Quando países investem em projetos de desenvolvimento, seja em
projetos e programas setoriais e d... more Quando países investem em projetos de desenvolvimento, seja em projetos e programas setoriais e de polos, seja no investimento em grandes obras, seja na promoção de megaeventos, o que se desenha é um projeto de investimento cujos ganhos previstos são estimados através de medidas de produção. Os projetos e obras se realizam com vultosos investimentos em publicidade que visam ao convencimento que aquilo que está para ser produzido é de fundamental importância para alavancar benefícios para populações e que são tocadas por eles, mas que acima disso são os benefícios para a “nação”. Haverá economias aquecidas, vocações e treinamento aperfeiçoados, empregos gerados, escassezes e faltas superadas, e, acima de tudo confirmar-se-á a clarividência dos planejadores e empresários que, além de saber o que é bom para todos, também sabem executar as difíceis tarefas para tornar as obras e projetos realidades. A publicidade exalta a positividade de todo este movimento para a nação, a região, o estado e o local. Tais projetos e obras de fato são de cabal importância para reinventar possibilidades e contextos para produzir, bem como para viver. As experiências concretas, de fato, geram contradições e produzem desigualdades no processo de distribuir os benefícios que tais projetos, obras e promoções almejam produzir. Um dos processos que subjaz simbolicamente as ações de criação de benefícios é um processo de higienização (no sentido de promoção das “purezas” que Douglas [1991] contrasta com os perigos). Há higienizações inclusivas (melhorando o que existe) e higienizações excludentes (eliminando os perigos que incomodam ou ameaçam), e, necessariamente, ambas higienizações interagem ambiguamente nestes projetos de grandes investimentos.
RESUMO As negociações ocorridas para a elaboração do Protocolo de Palermo 3 despertou um debate h... more RESUMO As negociações ocorridas para a elaboração do Protocolo de Palermo 3 despertou um debate há algum tempo secundário nas agendas políticas: a preocupação com a regulamentação ou proibição do trabalho sexual. Nesse contexto, de um lado, as feministas radicais que consideram a prostituição uma violação de direitos, independente de saber se é forçado ou voluntário, tiveram um impacto substancial sobre o desenvolvimento e a adoção de instrumentos e legislação anti-tráfico em vários países e no nível internacional. Do outro lado, as feministas ligadas à Human Rights Caucus 4 , que considera a prostituição um trabalho legítimo, argumentaram que nem toda prostituição é opressiva e forçada, e que mulheres maiores de idade podem consentir e livremente escolher trabalhar no mercado do sexo. Questões sobre a violência sexual, a opressão e dominação das mulheres, o controle do Estado, organizações criminosas, empoderamento e autonomia feminina, e o consentimento e a agência da mulher no mercado do sexo foram debatidas e utilizadas como argumento de defesa ou combate ao trabalho sexual. Proponho nesse artigo esboçar as convergências, contradições e divisões entre segmentos feministas sobre a proibição ou regulamentação do trabalho sexual.
Quando países investem em projetos de desenvolvimento, seja em
projetos e programas setoriais e d... more Quando países investem em projetos de desenvolvimento, seja em projetos e programas setoriais e de polos, seja no investimento em grandes obras, seja na promoção de megaeventos, o que se desenha é um projeto de investimento cujos ganhos previstos são estimados através de medidas de produção. Os projetos e obras se realizam com vultosos investimentos em publicidade que visam ao convencimento que aquilo que está para ser produzido é de fundamental importância para alavancar benefícios para populações e que são tocadas por eles, mas que acima disso são os benefícios para a “nação”. Haverá economias aquecidas, vocações e treinamento aperfeiçoados, empregos gerados, escassezes e faltas superadas, e, acima de tudo confirmar-se-á a clarividência dos planejadores e empresários que, além de saber o que é bom para todos, também sabem executar as difíceis tarefas para tornar as obras e projetos realidades. A publicidade exalta a positividade de todo este movimento para a nação, a região, o estado e o local. Tais projetos e obras de fato são de cabal importância para reinventar possibilidades e contextos para produzir, bem como para viver. As experiências concretas, de fato, geram contradições e produzem desigualdades no processo de distribuir os benefícios que tais projetos, obras e promoções almejam produzir. Um dos processos que subjaz simbolicamente as ações de criação de benefícios é um processo de higienização (no sentido de promoção das “purezas” que Douglas [1991] contrasta com os perigos). Há higienizações inclusivas (melhorando o que existe) e higienizações excludentes (eliminando os perigos que incomodam ou ameaçam), e, necessariamente, ambas higienizações interagem ambiguamente nestes projetos de grandes investimentos.
RESUMO As negociações ocorridas para a elaboração do Protocolo de Palermo 3 despertou um debate h... more RESUMO As negociações ocorridas para a elaboração do Protocolo de Palermo 3 despertou um debate há algum tempo secundário nas agendas políticas: a preocupação com a regulamentação ou proibição do trabalho sexual. Nesse contexto, de um lado, as feministas radicais que consideram a prostituição uma violação de direitos, independente de saber se é forçado ou voluntário, tiveram um impacto substancial sobre o desenvolvimento e a adoção de instrumentos e legislação anti-tráfico em vários países e no nível internacional. Do outro lado, as feministas ligadas à Human Rights Caucus 4 , que considera a prostituição um trabalho legítimo, argumentaram que nem toda prostituição é opressiva e forçada, e que mulheres maiores de idade podem consentir e livremente escolher trabalhar no mercado do sexo. Questões sobre a violência sexual, a opressão e dominação das mulheres, o controle do Estado, organizações criminosas, empoderamento e autonomia feminina, e o consentimento e a agência da mulher no mercado do sexo foram debatidas e utilizadas como argumento de defesa ou combate ao trabalho sexual. Proponho nesse artigo esboçar as convergências, contradições e divisões entre segmentos feministas sobre a proibição ou regulamentação do trabalho sexual.
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projetos e programas setoriais e de polos, seja no investimento em grandes obras, seja na promoção de megaeventos, o que se desenha é um projeto de investimento cujos ganhos previstos são estimados através de medidas de produção. Os projetos e obras se realizam com vultosos investimentos em publicidade que visam ao convencimento que aquilo que está para ser produzido é de fundamental importância para alavancar benefícios para populações e que são tocadas por eles, mas que acima disso são os benefícios para a “nação”. Haverá economias aquecidas, vocações e treinamento aperfeiçoados, empregos gerados, escassezes e faltas superadas, e, acima de
tudo confirmar-se-á a clarividência dos planejadores e empresários que, além de saber o que é bom para todos, também sabem executar as difíceis tarefas para tornar as obras e projetos realidades. A publicidade exalta a positividade de todo este movimento para a nação, a região, o estado e o local. Tais projetos e obras de fato são de cabal importância para reinventar possibilidades e contextos para produzir, bem como para
viver. As experiências concretas, de fato, geram contradições e produzem desigualdades no processo de distribuir os benefícios que tais projetos, obras e promoções almejam produzir. Um dos processos que subjaz simbolicamente as ações de criação de benefícios é um processo de higienização (no sentido de promoção das “purezas” que Douglas [1991] contrasta com os perigos). Há higienizações inclusivas (melhorando o que existe) e higienizações excludentes (eliminando os perigos que incomodam ou ameaçam), e, necessariamente, ambas higienizações interagem ambiguamente nestes projetos de grandes investimentos.
projetos e programas setoriais e de polos, seja no investimento em grandes obras, seja na promoção de megaeventos, o que se desenha é um projeto de investimento cujos ganhos previstos são estimados através de medidas de produção. Os projetos e obras se realizam com vultosos investimentos em publicidade que visam ao convencimento que aquilo que está para ser produzido é de fundamental importância para alavancar benefícios para populações e que são tocadas por eles, mas que acima disso são os benefícios para a “nação”. Haverá economias aquecidas, vocações e treinamento aperfeiçoados, empregos gerados, escassezes e faltas superadas, e, acima de
tudo confirmar-se-á a clarividência dos planejadores e empresários que, além de saber o que é bom para todos, também sabem executar as difíceis tarefas para tornar as obras e projetos realidades. A publicidade exalta a positividade de todo este movimento para a nação, a região, o estado e o local. Tais projetos e obras de fato são de cabal importância para reinventar possibilidades e contextos para produzir, bem como para
viver. As experiências concretas, de fato, geram contradições e produzem desigualdades no processo de distribuir os benefícios que tais projetos, obras e promoções almejam produzir. Um dos processos que subjaz simbolicamente as ações de criação de benefícios é um processo de higienização (no sentido de promoção das “purezas” que Douglas [1991] contrasta com os perigos). Há higienizações inclusivas (melhorando o que existe) e higienizações excludentes (eliminando os perigos que incomodam ou ameaçam), e, necessariamente, ambas higienizações interagem ambiguamente nestes projetos de grandes investimentos.