Língua gestual portuguesa: diferenças entre revisões
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'''Língua |
'''Língua gestual portuguesa (LGP)''' é uma [[língua gestual]] usada em [[Portugal]], por meio da qual grande parte da [[cultura dos surdos|comunidade surda]] comunica-se entre si. É processada através de gestos sistematizados e a sua captação é visual. É usada pela comunidade surda, de cerca de 30 000 indivíduos,<ref>{{citar web |URL=https://apsurdos.org.pt/?page_id=3725 |título=Pessoas Surdas usuárias de Língua Gestual Portuguesa |data= |acessodata=2021-04-14 |publicado= |autor=Associação Portuguesa de Surdos}}</ref> e também por toda a comunidade envolvente, como familiares de surdos, educadores, professores, técnicos, entre outros.<ref name="Baltazar, 2010" /> |
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== Porque é uma língua == |
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[[Imagem:Alfabeto Manual LGP.jpg|right|320px]] |
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A expressão "língua gestual", ao invés de "linguagem gestual", refere-se à língua materna de uma comunidade de surdos. As línguas gestuais são línguas naturais, que surgem e se desenvolvem naturalmente, como as línguas orais. Esta língua é produzida por movimentos das [[mão]]s, do [[corpo]] e por expressões faciais e a sua recepção é visual. Tem um [[vocabulário]] e [[gramática]] próprios. |
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Uma língua é um [[sistema]] de [[comunicação]] específico e exclusivo do [[ser humano]], sendo gerido por regras particulares. Assim como as línguas orais, a LGP possui as características das línguas naturais: |
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* é composta, maioritariamente por símbolos arbitrários; |
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* é um sistema linguístico; |
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* é partilhada por uma comunidade de pessoas que a utilizam como sua forma de expressão mais natural; |
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* possui propriedades como a [[Wikt:criatividade|criatividade]] e a [[Wikt:recursividade|recursividade]]; |
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* possui aspectos [[Wikt:contrastivo|contrastivo]]s; |
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* é um sistema em constante renovação e evolução: apresenta o fenómeno da [[Wikt:dinâmica|dinâmica]] [[linguística]]. |
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Existe a crença de que [[língua de sinais|língua gestual]], é universal. Essa ideia é incorreta. Assim como as línguas orais, as línguas gestuais desenvolveram-se naturalmente, e assim sendo, cada comunidade possui a sua. Existem países com diversas línguas gestuais e em todo o mundo existem dezenas de línguas gestuais diferentes. Além disso, os surdos sentem as mesmas dificuldades que os ouvintes quando necessitam comunicar com outros que utilizam uma língua gestual diferente.<ref>''Para uma Gramática de Língua Gestual Portuguesa'', pág. 54.</ref> Assim sendo, cada país (e, por vezes, região dentro de um país, como acontece no Québec onde é usada a Língua Gestual Quebequiana ao invés da Língua Gestual Americana como no resto do país) terá a sua própria língua gestual. |
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Para acrescentar, como qualquer língua oral, a LGP possui variantes dentro do seu próprio órgão ([[idioma]]), alterando, relativamente, de região para região e dependendo do grau de instrução e das profissões dos surdos, em cada uma das regiões. Existem, por isso, dialetos e regionalismos.<ref name="MESQUITA e SILVA">'''MESQUITA e SILVA''', Guia Prático de Língua Gestual Portuguesa, Editora Nova Educação, 2007, [[Braga]] - Portugal.</ref> |
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== História == |
== História == |
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No século XIX, o rei D. [[João VI de Portugal|João VI]] chamou a Portugal [[Pär Aron Borg]], um sueco que tinha fundado no seu país um instituto para educação de surdos e logo em [[1823]] |
No século XIX, o rei D. [[João VI de Portugal|João VI]] chamou a Portugal [[Pär Aron Borg]], um sueco que tinha fundado no seu país um instituto para educação de surdos e logo em [[1823]] foi criada a primeira escola portuguesa com essa valência. Assim embora o vocabulários línguas gestuais portuguesa e sueca sejam diferentes, o alfabeto tem uma origem comum.<ref>[http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/24969/o-que-todos-deviamos-saber-sobre-lingua-gestual-em-dez-pontos O que todos devíamos saber sobre língua gestual (em dez pontos), Mariana Correia Pinto, Público, 14/11/2017, Fonte: Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa]</ref> |
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Nos termos da alínea h) do n.º 2 do artigo 74.º da Constituição da República Portuguesa, «na realização da política de ensino incumbe ao Estado (...) proteger e valorizar a língua gestual portuguesa, enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de oportunidades» |
Nos termos da alínea h) do n.º 2 do artigo 74.º da Constituição da República Portuguesa (revisão de [[1997]]), «na realização da política de ensino incumbe ao Estado (...) proteger e valorizar a língua gestual portuguesa, enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de oportunidades». |
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O ''Dia Nacional da Língua Gestual |
O ''Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa'' comemora-se a 15 de Novembro.<ref>{{citar web|URL=http://educamais.com/dia-nacional-da-lingua-gestual-portuguesa/|título=Dia Nacional da LGP|autor=Educamais.com|data=|publicado=|acessodata=2014-11-11}}</ref> A comemoração deste dia originou-se dos esforços da ''Comissão Para o Reconhecimento e Proteção da Língua Gestual Portuguesa e Defesa dos Direitos Das Pessoas Surdas''. |
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==Aspetos linguísticos== |
==Aspetos linguísticos== |
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Ao realizar a LGP, o gestuante terá uma 'mão dominante', cujo desempenho poderá diferir da 'mão não dominante'. Ao realizar o gesto, este deverá atender aos 5 parâmetros da LGP: |
Ao realizar a LGP, o gestuante terá uma 'mão dominante', cujo desempenho poderá diferir da 'mão não dominante'. Ao realizar o gesto, este deverá atender aos 5 parâmetros da LGP: |
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*Configuração das mãos; |
*Configuração das mãos; |
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Relativamente à ordem dos elementos na frase em LGP, esta usa uma estrutura específica, não acompanhando a mesma ordem das frases da língua portuguesa. Não existe consenso quanto a qual a ordem predominante: alguns linguistas afirmam que pode ser 'sujeito-objeto-verbo' (S-O-V),<ref name="Baltazar, 2010" /> outros que é 'objeto-sujeito-verbo' (O-S-V).<ref>[[Maria Augusta Conde Amaral|AMARAL, Maria Augusta]] ''et al''. '''Para uma Gramática de Língua Gestual Portuguesa''' (Colecção Universitária, série Linguística). Portugal, 1994. Editora Caminho. ISBN 972-21-0981-2.</ref> Nas frases interrogativas, recorre-se à expressão facial, combinada com o recurso a pronomes interrogativos, que ocorrem no final da frase. As frases negativas pode ser elaboradas de diversas maneiras, por exemplo, recorre-se à expressão corporal, especialmente o movimento da cabeça, ou executa-se o gesto NÃO ou ainda utilizando uma forma específica de verbo na forma negativa, como por exemplo NÃO QUERER.<ref name="Baltazar, 2010" /> |
Relativamente à ordem dos elementos na frase em LGP, esta usa uma estrutura específica, não acompanhando a mesma ordem das frases da língua portuguesa. Não existe consenso quanto a qual a ordem predominante: alguns linguistas afirmam que pode ser 'sujeito-objeto-verbo' (S-O-V),<ref name="Baltazar, 2010" /> outros que é 'objeto-sujeito-verbo' (O-S-V).<ref>[[Maria Augusta Conde Amaral|AMARAL, Maria Augusta]] ''et al''. '''Para uma Gramática de Língua Gestual Portuguesa''' (Colecção Universitária, série Linguística). Portugal, 1994. Editora Caminho. ISBN 972-21-0981-2.</ref> Nas frases interrogativas, recorre-se à expressão facial, combinada com o recurso a pronomes interrogativos, que ocorrem no final da frase. As frases negativas pode ser elaboradas de diversas maneiras, por exemplo, recorre-se à expressão corporal, especialmente o movimento da cabeça, ou executa-se o gesto NÃO ou ainda utilizando uma forma específica de verbo na forma negativa, como por exemplo NÃO QUERER.<ref name="Baltazar, 2010" /> |
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Embora a LGP seja considerada um meio de comunicação principalmente na comunidade surda, sendo considerada a língua materna, ela não consegue abranger todos os tipos de informação, pois ainda se encontra dificuldades ao expressar conteúdos matemáticos.<ref>{{Citar periódico |url=https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/23252 |titulo=Desafios à inclusão dos alunos com deficiência auditiva numa aula de matemática |data=2019-02-25 |acessodata=2022-02-18 |jornal=Linhas Críticas |ultimo=Cruz-Santos |primeiro=Anabela |ultimo2=Martinho |primeiro2=Maria Helena |paginas=e23252–e23252 |lingua=pt |doi=10.26512/lc.v25.2019.23252 |issn=1981-0431}}</ref> |
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Na LGP não existe [[discurso indireto]]. As mudanças do discurso indireto para o direto fazem-se através da expressão corporal, mais especificamente, à deslocação do gestuante no espaço, transferindo para cada uma das posições, papeis diferentes.<ref name="MESQUITA e SILVA" /> |
Na LGP não existe [[discurso indireto]]. As mudanças do discurso indireto para o direto fazem-se através da expressão corporal, mais especificamente, à deslocação do gestuante no espaço, transferindo para cada uma das posições, papeis diferentes.<ref name="MESQUITA e SILVA" /> |
Edição atual tal como às 17h57min de 8 de janeiro de 2023
Língua Gestual Portuguesa | ||
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Utilizado em: | Portugal | |
Total de usuários: | 100 000[1] | |
Família: | ||
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | -
| |
ISO 639-2: | sgn | |
ISO 639-3: | psr
| |
Lista de Língua de Sinais |
Língua gestual portuguesa (LGP) é uma língua gestual usada em Portugal, por meio da qual grande parte da comunidade surda comunica-se entre si. É processada através de gestos sistematizados e a sua captação é visual. É usada pela comunidade surda, de cerca de 30 000 indivíduos,[2] e também por toda a comunidade envolvente, como familiares de surdos, educadores, professores, técnicos, entre outros.[1]
História
[editar | editar código-fonte]No século XIX, o rei D. João VI chamou a Portugal Pär Aron Borg, um sueco que tinha fundado no seu país um instituto para educação de surdos e logo em 1823 foi criada a primeira escola portuguesa com essa valência. Assim embora o vocabulários línguas gestuais portuguesa e sueca sejam diferentes, o alfabeto tem uma origem comum.[3]
Nos termos da alínea h) do n.º 2 do artigo 74.º da Constituição da República Portuguesa (revisão de 1997), «na realização da política de ensino incumbe ao Estado (...) proteger e valorizar a língua gestual portuguesa, enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de oportunidades».
O Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa comemora-se a 15 de Novembro.[4] A comemoração deste dia originou-se dos esforços da Comissão Para o Reconhecimento e Proteção da Língua Gestual Portuguesa e Defesa dos Direitos Das Pessoas Surdas.
Aspetos linguísticos
[editar | editar código-fonte]Ao realizar a LGP, o gestuante terá uma 'mão dominante', cujo desempenho poderá diferir da 'mão não dominante'. Ao realizar o gesto, este deverá atender aos 5 parâmetros da LGP:
- Configuração das mãos;
- Local de articulação;
- Movimento das mãos;
- Orientação das mãos;
- Componente não manual (expressão e movimento corporal).
Ao ser alterado um destes parâmetros, usualmente, o gesto perde o seu sentido.
Na LGP, a marcação do género ocorre unicamente no caso dos seres animados e geralmente o mesmo só é marcado quando ocorre no feminino, recorrendo-se ao gesto MULHER, como prefixo.
A fim de se marcar o número, na LGP existem vários métodos: por repetição, por redobro (realização do gesto por ambas as mãos) ou por incorporação (recurso a um numeral ou determinativo).
Relativamente à ordem dos elementos na frase em LGP, esta usa uma estrutura específica, não acompanhando a mesma ordem das frases da língua portuguesa. Não existe consenso quanto a qual a ordem predominante: alguns linguistas afirmam que pode ser 'sujeito-objeto-verbo' (S-O-V),[1] outros que é 'objeto-sujeito-verbo' (O-S-V).[5] Nas frases interrogativas, recorre-se à expressão facial, combinada com o recurso a pronomes interrogativos, que ocorrem no final da frase. As frases negativas pode ser elaboradas de diversas maneiras, por exemplo, recorre-se à expressão corporal, especialmente o movimento da cabeça, ou executa-se o gesto NÃO ou ainda utilizando uma forma específica de verbo na forma negativa, como por exemplo NÃO QUERER.[1]
Embora a LGP seja considerada um meio de comunicação principalmente na comunidade surda, sendo considerada a língua materna, ela não consegue abranger todos os tipos de informação, pois ainda se encontra dificuldades ao expressar conteúdos matemáticos.[6]
Na LGP não existe discurso indireto. As mudanças do discurso indireto para o direto fazem-se através da expressão corporal, mais especificamente, à deslocação do gestuante no espaço, transferindo para cada uma das posições, papeis diferentes.[7]
- ↑ a b c d BALTAZAR, Ana Bela - Dicionário de Língua Gestual Portuguesa. Porto Editora. 2010
- ↑ Associação Portuguesa de Surdos. «Pessoas Surdas usuárias de Língua Gestual Portuguesa». Consultado em 14 de abril de 2021
- ↑ O que todos devíamos saber sobre língua gestual (em dez pontos), Mariana Correia Pinto, Público, 14/11/2017, Fonte: Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa
- ↑ Educamais.com. «Dia Nacional da LGP». Consultado em 11 de novembro de 2014
- ↑ AMARAL, Maria Augusta et al. Para uma Gramática de Língua Gestual Portuguesa (Colecção Universitária, série Linguística). Portugal, 1994. Editora Caminho. ISBN 972-21-0981-2.
- ↑ Cruz-Santos, Anabela; Martinho, Maria Helena (25 de fevereiro de 2019). «Desafios à inclusão dos alunos com deficiência auditiva numa aula de matemática». Linhas Críticas: e23252–e23252. ISSN 1981-0431. doi:10.26512/lc.v25.2019.23252. Consultado em 18 de fevereiro de 2022 soft hyphen character character in
|jornal=
at position 11 (ajuda) - ↑ Erro de citação: Etiqueta
<ref>
inválida; não foi fornecido texto para as refs de nomeMESQUITA e SILVA
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Associação Portuguesa de Surdos»
- «Federação Portuguesa das Associações de Surdos (FPAS)»
- «O que todos devíamos saber sobre língua gestual (em dez pontos), Mariana Correia Pinto, Público, 14/11/2017, Fonte: Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa»
- «Instituto de Jacob Rodrigues Pereira»
- «Lingua Gestual Portuguesa em 3D»
- «Surd'Universo - Livraria Especializada»