Revista Catarinense de Economia
Vol. 5 | n. 2 | 2021 | ISSN 2527-1180
O COMPORTAMENTO DO PIB CATARINENSE DURANTE
O PERÍODO DE DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICOADMINISTRATIVA1*
POLITICAL-ADMINISTRATIVE DECENTRALIZATION: AN ANALYSIS OF SANTA CATARINA
BETWEEN 2003 AND 2018
Maria Eduarda Munaro**
Lauro Mattei***
Resumo: Em 2003 foi implementada em Santa Catarina a estratégia de descentralização político-administrativa,
que tinha como objetivo reduzir as desigualdades regionais do estado e evitar a continuidade do processo de
litoralização populacional que vinha sendo observado no território catarinense. O objetivo central do estudo foi
analisar as implicações do processo de descentralização político-administrativa sobre o desenvolvimento regional
catarinense a partir do comportamento do Produto Interno Bruto das mesorregiões e microrregiões de Santa
Catarina entre os anos de 2003 e 2018, período de vigência da estratégia de descentralização. Os procedimentos
metodológicos utilizados foram a coleta da série do Produto Interno Bruto das mesorregiões e microrregiões
catarinenses disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o deflacionamento de toda
a série tendo como base o ano de 2003, e a análise dos resultados ao longo do período de vigência da descentralização
político-administrativa, buscando comparar o cenário de 2003 com o de 2018, além da contextualização geral de
como se deu o processo de descentralização político-administrativa no estado de Santa Catarina. Os resultados
indicam que não ocorreram alterações significativas nas desigualdades regionais de Santa Catarina diante do fim da
estratégia de descentralização político-administrativa, uma vez que o cenário de concentração do Produto Interno
Bruto não foi amenizado ao longo dos anos, mas ao contrário, acabou se agravando ainda mais, se concentrando
em regiões específicas. Sendo assim, as ações de descentralização político-administrativa não foram capazes de
cumprir com seu principal propósito: interromper o processo de litoralização domiciliar da população catarinense.
Palavras-chave: Descentralização político-administrativa; Desigualdade regional; PIB; Santa Catarina.
Abstract: In 2003, the political-administrative decentralization strategy was implemented in Santa Catarina, aiming
to reduce regional inequalities in the state and avoid the continuation of the process of population coastalization.
The main objective of the study was to analyze the implications of the political-administrative decentralization
process on Santa Catarina’s regional development based on the behavior of the Gross Domestic Product from
the mesoregions and microregions of Santa Catarina between the years 2003 and 2018, period of validity of
decentralization. The methodological procedures used were the collection of the GDP series of the Santa Catarina’s
mesoregions and microregions made available by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), the
deflation of the entire series based on the year 2003, and the analysis of the results throughout the period of
validity of decentralization, seeking to compare the scenario of 2003 with that of 2018. The results indicate that
there were no significant changes in Santa Catarina’s regional inequalities at the end of the political-administrative
decentralization strategy, since the scenario of concentration of the GDP was not reduced over the years, on the
opposite, it ended up getting worse. Therefore, the process of political-administrative decentralization was not able
to fulfill its objective of interrupting the process of residential coastalization of the population of Santa Catarina.
Keywords: Political and administrative decentralization; Regional inequality; GDP; Santa Catarina.
Classificação JEL: R58
*Submissão: 25/07/2022 | Aprovação: 06/09/2022 | Publicação: 23/12/2022 | DOI: 10.54805/RCE.2527-1180.v5.i2.119
**Universidade Federal de Santa Catarina | E-mail: munaro19@gmail.com | ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9432-1056
***Universidade Federal de Santa Catarina | E-mail: l.mattei@ufsc.br | ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1270-8052
1 Este artigo é um resumo de partes do Trabalho de Conclusão do Curso da primeira autora, orientado pelo segundo autor.
© Autor(es). Publicado pela Associação de Pesquisadores em Economia Catarinense - APEC
Este artigo é licenciado sob a Creative Commons Licence 4.0 | CC- BY
Munaro & Mattei (2021)
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1. INTRODUÇÃO
O estado de Santa Catarina continua apresentando desigualdades regionais bastante expressivas, sendo que tais desigualdades
estão diretamente relacionadas ao processo de formação econômica do estado (Goularti Filho, 2002). Tal processo conformou
uma estrutura produtiva assentada em dinâmicas econômicas específicas nas seis mesorregiões. Todavia, conforme alerta
Theis (2009), existem simultaneamente no estado regiões mais desenvolvidas e menos desenvolvidas, processo que o autor
denomina de desenvolvimento geográfico desigual.
Neste caso, verificam-se duas vertentes desse debate. A primeira dá ênfase à redução das desigualdades regionais a partir do
desenvolvimento homogêneo das relações de produção entre as regiões. Já a segunda vertente, que elenca como motivo das
desigualdades a lógica de concentração propiciada pelo modo de produção capitalista, dá ênfase à redução das desigualdades
regionais a partir do acolhimento das particularidades sociais e econômicas de cada região, como alternativa endógena de
desenvolvimento (Etges e Degrandi, 2013).
Neste contexto, nota-se que há décadas vem se discutindo em Santa Catarina a necessidade de se estabelecer um
desenvolvimento regional menos desigual entre as distintas regiões do estado. Para tanto, a partir de 2003 foi implementado
um conjunto de medidas de descentralização político-administrativa com o objetivo de descentralizar a administração pública
do estado que se encontrava fortemente concentrada na capital (Florianópolis), a partir da constituição de Secretarias de
Desenvolvimento Regionais (SDRs) em todas as regiões. Assim, aos poucos foram criadas 36 SDRs com a função de assumir
parte das atividades executadas nas secretarias localizadas na capital. Porém, após quase duas décadas de existência, tal projeto
político foi extinto.
Em função disso, o objetivo desse estudo é procurar explicar se houve ou não mudanças nas desigualdades regionais diante
da estratégia de descentralização político-administrativa no período entre 2003-2018. Para tanto, além dessa breve introdução,
o artigo é composto por mais três seções. Na primeira delas discute-se o diagnóstico do governo estadual e as principais ações
implementadas para concretizar o novo plano de desenvolvimento regional. A segunda seção analisa o comportamento do
PIB no estado e regiões com objetivo de captar possíveis efetivos benéficos da nova política estadual, enquanto a terceira seção
apresenta as considerações finais do trabalho, com ênfase nos resultados gerais desse processo.
2. DIAGNÓSTICO E POLÍTICAS DE DESCENTRALIZAÇÃO ADOTADAS EM SANTA CATARINA
A PARTIR DE 2003
Nesta seção será apresentada, de forma bastante breve, o diagnóstico que embasou a política de descentralização
implementada pelos governos estaduais a partir de 2003, bem como as principais ações implementadas, com ênfase na criação
das secretarias de desenvolvimento regional.
2.1. A CHAMADA LITORALIZAÇÃO DA POPULAÇÃO CATARINENSE
Silva e Mattei (2003) mostraram que houve um crescimento expressivo da população das mesorregiões da Grande
Florianópolis, Vale do Itajaí e Norte Catarinense, principalmente em suas faixas litorâneas, ao mesmo tempo em que se
constatou um decrescimento populacional das mesorregiões Serrana, Oeste Catarinense e Sul Catarinense. Esses autores
destacaram que em 1940 a porcentagem da população de Santa Catarina representada por Florianópolis era de 4%, ao passo
que em 2000 era de 6,4%. Já Mioto (2012) enfatiza que por mais que Santa Catarina tenha se tornado estado receptor de
migrantes de outras regiões do Brasil, a migração interna era a principal responsável por essa situação de concentração.
Corroborando com esses autores, Seabra, Bez e Bornschein (2011) afirmaram que a porcentagem do total da população
nos municípios localizados a menos de 100km do litoral catarinense cresceu de 60,43% (1996) para e 62,34% (2000), ou
seja, em apenas quatro anos foi possível verificar o aumento do processo de concentração populacional nas áreas litorâneas
do estado.
No início do século XXI esse fenômeno demográfico acabou sendo cunhado como a “litoralização de Santa Catarina”.
Tal fato se refere ao processo de migração da população do interior para o litoral do estado, onde se encontram as regiões
mais dinâmicas economicamente. Desta forma, Taylor (1999) afirma que o processo migratório deve ser analisado a partir da
ideia de desenvolvimento, pois se apresenta como processo complementar a esse e produz efeitos sobre as regiões de origem
e destino dos indivíduos migrantes.
Como o problema da litoralização estava cada vez mais evidente, emergiu a discussão acerca das possíveis soluções para
essa questão. No intuito de desenvolver as regiões ainda marginalizadas, a partir do ano 2003 o governo do estado de
Santa Catarina iniciou um processo de enfrentamento do problema por meio de um conjunto de políticas denominadas de
“descentralização político-administrativa”.
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2.2. A DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO CATARINENSE
Com o objetivo de reorientar a aplicação de recursos públicos de forma descentralizada e regionalizada, surgiu a proposta
da descentralização político-administrativa do estado. Tal proposta tinha como intuito reduzir as desigualdades regionais a
partir da melhor distribuição do núcleo de decisões governamentais entre as diversas regiões que conformam o território
catarinense, possibilitando uma participação política mais direta da população que habita esses locais.
O que se argumentava na época era que as políticas de desenvolvimento regional não conseguiam atingir as regiões
interioranas, acabando por se concentrar nas regiões que apresentavam uma maior dinâmica econômica. Esse processo, na
essência, acabava reforçando a continuidade da litoralização.
Em 2003, o senhor Luiz Henrique da Silveira assumiu o governo do estado e imediatamente implementou o projeto de
descentralização político-administrativa, com o objetivo de descentralizar a administração pública estadual, que se restringia
à capital Florianópolis, e expandi-la por todo o território catarinense, enquanto nova estratégia de administração pública
estadual. Segundo o então governador, era necessária uma estrutura administrativa que fosse capaz de descentralizar as ações
governamentais e, paralelamente, realizar novos projetos de desenvolvimento regional.
Nas palavras do governador Luiz Henrique da Silveira:
[...] O governo do Estado precisa de uma forte reestruturação. Temos tempos novos e um Governo
velho. Tempos digitais e um governo manual. Concentrado e, por isso, ineficaz. Centralizador, e por
isso, personalista. Distante, e por isso, ausente do conjunto de regiões mais afastadas. Autoritário, e por
isso, reprodutor das velhas práticas politiqueiras de submissão, via concessão de favores (financiamentos,
convênios, isenções, verbas a fundo perdido, do tipo ‘show do milhão’ distribuídas em ano eleitoral, sem
qualquer outro critério que não seja a caça ao voto). A reestruturação que propomos tem fundo ético. Busca
a democratização das ações e a transparência. Visa ao amplo engajamento e participação das comunidades
de cada microrregião, com a regionalização do Orçamento, do Planejamento, da Fiscalização e das Ações.
[...] Santa Catarina tornou-se, nos últimos anos, um dos estados campeões nacionais de êxodo rural,
face a centralização governamental e a consequente ausência de políticas regionais de desenvolvimento
agropecuário. [...] Daí a necessidade inadiável dessa reestruturação, que se baseará em quatro linhas básicas:
descentralização, municipalização, prioridade social e modernização tecnológica (SANTA CATARINA,
2002, p. 1-2, apud DIAS, 2012, p. 161).
O projeto do governo estadual foi aprovado pela Lei Complementar n. 243/2003 e, posteriormente, a Lei Complementar
n. 284/2005, que já no art. 1º estabeleceu que “a estrutura organizacional da Administração Pública Estadual deverá
desburocratizar, descentralizar e desconcentrar os circuitos de decisão, [...], promovendo a redução das desigualdades entre
cidadãos e entre regiões, elevando a qualidade de vida da sua população.” (SANTA CATARINA, 2005).
Conforme Mattei (2016),
De um modo geral, pode-se dizer que o processo de descentralização proposto baseava-se nos seguintes
aspectos: reestruturação da administração pública estadual, visando implementar um novo modelo de
gestão do Estado; melhorar a eficácia das ações governamentais junto aos cidadãos; ampliar a ação do
Estado em todas as regiões por meio da descentralização administrativa; organizar o orçamento e o
planejamento do Estado regionalmente; e implementar novos projetos de desenvolvimento com foco nos
problemas regionais (Mattei, 2016, p. 247).
Já a Lei Complementar n. 243/2003, afirma no art. 9, “que a execução das atividades da administração estadual será
descentralizada e desconcentrada e se dará preponderantemente pelas Secretarias de Estado do Desenvolvimento Regional e
por outros órgãos de atuação regional.” (SANTA CATARINA, 2003). Nesse processo, o caráter participativo da população –
que era característica essencial dos Fóruns de Desenvolvimento Regional Integrado (FDRIs) – foi se perdendo.
Durante o exercício da política de descentralização foram criadas 36 SDRs em Santa Catarina, distribuídas ao longo do
estado, conforme a Figura 1. Tal reestruturação se sobrepôs aos Fóruns de Desenvolvimento Regional Integrado.
A atuação das SDRs ocorreria a partir das decisões do Conselho de Desenvolvimento Regional (CDR). Criados a partir da
Lei Complementar Estadual n. 243/2003, pelo art. 57, aos CDRs cabiam funções acessórias e eram constituídos pelo prefeito,
presidente da câmara de vereadores e dois representantes da sociedade civil de cada município da secretaria. Em termos
administrativos, tais conselhos atuavam no gerenciamento do Plano de Desenvolvimento Regional, do Plano Plurianual, do
Orçamento Anual e dos recursos provenientes do estado.
Todavia, diante das críticas e dos desvios sofridos no projeto original, no ano de 2015, o então reeleito governador
Raimundo Colombo, por meio do Projeto de Lei (PL 0260.8/2015), transformou as SDRs em Agências de Desenvolvimento
Regional (ADRs). Essa transformação visava readequar a estrutura administrativa do estado extinguindo cargos comissionados
e funções gratificadas (Mattei, 2015).
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Após quase duas décadas de funcionamento, o governador Eduardo Pinho Moreira, diante do afastamento de Colombo
para concorrer ao senado, iniciou o processo de desativação das ADRs, por meio do Decreto nº 1.537/2018. Tal processo foi
concluído no início do governo de Carlos Moisés (2019) por meio do Decreto nº 3/2019, o qual estabeleceu em seu artigo
primeiro que “fica estabelecido o processo de desativação das Agências de Desenvolvimento Regional (ADRs)”, inclusive
autorizando a desativação das ADRs que ainda se encontravam em funcionamento.
Figura 1: Distribuição espacial das Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs) conforme mesorregiões do IBGE.
Fonte: Secretaria de Estado do Planejamento – SPG.
2.3. BREVES COMENTÁRIOS
ADMINISTRATIVA
SOBRE
A
POLÍTICA
DE
DESCENTRALIZAÇÃO
Ao longo do período de implementação do projeto de descentralização, acerca dos resultados que esse processo ofereceu
à sociedade catarinense, surgiram diversos pontos críticos. O primeiro deles foi exatamente a concentração dos recursos nas
regiões mais dinâmicas do estado, especialmente daquelas localizadas no litoral.
Para Abrucio e Filippim (2010, p. 226), a implantação da política de descentralização do governo catarinense se sobrepôs
às iniciativas de desenvolvimento regional baseadas nas ações de atores locais, da sociedade civil organizada e de associações
de município. A longa tradição associativista presente em Santa Catarina teria sido desconsiderada pelo governo do estado,
que implantou uma política de descentralização cujo resultado prático foi o aumento da concentração de poder no governo
central. Além disso, o resultado foi que as SDRs permitiram a formação de uma rede político-partidária robusta em benefício
do governador que, com isso, garantiu a Reforma Administrativa e a expansão do Poder Executivo no estado.
Já para Goularti (2013), o resultado da descentralização político-administrativa, e mais especificamente, do Orçamento
Regionalizado, ocorreu na discrepância dos valores orçados e realizados ao longo dos anos. O autor aponta que cinco SDRs
das regiões mais dinâmicas economicamente (Florianópolis, Joinville, Blumenau, Jaraguá do Sul e Chapecó) acabaram por
concentrar 28,59% dos valores orçados e 43,17% dos valores realizados no período entre 2005 e 2012. Tais percentuais
indicaram que a criação das SDRs não modificou a estrutura até então vigente. Com isso, o autor afirmou que a descentralização
se distanciou de seus propósitos e que as SDRs não possuíam autonomia orçamentária para executar as prioridades definidas
em audiências.
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Para Rudnick e Mattedi (2013, p. 39), “a maior capacidade orçamentária dessas SDRs pode estar relacionada à capacidade
de articulação política, bem como à capacidade de organização e cooperação entre os municípios de abrangência das SDRs
que apresentam melhor desempenho”, se referindo aqui as SDRs litorâneas, que se mantiveram como as mais dinâmicas ao
longo da vigência do processo de descentralização.
Mattei (2016), analisando o orçamento total das SDRs, constata que em todos os anos as despesas de custeio superaram os
valores destinados a investimentos. Logo, uma das propostas iniciais da descentralização, a de promover o desenvolvimento
regional no intuito de melhor uniformizar as condições das regiões no estado, não foi cumprida. Nesse caso, se reafirma a
concentração de investimentos nas regiões que já apresentavam maior dinamismo econômico.
Outro aspecto destacado por Rudnick e Mattedi (2013) foi que boa parte dos investimentos, ao invés de ser repassados a
projetos regionais, se direcionavam a projetos municipais, deixando de contribuir com os objetivos da descentralização. Além
de não contribuir para o desenvolvimento regional, essa questão acabou contribuindo para a concentração das atividades
produtivas, cujo resultado pode ser mensurado pela concentração do PIB em poucos municípios do estado.
Além da concentração de recursos, que continuou ocorrendo, outro ponto levantado pelos trabalhos que analisaram a
estratégia de descentralização foi a participação da população durante a implementação do novo plano governamental. A
mudança na dinâmica organizativa das Secretarias de Desenvolvimento Regional reduziu significativamente a participação da
sociedade civil na mobilização pelo desenvolvimento das microrregiões, característica notável dos FDRI.
O que ocorreu de fato foi que o processo de descentralização político-administrativa, iniciado no governo de Luiz
Henrique da Silveira no ano de 2003, substitui a proposta de descentralização que estava sendo conduzida em grande parte
pela sociedade civil por uma proposta de descentralização do tipo top down (BIRKNER, 2008). Isto é, o processo de decisão
que antes se dava de forma horizontalizada entre os participantes dos Fóruns de Desenvolvimento Regional Integrado, passa
a se dar de forma verticalizada, “de cima para baixo”, sendo o exercício das tomadas de decisões concentrado novamente no
governo estadual.
Birkner (2008) destaca, ainda, que a baixa qualificação dos conselheiros que faziam parte dos respectivos CDRs de cada
Secretaria de Desenvolvimento Regional, foi decisiva nos resultados obtidos pela estratégia. Além disso, a autora pontua
que os CDRs acabaram por se limitar a um caráter homologatório diante de como estavam se dando as aprovações dos
projetos. Para Cogo e Dallabrida (2012) os CDRs deveriam ser igualmente compostos por indivíduos da sociedade civil, em
contraponto com o que se estabeleceu com a dinâmica praticamente nula da participação popular.
Em síntese, grande parte da literatura especializada no assunto destacou que a estratégia de implantação do projeto de
descentralização político-administrativa do estado catarinense apresentou ao longo de sua vigência diversas lacunas. Dentre
elas, destacaram-se a necessidade de maior autonomia das SDRs, a melhoria na qualificação dos profissionais que iriam atuar
no processo e, com ênfase, a ampliação da participação da popular na discussão e decisão dos projetos de desenvolvimento que
deveriam ser implantados exatamente para fazer valer o objetivo geral da proposta, ou seja, alterar os rumos do desenvolvimento
regional catarinense. E isso efetivamente não aconteceu!
3. A EVOLUÇÃO DO PIB CATARINENSE DURANTE O PERÍODO DA DESCENTRALIZAÇÃO
POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
3.1. COMPORTAMENTO DO PIB ESTADUAL ENTRE 2003 E 2018
Em termos metodológicos, é importante destacar os procedimentos adotados para apresentar a série histórica do período
considerado. Assim, informa-se que toda a série considerada foi deflacionada com base no Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA). Após a obtenção da inflação periódica a cada ano, ela foi transformada em um índice de preços,
sendo que o ano de 2003 foi considerado como a data-base desse índice. A partir da obtenção do fator de deflacionamento, ele
foi multiplicado pelo valor nominal para toda a série do PIB de Santa Catarina de 2003 a 2018. Com isso, foi possível analisar
de forma consistente a trajetória do Produto Interno Bruto de Santa Catarina no período de vigência da descentralização
político-administrativa.
A Tabela 1 apresenta a evolução monetária do Produto Interno Bruto de Santa Catarina de 2003 a 2018. No ano de 2003,
data do início da política de descentralização, o montante do PIB era 64,1 bilhões de reais. Ao final do período considerado
(2018), o PIB catarinense se situou em 130,3 bilhões de reais. Mesmo diante da crise econômica geral do país, cujos efeitos
também estiveram presentes em Santa Catarina, o estado apresentou um crescimento razoável durante o período de 2003 a
2018.
Em termos monetários absolutos nota-se que, ao longo do período considerado, ocorreu um aumento de 103% no
montante agregado estadual, ou seja, ao longo dos dezesseis anos do processo de descentralização político-administrativa, o
valor monetário do PIB estadual mais que dobrou. Todavia, deve-se registrar que esse comportamento está atrelado a um
período de grande expansão da economia do país, sobretudo entre os anos de 2003 e 2013.
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Tabela 1: Produto interno bruto de Santa Catarina (mil reais, 2003 a 2018)
Ano
PIB (mil reais)
2003
64.098.475
2004
68.419.113
2005
71.709.017
2006
77.637.367
2007
84.658.988
2008
93.621.523
2009
95.384.123
2010
107.242.062
2011
114.021.813
2012
118.701.133
2013
125.352.640
2014
133.200.628
2015
123.596.816
2016
119.865.718
2017
125.734.235
2018
130.349.472
Fonte: IBGE; Elaborado pelos autores
Em termos monetários absolutos nota-se que, ao longo do período considerado, ocorreu um aumento de 103% no
montante agregado estadual, ou seja, ao longo dos dezesseis anos do processo de descentralização político-administrativa, o
valor monetário do PIB estadual mais que dobrou. Todavia, deve-se registrar que esse comportamento está atrelado a um
período de grande expansão da economia do país, sobretudo entre os anos de 2003 e 2013.
3.2. O COMPORTAMENTO DO PIB NAS MESORREGIÕES DO ESTADO
Considerando a divisão territorial adotada pelo IBGE no ano de 1989 (IBGE, 1990), o estado de Santa Catarina se
divide nas seguintes mesorregiões: Oeste Catarinense, Norte Catarinense, Serrana, Vale do Itajaí, Grande Florianópolis e Sul
Catarinense.
Conforme a Tabela 2, o PIB das mesorregiões catarinenses apresentava diferenças significativas no primeiro ano da
descentralização político-administrativa, conforme segue: no ano de 2003 apenas duas mesorregiões (Norte e Vale do Itajaí)
respondiam por quase 50% do PIB estadual, sendo que o Vale do Itajaí respondia pelo maior percentual estadual, cerca de
15,7 bilhões de reais. Se a essas duas mesorregiões for agregado o montante do Oeste Catarinense, nota-se que apenas três
das seis mesorregiões do estado concentravam aproximadamente 70% do PIB catarinense. Finalmente, verifica-se a baixa
participação da mesorregião Serrana no agregado estadual (5,63%), percentual que a qualificava como a com o menor PIB
regional. Registre-se que tal porcentagem correspondia a aproximadamente 23% do PIB da mesorregião Vale do Itajaí, o
maior percentual regional.
Tabela 2: Produto interno bruto segundo as mesorregiões de Santa Catarina (em mil reais) e participação percentual de cada
região entre 2003 e 2018
Mesorregião
2003
2018
PIB (mil reais)
% (participação)
PIB (mil reais)
% (participação)
Oeste Catarinense
12.708.125
19,83
21.833.704
16,75
Norte Catarinense
15.378.039
23,99
28.988.044
22,24
Serrana
3.611.342
5,63
6.010.167
4,61
Vale do Itajaí
15.733.762
24,55
39.247.972
30,11
Grande Florianópolis
9.218.512
14,38
19.792.397
15,18
Sul Catarinense
7.448.695
11,62
14.477.188
11,11
Santa Catarina
64.098.475
100
130.349.472
100
Fonte: IBGE; Elaborado pelos autores
O comportamento do PIB das regiões sofreu algumas alterações importantes ao final do período de descentralização
político-administrativa. Em primeiro lugar, apesar das três mesorregiões (Vale do Itajaí, Norte e Oeste Catarinense)
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continuarem representando 70% do PIB estadual, observam-se duas alterações expressivas. Por um lado, ocorreu uma forte
expansão da participação do Vale do Itajaí, ou seja, seu percentual aumentou de 24,55% (2003) para 30,11% (2018) e, por
outro, houve uma retração importante da participação do Oeste Catarinense, ou seja, seu percentual caiu de 19,83% (2003)
para 16,75% (2018). Finalmente, a mesorregião Norte sofreu um ligeiro declínio em sua participação percentual no ano final
do período de descentralização do Estado.
Além disso, mais dois aspectos devem ser registrados. Por um lado, nota-se que a região da Grande Florianópolis apresentou
um ligeiro aumento em sua participação no agregado estadual, ou seja, seu percentual passou de 14,38%, em 2003, para
15,18%, em 2018. Esse movimento a colocou como o quarto maior percentual no ano final do processo. Por outro, destaca-se
o movimento em sentido contrário observado na mesorregião Serrana, uma vez que sua participação caiu de 5,3%, em 2003,
para 4,61%, em 2018.
Após o encerramento da descentralização político-administrativa no ano de 2018, observou-se que a participação
acumulada das três mesorregiões com as maiores participações no PIB estadual em 2003 continuou praticamente com o
mesmo percentual. Isso revela que, em termos da produção agregada regional, não houve ampliação da participação de
todas as demais mesorregiões, exceto no caso da Grande Florianópolis, ao mesmo tempo em que se ampliou ainda mais a
concentração, como sugere o caso do Vale do Itajaí.
Esses movimentos podem ser melhor compreendidos quando se analisa o mesmo indicador (percentual de participação
no PIB) em cada uma das microrregiões do estado, conforme será analisado na sequência.
3.3. O COMPORTAMENTO DO PIB NAS MICRORREGIÕES DO ESTADO
Da mesma forma que no item anterior, adota-se a divisão territorial do IBGE de 1989, que dividiu geograficamente o
estado de Santa Catarina em vinte microrregiões, a saber: Mesorregião Oeste Catarinense (São Miguel do Oeste, Chapecó,
Xanxerê, Joaçaba e Concórdia); Mesorregião Norte Catarinense (Canoinhas, São Bento do Sul, Joinville); Mesorregião Serrana
(Curitibanos e Campos de Lages); Mesorregião Vale do Itajaí (Rio do Sul, Blumenau, Itajaí, Ituporanga); Mesorregião da
Grande Florianópolis (Tijucas, Florianópolis, Tabuleiro); Mesorregião Sul Catarinense (Tubarão, Criciúma e Araranguá).
Esse recorte geográfico é apresentado na Tabela 3, o qual mostra a existência de enormes desigualdades entre as microrregiões
catarinenses, que foram potencializadas ao final do processo de descentralização. No âmbito geral do estado, verifica-se que,
no ano de 2003, sete microrregiões (Chapecó, Joaçaba, Joinville, Blumenau, Itajaí, Florianópolis e Criciúma) respondiam por
aproximadamente 70% do PIB estadual, destacando-se que apenas três delas (Joinville, Blumenau e Florianópolis) respondiam
por cerca de 45% do PIB estadual. Já ao final de 2018, apenas seis delas (as mesmas anteriores, exceto Joaçaba) respondiam
pelos mesmos 70% do PIB estadual, revelando que o mesmo concentrou-se ainda mais.
Tabela 3: Produto interno bruto segundo as microrregiões de Santa Catarina (em mil reais) e participação percentual no
agregado estadual entre 2003 e 2018
Mesorregião
2003
2018
PIB (mil reais)
% (participação)
PIB (mil reais)
% (participação)
São Miguel do Oeste
1.515.872
2,36
2.634.151
2,02
Chapecó
4.248.416
6,63
8.002.532
6,14
Xanxerê
1.715.586
2,68
2.342.718
1,8
Joaçaba
3.716.448
5,8
6.036.090
4,63
Concórdia
1.511.803
2,36
2.818.213
2,16
Canoinhas
2.181.035
3,4
3.560.984
2,73
São Bento do Sul
1.536.633
2,4
2.118.758
1,63
Joinville
11.660.371
18,19
23.308.301
17,88
Curitibanos
1.224.294
1,91
2.063.623
1,58
Campos de Lages
2.387.049
3,72
3.946.544
3,03
Rio do Sul
1.819.722
2,84
3.248.625
2,49
Blumenau
8.349.885
13,03
15.874.408
12,18
Itajaí
5.141.394
8,02
19.248.384
14,77
Ituporanga
422.761
0,66
876.556
0,67
Tijucas
619.543
0,97
1.519.513
1,17
Florianópolis
8.420.421
13,14
17.979.869
13,79
Tabuleiro
178.549
0,28
293.014
0,22
continua...
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Mesorregião
Tubarão
127
2003
2018
PIB (mil reais)
% (participação)
PIB (mil reais)
% (participação)
2.788.508
4,35
5.635.859
4,32
Criciúma
3.217.556
5,02
6.560.215
5,03
Araranguá
1.442.631
2,25
2.281.114
1,75
Santa Catarina
64.098.475
100
130.349.472
100
Fonte: IBGE; Elaborado pelos autores
Desta forma, é importante analisar o que de fato ocorreu durante a descentralização internamente às mesorregiões.
Começando pelo Vale do Itajaí (mesorregião com maior peso percentual no PIB estadual), observam-se dois movimentos
distintos. O primeiro diz respeito ao expressivo aumento da participação da microrregião de Itajaí, passando de 8,02% (2003)
para 14,77% (2018), fato que explica a grande expansão da mesorregião, uma vez que a microrregião de Blumenau sofreu
uma ligeira queda de sua participação entre 2003 e 2018. Finalmente, o segundo aspecto mostra a redução da participação da
microrregião de Rio do Sul ao final do período considerado e a continuidade de um percentual baixíssimo da microrregião
de Ituporanga.
A segunda mesorregião com maior peso no PIB estadual é Norte Catarinense. Nela se observou uma tendência de queda
dos percentuais de participação das três microrregiões, muito embora a microrregião de Joinville continue sendo o espaço de
maior concentração percentual do PIB catarinense e sua queda percentual tenha sido pequena percentualmente.
Na mesorregião Oeste Catarinense, que em 2018 ainda manteve a terceira maior participação estadual (16,75%), verificase que apenas duas microrregiões (Chapecó e Joaçaba) respondiam por aproximadamente 11% do PIB estadual em 2018,
fato que, além de revelar uma concentração, demonstra também a baixa participação das demais microrregiões (São Miguel
do Oeste, Concórdia e Xanxerê) no contexto mesorregional. Ou seja, mesmo com queda do percentual de participação das
microrregiões principais, especialmente de Xanxerê, ainda assim a concentração aumentou.
A mesorregião Grande Florianópolis, composta por três microrregiões, se manteve como a quarta região com maior
participação no PIB estadual em 2018. Todavia, nota-se que apenas a microrregião (Florianópolis) era responsável por mais
de 90% do PIB regional, o que revela a baixa participação das demais microrregiões (Tijucas e Tabuleiro), ambas com quedas
expressivas em suas participações no período considerado.
A mesorregião Sul Catarinense, composta por três microrregiões, respondia por 11,11% do PIB estadual em 2018,
representando uma ligeira queda em relação ao ano inicial. Neste caso, nota-se que apenas a microrregião de Criciúma
manteve seu percentual de participação no período considerado (5%), enquanto as duas outras microrregiões (Tubarão e
Araranguá) apresentaram quedas entre 2003 e 2018, destacando-se a baixa participação da microrregião de Araranguá.
Finalmente, a mesorregião Serrana, composta por apenas duas microrregiões, reduziu sua participação no agregado
estadual ao final do período de descentralização para 4,61%, sendo que Campos de Lages, embora também registrando queda
no seu percentual de participação, ainda assim respondia por quase 70% do PIB mesorregional, revelando a baixa participação
da microrregião de Curitibanos.
Em síntese, verifica-se que no ano de 2003 apenas sete microrregiões (Chapecó, Joaçaba, Joinville, Blumenau, Itajaí,
Florianópolis e Criciúma) respondiam por aproximadamente 70% do PIB catarinense. Já no ano de 2018 apenas cinco
microrregiões (Chapecó, Joinville, Blumenau, Itajaí e Florianópolis) respondiam por aproximadamente 65% do PIB
catarinense, o que revela uma ampliação da participação no agregado estadual, especialmente das microrregiões localizadas na
faixa litorânea do estado. Tal fato, na verdade, continua sendo um estímulo à concentração da população nessas microrregiões.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho analisou-se o processo de descentralização político-administrativa implementado em Santa Catarina entre
2003 e 2018 à luz do comportamento do Produto Interno Bruto agregado, das mesorregiões e das microrregiões do estado,
visando captar possíveis efeitos sobre esse indicador a partir da implantação da referida política.
Após fazer uma breve análise da estrutura econômica de Santa Catarina e das principais características do desenvolvimento
regional catarinense, aliada ao diagnóstico que justificou a implementação do processo de descentralização políticoadministrativa, destacou-se as principais políticas implementadas, especialmente a criação das Secretarias de Desenvolvimento
Regional e as ações por elas implementadas.
Como caminho interpretativo, optou-se por lançar um olhar sobre a evolução da produção econômica agregada do
estado, nas mesorregiões e suas respectivas microrregiões no período entre 2003 e 2018. Para tanto, os valores do PIB
foram deflacionados com o intuito de se analisar o período completo desse processo, ou seja, de 2003 a 2018, enfatizando
que esse indicador é apenas um elemento a mais dentre todos os demais aspectos que podem ser utilizados para analisar
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qualitativamente os efeitos do processo de descentralização levado a cabo no estado de Santa Catarina.
Mesmo antes do início da política de descentralização já havia um cenário de concentração do PIB do estado, principalmente
nas microrregiões de Chapecó, Joaçaba, Joinville, Blumenau, Itajaí, Florianópolis e Criciúma. Nesse caso, as sete microrregiões
respondiam por 69,83% do PIB de Santa Catarina no ano de 2003, cabendo às outras treze microrregiões os 30,17% restantes.
Após os dezesseis anos de descentralização político-administrativa, a concentração do PIB foi aprofundada.
Consequentemente, cinco (Chapecó, Joinville, Blumenau, Itajaí e Florianópolis) das sete microrregiões citadas anteriormente
(Chapecó, Joaçaba, Joinville, Blumenau, Itajaí, Florianópolis e Criciúma) passaram a responder por 64,76% do PIB de
Santa Catarina, cabendo às outras quinze microrregiões os 35,24% restantes. Destaca-se que apenas quatro delas (Joinville,
Blumenau, Itajaí e Florianópolis) em 2018 respondiam por aproximadamente 59% de todo produto bruto estadual.
Como é possível observar, Joinville, Itajaí, Florianópolis e Blumenau, todas localizadas na porção litorânea do estado,
começaram sendo as quatro microrregiões com as maiores participações no PIB do estado em 2003, e acabaram se
encontrando na mesma situação em 2018. Analisando os dados do período completo de vigência, fica evidente que essas
quatro microrregiões permaneceram nessa situação durante todos os anos da descentralização, ainda que alternando posições
entre si. Além de permanecerem como as microrregiões com maior participação, é notável o agravamento no quadro de
concentração do indicador em cada uma delas.
Diante dos dados referentes ao período da descentralização expostos neste trabalho, ficou claro que as desigualdades
regionais no estado de Santa Catarina – medidas em termos da evolução do PIB – cresceram no período da “descentralização
político-administrativa”. Mesmo com avanço da política de descentralização, nota-se que a concentração do PIB em Santa
Catarina não diminuiu. Ao contrário, o que de fato ocorreu foi um agravamento ainda maior do cenário de concentração
no estado, uma vez que no ano de 2018 o percentual do PIB catarinense, que antes estava bastante concentrado em sete
microrregiões, ao final do processo estava concentrado em apenas cinco microrregiões (Chapecó, Joinville, Blumenau, Itajaí
e Florianópolis), as quais respondiam por 65% do PIB estadual.
Em síntese, o processo de descentralização político-administrativa não foi capaz de reverter o quadro de concentração da
produção nas áreas litorâneas do estado. Ao contrário, após a conclusão da política de descentralização, o que se observou
foi uma ampliação da participação do PIB catarinense exatamente das microrregiões localizadas na faixa litorânea de Santa
Catarina, ou seja, um aprofundamento da concentração existente anteriormente ao início da política estadual implementada
entre 2003 e 2018.
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