avalio as principais opções: Assim como o S&P 500 deu um banho no Ibovespa nos últimos cinco anos, também o mercado imobiliário americano tem tudo para continuar a apresentar resultados melhores que o brasileiro. Muita gente já percebeu isso. Em algumas cidades como Miami, os brasileiros costumam ser os estrangeiros que mais compram imóveis – ao lado dos venezuelanos. Orlando e Nova York também estão entre as cidades preferidas dos brasileiros. O público, no entanto, é formado basicamente por milionários. Em geral, quem compra um imóvel nos EUA está disposto enviar ao menos US$ 1 milhão para fora, entre o custo do imóvel e outras aplicações inanceiras. É por isso que acho o mundo das aplicações inanceiras bem mais acessível. Para quem sonha em comprar um imóvel nos EUA, o primeiro passo é ter um visto válido para entrar no país, que pode ser o de turista mesmo. Também é necessário abrir uma conta em banco americano e registrar o imóvel em nome de uma empresa aberta para esse im como forma de evitar a taxação sobre heranças. Para os investidores que estão de olho na renda dos aluguéis, os especialistas recomendam a compra de imóveis comerciais ou residenciais que permitam a locação por temporada. Já quem está investindo na expectativa de obter uma valorização futura deve comprar uma unidade em um empreendimento imobiliário que ainda está em desenvolvimento. Para a imensa maioria dos brasileiros, no entanto, comprar imóveis nos EUA para investimentos não é tão simples, principalmente para um estrangeiro que conhece pouco o mercado, suas taxas, suas particularidades, os custos de ter uma administração proissional para alugar imóveis, etc. Esse é outro motivo para eu preferir as aplicações inanceiras. Nº. 14 __ 2016 - REITs híbridos: combinam as duas estratégias de investimentos anteriores; - ETFs de REITs: investem em diversos REITs, diversiicando os investimentos. Existem mais de 300 REITs de capital aberto com cotas negociadas nos EUA e o volume médio diário de transações mais do que quadruplicou nos últimos três anos. O retorno em aluguéis de um REIT costuma icar entre 3% e 6% ao ano – o que é muito bom considerando os juros americanos e que o valor dos imóveis nos EUA costuma subir de acordo com a inlação, já que a taxa de retorno dessa aplicação será igual aos aluguéis recebidos mais a valorização das propriedades. Mas atenção a uma informação muito importante: no caso do investidor brasileiro ou de outros países, o governo americano retém diretamente na fonte o imposto sobre os dividendos (30%), o que também inclui os aluguéis pagos pelos REITs. Isso deve ser levado em conta antes de tomar a decisão de investimento. Uma opção mais simples e líquida do que os imóveis é investir em fundos imobiliários nos EUA. Os chamados REITs (real estate investment trust) são muito semelhantes aos fundos imobiliários brasileiros: distribuem boa parte da renda gerada (90%), investem majoritariamente em imóveis ou títulos relacionados a imóveis (75%) e possuem cotas negociadas em Bolsa. Os principais tipos são: - REITs de capital: compram imóveis e depois obtêm receitas principalmente do aluguel de suas propriedades. São popularmente chamados “fundos de tijolo” no Brasil; - REITs hipotecários: investem em hipotecas de propriedades e suas receitas são geradas principalmente pelos juros sobre os empréstimos hipotecários; O mercado de ações americano é gigantesco quando comparado ao brasileiro. São mais de 10.000 empresas com ações negociadas em mais de 10 diferentes Bolsas. Mas a maioria dos investidores brasileiros sabe pouco sobre o que é negociado além do que é mostrado nos ilmes sobre Wall Street. Um número tão grande de empresas só torna ainda mais difícil a vida de quem precisa escolher três ou quatro papéis para colocar na carteira. Pessoalmente gosto muito da opção de comprar ETFs (exchanged traded funds, ou fundos com cotas negociadas em Bolsa) ao invés de ações porque cada ETF já vai lhe garantir uma diversiicação em dezenas ou centenas de empresas – reduzindo muito a chance de que uma única escolha extremamente infeliz provoque danos irreparáveis a sua carteira. Nº. 15 __ 2016 Com os ETFs, ao comprar uma cota o investidor na verdade está adquirindo um conjunto de ativos, o que permite uma maior diversiicação e acesso a ativos mais restritos com uma quantia pequena de dinheiro. E como uma ação, esses fundos são negociados em Bolsa e podem ser comprados e vendidos a qualquer momento. No Brasil só existem ETFs de ações e com estratégia passiva, que replicam índices (Ibovespa, IbrX, S&P, etc.) ou setores (consumo, imobiliário, etc. Já nos EUA existem ETFs para todos os gostos: renda ixa, ações, commodities, ativos de qualquer região do mundo e com gestão ativa ou passiva. Lógico que você pode comprar um ETF bem simples que siga o S&P 500, por exemplo. Mas também pode pensar em qualquer estratégia de investimento que, muito provavelmente, será possível encontrar um ETF que faça o trabalho. E o mais legal, na minha opinião, é que o investidor pode operar comprado ou vendido. No total, quase 30% dos negócios em Wall Street incluem ETFs e essa é uma indústria que cresce a taxas que alcançam 25% ao ano. No mundo todo já existem mais de 5.000 ETFs! Vou dar alguns exemplos do nível de desenvolvimento dessa indústria. Suponhamos que o investidor acredite que a volatilidade do mercado está muito baixa. Em vez de montar uma estratégia complexa com opções, como no Brasil, é possível comprar um ETF de volatilidade: iPath S&P 500 VIX ST Futures ETN (código: VXX). Para os investidores tecnológicos que querem surfar o crescimento no mercado de smartphones, por exemplo, existe um ETF exclusivamente dedicado a gadgets, incluindo fabricantes de celulares, desenvolvedores de software e provedores de rede do mundo todo: First Trust Nasdaq CEA Smartphone Index Fund (código: FONE). E por aí vai. Mas se engana quem pensa de ETFs são apenas para investidores arrojados. É possível comprar um ETF que invista somente nos títulos de renda ixa mais líquidos do mundo de empresas classiicadas como “investment grade” (menos arriscadas): iShares iBoxx $ Investment Grade Corporate Bond ETF (código: LQD). Enim, deu para entender que as opções são muitas, né? Se você quer investir nos EUA, é só deinir qual será a estratégia e dar um Google seguido da sigla “ETF” que provavelmente você encontrará um ativo parta isso. Além da diversiicação e da variedade de oferta, outro atrativo dos ETFs são as aplicações iniciais bastante reduzidas e, principalmente, os baixos custos. As taxas de administração/gestão de um ETFs são, em média, equivalentes a um sexto do que cobram os fundos tradicionais. É por isso que não apenas pessoas físicas como também muitos investidores institucionais defendem os ETFs como veículo para conseguir melhores performances no longo prazo. Para saber a taxa de administração de um ETF, basta entrar no site de seu emissor, encontrar o ETF buscado e achar a “expense ratio”. Quanto menor a taxa, melhor para o investidor. Não esqueça de também avaliar a liquidez. Não Nº. 16 __ 2016 adianta nada você comprar um ETF com baixa taxa de administração se na hora de comprar será preciso pagar ágio e na hora de vender será necessário aceitar um deságio em relação ao último negócio. Se você olhar no livro de ofertas e perceber que a melhor cotação de compra (“bid price”) é muito diferente do melhor preço de venda (“ask price”), é sinal que o “custo de liquidez” pode ser bem elevado. Além de ações, ETFs e fundos imobiliários, há ainda uma ótima opção de aplicação inanceira nos EUA: os títulos de renda ixa negociados no mercado internacional, conhecidos como “bonds”. À primeira vista, muita gente acha pouco atrativo investir em renda fixa no exterior porque os juros estão muito altos no Brasil ao mesmo tempo em que aparecem próximos das mínimas históricas nos EUA. Mas acredito que essa seja uma análise supericial que só considera a taxa básica das economias. Vou dar um exemplo. Os “bonds” de grandes empresas estatais brasileiras como a Petrobras e o Banco do Brasil chegaram a garantir rendimentos anuais em dólar próximos a 10% neste ano. Quando comparada com uma Selic de 14,25% ao ano, me parece que teria sido uma excelente escolha receber 10% em dólar devido à proteção proporcionada por uma moeda forte. É lógico que taxas tão altas em dólar só podem ser encontradas no mercado quando a percepção de risco dos investidores em relação a um papel é extremamente elevada. Os títulos do Tesouro americano com vencimento em 30 anos pagam juros de cerca de 2,5% ao ano. Os juros dos papéis do BB só ultrapassaram 10% em janeiro porque o petróleo despencou e se espalhou pelo mercado um temor de que os bancos mais expostos a essa indústria poderiam quebrar, levando a quedas drásticas de praticamente todas as ações do setor inanceiro ao redor do globo. O mesmo aconteceu com a Petrobras: o mercado começou a questionar se a empresa teria caixa para arcar com sua pesada dívida com um preço do barril tão baixo. Com a recuperação do petróleo, os títulos dessas duas estatais se recuperaram, e hoje os juros são mais baixos que 10%. O segredo para montar uma carteira de “bonds” bem rentável é diversiicar os riscos. Seja no Brasil ou nos EUA, empresas quebram. Se você mira retornos de 6% ou 7% em dólar, não poderá comprar apenas títulos com “grau de investimento” e precisará correr o risco de empresas chamadas de “high yield”. Dentro desse grupo há companhias endividadas que estão cumprindo com todas as suas obrigações, mas que, em algum momento, poderão não ter mais dinheiro para honrá-las. Também há empresas de setores como de tecnologia, que podem crescer dois ou três dígitos ao ano, mas ainda não são lucrativas. Ou há empresas que já foram fortes geradoras de caixa no passado, mas que ultimamente estão no vermelho. É muito difícil para o pequeno investidor antecipar qual empresa vai quebrar. Então o melhor conselho que posso dar é comprar uma cesta de empresas de maneira que a quebra de uma delas não coloque em risco seu patrimônio. Funciona assim: se você quer aplicar 20% de seu patrimônio em “bonds”, compre títulos de 20 empresas diferentes, sendo 1% do patrimônio em cada uma. É assim que grandes investidores investem em “bonds”. E é a partir dessa premissa que você deveria construir sua carteira, seja com a compra direta de “bonds”, seja com o investimento em fundos de renda ixa “high yield” bastante diversiicados. Nº. 17 __ 2016 Uma das características mais interessantes do mercado americano é a possibilidade de alavancagem. Os juros nos EUA são bem menores que no Brasil – ou seja, os empréstimos oferecidos pelos bancos americanos são bem mais baratos. Então um investidor que tenha recursos no exterior e deseje tirar proveito disso pode dar seus investimentos como garantia para conseguir um empréstimo barato e aplicar esse dinheiro com o objetivo de alavancar o retorno da carteira. Mas o que isso quer dizer exatamente? A grande maioria das instituições inanceiras no exterior concede empréstimos a seus clientes tomando como garantia seus investimentos inanceiros. O banco avalia a qualidade dos investimentos na carteira do cliente (se são ativos mais seguros ou mais especulativos) e concede um empréstimo sobre um percentual da carteira. E olhem só que curioso: a modalidade de alavancagem que mais tenho visto entre os investidores brasileiros é a de clientes que tomam empréstimos sobre seus investimentos no exterior para enviar o dinheiro ao Brasil. Além do ganho no investimento em títulos de renda ixa no Brasil, o cliente, dependendo do caso e da estrutura, evita o pagamento de IR sobre o ganho inanceiro que teve no exterior, já que o dólar se valorizou muito nos últimos anos e o pessoal que tinha dinheiro em Miami fez fortunas com isso. Em relação a esse assunto, acho que dois alertas precisam ser feitos. O primeiro é que a alavancagem também pode ter o efeito colateral de turbinar as perdas se o investidor aplicar mal os recursos. Logo, seja cauteloso. O segundo é que você não tente alavancar sua carteira tomando empréstimo em um banco no Brasil porque os juros cobrados são estratosféricos. Até já vi gente tomar empréstimo consignado no Brasil para investir em ativos de renda variável. Mas nunca recomendei isso porque acho que a possibilidade de quebrar a cara é enorme. Já nos EUA, pode ser uma boa opção. Vamos colocar em números para facilitar. Digamos que o investidor tenha US$ 1 milhão investidos em ativos inanceiros que geram retornos em dólar de 6% ao ano. A instituição inanceira avalia a carteira e concede uma alavancagem de 70%. Ou seja, é liberado um empréstimo de US$ 700.000 a uma taxa de juros de 3% ao ano com os próprios ativos da carteira colocados como garantia de pagamento. O investidor pega esse empréstimo de US$ 700.000 e reinveste na mesma carteira que gera 6% ao ano. Sendo assim, seu ganho anual deixa de ser de US$ 60.000 (6% de US$ 1 milhão) e passa a ser de US$ 102.000 (6% de US$ 1,7 milhão). No entanto, esse investidor tem um custo de US$ 21.000 do empréstimo (3% de US$ 700.000). Conclusão: a carteira passa a render 8,1% ao ano (US$ 102.000 – US$ 21.000 = US$ 81.000 ou 8,1%) em vez de 6% sobre os recursos investidos. Percebeu como nos EUA a alavancagem pode ser vantajosa? Nº. 18 __ 2016 Chegamos ao inal desse ebook. Acredito que tenha passado muitas informações interessantes para quem deseja avaliar a viabilidade de construir uma carteira global de investimentos. É lógico que que há muitas outras informações que não foram incluídas nesse ebook, mas pode ficar tranquilo que todas as pessoas que se cadastraram no InfoMoney para baixá-lo continuarão a receber conteúdos produzidos por mim sobre investimentos nos EUA. Continuaremos em contato por e-mail e em breve trarei muitas novidades. Nº. 19 __ 2016