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R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c in a T r o p ic a l 2 5 ( l) : 5 1 - 5 8 , ja n -m a r , 1 9 9 2 E PID E M IO L O G IA D A D O E N Ç A D E C H A G A S N A Z O N A R U R A L D O M U N IC ÍP IO D E T E R E S IN A -P IA U Í, B R A SIL D alva Neves da C osta Bento, Luiz M . Farias, M oacyr F. Godoy e John F. Araújo N a á r e a r u r a l d o m u n ic íp io d e T e r e s in a - P ia u í, f o r a m c a p tu r a d o s 1 2 9 tr ia to m ín e o s d i s t r i b u í d o s e m (a ) e c ó t o p o s a r tif ic ia is : h a b it a ç õ e s (1 Triatom a b ra silien sis, 1 P a n stro n g y lu s g en icu la tu s, 1 R h o d n iu s p ic tip es e 1 R h od n iu s p ro lix u sj e g a l p ã o a b a n d o n a d o ( 7 R h od n iu s n a su tu sj e (b ) e c ó t o p o s n a tu r a is : O rb ign ya m artiana (4 1 R h od n iu s n e g le c tu s, 3 3 R h o d n iu s p ro lix u s e 4 1 R h o d n iu s nasutus,) e C op ern icia cerifera (3 R h od n iu s neglectus,). C e r c a d e 2 2 ,6 % d o s tr ia t o m í n e o s c a p tu r a d o s e s ta v a m in f e c ta d o s p o r f l a g e l a d o s , s e n d o 3 0 % a r t if i c ia l e 2 1 , 9 % n o a m b ie n te n o a m b ie n te n a tu r a l. D o s 2 8 m a m íf e r o s c a p tu r a d o s e e x a m in a d o s , 7 D id elp h is a ib iv en tris, 2 R attus rattus e 1 T am andua tetradacty la a p r e s e n ta v a m - s e p o s i t i v o s p a r a f l a g e l a d o s . O s f l a g e l a d o s e n c o n tr a d o s n o s tr ia to m ín e o s e n o s m a m íf e r o s e r a m s e m e lh a n t e s a o T ry p a n o so m a cru zi. D a s 1 2 3 r e a ç õ e s s o r o l ó g i c a s , p o r im u n o jlu o r e s c ê n c ia in d ir e ta , r e a l i z a d a s n a p o p u l a ç ã o , d u a s ( 1 ,6 % ) f o r a m r e a tiv a s . P a la v r a s - c h a v e s : D o e n ç a d e C h a g a s . E s tu d o e p id e m io ló g ic o . T ry p a n o so m a cru zi. T r ia to m ín e o s , P ia u í. A doença de C hagas, protozoose prim itiva de anim ais silvestres, resulta de adaptação posterior do parasito ao hom em , acom etendo hoje cerca de 5 (cinco) m ilhões de brasileiros, e tom ando-se assim , um a das m ais graves endemias em nosso País7. A transm issão do T r y p a n o s o m a c r u z i ao hom em depende de dois fatores: o desequilíbrio ecológico e a m á qualidade de habitação do hom em , q ue p ro p o rc io n a assim , a d o m icilia ção dos triatom m eos2. N a pro filax ia e controle desta endem ia, o conhecim ento do ciclo silvestre da doença é de fundam ental im portância. Sabe-se que espécies de triatom íneos, principalm ente do gênero R h o d n iu s , estão altam ente adaptados a diferentes tipos de palm eiras1 2 3 8 9 14 15 E m T eresina - Piauí, tanto na zona urbana com o na rural, predom ina em grande quantidade a palm eira “babaçu” ( O r b ig n y a m a r tia n a ) , na qual em estudos recentes realizados na área urbana, foi D e p a r ta m e n to d e B io lo g ia , C e n tr o d e C iê n c ia s da N a tu re z a e D e p a r ta m e n to d e P a ra sito lo g ia e M ic ro b io lo g ia , C e n tro de C iê n c ia s d a S a ú d e , F u n d a ç ã o U n iv e rsid a d e F e d e ra l d o P iau í, T e r e s in a , P I, B rasil e H o s p ita l S a n ta M a ria , H e m o d in â m ic a . T e r e s in h a , P I, B rasil. T ra b a lh o fin a n c ia d o p e la F IN E P . Endereço para correspondência : D ra . D alv a N e v e s d a C o sta B e n to . D e p a r ta m e n to d e B io lo g ia /C C N /F U F P I - 6 4 0 5 0 -9 0 0 T e re s in h a - P ia u í. R e c e b id o p a r a p u b lic a ç ã o e m 1 9 /0 8 /9 1 . constatada a presença de m am íferos e triatom íneos, am bos infectados p o r T r y p a n o s o m a sem elhante ao c ru zi- As espécies de triatom íneos (R h o d n iu s n a s u tu s e T r ia to m a p s e u d o m a c u l a t a ) e os m arsu p iais ( D id e lp h is a ib iv e n tr is e M a r m o s a a g i l i s ) capturados na região, parecem desem penhar um im portante papel no ciclo deste protozoário, devido ao alto índice de infecção que apresentaram 29,1 e 3 8 ,4 %, respectivam ente. P o r outro lado, a prevalência da in fe c ç ã o c h a g á s ic a n e s te m u n ic íp io fo i d e aproxim adam ente 1,3% , em inquérito sorológico realizado pelo M inistério da Saúde - SU C A M no período 1975/81, sendo esta a única inform ação disponível sobre a doença no m unicípio de T eresina, um a vez que o m esm o não foi incluído ainda no Program a de C ontrole da D oença de C hagas13. N o sentido de dar continuidade aos estudos j á iniciados e m elhor esclarecer a epidem iologia da doença de Chagas na região, desenvolveu-se o presente trabalho em diferentes localidades das zonas rurais deste m unicípio. M A T E R IA L E M ÉTO D O S L o c a lid a d e s e s tu d a d a s Os ciclos de transm issão silvestre, peridom éstico 51 B e n to D N C , F a r ia s L M , G o d o y M F , A r a ú jo J F . E p id e r n io lo g ia d a d o e n ç a d e C h a g a s n a z o n a r u r a l d o .m u n i c íp i o d e T e r e s in a - P ia u í, B r a s il. R e v is t a d a S o c ie d a d e B r a s i le i r a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 5 : 5 1 - 5 8 , j a n - m a r , 1 9 9 2 . e dom éstico do T. c r u z i foram estudados p o r um período de oito meses (de agosto/85 a março de 1986), nas localidades de Cacim ba V elha, N azária, B oquinha, G urupaco e Santa L uz, M unicípio de T eresina, Estado do P iau í (Fig. 1). Estas localidades foram escolhidas levando-se em consideração o critério de m aior facilidade de acesso, p o r v ia terrestre, aos locais e às casas. C a p tu r a e e x a m e d o s tr ia to m ín e o s D o m i c í l i o s e P e r i d o m i c í l i o s (E c ó to p o s A r tif ic ia is ) . 52 Os triatom íneos foram capturados m anualm ente com auxílio de insetífugo (solução líquida d ep iretro 2% ) nas paredes externas e internas dos dom icílios e anexos, estes últim os representados por galinheiros, chiqueiros, apriscos, m onte de telhas, m adeiras, pedras e cercas. C ic lo S ilv e s tr e ( E c ó to p o s N a tu r a is ) . A pesquisa de triatom íneos em palm eiras (O. m a r tia n a , C o p e r n ic ia c e r if e r a e A s t r o c a r y m s p .) ocorreu após a derrubada das m esm as sobre um pano branco (5m x 5m ) as folhas cortadas n a base foram cuidadosam ente B e n to D N C , F a r ia s L M , G o d o y M F , A r a ú jo JF . E p id e m io lo g ia d a d o e n ç a d e C h a g a s n a z o n a r u r a l d o m u n ic íp io d e T e r e s in a - P ia u í, B r a s il. R e v is t a d a S ç c ie d a d e B r a s i le i r a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 5 : 5 1 - 5 8 , ja n - m a r , 1 9 9 2 . exam inadas. F oram pesquisadas ainda, os ninhos de pássaros e roedores encontrados nas palm eiras, árvores e outros locais. Os triatom íneos capturados foram identificados e exam inados quanto à presença de flagelados no tu b o d ig e s tiv o p e la té c n ic a d e c o m p re ssã o abdom inal. Os triatom íneos negativos, por esta técnica, eram dissecados e exam inados. Alguns exem plares foram enviados ao D epartam ento de E ntom ologia da F IO C R U Z /R io de Janeiro, para confirm ar a identificação. C o l e t a d e s a n g u e p a r a s o r o l o g i a . Foram colhidas am ostras de sangue (cerca de 5 m l), por via endovenosa, de um grupo de 123 pessoas residentes n as casas on d e se p esq u isav a a presen ça de triatom íneos, sendo 50 do sexo m asculino e 73 do sexo fem inino, com a idade que variou entre um e noventa anos. T odas as am ostras de sangue foram m antidas em condições am bientais, p o r cerca de 20 horas, p ara obtenção do soro, que foi conservado à tem peratura de -5°C, até serem enviados à Fundação E zaquiel D ias (F U N E D ), em Belo H orizonte - M G , onde fo ra m s u b m e tid o s a re a ç ã o d e im unofluorescência indireta. T o d o s o s in d iv íd u o s fo ram ex a m in a d o s clinicam ente, em contrapartida para a população. O s p a c ie n te s re a tiv o s re p e tira m exam es sorológicos, foram reexam inados clinicam ente e su b m e tid o s a ex am es co m p lem en tares com o eletrocardiogram a, raio-X do tórax, hem ocultura e xenodiagnóstico. C a p tu r a , e x a m e e id e n tif ic a ç ã o d e m a m íf e r o s . Para captura de m am íferos silvestres, peridom ésticos e dom ésticos, foram utilizadas arm adilhas de vários tipos e tam anhos, industrializadas ou feitas por m oradores da região. Os anim ais de m enor porte e ra m tr a n s p o r ta d o s p a r a o la b o r a tó r io do D epartam ento de B iologia, para exames quanto à infecção pelo T. c r u z i. O s m am íferos silv estres e peridom ésticos capturados foram investigados pelo exame de sangue a fresco, xenodiagnóstico e hem ocultura. Nos m am íferos dom ésticos (sete gatos, dois porcos, duas cabras e sete cães), foi aplicado apenas o x enodiag n ó stico d evido às dificuldades de se utilizarem as dem ais técnicas no cam po. P ara realizar os exam es, os anim ais eram im obilizados e, eventualm ente, anestesiados com éter. C oletava-se o sangue da cauda ou veia alar (m orcegos) para o exam e a fresco e, através da p u n ç ã o c a rd ía c a , p a ra h e m o c u ltu ra , se n d o em pregado o m eio N N N . N o xenodiagnóstico, para cada anim al, foram aplicadas 30 ninfas de 4 o- estádio dos seguintes triatom íneos: 10 de T r ia to m a b r a s i l i e n s i s , 10 de T r ia to m a in fe s ta n s e 10 de R h o d n iu s p r o lix u s . O exame dos insetos ocorreu 30 dias após a aplicação do xenodiagnóstico, pela técnica da com pressão abdom inal, e os negativos eram dissecados e examinados. RESU LTA D O S D is tr ib u iç ã o d o s tr ia to m ín e o s n o s e c ó to p o s N a tu r a is e A r tif ic ia is . A p resença de triatom íneos ocorreu em quatro casas (7 ,4 %) e em um galpão de g ra n ja abandonado (1 ,8 % ), das 54 u n id ad es d o m ic ilia r e s ( d o m ic ílio e p e r id o m ic ílio ) pesquisados. O índice global de infestação triatom ínica nas 12 palm eiras exam inadas (nove O . m a r tia n a , duas C . c e r if e r a e um a A s tr o c a r y u m s p ) foi de 75 % . F o ra m c a p tu r a d o s 129 e x e m p la r e s d e triatom íneos, sendo 11 em ecótopos artificiais e 118 em e c ó to p o s n a tu ra is. D o s 115 e x e m p la re s examinados, 10 de ecótopos artificiais e 150 de ecótopos naturais, 30 e 21,9% respectivam ente, ap re se n ta v a m -se co m in fe c ç ã o n a tu ra l p a ra tripanosom as sem elhantes ao T. c r u z i. A F ig u r a 1 m o s tra a d is tr ib u iç ã o do s triatom íneos por localidade e a T abela 1, os índices de infecção p o r espécie, distribuídos em seus respectivos ecótopos. M a m íf e r o s c a p tu r a d o s e x e n o d ia g n ó s tic o e m a n im a is d o m é s tic o s e p e r i d o m é s t i c o s . D os 28 m am íferos capturados e examinados, 10(35,7 %) apresentaram se positivos por flagelados em u m a o u m ais das técnicas de diagnóstico utilizadas, sendo sete D . a lb iv e n tr is (25 % ), dois R a ttu s r a ttu s (7,1 %) e um T a m a n d u a t e t r a d a c ty la ( 3 , 6 % ) . A d is trib u iç ã o p o r e s p é c ie , n ú m e ro d e 53 B e n to D N C , F a r ia s L M , G o d a y M F , A r a ú jo JF . E p id e m io lo g ia d a d o e n ç a d e C h a g a s n a z o n a r u r a l d o m u n ic íp io d e T e r e s in a - P ia u í, B r a s il. R e v is t a d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 5 : 5 1 - 5 8 , ja n - m a r , 1 9 9 2 . 54 B e n to D N C , F a r ia s L M , G o d o y M F , A r a ú jo JF . E p id e m io lo g ia d a d o e n ç a d e C h a g a s n a z o n a r u r a l d o m u n ic íp io d e T e r e s in a - P ia u í, B r a s il. R e v is t a d a S o c ie d a d e B r a s i le i r a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 5 : 5 1 - 5 8 , j a n - m a r , 1 9 9 2 . T a b e la 2 - I n f e c ç ã o n a tu r a l e m m a m íf e r o s c a p tu r a d o s n a á r e a r u r a l d e T e r e s in a - P i a u í c o m f l a g e l a d o s s e m e lh a n te s a o T. cruzi. Núm ero de capturados N úm ero de exam inados D i d e l p h i s a l b iv e n tr is 7 7 7 100 M o n o d e lp h is d o m e s tic a 1 1 0 0 G a le a s p ix i 6 6 0 0 M y o tis m ig r ic a n s 1 1 0 0 M o lo s s o p s sp 1 1 0 0 C oendu sp 1 1 0 0 R a ttu s r a ttu s 9 9 2 2 2 ,2 F e lis s p 1 1 0 0 T a m a n d u a te tr a d a c ty la 1 1 1 - 28 28 10 35,7 Espécies Total m am íferos capturados e seus respectivos índices de infecção são encontrados na Tabela 2. S o r o l o g i a (IF1) n a p o p u l a ç ã o . Em 123 reações sorológicas realizadas n a população, duas foram reativas, sendo um indivíduo do sexo m asculino e outro do sexo fem inino. A sorologia reativa destes pacientes foi confirm ada p o r um a segunda reação. Clinicam ente não apresentaram evidências da doença de C hagas (form a indeterm inada). Os exames com plem entares (raio-X eeletrocardiogram a) foram norm ais e o xenodiagnóstico e hem ocultura foram negativos. A T abela 3 m ostra a distribuição dos pacientes p o r faixa etária, sexo e respectivas sorologias reativas. D ISCUSSÃ O N o Estado do Piauí, o inquérito sorológico, Infectados N° % realizado entre 1975/81 pelo M inistério da Saúde, estendeu-se por 114 m unicípios e a prevalência de infecção chagásica foi estim ada em 24% p ara todo o Estado4. N o entanto, o levantam ento triatom ínico e a borrificação intradom iciliar ficaram restritas a áreas consideradas de alta endem icidade. Pelo fato de apresentar baixo índice (1,3 %) de sorologia reativa (Inquérito N acional), o m unicípio de Teresina - P iauí não foi ju lg ad o p rio ritário pelo program a de C ontrole de D oença de Chagas SU C A M 13, sendo assim , inexistentes dados sobre a presença de triatom íneos nas áreas rurais deste m unicípio. N a área urbana, o R . n a s u tu s e o T. p s e u d o m a c u la ta já foram capturados em 95 % e 5 %, respectivam ente, das O . m a r tia n a num total de 55 palm eiras exam inadas3. O R . n a s u tu s foi encontrado em 78 % das C . c e r if e r a pesquisadas em diferentes m unicípios do E stado do P ia u í15. Investigações sem elhantes realizadas naperiferia de grandes m etrópoles b rasileiras descreveram ecótopos naturais e artificiais de triatom íneos e 55 B e n to D N C , F a r ia s L M , G o d o y M F , A r a ú jo JF . E p id e m io lo g ia d a d o e n ç a d e C h a g a s n a z o n a r u r a l d o m u n ic íp io d e T e r e s in a - P ia u í, B r a s il. R e v is t a d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 5 : 5 1 - 5 8 , j a n - m a r , 1 9 9 2 . T a b e la 3 - D i s t r i b u i ç ã o p o r f a i x a e tá r ia d a a m o s tr a s u b m e tid a a e x a m e s o r o l ó g i c o c o n tr a o T . cruzi p o r im u n o f lu o r e s c ê n c ia in d ir e ta (IF I), n o M u n ic íp io d e T e re sin a - P ia u í, B r a s il. G rupo E tário Sexo M asculino Sexo Fem inino Total N ° Sorol Reat N ° Sorol R eat N ° Sorol Reat 0 ■ - 10 10 0 13 1 23 1 11 - 2 0 9 0 14 0 23 0 21 - 3 0 7 0 14 0 21 0 31 - 4 0 7 0 13 0 20 0 41 - 5 0 5 0 8 0 13 0 51 - 6 0 7 1 8 0 15 1 61 - 7 0 4 0 1 0 5 0 71 - 80 1 0 2 0 3 0 50 1 73 1 123 2 Total dem onstraram ainda, a im portância das espécies assinaladas para a doença de Chagas nessas áreas5 8. N o presente estudo, o R . n e g le c tu s foi capturado em C . c e r if e r a e o O . m a r tia n a , enquanto o R. p r o l i x u s e o R . n a s u tu s som ente em O . m a r tia n a , j á descrita em outros Estados, com o dom iciliação1 2. A presença de triatom íneos nas palm eiras O . m a r tia n a e C . c e r if e r a sugere a im portância destas na m anutenção do ciclo silvestre da doença de Chagas no Estado do P iau í devido, principalm ente, à sua am pla distribuição p o r todo o Estado. Por outro lado, o hábito da população d e usar folhas na cobertura e paredes das casas poderá facilitar a dom iciliação de triatom íneos, que têm com o ecótopo natural essas palm eiras, fato já observado por P ifano n a V enezuela14. O R . p r o lix u s , espécie considerada anteriormente com o sendo estritam ente sinantrópica, foi capturado no interio r de um a cafua, na localidade Cacimba V elha e em duas palm eiras O . m a r tia n a na localidade de B oquinha. A caíua na qual foi encontrado o 56 exem plar adulto era coberta com folhas de palm eiras e cercada p o r O . m a r tia n a , ocorrendo tam bém , a presença de animais peridom ésticos. N infas e adultos foram capturados nas duas palm eiras O . m a r tia n a localizadas aproxim adam ente a 300 m etros do rio Poty epróxim as a cafuas e a um a escola. Observações sem elhantes e recentes foram dem onstradas na Venezuela, onde tam bém esta espécie de triatom íneos pode ser com um ente en co n trad a em b ió tip o s silvestres e sua migração da palm eira para a habitação ocorre com grande intensidade10. O encontro do R . p r o lix u s no P ia u í (Tabela 1), cuja identificação contou com a colaboração do Prof. H erm an L en t12, contribuiu para esclarecer controvérsias sobre a presença deste triatom íneo no N ordeste B rasileiro. D eane (1957), estudando exem plares de tipo com o R . p r o l i x u s do Ceará, considerou o R . n a s u tu s a única espécie do gênero presente nesta região6. C orrobora, no entanto, com o nosso encontro, a confirm ação da presença deste triatom íneo em outro E stado, em área lim ítrofe com B e n to D N C , F a r ia s L M , G o d o y M F , A r a ú jo J F . E p id e m io lo g ia d a d o e n ç a d e C h a g a s n a z o n a r u r a l d o m u n ic íp io d e T e r e s in a - P ia u í, B r a s il. R e v is t a d a S o c ie d a d e B r a s i le i r a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 5 : 5 1 - 5 8 , ja n - tn a r , 1 9 9 2 . o N ordeste9. A proxim idade das casas aos ecótopos naturais e a atração dos triatom íneos pela luz podem explicar o achado exclusivo de adultos de T. b r a s ilie n s is , R . p r o l i x u s , R . p i c t i p e s e P a n s tr o n g y lu s g e n ic u la tu s no interior dos dom icílios, o que poderá proporcionar a colonização destes triatom íneos, exigindo assim m ais atenção dos órgãos de saúde pública. U m percentual de 22,6% dos triatom íneos capturados em palm eiras e 35,7% dos m am íferos e x a m in a d o s a p re s e n ta ra m -s e in fe c ta d o s p o r flagelados sem elhantes do T. c r u z i. Barreto (1979), o b se rv o u q ue o alto ín d ice de infecção nos triatom íneos capturados em palm eiras O . m a r tia n a deve-se à presença de m arsupiais, roedores e m orcegos infectados neste tipo de ecótopo. Portanto, o encontro de triatom íneos positivos nas palm eiras exam inadas sugere a frequente circulação destes m am íferos neste ecótopo, em bora não fossem aí capturados. O D . a lb iv e n tr is apresentou m aior índice de infecção (100 % na região rural de TeresinaP iauí, confirm ado dados de sua im portância com o reservatório do T. c r u z i, fato j á verificado na área urbana do m esm o m unicípio3. D as duas pessoas reativas sorologicam ente para o T. c r u z i, p o r im unofluorescência indireta, um a era em igrante do Estado do Ceará, com 60 anos de idade, onde poderia ter adquirido a infecção, e o outro, um a criança de 10 anos que nasceu e sem pre perm aneceu em N azária, o que sugere ser este um caso autóctone de infecção p o r T. c r u z i. Estes pacientes nunca receberam transfusão sanguínea, o que im possibilita adm itir a infecção p o r essa via. N esta localidade o R . n a s u tu s foi encontrado em p erid o m icílio e, através da população, fom os inform ados da presença esporádica de barbeiros no interior dos dom icílios, fato este não observado por nós. Estes dados de 1,6 % de sorologia reativa para T. c r u z i na população exam inada em 6 (seis) lo c a lid a d e s do m u n ic íp io de T e re s in a -P ia u í referendam os dados do Inquérito Nacional13 (1,3 %). A pesar da infecção hum ana ter se revelado excepcional e a invasão de triatom íneos para o interior dos dom icílios ser esporádica, os achados de reservatórios naturais e vetores infectados pelo T. c r u z i, dem onstrado no presente trabalho, em estreita relação com a população local, representa um a am eaça ep id e m io ló g ic a em p o te n c ia l11. Chamamos a atenção para as profundas m odificações am bientais que vêm ocorrendo nas áreas, com a intensa derrubada de palm eiras destruindo, assim , o ecótopo natural dos triatom íneos e possibilitando, desta form a, a instalação d e fin itiv a do ciclo dom iciliar na região. SU M M A R Y In th e r u r a l a r e a s o f T e r e s i n a , 1 2 9 tr ia to m in e s w e r e c a p tu r e d d is tr i b u te d in (a ) a r t if i c ia l e c o t o p e s ; a h o u s e o n e T ria to m a b r a s ilie n s is , w ith one P a n str o n g y lu s geniqulatus, R h od n iu sp ictip es, a n d o n e R h od n iu sp rolix u s a n d in a u n in h a b ite d c h ic k e n h o u s e ( 7 R h od n iu s nasutu s ). (b ) N a tu r a l e c o to p e s ; P a h u s O rb ign ya m artiana (41 R h o d n iu s n e g le c tu s, 3 3 R h o d n iu s p ro lix u s a n d 4 1 R h od n iu s nasutu s) a n d C o p ern icia c erifera (3 R h od n iu s n eg lectu s). T h e 2 2 . 6 % o f c a p t u r e d tr ia t o m i n e s w e r e in f e c te d b y f l a g e l l a t e s s i m i la r to T ry p a n o so m a cru zi. T w e n ty e ig h t s y l v a t i c m a m m a ls w e r e c a p tu r e d a n d e x a m in e d . S e v e n D id elp h ia a lb iv en tris, 2 R attus rattus a n d a Tam andua tetradactyla w e r e in f e c te d w ith jla g e lla te s . T h e f l a g e l l a t e s f o u n d in b o th tr ia to m in e s a n d m a m m a ls w ere m o r p h o lo g ic a lly in d is tin g u is h a b le fro m T ry p a n o so m a cru zi. S e r o l o g y b y th e i n d i r e c t im m u n o f l u o r e s c e n c e t e s t f o r C h a g a s d i s e a s e r e v e a l e d tw o p o s i t i v e s e r o r e a c tio n s o f p o s itiv ity am ong 123 in h a b i ta n t s e x a m in e d . K e y -w o rd s: C hagas d is e a s e . E p id e m io lo g ic a l s tu d ie s . T ry p a n o so m a cru zi. T r ia to m in e s . P ia u í. A G R A D E C IM E N T O S A os Professores H erm an L ent e T eresa C ristina M . Gonçalves pela identificação dos triatom íneos e aos professores L iléia de D iotaiuti e A rtu r da S. Pinto, pelas sugestões e revisão do texto. À Fundação Ezequiel D ias, pela realização dos exam es de im unofluorescência. A Financiadora de E studos e Projetos (FIN E P) pela concessão de financiam ento deste trabalho. R EFE RÊN CIA S BIBLIO GRÁFIC AS 1. A lencar EJ, B ezerra OF. Estudos sobre a epidemiologia da doença de Chagas no Ceará. 57 B e n to D N C , F a r ia s L M , G o d o y M F , A r a ú jo JF . E p id e m io lo g ia d a d o e n ç a d e C h a g a s n a z o n a r u r a l d o m u n ic íp io d e T e r e s in a - P ia u í, B r a s il. R e v is t a d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 5 : 5 1 - 5 8 , j a n - m a r , 1 9 9 2 . X X IV . E c o lo g ia d e triato m ín eos do m u n icíp io d e da p eriferia d e B elo H o riz o n te, M in a s G erais. C rato , tria to m ín eo s d e p a lm eira s. In : R esu m o s do V M em ó ria s do Instituto O sw a ld o C ru z 7 9 :2 9 3 - 3 0 1 , C o n g resso B rasileiro deP arasitolo gia, R io d e Janeiro, p. 2 9 , 1980. 2. B arreto M P . 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L a d in a m ic a e p id e m ilo g ia d e la h u m a n o , k e v is ta do Instituto d e M ed ic in a T rop ical en ferm ed ad d e C hagas en e l V a lle d e lo s N a rn o jo s, d e S ã o Paulo 8 :1 6 2 - 1 6 6 , 1 9 6 6 . E stad o d e C arab ob o, V e n e z u e la I - C o n trib u ció n al D e a n e L M , D e a n e M P . N o ta s so b r e tra n sm isso res e s tú d io d e lo s fo c o s e r e se r v a tó r io s d o T r y p a n o s o m a c r u z i no N o r o e ste S c h iz o tr y p a n u m c r u z i C h a g a s, do V e n e z u e la n o s d e M ed icin a T r o p ic a l y P a ra sito lo g ia E s ta d o do C eará. R e v is t a B r a s ile ir a de M a la r io lo g ia e D o e n ç a s T r o p ic a is I X :5 7 7 -5 9 5 , 1957. 8. 12. L e n tH , W y g o d z in sk i P. R e v isio n o f th e tria to m in ae c h a g á s ic a n o B ra sil. 1 9 7 5 /1 9 8 0 . R e v ista d o Instituto 1984. 7. 11. H o a r e C A . R e se r v o ir h o st and natural fo c i o f hum an p rotozoal in fection s. A cta T ro p ica 1 9 :2 8 1 -3 1 7 ,1 9 6 2 . C am a rg o M E , S ilv a G R , C astilh o E A , S ilv eir a A C . d e M ed icin a T ro p ic a l d e São Paulo 2 6 :1 9 2 -2 0 4 , 6. p r o l ix u s em V e n e z u e la . A r c h iv o s V e n e z u e la n o s Pin to A S . E p id em io lo g ia stu d ies o f C h agas d ise a se N orth eastern B ra sil. R ev ista da S o cied a d e B rasileira 5. d e R h o d n iu s p r o l ix u s S tal 1 8 5 9 , e m m a ca u b eira s. e d iç ã o , G u a n ab ara-K oogan , R io d e Janeiro p . 8 9 - d e M ed icin a T ro p ic a l 1 7 :1 9 9 -2 0 3 , 1 9 8 4 . 4. D io ta iu tiL , S ilv eira A C , E lia s M . S o b r e o en con tro Z (ed ) T r y p a n o s o m a c r u z i e D o e n ç a d e C h a g a s. 1 a 151, 1979. 3. 1 9 8 4. 9. D ia s J C P . C o n tro l o f C h agas D is e a s e in B razil, n a tu r a le s s ilv e s t r e s de 1 9 0 9 . A r c h iv o s M éd ica 5 :3 -2 9 , 1 9 7 3 . 1 5. Pinto A S , B en to D N C . T h e p alm tr ee C o p ern ic ia cerifera (carnaúba) as an e c o to p e o f R h o d n iu s n a su tu s P a ra sito lo g y T o d a y 3 :3 3 6 - 3 4 1 , 1 9 8 7 . in rural areas o f th e state o f P ia u í N orth eastern D io ta iu ti L , D ia s JC P. O co rrên cia e B io lo g ia do B razil. R ev ista da S o c ie d a d e B ra sileira d e M ed ic in a R h o d n iu s n e g le c t u s . L en t, 1 9 5 4 em M acam b eiras T ro p ic a l 1 9 :2 4 3 -2 4 5 , 1 9 8 6 . View publication stats