RESENHA – VOORT: A GRAMMAR OF KWAZA
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LIAMES 6 - pp. 109-115, Primavera 2006
VOORT, Hein van der (2004). A Grammar of Kwaza. Berlin: Mouton de Gruyter. Pp.
xxxviii+ 1026. 39 tabelas, 3 mapas, 11 fotos. Inclui 1CD-ROM. ISBN 3-11-017869 9. CLOTH.
EURO (D) 148.00.
Até uns anos atrás era difícil encontrar estudos que abordassem amplamente as
gramáticas das línguas indígenas. Por exemplo, Rodrigues (1986: 94) dizia que “entre os
Aikaná vivem os que são, aparentemente, os sete últimos falantes da língua Koaiá,
conhecidos naquela área1 como “Arara”. Nenhum estudo foi feito desta língua, nem do
respectivo povo”. Essa realidade só agora pode ser mudada, pois em 2004 foi publicado,
em versão inglesa, o livro “A Grammar of Kwaza” escrito pelo lingüista holandês Hein
van der Voort. Esta obra é uma versão revisada da tese de doutorado do autor, resultado
das pesquisas de campo realizadas junto às aldeias Kwaza no período 1995-2002.
O livro representa a primeira descrição sistemática e ampla da língua Kwaza conhecida
também com Koaiá (Voort, 2005) ou chamada erroneamente de Arara. Contudo, o termo
Arara pode levar a confusões, há pelo menos outras quatro línguas de famílias lingüísticas
diferentes conhecidas por esse nome. Além disso, o termo é rejeitado pelos próprios
Kwaza. De acordo com o autor, o nome kwaÈ za é a autodenominação atual, que como
grupo se denomina kwaÈ za-nahere e lingüisticamente como kwaÈ za-dy-nãi ‘língua Kwaza’.
Já o nome Koaiá [kwaÈ ja] e suas variações ortográficas Coaia, Quaia seriam de origem
Tupi (Voort, 2004: 730).
Como esclarece o autor, o livro é uma descrição ampla da língua Kwaza, desta feita
não segue um modelo teórico específico, nem se preocupa com as implicações teóricas
que possam suscitar da análise respectiva, sendo o objetivo principal: “to prevent the
Kwaza language from disappearing without leaving behind representative documentation”
(p. 27). Nesse sentido, a descrição apresentada visa ser compreensível e acessível tanto
para o lingüista quanto para qualquer leitor interessado nessa língua.
Constituído de 1.026 páginas, seria impossível, em uma resenha, fazer jus à tão densa
e valiosa contribuição. Neste sentido, apenas me limito a descrever brevemente os
conteúdos dos diferentes capítulos da obra. Como dito anteriormente, a publicação é o
resultado das pesquisas de campo que o autor realizou entre os anos 1995 e 2002 junto aos
falantes Kwaza.
A obra está divida em três partes: Gramática, Textos e Léxico. A primeira parte,
Gramática, por sua vez, está dividida em: (1) Introdução. (2) Fonologia. (3) Partes do
discurso e ordem dos constituintes. (4) O Sintagma Nominal. (5) O Sintagma Verbal. (6)
Advérbios e Locuções Adverbiais. (7) Outras estruturas morfossintáticas. (8)
1
O autor refere-se à região do leste do alto rio Pimenta Bueno, no sudeste de Rondônia.
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Subordinação e Coordenação e, (9) Categorias Léxico-Semânticas. A segunda parte diz
respeito a Textos e inclui: (1) Narrativas tradicionais. (2) Acontecimentos autobiográficos
e, (3) Letras de canções. Finalmente, a terceira parte está dedicada ao Dicionário dividido
em Vocabulário Kwaza-Inglês e Índice Inglês-Kwasa. Fechando incluem-se as referências,
o inventário de afixos e o índice de conteúdos, os dois últimos muito úteis para a localização
das informações relacionadas à análise da língua.
Na primeira parte, o capítulo (1) traz informações relevantes sobre a localização
geográfica e a classificação lingüística. A população está constituída por 25 pessoas, e
está localizada na reserva Tubarão-Latundê nas cabeceiras do rio Apediá ou Pimenta
Bueno, no município de Chupinguia, estado de Rondônia, Brasil. Linguisticamente é tratada
como língua amazônica isolada. A classificação genealógica dessa língua, comparando-a
com suas vizinhas Aikanã, Jabuti e Kanoê, tem sido discutida em trabalho posterior pelo
mesmo autor (cf. Voort, 2005). Além das informações histórico-sociais, estudos prévios,
entre outros, ressalta-se a inclusão, nesse capítulo, de um resumo das características
fonético-fonológicos e gramaticais do Kwaza, alguns desses aspectos serão comentados
nas seções seguintes da presente resenha.
A fonologia da língua é descrita no capítulo (2). São postuladas oito vogais orais, a
saber: / i, e, E, y, œ, a, o, u/, sete nasais/ ĩ , ẽ, Ẽ, ỹ,ã, ũ, õ / e dezenove consoantes/ p, t, c, k,
/, b, d, ts, tx, s, x, h, m, n, ñ, r, l, w, j/. A estrutura silábica é predominantemente (C)V, não
ocorrem consoantes em posição da Coda. Na ocorrência de glides, a estrutura silábica
passa ser (C)(G)V(G). O autor considera a nasalidade como parcialmente fonológica porque
quase todas as vogais orais têm sua contraparte nasal. A nasalidade ainda pode espraiar-se
para sílabas adjacentes.
Ainda sobre fonologia, o autor faz considerações sobre o acento, sobre a interpretação
dos glides e suas combinações na fonotática da língua. As variações fonéticas dos segmentos
que ocorrem entre os 25 falantes da língua e as variações condicionadas
morfofonologicamente também são consideradas. O autor ainda descreve os segmentos
que são introduzidos a partir de empréstimos da língua Aikanã e, principalmente, do Português.
Como seção final do capítulo, foi incluída uma breve descrição das relações entre os fonemas
e a ortografia desenvolvida pelo autor em colaboração com os próprios Kwaza.
Os conteúdos do capítulo (3) dizem respeito às classes de palavras e à ordem dos
constituintes. A morfologia da língua é considerada complexa e estritamente sufixante. A
palavra pode estar constituída por morfemas flexionais e derivacionais. Em se tratando
dos morfemas classificadores e marcadores de objeto, a diferença entre flexão e derivação
não é tão evidente. As classes de palavras reconhecidas são Nomes, Verbos, Advérbios
e Partículas. Não foram encontradas evidências para se reconhecer como classes, os
Adjetivos, Artigos e Adposições.
Referente à ordem dos constituintes, ela parece ser relativamente livre, a característica
principal é que a concordância relacionada aos argumentos ocorre obrigatoriamente no
núcleo do predicado. Em construções intransitivas a ordem SV resulta ser mais freqüente,
mas pode ocorrer também a estrutura VS. Em construções com verbo transitivo, mas sem
argumento externo, a construção OV é a mais esperada, a outra possibilidade é a ocorrência
de VO. Em se tratando de construções transitivas com a realização plena dos argumentos
externo e interno, as ordens mais comuns são SVO ou SOV.
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O foco principal do capítulo (4) é o Sintagma Nominal. Destaca-se nessa seção o
tratamento dos marcadores de caso e os classificadores. Os nomes em Kwaza não recebem
flexão de número, gênero ou definitude, mas sim marcadores de caso e de possessão. Na
marcação de caso, ressalta-se o sufixo {-wa} marcador de ‘objeto animado’ e a presença
de marcadores oblíquos, empregados para indicar as relações semânticas entre o verbo e
seus satélites nominais. Esses marcadores são sufixos e indicam: {-na} ‘locativo’, {-ko}
‘instrumental/cislocativo’, {-du} ‘beneficiário’, {-dynỹ} ‘comitativo’.
Uma característica importante da morfologia do Kwaza refere-se ao agrupamento dos
nomes em classes, assinalados por marcadores específicos, que Voort os chama de
Classificadores. Estes classificadores são morfemas presos cuja função principal é: 1)
Marcar a classe do um argumento nominal dentro do SV, 2) Indicar a classe nominal dos
nomes.
Os classificadores são agrupados em três grandes tipos: I) Classificadores
etimologicamente opacos, são morfemas que não possuem uma relação etimológica clara
com os nomes que classificam; II) Classificadores etimologicamente transparentes, eles
possuem uma distribuição limitada, assemelham-se a determinados nomes plenos e
poderiam ser analisados como compostos incorporados ou mesmo como variantes
morfofonológicas reduplicadas de seus correspondentes nomes plenos; III) Classificadores
não relacionados etimologicamente, este tipo de classificadores não mostra relação alguma
com nomes independentes específicos, mas pode formar nomes livres quando se sufixam
à raiz vazia {e-}2. O autor lista um total de 150 classificadores, os mesmos que são agrupados
provisoriamente de acordo as características semânticas que denotam: a) forma, b)
substância/textura, c) parte-todo, d) direção/espaço/forma, e) função, f) específico, g)
neutro, h) sexo, i) metafórico.
Outro aspecto importante que merece atenção nesse capítulo relaciona-se à
modificação atributiva. Como não há uma classe adjetivos em Kwaza toda modificação
atributiva do núcleo nominal é feita por justaposição. O modificador pode ser um nome
primitivo ou um nome derivado de outro nome, verbo ou advérbio. Dois subtipos de
modificação nominal ocorrem. O primeiro se dá pela derivação Nome-Nome, uma construção
possessiva como ocorrência obrigatória do morfema possessivo {dy-}. No segundo caso,
ocorre a justaposição de nomes, aqui um nome dependente modifica um núcleo nominal.
Nesse tipo de modificação são incluídos os demonstrativos, numerais e raízes atributivas
a-categoriais, sendo necessária a presença de um morfema nominalizador, principalmente
{-hỹ }, um classificador ou bem outro nominalizador para constituir um radical ou uma
palavra completa que seja capaz de se manifestar numa construção atributiva.
O capítulo (5) trata do Sintagma Verbal. Formalmente o verbo em Kwaza consta de um
radical preso, sendo os sufixos flexionais de pessoa e modo obrigatórios. Entre o radical e
os sufixos de pessoa e modo podem ocorrer opcionalmente sufixos derivacionais, tais
como os marcadores de mudança verbal, aspectuais, direcionais, entre outros.
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Segundo o autor, o morfema vazio {e-} pode indicar propriedades inalienáveis quando os nomes
se referem a partes do corpo, plantas e partes de outros objetos. Contudo, nem todos com {e-} se
comportam dessa maneira, nem todos os nomes de partes do corpo levam {e-} inicial. (cf. p. 151-152).
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Embora não sejam apresentados critérios explícitos que diferenciem flexão de
derivação, os sufixos são agrupados entre os que parecem ser mais flexionais tais como os
marcadores de concordância de pessoa (‘cross-reference’) e modo. Os mais derivacionais,
tais como os morfemas direcionais, os de mudança de valência, os que indicam tempo,
modalidade e aspecto, e os nominalizadores são caracterizados como derivacionais. Todos
esses marcadores são sistematicamente discutidos com apresentação de muitos exemplos
que mostram seu funcionamento no sistema da língua.
É relevante mencionar que o modo é dado por um morfema obrigatório que se posiciona
ao final do verbo, quatro modos relacionados com a oração matriz são reconhecidos:
{-ki ou –tse} ‘declarativo’, {-re} ‘interrogativo’. Um terceiro modo, ‘persuasivo’, inclui,
por sua vez, o imperativo marcado por {-ra}, o exortativo-causativo indicado pelo morfema
{-ni} para referir-se a primeira pessoa inclusiva e terceiras pessoas e o volitivo assinalado
por {-my˜ }para as outras primeiras pessoas. O modo ‘proibitivo’ também inclui outros
sub-modos, a saber: o imperativo negativo indicado pelo morfema {-ky}, o imperativo
exortativo dado por {-(i)ni}e o de monitoria (‘monitory’)3 marcado pelo morfema {-tsi}.
As construções subordinadas não são afetadas pelos marcadores de modo, mas o
verbo subordinado recebe o sufixo co-subordinado {-ta} ou {-si}. Nesse sentido, o
conteúdo modal é determinado pelo modo expresso no verbo da oração matriz. Ao
concorrerem os morfemas de modo, tempo e aspecto, os dois últimos são expressos na
morfologia verbal por diversos meios. O processo de reduplicação e a presença de
vários sufixos servem para indicar tempo, aspecto e outros contrastes modais.
Em Kwaza há distinção entre tempo futuro e não futuro, porém, o contraste entre
passado e presente não é marcado morfologicamente. Nesse caso, a diferença é feita
mediante determinados advérbios que indicam tempo. Há morfemas específicos para indicar
aspecto repetitivo e habitual, entretanto, o contraste entre tempo passado e diversos
graus de aspecto perfectivo é muito vago.
Ainda no capítulo da morfologia verbal estão incluídos os processos de nominalização
verbal que, como argumenta o autor, a derivação de nomes a partir de verbos é um processo
produtivo na língua e constitui a única estratégia para a formação de cláusulas de
complemento. Vale lembrar que em Kwaza não há uma classe de adjetivos, deste modo,
para construções com modificadores usam-se nomes e raízes verbais nominalizadas.
Também advérbios são freqüentemente formados mediante o processo de nominalização.
O capitulo (6) aborda os advérbios e as expressões adverbiais. O autor apresenta
várias características formais e funcionais para o reconhecimento de uma classe Advérbios
em Kwaza. Pelo menos dois tipos básicos de advérbios são reconhecidos. O primeiro
deles são lexemas independentes que apresentam morfologia simples; o segundo tipo é
dado por lexemas que apresentam uma grande complexidade morfológica, cuja formação é
pouco produtiva. Adicionalmente, nomes que recebem classificadores podem funcionar
como advérbios, assim como outras categorias sujeitas a operações morfológicas
específicas que também podem funcionar como advérbios.
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‘Monitory’ é também um modo proibitivo, possui o valor de ‘prudência’, ‘advertência’,
‘prevenção’ direcionado para o ouvinte, no sentido de que alguma coisa negativa pode ocorrer.
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Outras estruturas morfossintáticas são o tema do capítulo (7). Nele incluem-se
outros aspectos da morfologia que não são nem nominais nem verbais, são eles: a
negação (7.1), os morfemas ‘miscelâneos’ (7.2), a reduplicação (7.3), a composição
(7.4) e a elipse morfológica (7.5). Em (7.6) apresenta-se um panorama geral sobre o
comportamento gramatical atípico de radicais lexicais sem conteúdo semântico.
Fechando o capítulo, em (7.7), são discutidas as partículas. Destacam-se, aqui, três
partículas que servem de conectores de cláusula, a partícula tana ‘então’, hele ‘ou’,
wara ‘mas’. Além dessas, são consideradas como partículas as interjeições e os
elementos exclamativos.
Construções complexas como subordinação e coordenação são alvos do capítulo
(8). Nele é tratada a morfologia dos verbos em construções complexas. Três tipos de
cláusulas são reconhecidos em Kwaza: matriz ou principal, subordinada e medial.
Todas as orações consistem de uma cláusula principal, também podem estar formadas
por uma cláusula principal que, por sua vez, inclui outras cláusulas, adverbiais. Por
exemplo, o verbo da cláusula matriz ocupa a posição final da oração e as cláusulas
subordinadas costumam preceder o verbo principal. Focaliza-se que o contraste nesse
tipo de construções é dado pela morfologia flexional do verbo.
Além das construções subordinadas, o Kwaza apresenta construções que
semanticamente são coordenadas com a cláusula matriz, mas que morfossintaticamente
ficam subordinadas a essa construção principal, formando uma cadeia múltipla de
cláusulas. Este tipo de construção o autor chama de cláusulas co-subordinadas ou
mediais (‘medial clauses’). Esse tipo de construções “occurs in chains of verbal
expression, in which one predicate acts as the main predicate and bears matrix clause
mood marking, while the others precede this predicate and are marked for
cosubordination. The cosubordinated predicate represents a “medial” clause”
(p. 653-54). Dois tipos básicos de “medial clauses” são discutidos: i) aqueles em
que os sujeitos da cláusula matriz e da subordinada são diferentes e, ii) aqueles
em que os sujeitos não são co-referentes. O primeiro tipo é glosado nos exemplos
gramaticais como ‘cosubordinado’ (CSO) e o segundo como ‘referência alternada’
(‘switch reference’) ou (SWR).
O capítulo (9) é dedicado a tópicos relacionados ao léxico Kwaza, entre eles
estão o registro de fala de crianças e as categorias léxico-semânticas, entre estas
nomes de cores, de parentesco, de termos de forma, nomes próprios de pessoa,
cachorros e rios. Também se inclui uma seção dedicada ao tratamento dos ideofones.
A segunda parte do livro inclui treze textos e algumas letras de canções. Seis
desses textos e cinco canções estão também registrados no CD-ROM que acompanha
a obra. Dos treze textos, os sete primeiros são relatos tradicionais da região, os textos
oito e nove são relatos histórico-pessoais da época quando os Kwaza mantinham
pouquíssimo contato com a sociedade nacional; os textos dez a doze são narrativas
autobiográficas atuais. O texto treze é uma tradução arranjada por falantes nativos de
um texto em português, inicialmente redigido pelo pesquisador. É relevante mencionar
que todos os textos estão em tradução justalinear, acompanhados de uma tradução
mais livre em Português. Já as letras das canções, em sua maioria, aparecem em versão
monolíngüe, as palavras da maioria dessas canções não têm conteúdo lexical (p. 807).
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A terceira e última parte está constituída pelo dicionário Kwaza-Inglês e o índice
Inglês-Kwaza. Os 2.200 lemas do dicionário foram ordenados alfabeticamente, segundo
a ortografia proposta para a língua Kwaza. Para cada lema foram indicadas suas
categorias lexicais correspondentes e suas glosas em Inglês. Diversos exemplos
ilustram o uso de cada entrada. Nomes e advérbios foram inseridos como palavras
independentes, já para a entrada dos verbos foi considerada a raiz, sem flexão alguma.
Os afixos também receberam entradas independentes. As entradas correspondentes à
fauna e flora são acompanhadas dos nomes científicos, em alguns casos são
apresentados os nomes populares em Português. O vocabulário inclui também os
empréstimos introduzidos a partir do Português, principalmente àqueles que estão
lexicalizados e já adaptados à fonologia da língua nativa. A parte correspondente ao
Índice Inglês-Kwaza inclui uma lista de 2.800 itens em língua inglesa com suas glosas
correspondentes em língua indígena. Na verdade, a seção do léxico é realmente um
índice que ajuda, a partir do Inglês, na localização de palavras indígenas que se
encontram no dicionário.
Além das referências bibliográficas, o livro traz uma lista dos afixos flexionais e
derivacionais, colocados em ordem alfabética. Posteriormente, esses mesmos afixos
foram ordenados de acordo com seus significados e funções na língua, divididos em
classificadores, direcionais, afixos demonstrativos, afixos nominais, verbais e outros
afixos.
Em suma, este livro é uma obra monumental, escrito por um pesquisador que
desde 1995 vem contribuindo muito na divulgação e conhecimento da língua Kwaza.
O autor procurou ser cuidadoso na análise dos dados, abrindo um leque de
possibilidades nas interpretações para aqueles morfemas que possuem até mais de
uma função.
“A Grammar of Kwaza” é uma edição bem vinda, pois representa uma grande
contribuição a descrição e conhecimento do Kwaza e das línguas indígenas sul-americanas
em geral. Sem dúvida, o livro será um material de consulta obrigatória para os especialistas
nas línguas indígenas, para os estudiosos interessados nas línguas faladas na região do
Guaporé, estado de Rondônia, Brasil, e para os interessados na tipologia das línguas, pois
o Kwaza é uma das línguas ameríndias que possui propriedades gramaticais ainda não
atestadas pela própria Teoria Lingüística. Entretanto, seria louvável ter no futuro uma
versão mais popular em Português dessa obra, pois com isso se estaria realmente
contribuindo com os próprios falantes da língua.
Para terminar os comentários sobre esta valiosa publicação, merece ressaltar que
mesmo sendo uma obra de mais de mil páginas, os erros de impressão são praticamente
nulos. Foram localizados apenas seis erros de digitação nas páginas: 114, 116, 244,
296, 315, 601 e um erro de tradução na página 601, exemplo (2139).
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REFERÊNCIAS
RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. (1986). Línguas Brasileiras. Para o conhecimento das Línguas
indígenas. São Paulo: Edições Loyola.
ROQUETE-PINTO, Edgard. (2005). Rondônia: anthropologia-ethnografia. 7. ed. Rio de Janeiro:
Editora FIOCRUZ
VOORT, Hein van der (2005). Kwaza in a comparative perspective. IJAL 71(4): 365-412.
Angel Corbera Mori
(IEL-UNICAMP)