Sem controvérsia, assume-se que a problemática ambiental é acima de tudo um problema ético e que ... more Sem controvérsia, assume-se que a problemática ambiental é acima de tudo um problema ético e que a crise e a devastação ecológicas contemporâneas se devem sobretudo à irresponsabilidade da ação e à pressuposição de que a natureza e as entidades naturais são meros recursos para satisfazer os interesses humanos. Por isso, e apesar de todos os alertas que vêm já dos finais dos anos 60 do seculo passado, a crise ecológica não só não dá sinais de abrandamento, como recrudesce de ano para ano. Constatando o facto, será oportuno lembrar dois textos inaugurais da ética ambiental pela sua pertinente atualidade:-O artigo de Richard Sylvan,'Is There a Need for a new an Environmental Ethic?', de 1973; e o artigo 'The Tragedy of Commons', de Garrett Hardin publicado na Revista Science em 1968. No artigo citado i , Richard Sylvan elabora uma experiência mental que designa por argumento do "último homem". Em traços gerais, o raciocínio que formula é o seguinte: Se um único homem (last man) sobrevivesse ao total colapso do mundo e decidisse exterminar todo e qualquer ser vivo em seu redor, animais e plantas, do ponto de vista de uma ética antropocêntrica que considera a natureza apenas no seu significado instrumental, a ação seria legítima. Do ponto de vista de uma ética que concede valor intrínseco à natureza, a ação seria moralmente errada. E ele sabê-lo-ia. Ampliando a extensão do conceito "o último homem" para "o último povo", (last people), Sylvan supõe que essa derradeira comunidade humana (estéril em virtude de radiações e plenamente consciente dessa sua condição), por vários motivos-sobrevivência, desfrute, sentimentos negativos-decide exterminar animais selvagens e destruir ecossistemas substituindo-os por campos de agricultura intensiva, arrasando completamente as florestas para a edificação de equipamentos e obtenção de matérias primas e desfigurando deste modo o planeta segundo os seus próprios interesses e caprichos. Para o autor, no limite, um planeta inteiramente manipulado pelos humanos e irreversivelmente degradado seria o resultado consequente de uma ética antropocêntrica. Richard Sylvan procura com este argumento demonstrar que os fundamentos da ética ocidental dominante são insuficientes para escorar uma ética ambiental. Com efeito e segundo o autor, o chauvinismo humano básico típico da ética dominante apenas considera moralmente os humanos e as relações inter-humanas, perspetivando os princípios da ética apenas e só nesse
Sem controvérsia, assume-se que a problemática ambiental é acima de tudo um problema ético e que ... more Sem controvérsia, assume-se que a problemática ambiental é acima de tudo um problema ético e que a crise e a devastação ecológicas contemporâneas se devem sobretudo à irresponsabilidade da ação e à pressuposição de que a natureza e as entidades naturais são meros recursos para satisfazer os interesses humanos. Por isso, e apesar de todos os alertas que vêm já dos finais dos anos 60 do seculo passado, a crise ecológica não só não dá sinais de abrandamento, como recrudesce de ano para ano. Constatando o facto, será oportuno lembrar dois textos inaugurais da ética ambiental pela sua pertinente atualidade:-O artigo de Richard Sylvan,'Is There a Need for a new an Environmental Ethic?', de 1973; e o artigo 'The Tragedy of Commons', de Garrett Hardin publicado na Revista Science em 1968. No artigo citado i , Richard Sylvan elabora uma experiência mental que designa por argumento do "último homem". Em traços gerais, o raciocínio que formula é o seguinte: Se um único homem (last man) sobrevivesse ao total colapso do mundo e decidisse exterminar todo e qualquer ser vivo em seu redor, animais e plantas, do ponto de vista de uma ética antropocêntrica que considera a natureza apenas no seu significado instrumental, a ação seria legítima. Do ponto de vista de uma ética que concede valor intrínseco à natureza, a ação seria moralmente errada. E ele sabê-lo-ia. Ampliando a extensão do conceito "o último homem" para "o último povo", (last people), Sylvan supõe que essa derradeira comunidade humana (estéril em virtude de radiações e plenamente consciente dessa sua condição), por vários motivos-sobrevivência, desfrute, sentimentos negativos-decide exterminar animais selvagens e destruir ecossistemas substituindo-os por campos de agricultura intensiva, arrasando completamente as florestas para a edificação de equipamentos e obtenção de matérias primas e desfigurando deste modo o planeta segundo os seus próprios interesses e caprichos. Para o autor, no limite, um planeta inteiramente manipulado pelos humanos e irreversivelmente degradado seria o resultado consequente de uma ética antropocêntrica. Richard Sylvan procura com este argumento demonstrar que os fundamentos da ética ocidental dominante são insuficientes para escorar uma ética ambiental. Com efeito e segundo o autor, o chauvinismo humano básico típico da ética dominante apenas considera moralmente os humanos e as relações inter-humanas, perspetivando os princípios da ética apenas e só nesse
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