Maria João Neto
Maria João Baptista Neto is a Full Professor in ARTIS - Art History Institute at the School of Arts and Humanities of the University of Lisbon. Graduated in Art History by the University of Lisbon in 1985, received the MA and PhD degrees in Art History, from the same University in 1990 and 1996, respectively. Developed her studies in the areas of Contemporary Art History, Theory and Practice of Architectural Restoration, Heritage Management and History of Collecting and Art Markets. She teaches courses in graduate school in Art, Cultural Heritage and Restoration and was responsible for several national and international research projects. Presently, she is part of the research team of the project: CuCa_RE: Cure and Care_the rehabilitation – The study of the healthcare buildings built in Portugal in the 20th century (PTDC/ATP-AQI/2577/2014). She is currently the Director of ARTIS Research Group of the Faculty of Humanities, University of Lisbon.
Address: ARTIS - Instituto de História da Arte
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Alameda da Universidade
1600-214 Lisboa
Portugal
Address: ARTIS - Instituto de História da Arte
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Alameda da Universidade
1600-214 Lisboa
Portugal
less
Uploads
Books by Maria João Neto
Georgiana Goddard King (1871-1939), a prestigious professor of art history and a pioneer in the United States in the study of Spanish medieval architecture, decided to travel to Portugal to study our art from the Middle Ages to the beginning of the Discoveries. The illness that affected her when traveling the country in 1935, prevented her from conducting her research in full. Returning to America, the following year, and although very weak, still decides to start producing a publication about Portuguese art that she would not finish. These are her unpublished notes about Portugal, the raison d'être of this book.
É indiscutível a importância e dimensão da coleção de arte reunida por Sir Francis Cook na segunda metade do século xix. Apesar de hoje dispersa, muitos dos melhores museus do mundo e uma elite de privados orgulham-se de possuir nos seus acervos obras adquiridas por este notável colecionador inglês.
Francis Cook teve, desde muito jovem, uma ligação particular com Portugal. Casou em Lisboa e apaixonou-se por Sintra, tal como o jovem rei D. Fernando II, vindo a adquirir a quinta de Monserrate, outrora habitada pelo célebre inglês William Beckford. Esta ilustre ocupação, por parte de uma figura tão carismática no quadro cultural de então, era do conhecimento de toda uma geração romântica, devido
à eloquência das palavras de Lord Byron, que a evoca na sua obra Childe Harold’s Pilgrimage (1812-1818).
Determinado em usufruir do espírito do lugar, Francis Cook vai promover um ambicioso programa de renovação da histórica quinta, restaurando a casa e os jardins, sem nunca deixar de ter presente a alusão a Beckford. A sua iniciativa de grande alcance cultural foi reconhecida pelo rei D. Luís I que, em 1870, lhe confere o título de Visconde. Monserrate transforma-se assim numa preciosa obra do rico industrial inglês, que a ela terá ficado a dever o seu gosto pela arte e o entusiasmo pelo colecionismo.
Ao melhor gosto vitoriano, dotou os interiores da casa de boas antiguidades e peças contemporâneas que terá encomendado expressamente para o efeito, reunindo um notável acervo artístico. A ‘casa do inglês’, como era conhecida, foi apreciada por muitos visitantes notáveis até ao momento em que a propriedade e o valioso recheio do palácio são vendidos, pelo seu bisneto, em 1946. Das peças é feito leilão, sem que o Estado português tenha adquirido alguma obra diretamente, e a própria quinta com o palácio apenas se tornam propriedade estatal em 1949. Vazio, fechado e sem projeto de utilização, o palácio sofreu com as injúrias do tempo danos severos até que a Parques de Sintra – Monte da Lua iniciou um programa sistemático de restauro do histórico edifício, em 2007, ao mesmo tempo que se reabilitavam, igualmente, os jardins. Concluídos os trabalhos em 2015, o Palácio de Monserrate recuperou o seu esplendor arquitetónico de outrora e passou a estar totalmente aberto ao público.
Desde então tem vindo a ser pensado um programa museológico para o interior do palácio que procure dar ao visitante o conhecimento de como este sintetizava um particular gosto romântico inglês, em contexto doméstico. Neste estudo em progresso, conta-se com uma aturada pesquisa histórico-artística que tem vindo a permitir conhecer, com pormenor, como as diversas salas do palácio se encontravam decoradas no tempo dos Cook, a qualidade das peças expostas, o seu número e origem. Para o efeito, os inventários dos bens móveis do Palácio, bem como um conjunto de fotografias antigas dos interiores têm sido auxiliares preciosos nesta matéria. Também a identificação das peças vendidas no leilão de 1946 e que coleções integram na atualidade, constituem importantes aspetos
da pesquisa em curso. Esta identificação de peças, tem permitido conhecer atuais proprietários e propor aquisições, por parte da Parques de Sintra, com o objetivo de fazer regressar ao Palácio obras emblemáticas, que outrora pertenceram ao seu precioso recheio e que simultaneamente ilustram a cultura doméstica romântica inglesa. Sob este objetivo de reunião de peças da Coleção Cook em Monserrate,
a Parques de Sintra adquiriu recentemente um relevo renascentista em mármore, da autoria de Gregorio di Lorenzo, com uma representação escultórica da Virgem com o Menino (77,5 cm x 58,5 cm).
Os resultados entretanto alcançados com estas linhas de pesquisa, fizeram nascer o presente projeto de conceber uma exposição sobre a designação Monserrate Revisitado, onde algumas das mais importantes peças colecionadas no palácio no século xix são exibidas de novo, num diálogo íntimo com aquele espaço arquitetónico.
2017 era o momento de realizar esta exposição, porque nada melhor para evocar Monserrate e prestar reconhecido tributo ao seu grande empreendedor, que trazer de novo ao palácio um conjunto de notáveis obras aí reunidas pela primeira vez por Sir Francis Cook, quando se assinalam os duzentos anos do seu nascimento.
A todas as entidades públicas e privadas que cederam temporariamente as suas peças para exposição, os nossos reconhecidos agradecimentos.
The significance and scale of the art collection assembled by Sir Francis Cook in the second half of the nineteenth century is undeniable. Although it has now been dispersed, many of the best museums in the world and an elite group of private individuals are proud to hold works acquired by this remarkable English collector within their collections.
Francis Cook had a particular connection to Portugal from a very young age. He married in Lisbon and fell in love with Sintra, just like the young king Ferdinand II, and later bought Monserrate Estate, previously inhabited by the famous Englishman William Beckford. This illustrious occupancy by such a famous figure of the cultural landscape of the time was familiar to an entire Romantic generation, thanks to Lord Byron’s eloquent evocation in his work Childe Harold’s Pilgrimage (1812-1818).
Determined to make the most of the spirit of the place, Francis Cook began an ambitious programme to renovate this historic estate, restoring the house and gardens, whilst always bearing in mind the allusion to Beckford. The great cultural importance of his initiative
was recognised by King Luís I who, in 1870, honoured him with the title of Viscount. Monserrate thus became the wealthy English industrialist’s great work, and instilled in him a taste for art and an enthusiasm for collecting.
In the best Victorian taste, he filled the house with fine antiques and contemporary pieces commissioned especially for this purpose, assembling a remarkable artistic collection. The ‘Englishman’s house’, as it was known, was appreciated by many notable visitors until the time the property and the palace’s valuable contents were sold, by Cook’s grandson, in 1946. An auction was held of the pieces, with no work directly bought by the Portuguese state, and the estate itself only became state property in 1949. Empty, closed and with no plans for use, the palace deteriorated severely over time until Parques de Sintra – Monte da Lua began a systematic programme to restore the historic building in 2007, at the same time as the gardens were also restored. When the work was finished in 2015, the Palace of Monserrate was returned to its former architectural splendour and was fully opened to the public.
Since that time, plans have been in progress for a museum programme for the palace interior designed to convey to visitors how this space encapsulated a specific English Romantic taste, in a domestic context. This ongoing project has benefitted from constant historical and artistic research that has uncovered in detail how the various rooms of the palace would have been decorated during the time of the Cook family,
the quality of the pieces exhibited, their number and origin. In doing this, the inventories of the contents of the Palace, as well as a collection of old photographs of the interiors, have been of invaluable assistance. The identification of the pieces sold at the 1946 auction and details of the collections in which they are currently held are also important aspects of this research. This identification of pieces has made it possible to contact current owners and propose acquisition, on behalf of Parques de Sintra, with the aim of returning key works to the Palace that were previously part of its valuable contents and which also illustrate English Romantic domestic culture. As part of this programme to reunite pieces from the Cook collection in Monserrate, Parques de Sintra recently acquired a Renaissance relief in marble, attributed to Gregorio di Lorenzo, with a sculptural representation of the Virgin and Child (77.5 cm x 58.5 cm).
The results that have so far been achieved through this research led to the Monserrate Revisited exhibition, in which some of the most important pieces collected in the palace during the nineteenth century are once again displayed, in intimate dialogue with this architectural space.
2017 was the ideal moment for this exhibition to take place, since there was no better way to evoke the spirit of Monserrate and pay due tribute to its great founder than by bringing back to the palace a collection of remarkable works that were first assembled there by Sir Francis Cook, 200 years after his birth.
To all the public institutions and individuals who have loaned pieces for this exhibition, we extend our warmest gratitude.
The Romanesque church of São Pedro de Rates has received the attention of great national and foreign historians throughout the last century, for its architectural peculiarities and decorative richness. Already in the nineteenth century, it underwent a bold restoration intervention and is today a reference of considerable importance for the History of European Art. In general terms, the present study deals with the consecration of the figure of S. Pedro de Rates as the first bishop of Braga; analyzes the major contributions of historiography about the monument; the restoration undergone by the Directorate-General of National Buildings and Monuments in the time of the Estado Novo; and the current challenges, according to a modern policy of Integrated Management of Artistic Heritage.
Georgiana Goddard King (1871-1939), a prestigious professor of art history and a pioneer in the United States in the study of Spanish medieval architecture, decided to travel to Portugal to study our art from the Middle Ages to the beginning of the Discoveries. The illness that affected her when traveling the country in 1935, prevented her from conducting her research in full. Returning to America, the following year, and although very weak, still decides to start producing a publication about Portuguese art that she would not finish. These are her unpublished notes about Portugal, the raison d'être of this book.
É indiscutível a importância e dimensão da coleção de arte reunida por Sir Francis Cook na segunda metade do século xix. Apesar de hoje dispersa, muitos dos melhores museus do mundo e uma elite de privados orgulham-se de possuir nos seus acervos obras adquiridas por este notável colecionador inglês.
Francis Cook teve, desde muito jovem, uma ligação particular com Portugal. Casou em Lisboa e apaixonou-se por Sintra, tal como o jovem rei D. Fernando II, vindo a adquirir a quinta de Monserrate, outrora habitada pelo célebre inglês William Beckford. Esta ilustre ocupação, por parte de uma figura tão carismática no quadro cultural de então, era do conhecimento de toda uma geração romântica, devido
à eloquência das palavras de Lord Byron, que a evoca na sua obra Childe Harold’s Pilgrimage (1812-1818).
Determinado em usufruir do espírito do lugar, Francis Cook vai promover um ambicioso programa de renovação da histórica quinta, restaurando a casa e os jardins, sem nunca deixar de ter presente a alusão a Beckford. A sua iniciativa de grande alcance cultural foi reconhecida pelo rei D. Luís I que, em 1870, lhe confere o título de Visconde. Monserrate transforma-se assim numa preciosa obra do rico industrial inglês, que a ela terá ficado a dever o seu gosto pela arte e o entusiasmo pelo colecionismo.
Ao melhor gosto vitoriano, dotou os interiores da casa de boas antiguidades e peças contemporâneas que terá encomendado expressamente para o efeito, reunindo um notável acervo artístico. A ‘casa do inglês’, como era conhecida, foi apreciada por muitos visitantes notáveis até ao momento em que a propriedade e o valioso recheio do palácio são vendidos, pelo seu bisneto, em 1946. Das peças é feito leilão, sem que o Estado português tenha adquirido alguma obra diretamente, e a própria quinta com o palácio apenas se tornam propriedade estatal em 1949. Vazio, fechado e sem projeto de utilização, o palácio sofreu com as injúrias do tempo danos severos até que a Parques de Sintra – Monte da Lua iniciou um programa sistemático de restauro do histórico edifício, em 2007, ao mesmo tempo que se reabilitavam, igualmente, os jardins. Concluídos os trabalhos em 2015, o Palácio de Monserrate recuperou o seu esplendor arquitetónico de outrora e passou a estar totalmente aberto ao público.
Desde então tem vindo a ser pensado um programa museológico para o interior do palácio que procure dar ao visitante o conhecimento de como este sintetizava um particular gosto romântico inglês, em contexto doméstico. Neste estudo em progresso, conta-se com uma aturada pesquisa histórico-artística que tem vindo a permitir conhecer, com pormenor, como as diversas salas do palácio se encontravam decoradas no tempo dos Cook, a qualidade das peças expostas, o seu número e origem. Para o efeito, os inventários dos bens móveis do Palácio, bem como um conjunto de fotografias antigas dos interiores têm sido auxiliares preciosos nesta matéria. Também a identificação das peças vendidas no leilão de 1946 e que coleções integram na atualidade, constituem importantes aspetos
da pesquisa em curso. Esta identificação de peças, tem permitido conhecer atuais proprietários e propor aquisições, por parte da Parques de Sintra, com o objetivo de fazer regressar ao Palácio obras emblemáticas, que outrora pertenceram ao seu precioso recheio e que simultaneamente ilustram a cultura doméstica romântica inglesa. Sob este objetivo de reunião de peças da Coleção Cook em Monserrate,
a Parques de Sintra adquiriu recentemente um relevo renascentista em mármore, da autoria de Gregorio di Lorenzo, com uma representação escultórica da Virgem com o Menino (77,5 cm x 58,5 cm).
Os resultados entretanto alcançados com estas linhas de pesquisa, fizeram nascer o presente projeto de conceber uma exposição sobre a designação Monserrate Revisitado, onde algumas das mais importantes peças colecionadas no palácio no século xix são exibidas de novo, num diálogo íntimo com aquele espaço arquitetónico.
2017 era o momento de realizar esta exposição, porque nada melhor para evocar Monserrate e prestar reconhecido tributo ao seu grande empreendedor, que trazer de novo ao palácio um conjunto de notáveis obras aí reunidas pela primeira vez por Sir Francis Cook, quando se assinalam os duzentos anos do seu nascimento.
A todas as entidades públicas e privadas que cederam temporariamente as suas peças para exposição, os nossos reconhecidos agradecimentos.
The significance and scale of the art collection assembled by Sir Francis Cook in the second half of the nineteenth century is undeniable. Although it has now been dispersed, many of the best museums in the world and an elite group of private individuals are proud to hold works acquired by this remarkable English collector within their collections.
Francis Cook had a particular connection to Portugal from a very young age. He married in Lisbon and fell in love with Sintra, just like the young king Ferdinand II, and later bought Monserrate Estate, previously inhabited by the famous Englishman William Beckford. This illustrious occupancy by such a famous figure of the cultural landscape of the time was familiar to an entire Romantic generation, thanks to Lord Byron’s eloquent evocation in his work Childe Harold’s Pilgrimage (1812-1818).
Determined to make the most of the spirit of the place, Francis Cook began an ambitious programme to renovate this historic estate, restoring the house and gardens, whilst always bearing in mind the allusion to Beckford. The great cultural importance of his initiative
was recognised by King Luís I who, in 1870, honoured him with the title of Viscount. Monserrate thus became the wealthy English industrialist’s great work, and instilled in him a taste for art and an enthusiasm for collecting.
In the best Victorian taste, he filled the house with fine antiques and contemporary pieces commissioned especially for this purpose, assembling a remarkable artistic collection. The ‘Englishman’s house’, as it was known, was appreciated by many notable visitors until the time the property and the palace’s valuable contents were sold, by Cook’s grandson, in 1946. An auction was held of the pieces, with no work directly bought by the Portuguese state, and the estate itself only became state property in 1949. Empty, closed and with no plans for use, the palace deteriorated severely over time until Parques de Sintra – Monte da Lua began a systematic programme to restore the historic building in 2007, at the same time as the gardens were also restored. When the work was finished in 2015, the Palace of Monserrate was returned to its former architectural splendour and was fully opened to the public.
Since that time, plans have been in progress for a museum programme for the palace interior designed to convey to visitors how this space encapsulated a specific English Romantic taste, in a domestic context. This ongoing project has benefitted from constant historical and artistic research that has uncovered in detail how the various rooms of the palace would have been decorated during the time of the Cook family,
the quality of the pieces exhibited, their number and origin. In doing this, the inventories of the contents of the Palace, as well as a collection of old photographs of the interiors, have been of invaluable assistance. The identification of the pieces sold at the 1946 auction and details of the collections in which they are currently held are also important aspects of this research. This identification of pieces has made it possible to contact current owners and propose acquisition, on behalf of Parques de Sintra, with the aim of returning key works to the Palace that were previously part of its valuable contents and which also illustrate English Romantic domestic culture. As part of this programme to reunite pieces from the Cook collection in Monserrate, Parques de Sintra recently acquired a Renaissance relief in marble, attributed to Gregorio di Lorenzo, with a sculptural representation of the Virgin and Child (77.5 cm x 58.5 cm).
The results that have so far been achieved through this research led to the Monserrate Revisited exhibition, in which some of the most important pieces collected in the palace during the nineteenth century are once again displayed, in intimate dialogue with this architectural space.
2017 was the ideal moment for this exhibition to take place, since there was no better way to evoke the spirit of Monserrate and pay due tribute to its great founder than by bringing back to the palace a collection of remarkable works that were first assembled there by Sir Francis Cook, 200 years after his birth.
To all the public institutions and individuals who have loaned pieces for this exhibition, we extend our warmest gratitude.
The Romanesque church of São Pedro de Rates has received the attention of great national and foreign historians throughout the last century, for its architectural peculiarities and decorative richness. Already in the nineteenth century, it underwent a bold restoration intervention and is today a reference of considerable importance for the History of European Art. In general terms, the present study deals with the consecration of the figure of S. Pedro de Rates as the first bishop of Braga; analyzes the major contributions of historiography about the monument; the restoration undergone by the Directorate-General of National Buildings and Monuments in the time of the Estado Novo; and the current challenges, according to a modern policy of Integrated Management of Artistic Heritage.
Portugal, throughout the 19th century, oversaw the transaction of high quality artwork. Paintings, sculptures, books and other pieces made by great artists and belonging to several different epochs, emerged in the art market. The extinction of religious orders and the abolishment of majorats (morgadios) allowed the possibility of selling artwork that had been kept concealed until then. However, at the same time as these national procedures, foreign artwork was circulating freely, emerging from Rome. The French invasions came to alter the natural order in that cultural and artistic centre of the European civilization. Through the reports of our diplomats, we seek to understand the implications on the art markets and the relations between national collections and collectors.
The signi cance and scale of the art collection assembled by Sir Francis Cook in the second half of the nineteenth century is undeniable. Although it has now been dispersed, many of the best museums in the world and an elite group of private individuals are proud to hold works acquired by this remarkable English collector within their collections.
Francis Cook had a particular connection to Portugal from a very young age. He married in Lisbon and fell in love with Sintra, just like the young king Ferdinand II, and later bought Monserrate Estate, previously inhabited by the famous Englishman William Beckford. This illustrious occupancy by such a famous gure of the cultural landscape of the time was familiar to an entire Romantic generation, thanks to Lord Byron’s eloquent evocation in his work Childe Harold’s Pilgrimage (1812-1818).
Determined to make the most of the spirit of the place, Francis Cook began an ambitious programme to renovate this historic estate, restoring the house and gardens, whilst always bearing in mind the allusion to Beckford. The great cultural importance of his initiative
was recognised by King Luís I who, in 1870, honoured him with the title of Viscount. Monserrate thus became the wealthy English industrialist’s great work, and instilled in him a taste for art and an enthusiasm for collecting.
In the best Victorian taste, he lled the house with ne antiques and contemporary pieces commissioned especially for this purpose, assembling a remarkable artistic collection. The ‘Englishman’s house’, as it was known, was appreciated by many notable visitors until the time the property and the palace’s valuable contents were sold, by Cook’s grandson, in 1946. An auction was held of the pieces, with no work directly bought by the Portuguese state, and the estate itself only became state property in 1949. Empty, closed and with no plans for use, the palace deteriorated severely over time until Parques de Sintra – Monte da Lua began a systematic programme to restore the historic building in 2007, at the same time as the gardens were also restored. When the work was nished in 2015, the Palace of Monserrate was returned to its former architectural splendour and was fully opened to the public.
Since that time, plans have been in progress for a museum programme for the palace interior designed to convey to visitors how this space encapsulated a speci c English Romantic taste, in a domestic context. This ongoing project has bene tted from constant historical and artistic research that has uncovered in detail how the various rooms of the palace would have been decorated during the time of the Cook family,
the quality of the pieces exhibited, their number and origin. In doing this, the inventories of the contents of the Palace, as well as a collection of old photographs of the interiors, have been of invaluable assistance. The identi cation of the pieces sold at the 1946 auction and details of the collections in which they are currently held are also important aspects of this research. This identi cation of pieces has made it possible to contact current owners and propose acquisition, on behalf of Parques de Sintra, with the aim of returning key works to the Palace that were previously part of its valuable contents and which also illustrate English Romantic domestic culture. As part of this programme to reunite pieces from the Cook collection in Monserrate, Parques de Sintra recently acquired a Renaissance relief in marble, attributed to Gregorio di Lorenzo, with a sculptural representation of the Virgin and Child (77.5 cm x 58.5 cm).
The results that have so far been achieved through this research led to the Monserrate Revisited exhibition, in which some of the most important pieces collected in the palace during the nineteenth century are once again displayed, in intimate dialogue with this architectural space.
2017 was the ideal moment for this exhibition to take place, since there was no better way to evoke the spirit of Monserrate and pay due tribute to its great founder than by bringing back to the palace a collection of remarkable works that were first assembled there by Sir Francis Cook, 200 years after his birth.
To all the public institutions and individuals who have loaned pieces for this exhibition, we extend our warmest gratitude.
É indiscutível a importância e dimensão da coleção de arte reunida por Sir Francis Cook na segunda metade do século xix. Apesar de hoje dispersa, muitos dos melhores museus do mundo e uma elite de privados orgulham-se de possuir nos seus acervos obras adquiridas por este notável colecionador inglês.
Francis Cook teve, desde muito jovem, uma ligação particular com Portugal. Casou em Lisboa e apaixonou-se por Sintra, tal como o jovem rei D. Fernando II, vindo a adquirir a quinta de Monserrate, outrora habitada pelo célebre inglês William Beckford. Esta ilustre ocupação, por parte de uma gura tão carismática no quadro cultural de então, era do conhecimento de toda uma geração romântica, devido
à eloquência das palavras de Lord Byron, que a evoca na sua obra Childe Harold’s Pilgrimage (1812-1818).
Determinado em usufruir do espírito do lugar, Francis Cook vai promover um ambicioso programa de renovação da histórica quinta, restaurando a casa e os jardins, sem nunca deixar de ter presente a alusão a Beckford. A sua iniciativa de grande alcance cultural foi reconhecida pelo rei D. Luís I que, em 1870, lhe confere o título de Visconde. Monserrate transforma-se assim numa preciosa obra do rico industrial inglês, que a ela terá cado a dever o seu gosto pela arte e o entusiasmo pelo colecionismo.
Ao melhor gosto vitoriano, dotou os interiores da casa de boas antiguidades e peças contemporâneas que terá encomendado expressamente para o efeito, reunindo um notável acervo artístico. A ‘casa do inglês’, como era conhecida, foi apreciada por muitos visitantes notáveis até ao momento em que a propriedade e o valioso recheio do palácio são vendidos, pelo seu bisneto, em 1946. Das peças é feito leilão, sem que o Estado português tenha adquirido alguma obra diretamente, e a própria quinta com o palácio apenas se tornam propriedade estatal em 1949. Vazio, fechado e sem projeto de utilização, o palácio sofreu com as injúrias do tempo danos severos até que a Parques de Sintra – Monte da Lua iniciou um programa sistemático de restauro do histórico edifício, em 2007, ao mesmo tempo que se reabilitavam, igualmente, os jardins. Concluídos os trabalhos em 2015, o Palácio de Monserrate recuperou o seu esplendor arquitetónico de outrora e passou a estar totalmente aberto ao público.
Desde então tem vindo a ser pensado um programa museológico para o interior do palácio que procure dar ao visitante o conhecimento de como este sintetizava
um particular gosto romântico inglês, em contexto doméstico. Neste estudo
em progresso, conta-se com uma aturada pesquisa histórico-artística que tem vindo a permitir conhecer, com pormenor, como as diversas salas do palácio se encontravam decoradas no tempo dos Cook, a qualidade das peças expostas,
o seu número e origem. Para o efeito, os inventários dos bens móveis do Palácio, bem como um conjunto de fotogra as antigas dos interiores têm sido auxiliares preciosos nesta matéria. Também a identi cação das peças vendidas no leilão de 1946 e que coleções integram na atualidade, constituem importantes aspetos
da pesquisa em curso. Esta identi cação de peças, tem permitido conhecer atuais proprietários e propor aquisições, por parte da Parques de Sintra, com o objetivo de fazer regressar ao Palácio obras emblemáticas, que outrora pertenceram ao seu precioso recheio e que simultaneamente ilustram a cultura doméstica romântica inglesa. Sob este objetivo de reunião de peças da Coleção Cook em Monserrate,
a Parques de Sintra adquiriu recentemente um relevo renascentista em mármore, da autoria de Gregorio di Lorenzo, com uma representação escultórica da Virgem com o Menino (77,5 cm x 58,5 cm).
Os resultados entretanto alcançados com estas linhas de pesquisa, zeram nascer
o presente projeto de conceber uma exposição sobre a designação Monserrate Revisitado, onde algumas das mais importantes peças colecionadas no palácio no século xix são exibidas de novo, num diálogo íntimo com aquele espaço arquitetónico.
2017 era o momento de realizar esta exposição, porque nada melhor para evocar Monserrate e prestar reconhecido tributo ao seu grande empreendedor, que trazer de novo ao palácio um conjunto de notáveis obras aí reunidas pela primeira vez por Sir Francis Cook, quando se assinalam os duzentos anos do seu nascimento.
A todas as entidades públicas e privadas que cederam temporariamente as suas peças para exposição, os nossos reconhecidos agradecimentos.
Michela Degortes, Maria João Neto
ARTIS - Universidade de Lisboa
A correspondência diplomática revela-nos que, em 1808, sete anos antes de Joaquim Lebreton apresentar à legação portuguesa em Paris o projeto para a criação duma Escola de Artes no Rio de Janeiro, cujo corpo docente seria composto por artistas franceses, já tinha havido uma outra proposta nesse sentido, porém envolvendo artistas sediados em Roma.
Aos olhos dos diplomatas portugueses em missão na Cidade Eterna, era claro que a precariedade do mercado da arte romano, fortemente abalado pelos espólios e destruições causados pelas invasões francesas em Itália, podia facilitar a adquisição de obras de arte contemporâneas, bem como o recrutamento de artistas então afetados pela penúria de encomendas.
Além do mais, a existência de uma Academia Portuguesa de Belas Artes em Roma, fundada em 1790 e extinta em 1805, devido às invasões napoleónicas, tinha fortalecido as relações portuguesas no meio artístico da cidade papal.
Talvez por esta razão, em 1817 — já a missão francesa estava sediada no Rio de Janeiro há mais de um ano — o ministro plenipotenciário em Roma enviava à Corte um projeto que propunha a refundação da Academia na cidade eterna. Na detalhada proposta, baseada na legislação italiana em matéria de ensino artístico, relembrava-se que o próprio conde da Barca tinha-se mostrado favorável a um plano semelhante, em 1806.
É notório que nem a ideia de enviar artistas italianos para a corte portuguesa no Rio, nem a de refundar uma academia em Roma se chegaram a concretizar. Todavia, importa refletir sobre as possíveis consequências no contexto artístico luso-brasileiro se realmente tais projetos tivessem tido consequência. Ao invés do modelo francês introduzido, que diferenças teria imposto o modelo italiano, não apenas na própria Escola do Rio de Janeiro, mas também através de uma articulação direta com Roma, por via de uma academia própria sediada na capital das artes e dos modelos neoclássicos, onde os mais poderosos países europeus, havia já muitos anos, tinham estabelecido as suas escolas de formação artística.