Brazilian Journal of Development 1
ISSN: 2525-8761
Análise de causas raiz de acidentes da indústria de processos
Root cause analysis of accidents in the process industry
Análisis de la causa raíz de accidentes en la industria de processos
DOI:10.34117/bjdv10n5-021
Submitted: Apr 08th, 2024
Approved: Apr 26th, 2024
Alex Vazzoler
Doutor em Engenharia Química
Instituição: Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Endereço: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
E-mail: vazzoleralex@hotmail.com
Tanise Mori Flores
Mestre em Engenharia Química
Instituição: Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Endereço: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
E-mail: tmflores@gmail.com
RESUMO
A compreensão das causas raiz de acidentes é fundamental para prevenir incidentes
futuros e melhorar a segurança dos processos. Estas referem-se aos fatores subjacentes
que levam a um acidente, indo além dos aspectos superficiais e identificando os elementos
fundamentais que contribuíram para a ocorrência do evento indesejado. Este trabalho
levantou dados de 154 acidentes da indústria química, incluídos todos os Major
Accidents, empregando-se a tipologia de causas raiz (e de consequência) proposta por
Crowl e Louvar para um levantamento estatístico destes acidentes em comparação a este
mesmo autor. Tal tipologia foi estendida para incluir outros elementos como a condição
de operação da planta, estatísticas de perdas financeiras e de análise temporal. Estes
resultados foram sumarizados em tabelas e gráficos e discutidos ao longo do texto deste
trabalho.
Palavras-chave: causas raiz, acidentes de processo, liberação, perda de contenção,
segurança de processo.
ABSTRACT
Understanding the accidents’ root causes is critical to preventing future incidents and
improving process safety. Those refer to the underlying factors that lead to an accident,
going beyond the superficial aspects and identifying the fundamental elements that
contributed to the occurrence of the unwanted event. This work collected data from 154
accidents in the chemical industry, including all Major Accidents, using the typology of
root causes (and consequences) proposed by Crowl and Louvar for a statistical survey of
these accidents in comparison to this same author. This typology was extended to include
other elements such as the plant's operating condition, financial loss statistics and
temporal analysis. These results were summarized in tables and graphs and discussed
throughout the text of the article.
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Keywords: root causes, process accidents, release, loss of containment, process safety.
RESUMEN
Comprender las causas fundamentales de los accidentes es fundamental para prevenir
futuros incidentes y mejorar la seguridad de los procesos. Estos se refieren a los factores
subyacentes que llevaron a un accidente, yendo más allá de los aspectos superficiales e
identificando los elementos fundamentales que contribuyeron a la ocurrencia del evento
no deseado. Este trabajo recopiló datos sobre 154 accidentes en la industria química,
incluidos todos los Accidentes Mayores, utilizando la tipología de causas fundamentales
(y consecuencias) propuesta por Crowl y Louvar para un estudio estadístico de estos
accidentes en comparación con este mismo autor. Esta tipología se amplió para incluir
otros elementos como el estado operativo de la planta, estadísticas de pérdidas financieras
y análisis temporal. Estos resultados se resumieron en tablas y gráficos y se discutieron a
lo largo del texto de este trabajo.
Palabras clave: causas fundamentales, accidentes de proceso, liberación, pérdida de
contención, seguridad de proceso.
1 INTRODUÇÃO
A segurança de processos é um campo fundamental que se concentra na prevenção
de acidentes industriais e na mitigação das consequências de acidentes. Em que são
estipuladas uma série de práticas, normas e procedimentos destinados a garantir a
operação segura de instalações industriais, como refinarias, usinas químicas e plantas de
produção. A abordagem da segurança de processos envolve a identificação e análise
detalhada dos riscos inerentes aos processos industriais, buscando eliminar ou reduzir ao
máximo as ameaças à saúde humana, ao meio ambiente e à integridade das instalações
(Crowl & Louvar, 2019).
As causas raiz dos acidentes industriais são originadas de uma combinação
complexa de fatores. Dentre estes: erro humano, falhas de equipamentos, e/ou falhas
organizacionais. O último fator é considerado o mais crítico pelo Chemical Center for
Process Safety, 2011. Já que a falta de cultura de segurança, pode levar a gestão e os
funcionários a subestimarem os riscos ou priorizar metas de produção em detrimento da
segurança.
A análise de causa raiz é uma ferramenta crucial para compreender os gatilhos dos
acidentes industriais. Almeja-se a identificação dos fatores que contribuíram para o
evento, além da investigação das falhas imediatas, chegando-se às causas subjacentes
mais profundas (Chemical Center for Process Safety, 2011). Esta abordagem permite as
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organizações implementarem medidas corretivas eficazes para impedir a recorrência de
acidentes semelhantes. Muitas vezes, as causas raiz dos acidentes incluem uma
combinação de falhas técnicas, organizacionais e culturais, destacando-se a importância
de uma abordagem abrangente, factível e aderente para aplicação dos preceitos de
segurança de processos.
2 OBJETIVOS
A segurança de processos é uma responsabilidade compartilhada por toda a
organização, desde a alta administração até os operadores no chão de fábrica. Investir em
treinamento adequado, implementar procedimentos operacionais seguros, promover uma
cultura de segurança sólida e realizar avaliações de risco regulares são medidas essenciais
para prevenir acidentes. Incorporar as lições aprendidas é crucial para melhorar
continuamente as práticas de segurança de processos e garantir um ambiente de trabalho
seguro e sustentável. Partindo-se de marcos regulatórios, como a Diretiva de Seveso e de
documentos emitidos por órgãos e associações como a EPA (Environmental Protection
Act), OSHA, CCPS, IOGP, HSE, dentre outros (Liaw, 2019).
Este trabalho irá levantar dados sobre 124 acidentes da indústria de processos, e
compará-los com os dados obtidos por Crowl e Louvar (2019) adotando-se a sua
metodologia de Causas-raiz para acidentes, com algumas leves alterações, mas mantendose o escopo da análise.
3 DESENVOLVIMENTO
3.1 SEGURANÇA DE PROCESSOS BASEADA EM RISCO (RBPS)
O Centro para Segurança de Processos Químicos (CCPS, Center for Chemical
Process Safety) desenvolveu um conjunto de 20 elementos-chave que compõem a
estrutura fundamental para a implementação eficaz da segurança de processos baseada
em risco (RBPS, Risk Based Process Safety). Esses elementos, conhecidos como "20
Elementos da CCPS", fornecem uma abordagem para identificar, avaliar e mitigar os
riscos associados aos processos industriais (Chemical Center for Process Safety, 2011).
A CCPS define como causa raiz “Uma razão fundamental, ou subjacente,
relacionada à gestão pela qual ocorreu um incidente através de falhas corrigíveis ao
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gerenciamento do sistema. Normalmente há mais de uma causa raiz para cada incidente
de segurança de processo”. Por outro lado, este trabalho, empregando a Metodologia
proposta por Crowl e Louvar, 2019 definirá uma causa raiz majoritária, conforme sua
tipologia, apresentada a seguir (Baybutt, 2016).
3.2 TIPOLOGIA DE CAUSA RAIZ
Crowl & Louvar (2019) propuseram uma metodologia para definição de causas
raiz que engloba os seguintes tipos de falhas: Mecânica, Erro Operacional, Projeto,
Causas naturais, Desconhecida e Perturbações no processo.
As falhas mecânicas englobam todos os acidentes que foram causados por algum
mal funcionamento de algum equipamento, considerando que ele foi utilizado pelos
operadores da maneira correta.
Os erros operacionais incluem acidentes em que os operadores e funcionários do
processo agiram de alguma maneira insegura, e que pudesse promover risco para a
segurança do processo. Os tipos de ato inseguro relacionam-se com três possíveis ações,
sendo elas a negligência dos protocolos de segurança, negligência do reparo dos
equipamentos e o manuseio incorreto dos equipamentos.
A classificação de erros nos projetos envolve acidentes causados devido a falhas
de projeto, como falta de equipamentos, erro de dimensionamento e desenvolvimento de
processos de maneira que não garantam uma margem de segurança, criando um possível
risco de acidente.
Nos acidentes classificados como causa natural o acidente é gerado por algum tipo
de desastre natural, como por exemplo chuvas fortes, terremotos e tornados.
As causas denominadas como desconhecidas englobam todos os acidentes nos
quais não foi possível atribuir uma causa raiz, devido à falta de informações divulgadas
e pela impossibilidade de correlacionar as características do acidente com qualquer tipo
de classificação.
Crowl & Louvar (2019) constaram por uma vantagem expressiva (53%), a causa
principal ser a falha mecânica, como falha de tubulações devido a corrosão, erosão e altas
pressões, e falha na selagem/gaxetas. Falhas desse tipo correm devido a manutenção
precária ou utilização inadequada dos princípios de segurança inerente e gerenciamento
da segurança de processos. Bombas, válvulas e equipamentos de controle irão falhar se
não forem mantidos adequadamente. A segunda maior causa é erro operacional (18%).
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Por exemplo, válvulas não são abertas ou fechadas na sequência adequada, ou reagentes
não são alimentados em um reator na ordem correta. Perturbações no processo causadas,
por exemplo, por falha de energia ou de água de resfriamento representam cerca de 3%
das perdas. Falhas no projeto representam cerca de 10%, Causas naturais 8% e incidentes
cuja a causa não foi identificada, ou seja, desconhecida, cerca de 8%. Estes dados são
apresentados na Figura 1 (Baybutt, 2016).
Figura 1: Resultados obtidos por Crowl e Louvar (2019) para a sua tipologia de causas raiz com dados da
literatura até 2001.
Fonte: Crowl e Louvar (2019).
Conforme Taylor et al., 2018 a falha humana é definida por muitos autores como
a maior causa de perdas. Quase todos os acidentes, exceto aqueles com causas naturais,
podem ser atribuídos (em algum nível) a uma falha humana. Por exemplo, falhas
mecânicas podem ser todas devido a erro humano como resultado de manutenção ou
inspeção inadequadas. Para possibilitar uma análise segmentada, as falhas humanas
“diretas” foram incluídas no termo “erro operacional”, ou seja, falhas em procedimentos,
ocorridas no local, que levaram diretamente à perda de contenção.
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3.3 TIPOLOGIA DE EVENTOS POR CONSEQUÊNCIA
De acordo com Crowl e Louvar (2019), cada acidente possui ao menos uma causa
iniciadora, que ocasionará perda de contenção. Conforme o tipo, nível, e classificação de
área, serão geradas diferentes cenários de consequências. De forma simplificada Crowl e
Louvar (2019) os classificaram em Liberação, Incêndio, Explosão, Incêndio e explosão
(ocorrência simultânea), Explosão com formação de nuvem de vapor e Colisão e danos
ao equipamento.
A classificação de incêndio ocorre quando algum incidente gera uma reação
química de combustão com desprendimento de luz e calor, gerando fogo, a qual se
alastrará incontrolavelmente pelo ambiente ao seu redor.
Quando classificado como explosão, os eventos incidentais se referem a uma
reação com um aumento súbito de temperatura e de pressão, resultando em uma enorme
expansão de volume de gases, que gerando uma onda de pressão e liberando uma grande
quantidade de energia.
Eventos incidentais que envolvem colisão e danos ao equipamento se referem a
acidentes nos quais causaram um choque entre o meio operacional de processo e o
ambiente exterior ao processo, ou os acidentes nos quais foi gerado algum tipo de dano
ao equipamento do processo.
No caso dos incidentes de explosões com formação de nuvens de vapor, são
classificados desta forma quando o resultado de uma explosão, gera fragmentos de vapor
de substâncias perigosas, que são fixadas na atmosfera ao redor do local do acidente,
como por exemplo, nuvens de líquidos inflamáveis, corrosivos e tóxicos (Baybutt, 2016).
Já a classificação de liberação envolve a perda de contenção pura e simples, que
terá diferentes severidades conforme as propriedades da substância.
3.4 TIPOLOGIA POR CONDIÇÕES DE OPERAÇÃO
Durante a análise dos acidentes foi proposta neste trabalho a utilização de uma
tipologia da condição de operação da planta, que representasse o estado da planta em
questão durante os eventos do acidente, sendo definidas as seguintes condições (Crowl &
Louvar, 2019):
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3.4.1 Estado estacionário
Nesta condição de operação nenhuma das propriedades do processo em si sofre
variação ao longo do tempo, como por exemplo: concentração e massa do produto.
3.4.2 Operação em batelada
Nesta condição de operação todos os reagentes que seriam utilizados na realização
do processo em si são alimentados previamente na planta onde eles serão retirados juntos
após a finalização do processo.
3.4.3 Manutenção programada e operações não rotineiras
Com a instalação da planta indústria, são estipulados certos momentos em que a
mesma não estará operando e será realizada toda a manutenção necessária para o
funcionamento dos equipamentos, para isso é necessário que os equipamentos sejam
desligados previamente para evitar qualquer risco aos operadores. Estão incluídas aqui as
etapas de pré-comissionamento, comissionamento (a frio e a quente) e condicionamento.
Não obstante, inibições de alarmes e salvaguardas preventivas e/ou mitigadoras.
3.4.4 Partida e parada da planta
Durante a vida útil de uma planta de processo é necessário realizar paradas
obrigatórias para que seja realizada a verificação e manutenção completa dos
equipamentos na planta de processo, com isso é possível que durante a manutenção dos
equipamentos algum acidente possa vir acontecer.
3.5 ANÁLISE TEMPORAL DE PERDAS FINANCEIRAS
Por meio dos dados dos 124 acidentes, foram geradas estimativas de perdas
financeiras (corrigidas pela inflação) acumuladas no período dos acidentes. Com o
objetivo de avaliar a severidade e as perdas humanas e econômicas nos períodos
apresentados (Chemical Center for Process Safety, 2011).
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4 METODOLOGIA
Conforme os dados de Marsh Specialty, 2022, EPSC (European Process Safety
Centre), relatórios do Chemical Safety Board (CSB), dados de acidentes da IchemE, HSE
e OSHA foram selecionados 154 acidentes de 1974 a 2022 nas indústrias petrolífera (70
acidentes), refino de petróleo (20 acidentes), petroquímica (15 acidentes), siderurgia (9
acidentes), produção de energia térmica (12 acidentes) e de química fina (18 acidentes)
em diferentes países e continentes. Foi realizada a leitura sistemática de todos os
documentos listados nos sites das agências citadas no parágrafo anterior. A seguir estes
dados foram alimentados em uma planilha conforme ilustrada pelo quadro 1. A partir dos
dados da planilha os resultados foram organizados de forma sistemática conforme a
Figura 2.
Serão gerados resultados em quadros, tabelas e gráficos conforme a Figura 2, para
os pontos:
• causas raiz dos acidentes de processo (geral);
• equipamentos em que ocorreram as maiores incidências de acidentes;
• dados envolvendo as consequências dos acidentes;
• dados envolvendo as condições de operação durante a ocorrência dos acidentes;
• dados envolvendo os tipos de falhas operacionais.
Figura 2: Fluxograma metodológico.
Fonte: Autores
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Quadro 1: Exemplo de preenchimento da planilha com os 154 acidentes, apresentados quatro exemplos.
200 M$
350 M$
273 M$
12 a 13 M$
Estimativa
de perdas
financeiras
2 Óbitos
11 Óbitos
1 óbito
2 óbitos
Estimativa
de perdas
humanas
Partida(1)
Estacionária
Estacionária
Batelada
Condição
de
operação
Explosão
Incêndio e explosão
Incêndio e explosão
Incêndio e explosão
Tipos de
perdas
Projeto
Mecânico – Falha em
Mecânico – Perda de
Erro operacional
Causa
válvula
integridade da
iniciadora
tubulação
Explosão
Explosão causada por
Foi causado um
Ocorreu um incêndio
Evento
causada pela
material frio de um
incêndio em uma
em uma esteira de
iniciador
ignição de
resfriador ser
tubulação de óleo e gás
carregamento que
do
uma nuvem de
erroneamente
devido a rompimento
ganhou grande
acidente
vapor de
direcionado a um
próximo à estação de
proporção devido ao
hexano por
aquecedor, gerando
bombeamento de óleo contato com colmos de
um motor
combustão espontânea.
cru.
cana.
elétrico.
Planta de
Petrolífera – Sistema de
Refinaria – Unidade de
Usina de açúcar
Tipo
produção de
liquefação de gás natural
destilação atmosférica
polietileno
2005
2004
1977
2013
ano
Skildia, Algéria
Abqaiq, Arábia Saudita
Santa Adélia, São
Local/País Munchmuster,
Alemanha
Paulo, Brasil
Liberação de
Explosão na planta de
Incêndio da tubulação
Incêndio em depósito
Acidente
hexano
LNG
continua restringindo a
de açúcar em Santa
criando uma
(Gás natural liquefeito)
saída de óleo na Arábia
Adélia
nuvem de
Saudita
vapor
(1)
Comissionamento a quente, testes dos motores do sistema.
Fonte: Autores
5 RESULTADOS
A partir da planilha contendo os 154 acidentes ocorridos entre os anos de 1974 e
2022 foram gerados os gráficos com as respectivas comparações aos resultados obtidos
por
5.1 CAUSAS RAIZ
5.1.1 Resultados para todos os acidentes
Utilizando as classificações do Quadro 1, foi possível dividir todos os acidentes
pelos tipos de causa raiz conforme a tipologia de Crowl e Louvar (2019). A Figura 3
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apresenta os valores percentuais obtidos por este autor, em comparação aos resultados
deste trabalho com a base amostral de 154 acidentes.
Figura 3: Tipo de causas raízes.
Fonte: Autores
De acordo com este gráfico, é possível perceber que na maioria dos acidentes,
houve erros operacionais e falhas mecânicas. Entretanto, Crowl e Louvar (2019) apontam
como causa principal a falha mecânica, enquanto os dados desse trabalho apontam para
erros operacionais. Tal fenômeno pode decorrer da redução das falhas mecânicas devido
ao investimento em manutenção centrada em confiabilidade dos equipamentos. Não
obstante, é possível perceber que os acidentes envolvendo erros de projeto e causas
naturais ocorrem em menor grau, havendo uma pequena quantidade de acidentes que não
possuem nenhum tipo de classificação, sendo considerada desconhecida. Esta redução de
causas desconhecida de 8 para 3%, pode estar relacionada a melhoria da qualidade das
investigações. Como as causas raízes contendo erros operacionais e falha mecânica foram
mais comuns nos acidentes encontrados, foram analisadas de maneira mais aprofundada
nos próximos dois subitens.
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5.1.2 Acidentes envolvendo equipamentos
As falhas de equipamentos de processo que resultam em acidentes representam
uma preocupação crítica em instalações industriais. Essas falhas podem ocorrer devido a
uma série de fatores, incluindo desgaste, corrosão, mau funcionamento de componentes
e negligência na manutenção preventiva. Quando um equipamento vital sofre uma falha
não detectada ou não tratada a tempo, os resultados podem ser catastróficos. Vazamentos
de produtos químicos tóxicos, explosões e incêndios são exemplos de consequências
severas que podem surgir devido a essas falhas. Além disso, as falhas de equipamentos
também podem impactar negativamente a produção, causando interrupções operacionais,
perdas financeiras significativas e danos à reputação da empresa.
Conforme os dados obtidos neste trabalho para os 154 acidentes, 77 acidentes
ocorreram em decorrência de falhas nos equipamentos, e os subtipos são listados na
Figura 4, e comparados aos resultados obtidos por Crowl e Louvar (2019).
Verifica-se alguma diferença entre os valores, mas um ponto a ser salientado é a
questão de que, aparentemente, os acidentes ocorridos com tubulações aumentaram
proporcionalmente em relação aos equipamentos de processo. Pode ser conjecturado
então que a melhora nas técnicas de Manutenção centrada em confiabilidade reduziu os
incidentes relacionados aos equipamentos de processo e instrumentação. Já que a perda
de contenção em tubulações está relacionada a gestão de integridade mecânica, cujo
monitoramento é feito por inspeções e testes.
5.1.3 Acidentes envolvendo erros operacionais
Entre os tipos de erros operacionais encontrados, foram encontrados quatro tipos
diferentes, estando relacionados principalmente com o manuseamento incorreto de
equipamentos por parte dos operadores, atitudes que negligenciavam os protocolos de
segurança, a falta de manutenção e proteção da integridade dos equipamentos e os casos
em que não foi especificado como ocorreram os erros operacionais. Estes dados são
apresentados na Figura 5.
Nota-se pela Figura 5 que a partir dos dados 26 acidentes (17% de 154) estudados,
a causa majoritária foi a Negligência de Protocolos de Segurança. Seguidas de forma
quase equivalente pelas falhas em Manuseio e Operação de Equipamentos e da
Manutenção e Integridade de Ativos. A diferença entre os dois primeiros, é a questão dos
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fatores psicológicos que levam ao erro humano proposta por Reason (1990). Negligência
de protocolos de segurança está fortemente relacionada a “deslize”, ou seja, erros
causados por um uma ação incorreta em desacordo com a ação pretendida ou planejada.
Já falhas em Manuseio e Operação de Equipamentos estão fortemente relacionados a
Lapsos (erros causados por esquecimento) e/ou Enganos (erros originados dos
processamentos cognitivos). E por último Manutenção e Integridade de Ativos que está
fortemente relacionada a Falha Humana na esfera organizacional, ou seja, no
planejamento de manutenção e na questão gerencial da companhia.
Figura 4: Gráfico de falhas mecânicas e os respectivos equipamentos.
Fonte: Autores
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Figura 5: Gráfico de repetição dos tipos de erros operacionais.
Fonte: Autores
5.2 CONSEQUÊNCIAS
Uma consideração importante na implementação de um sistema de gestão de
segurança de processo apropriado deve ser a prevenção de incêndios, explosões e
liberações tóxicas (ou quaisquer não planejadas). Ao processar e manusear materiais
perigosos, normas, procedimentos e técnicas de segurança de processo apropriados
devem ser seguidos para prevenir e/ou mitigar a perda de contenção de materiais
inflamáveis ou tóxicos. Através dos dados obtidos da literatura para os 154 acidentes e
adotando-se a tipologia de consequências propostas por Crowl e Louvar (2019) foi gerada
a Figura 6, em que os dados deste trabalho são comparados aos dados obtidos.
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Figura 6: Gráfico dos danos causados pelos acidentes.
Classificação dos acidentes quanto a sua consequência
Autor
Crowl e Louvar (2019)
Outros
Explosões de nuvens de vapor
Incêndios
Incêndios e explosões
0
10
20
30
40
50
60
70
Percentual em relação ao total de acidentes
Fonte: Autores
De acordo com o gráfico, os acidentes nos quais houve incêndio e explosão foram
os casos com maior incidência em ambos os trabalhos. Todavia, o número de incêndios e
explosões de nuvens de vapor aumentaram proporcionalmente em relação aos dados de
Crowl e Louvar (2019). Esta diferença pode estar relacionada a inserção no grupo
amostral de mais indústrias que não processam hidrocarbonetos (petrolífera e
petroquímica) em que incêndios e explosões de nuvens de vapor são mais frequentes
(Environmental Protection Agency (EPA), 2014).
No Quadro 2 é apresentado uma matriz de risco dos tipos de consequências
avaliadas pela tipologia de Crowl e Louvar (2019) com base nos trabalhos de Crowl e
Louvar (2019), Pasman et al.(2018). E no quadro 3 a categorização de frequência e
severidade conforme o tipo de perda de contenção em conformidade com a literatura
previamente citada.
Quadro 2: Matriz de risco proposta com base na literatura (Crowl & Louvar, 2019; Pasman et al., 2018).
Frequência
Severidade
Desprezível (1)
Menor (2)
Moderada (3)
Maior (4)
Provável (4)
4
8
12
16
Possível (3)
3
6
9
12
Improvável (2)
2
4
6
8
Remoto (1)
1
2
3
4
Risco Tolerável – 1 a 6, ALARP - 7 a 11 e Risco Não Tolerável – 12 a 16
Fonte: Autores
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Quadro 3: Categorização de frequência e severidade conforme o tipo de perda de contenção proposta pela
tipologia de Crowl e Louvar (2019).
Tipo de acidente
Frequência
Severidade
Pessoas
Patrimônio
Meio ambiente
1a3
1
1
1
Perda de contenção (liberação)
1a2
2
2
1
Colisão e danos aos equipamentos
1a2
2a3
1
1a3
Liberação tóxica
1a2
2a3
2a3
2a3
Incêndio
1a2
3a4
3a4
3a4
Incêndio e explosão
1a2
3a4
3a4
3a4
Explosão de Nuvens de vapor
Fonte: Autores
Incêndios e explosões, que são o evento mais frequente dentre os 154 acidentes
analisados, estão na faixa de 4 a 8, ALARP. Portanto, sempre que estes cenários forem
detectados nas Análises Preliminares de Risco (APR), é necessário aplicar uma Análise
Quantitativa de Riscos (AQR) e um estudo de consequências.
5.3 CONDIÇÕES DE OPERAÇÃO
Uma característica analisada para cada acidente, foi a sua condição de operação.
Cada condição de operação envolve diferentes procedimentos que podem ser rotineiros
ou não. Então, após a análise do grupo amostral de 154 acidentes, foi possível obter os
dados da Figura 7. Tomando como base a Figura 6, é possível evidenciar dentro do grupo
amostral de 154 acidentes, a maioria dos acidentes ocorreram em condição estacionária,
cerca de 55% dos acidentes, seguidos das condições de Partida (18,48%), Parada
(10,87%) e Manutenção programada e/ou procedimento não rotineiro.
Figura 7: Gráfico das condições de operação presentes no momento do acidente.
Percentual de acidentes nas diferentes condições de operação de
plantas químicas industriais operando em regime contínuo
18,48%
10,87%
8,7%
6,52%
55,43%
Estacionário
Partida
Parada
Manutenção programada e/ou procedimento não rotineiro
Não-definido
Fonte: Autores
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As condições de partida, parada, manutenção, e procedimento não rotineiro, ou
seja, que envolvem prontidão operacional, são uma fração pequena do tempo de
funcionamento (campanha) de uma planta de processo. Constata-se, portanto, o aumento
expressivo da probabilidade de ocorrência de incidentes durante esses períodos.
Evidenciando-se a necessidade de melhorar a cultura de segurança de processo em
condições de prontidão operacional (Abbassi et al., 2022).
5.4 ANÁLISE CRONOLÓGICA E PERDAS HUMANAS E ECONÔMICAS
Todos os 154 acidentes foram listados em períodos cronológicos de 10 anos, de
1974 a 2022, evidentemente por exceção do último período, cujos os percentuais são
apresentados na Figura 8. Um ponto importante a ser evidenciado é que a coleta de
informações teve um viés temporal em função do uso majoritário de fonte Marsh
Speciality, CSB, OSHA e HSE. O que justifica, proporcionalmente o grande número de
eventos no período de 2007 a 2017.
Figura 8. Análise cronológica e de proporcionalidade dos eventos acidentais.
Proporção do número de total de acidentes avaliados
e as respectivas datas de referência
49%
9%
20%
10%
1974-1984
1985-1995
1996-2006
2007-2017
2018-2022
12%
Fonte: Autores
Na Tabela 1 são apresentadas as perdas econômicas corrigidas pela inflação em
períodos temporais distintos.
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Tabela 1: Dados envolvendo número de fatalidades e perdas econômicas decorridos de acidentes no setor
de petróleo e gás (Marsh Specialty, 2022; Pasman, Rogers e Mannan, 2018 e Fyffe et al., 2021).
Período
Perdas
Perdas financeiras no
Perdas financeiras no
humanas
período (BS$)
período (BS$/ano)
1972-76
5
0,37
0,074
1977-81
13
1,1
0,220
1982-86
15
1,1
0,220
1987-91
25
3
0,600
1992-96
16
1,5
0,300
1997-01
26
3,3
0,660
2002-10
44
5,2
0,578
2011-21
40
4,8
0,436
Fonte: Autores
A Figura 9 de forma complementar a Tabela 1, mostra as frações de faixas de
valores de prejuízos gerados para as empresas em virtudes dos acidentes. Evidenciandose o ponto de que esses prejuízos se projetam tanto na esfera de patrimônio, quanto de
pessoas, meio ambiente e imagem da companhia. Portanto, esses valores não representam
o impacto total trazido as companhias em decorrência desses acidentes, mas ilustram as
altas perdas oriundas desses eventos.
Figura 9: Gráfico percentual de estimativas de perdas financeiras com os acidentes.
Relação entre percentual de ocorrência
e impacto financeiro dos eventos acidentais
50%
7,5%
27,5%
15%
Mais de 600 MS$
400 a 600 MS$
100 a 400 MS$
1 a 100 MS$
Fonte: Autores
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Outra forma de expressar os dados relacionados as perdas econômicas com os 154
acidentes são os dados da Tabela 2. Em que são somados os valores das perdas
econômicas para cada tipo de consequência.
Tabela 2: Gráfico de perdas financeiras relacionadas com os tipos de consequências dos acidentes.
Tipos de consequências
Valor Médio em perdas
financeiras (Bilhões de US$)
Incêndio e Explosão
9,30
Colisão e danos ao equipamento
2,78
Explosão de nuvens de vapor
0,67
Perda de contenção (liberação)
0,23
Fonte: Autores
É possível perceber que há uma grande disparidade entre as perdas financeiras
para cada tipo de acidente, em que, os acidentes envolvendo incêndio e explosão
causaram perdas muito expressivas. Este fato pode estar relacionado ao fato de incêndios
seguidos de explosões, muitas vezes, estão relacionados a Explosão de Vapor em
Expansão de um Líquido Sob Pressão (BLEVE, Boiling Liquid Expanding Vapor
Explosion), considerado por Grossel (2001) uma das piores consequências de perdas de
contenção na indústria de processos.
5.5 LOCALIDADE DOS ACIDENTES
Durante a compilação dos dados sobre os incidentes acontecidos ao longo da
história foi possível determinar uma variação significativa na quantidade de acidentes
acontecidos em cada país, com isso criamos um gráfico apresentando os países onde mais
de 3 acidentes aconteceram e foi possível perceber que países com um certo
desenvolvimento possuem uma quantidade maior de acidentes relatados do que países
subdesenvolvidos, como por exemplo Angola e Haiti, conforme a Tabela 3.
Naturalmente, em virtude do número total de indústrias, foi pertinente a elaboração da
Figura 10, em que foi comparado o percentual total de acidentes (dentro do grupo
amostral de 154) com o percentual do PIB de cada continente.
Tabela 3: Localidades em que ocorreram os acidentes e relação com o número de ocorrências.
Locais
Número de repetições
% proporcional
Brasil
34
22
China
12
8
Estados Unidos
45
29
França
5
3
Itália
3
2
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Noruega
Reino Unido
Venezuela
Outros
Total
3
8
3
41
154
Fonte: Autores
2
5
2
27
Verifica-se na Figura 9 que para o grupo amostral apresentado, o pequeno número
de acidentes, em relação ao PIB, dos países asiáticos (inclusa a China).
Este dado se deve a dificuldade da obtenção de dados de acidentes industriais
envolvendo a Ásia. A existência de agências no Ocidentes como a CSB, ANP, HSE,
OSHA, dentre outras agências. Permite uma maior transparência quanto as ocorrências
envolvendo acidentes com perda de contenção e danos materiais expressivos.
Por outro lado, na Ásia e China, podem ser encontrados na literatura algumas
estatísticas envolvendo acidentes na indústria. Entre 2015 e 2020, segundo Chen et al.,
2021 e Motalifu et al., 2022 foram documentados cerca de 42 acidentes, com gravidades
variando entre Tiers 1 e 4, ou seja, com grandes perdas de contenção e sem perdas de
contenção. A indústria asiática é crescente e pujante, e a incorporação dos valores da
segurança de processos em sua arquitetura organizacional é fundamental.
Figura 10: Gráfico das localidades divididos por continentes.
80
70
% do total de acidentes
% no PIB industrial mundial
68
60
50
39
40
30
30
20
15
8
10
6
19
5
3
7
0
América
Ásia
África
Europa
Oceania
Continentes
Fonte: Autores
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6 CONCLUSÃO
Através dos resultados obtidos para o grupo amostral de 154 acidentes, foi
possível observar que ao comparar-se os resultados obtidos com os resultados
apresentados por Crowl e Louvar (2019) ocorreu uma redução nas falhas relacionadas a
equipamentos
e instrumentos
em
geral.
O que por consequência, elevou
proporcionalmente os valores das falhas relacionados a falha operacional, em especial
aquelas que decorrem de falha humana.
Tubulações mostraram-se, preponderantemente, a maior fonte de falhas em
equipamentos. Principalmente pela questão da dificuldade em monitorar-se sua
integridade.
A maior fonte de acidentes envolvendo erros operacionais envolveu a negligência
de protocolos de segurança, o que evidência a necessidade do fortalecimento da cultura
de segurança de processos como um valor nas companhias.
Foi possível constatar um alto grau de correlação entre o PIB industrial e o número
de acidentes da indústria química, por exceção do continente asiático. Fato este explicável
pela escassez de informações no que tange a acidentes ocorridos na Ásia, em especial na
China, país este que possui atualmente o maior polo industrial mundial.
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REFERÊNCIAS
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