Antonio Rosembergue Pinheiro e Mota
Benigno Núñez Novo
O direito à educação
Secção II
Varia *
* Os artigos presentes nesta secção não foram sujeitos a processo de revisão.
Antonio Rosembergue Pinheiro e Mota & Benigno Núñez Novo 111
O direito à educação
The right to education
Antonio Rosembergue Pinheiro e MOTA1
Benigno Núñez NOVO2
RESUMO: Este artigo tem por objetivo fazer uma análise do direito à educação. O
Direito à educação é parte de um conjunto de direitos chamados de direitos sociais, que
têm como inspiração o valor da igualdade entre as pessoas. No Brasil este direito
apenas foi reconhecido na Constituição Federal de 1988, antes disso o Estado não tinha
a obrigação formal de garantir a educação de qualidade a todos os brasileiros, o ensino
público era tratado como uma assistência, um amparo dado àqueles que não podiam
pagar. Dentro do rol dos direitos humanos fundamentais encontra-se o direito à
educação, amparado por normas nacionais e internacionais. Trata-se de um direito
fundamental, porque inclui um processo de desenvolvimento individual próprio à
condição humana.
PALAVRAS-CHAVE: Educação; Direito fundamental; Dignidade humana.
ABSTRACT: This article aims to analyze the right to education. The right to education
is part of a set of rights called social rights, which are inspired by the value of equality
between people. In Brazil this right was only recognized in the Federal Constitution of
1988, before that the State had no formal obligation to guarantee quality education to all
Brazilians, public education was treated as an assistance, an amparo given to those who
could not afford. Within the list of fundamental human rights is the right to education,
supported by national and international norms. It is a fundamental right because it
includes a process of individual development proper to the human condition.
KEYWORDS: Education; Fundamental right; Human dignity.
1 Professor de História das Redes Municipal e Estadual de Ensino em Natal-RN. Graduado em
História pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e Letras – Língua Inglesa
– pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Especialista em História do Brasil pelas
Universidades Integradas de Patos (FIP) e em Psicopedagogia Institucional pela Faculdade
Atlântico. E-mail: rosemberguemota36@gmail.com
2
Advogado, doutor em direito internacional pela Universidad Autónoma de Asunción. E-mail:
benignonovo@hotmail.com
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112 O direito à educação
Introdução
O Direito à educação é parte de um conjunto de direitos chamados de
direitos sociais, que têm como inspiração o valor da igualdade entre as pessoas.
No Brasil este direito apenas foi reconhecido na Constituição Federal de 1988,
antes disso o Estado não tinha a obrigação formal de garantir a educação de
qualidade a todos os brasileiros, o ensino público era tratado como uma
assistência, um amparo dado àqueles que não podiam pagar.
Além da Constituição Federal, de 1988, existem ainda duas leis que
regulamentam e complementam a do direito à Educação: o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA), de 1990; e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB), de 1996. Juntos, estes mecanismos abrem as portas da escola pública
fundamental a todos os brasileiros, já que nenhuma criança, jovem ou adulto
pode deixar de estudar por falta de vaga.
A educação qualifica o cidadão para o trabalho e facilita sua participação
na sociedade. Todos os cidadãos têm direito à educação. Com ela, o brasileiro
pode vislumbrar uma vida livre da pobreza e ter mais participação na sociedade,
por meio da qualificação para o trabalho. Quem não tem nenhum acesso à
educação não é capaz de exigir e exercer direitos civis, políticos, econômicos e
sociais, o que prejudica sua inclusão na sociedade moderna.
A educação é também um dever da família e do Estado. Em muitas regiões
do Brasil, as crianças trabalham para ajudar no sustento da casa e, por isso, não
recebem incentivo familiar para se dedicarem à escola. Todas as crianças têm
direito à igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, que
deve garantir o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, o respeito à
liberdade e o apreço à tolerância.
2 Desenvolvimento
A história da educação no Brasil inicia-se no período colonial, quando
começam as primeiras relações entre Estado e Educação, através dos jesuítas.
O início da educação no Brasil, mais precisamente, do ensino, entendido como
um processo sistematizado de transmissão de conhecimentos, é indissociável
da história da Companhia de Jesus. As negociações de Dom João III, o Piedoso,
junto a esta ordem missionária católica podem ser consideradas um marco. No
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período da exploração inicial, os esforços educacionais foram dirigidos aos
indígenas, submetidos à chamada "catequese" promovida pelos missionários
jesuítas que vinham ao novo país difundir a crença cristã entre os nativos. O
padre Manuel da Nóbrega chefiou a primeira missão da ordem religiosa em 1549.
Em 1759 houve a expulsão dos jesuítas (reformas pombalinas), passando a ser
instituído o ensino laico e público através das Aulas Régias, e os conteúdos
baseiam-se nas Cartas Régias, a partir de 1772, data da implantação do ensino
público oficial no Brasil (que manteve o Ensino Religioso nas escolas, contudo).
Em 1798, ocorreu o Seminário de Olinda, por iniciativa do bispo Azeredo
Coutinho que se inspirava em ideias iluministas que aprendera como aluno na
Universidade de Coimbra.
Durante esses quase 300 anos da história do Brasil, o panorama não
mudaria muito. A população do período colonial formada além dos nativos e dos
colonizadores brancos, tivera o acréscimo da numerosa mão de obra escrava
oriunda da África. Mas os escravos negros não conseguiram qualquer direito à
educação e os homens brancos (as mulheres estavam excluídas) estudavam
nos colégios religiosos ou iam para a Europa. Apenas os mulatos procuravam a
escola, o que provocou incidentes tais como o da "questão dos moços pardos"
em 1689: Os colégios de jesuítas negavam as matrículas de mestiços, mas
tiveram que ceder tendo em vista os subsídios de "escolas públicas" que
recebiam.
Não se conseguiu implantar um sistema educacional nas terras brasileiras,
mas a vinda da Família Real no início do século XIX permitiu uma nova ruptura
com a situação anterior. Para preparar terreno para sua estada no Brasil Dom
João VI abriu Academias Militares (Academia Real da Marinha (1808) e
Academia Real Militar (1810)), Escolas de Medicina (a partir de 1808, na Bahia
e no Rio de Janeiro), Museu Real (1818), a Biblioteca Real (1810), o Jardim
Botânico (1810) e, sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a
Imprensa Régia (1808). Segundo alguns autores o Brasil foi finalmente
"descoberto" e a nossa História passou a ter uma complexidade maior. Em 1816
foram convidados artistas franceses ("Missão Artística Francesa") como
Lebreton, Debret, Taunay, Montigny que influenciariam a criação da Escola
Nacional de Belas Artes.
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114 O direito à educação
A educação, no entanto, continuou a ter uma importância secundária. Basta
ver que enquanto nas colônias espanholas já existiam muitas universidades,
sendo que em 1538 já existia a Universidade de São Domingos e em 1551 a do
México e a de Lima, a Universidade Federal do Amazonas, considerada a mais
antiga universidade brasileira, foi fundada em 1909. A USP de São Paulo surgiu
apenas em 1934. Não se conseguiu implantar um sistema educacional nas terras
brasileiras, mas a vinda da Família Real no início do século XIX permitiu uma
nova ruptura com a situação anterior. Para preparar terreno para sua estada no
Brasil Dom João VI abriu Academias Militares (Academia Real da Marinha (1808)
e Academia Real Militar (1810)), Escolas de Medicina (a partir de 1808, na Bahia
e no Rio de Janeiro), Museu Real (1818), a Biblioteca Real (1810), o Jardim
Botânico (1810) e, sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a
Imprensa Régia (1808). Segundo alguns autores o Brasil foi finalmente
"descoberto" e a nossa História passou a ter uma complexidade maior. Em 1816
foram convidados artistas franceses ("Missão Artística Francesa") como
Lebreton, Debret, Taunay, Montigny que influenciariam a criação da Escola
Nacional de Belas Artes.
A educação, no entanto, continuou a ter uma importância secundária. Basta
ver que enquanto nas colônias espanholas já existiam muitas universidades,
sendo que em 1538 já existia a Universidade de São Domingos e em 1551 a do
México e a de Lima, a Universidade Federal do Amazonas, considerada a mais
antiga universidade brasileira, foi fundada em 1909. A USP de São Paulo surgiu
apenas em 1934.
Carta de bacharel passada a Julio Cesar Berenguer de Bittencourt pela
Faculdade de Direito de Olinda em 14 de outubro de 1844. Em 1822, havia
propostas para a Educação na Assembleia Constituinte (inspiradas nos ideais
da Revolução Francesa) mas a sua dissolução por Dom Pedro I adiaria qualquer
iniciativa no sentido de estruturar-se uma política nacional de educação. A
Constituição de 18243 manteve o princípio da liberdade de ensino, sem
restrições, e a intenção de "instrução primária gratuita a todos os cidadãos".
3BRASIL. Constituição Política do Império do Brasil, de 25 de março de 1824. Rio de Janeiro,
1824.
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Em 15 de outubro de 18274 foi aprovada a primeira lei sobre o Ensino
Elementar e a mesma vigoraria até 1946. Essa lei determinou a criação de
"escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugarejos" (artigo 1º) e
"escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas" (artigo XI). A lei
fracassou por várias causas econômicas, técnicas e políticas5. O relatório
Liberato Barroso apontou que, em 1867, apenas 10% da população em idade
escolar se matriculara nas escolas elementares6.
Em 1834 (Ato Adicional que emendou a Constituição) houve a reforma que
deixava o ensino elementar, secundário e de formação dos professores a cargo
das províncias, enquanto o poder central cuidaria do Ensino Superior. Assim foi
criado o Imperial Colégio de Pedro II, em 1837, e os primeiros liceus provinciais7.
O Colégio era o único autorizado a realizar exames para a obtenção do grau de
bacharel, indispensável para o acesso a cursos superiores8.
Em 1879 houve a reforma de Leôncio de Carvalho 9, que propunha dentre
outras coisas o fim da proibição da matrícula para escravos, mas que vigorou
por pouco tempo. No século XIX ainda havia no Brasil a tendência da criação de
escolas religiosas, o que já não acontecia no resto do mundo receptível ao
ensino laico. Até mesmo por parte dos jesuítas, que retornaram após 80 anos.
Dentre essas instituições figuram o Colégio São Luís (fundado em Itu em 1867
e transferido para São Paulo em 1919), o Colégio Caraça em Minas Gerais
(1820), Liceu Pernambuco - Ginásio Pernambucano (1825), Colégio Mackenzie
(São Paulo, 1870), Colégio Metodista Piracicabano (Piracicaba, 1881), Colégio
Americano (Porto Alegre, 1885), Colégio Internacional (Campinas, 1873), entre
outros. Da parte da iniciativa leiga surgiu a Sociedade de Culto à Ciência
(Campinas, fundada por maçons10). A primeira escola de formação dos
4 BRASIL. Lei de 15 de outubro de 1827. Manda criar escolas de primeiras letras em todas as
cidades, vilas e lugares mais populosos do Império. Rio de Janeiro, 1827.
5 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia. 3a ed. São Paulo:
Moderna, 2009. p. 222.
6 BARROSO, José Liberato. A Instrução publica no Brasil. Rio de Janeiro: Garnier, 1867.
7 BRASIL. Lei n. 16 de 12 de agosto de 1834. Faz algumas alterações e adições a Constituição
Política do Império, nos termos da Lei de 12 de outubro de 1832. Rio de Janeiro, 1834.
8 DALLABRIDA, N. A reforma Francisco Campos e a modernização nacionalizada do ensino
secundário. Educação, Porto Alegre, v. 32, n. 2, p. 185-191, maio/ago. 2009.
9 ARANHA, 2009, p. 224-225.
10 BRASIL. Decreto n. 7.247/1879. Reforma o ensino primário e secundário no município da Corte
e o superior em todo o Império. Rio de Janeiro, 1879.
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professores (as chamadas "escolas normais") foi a Escola Normal de Niterói,
fundada em 1835.
Com a instauração da República (1889), a Educação sofreria mudanças,
mas sempre sob os princípios adotados pelo novo regime: centralização,
formalização e autoritarismo. Segundo Palma Filho11 durante a Primeira
República (1889-1930) foram cinco reformas (Reforma Benjamim Constant,
Reforma Epitácio Pessoa, Reforma Rivadávia, Reforma Carlos Maximiliano e
Reforma João Luiz Alvez) de âmbito nacional do ensino secundário,
preocupadas em implantar um currículo unificado para todo o país.
Em 1890 e 1891, com as reformas de Benjamim Constant1213, então
Ministro da Instrução, Correios e Telégrafos (órgão precursor do MEC), o Ensino
Secundário era visto como meramente preparatório para o Ensino Superior. Em
1901, vieram as reformas de Epitácio Pessoa1415.
Entre 1911 e 1915 vigorou a "Reforma Rivadávia" 16, de iniciativa do Ministro
Rivadavia Correa, que afastava da União a responsabilidade pelo Ensino. Nessa
época também surgiu o conceito de "Grupo Escolar", quando as classes
deixaram de reunir alunos de várias idades e passaram a distribuí-los em séries
("ensino seriado"). Em 1915, saiu a Reforma Maximiliano17 e, em 1925, a reforma
João Luiz Alvez18.
As décadas de 1920 e 1930 viram surgir o "Escolanovismo", de iniciativa de
liberais democraticos, os quais empreenderam reformas educacionais em
11 PALMA FILHO, João Cardoso. Política Educacional Brasileira. São Paulo: CTE, 2005.
12 BRASIL. Decreto nº 981, de 8 de novembro de 1890. Aprova o Regulamento da Instrução
Primaria e Secundaria do Distrito Federal. Rio de Janeiro, 1890.
13 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891.
Rio de Janeiro, 1891.
14 BRASIL. Decreto nº 3.890, de 1º de janeiro de 1901. Aprova o Código dos Institutos Oficiais
de Ensino Superior e Secundário, dependentes do Ministério da Justiça e Negócios Interiores.
Rio de Janeiro, 1901.
15 BRASIL. Decreto nº 3.914, de 23 de janeiro de 1901. Aprova o regulamento para o Ginásio
Nacional. Rio de Janeiro, 1901.
16 BRASIL. Decreto nº 8.659, de 5 de abril de 1911. Aprova a lei Orgânica do Ensino Superior e
do Fundamental na República. Rio de Janeiro, 1911.
17 BRASIL. Decreto nº 11.530, de 18 de março de 1915. Reorganiza o ensino secundário e o
superior na República. Rio de Janeiro, 1915.
18 BRASIL. Decreto nº 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925. Estabelece o concurso da União para
a difusão do ensino primário, organiza o Departamento Nacional do Ensino, reforma o ensino
secundário e superior e dá outras providencias. Rio de Janeiro, 1925.
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diversos estados tais como Lourenço Filho (Ceará, 1923) e Anísio Teixeira
(Bahia, 1925), dentre vários outros. Em 1924 foi fundada a Associação Brasileira
de Educação (ABE) que na primeira fase sofrera influência da militância católica,
mas que a partir de 1932, foi dominada pelos adeptos da Escola Nova 19. Em
1932, foi publicado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, defendendo a
laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e coeducação no ensino público 20.
É a partir de 1930, início da Era Vargas, que surgem as reformas
educacionais mais modernas. Assim, na emergência do mundo urbano-
industrial, as discussões em torno das questões educacionais começavam a ser
o centro de interesse dos intelectuais. E se aprofundaram, principalmente devido
às inquietações sociais causadas pela Primeira Guerra e pela Revolução Russa
que alertaram a sociedade para a possibilidade de a humanidade voltar ao
estado de barbárie devido ao grau de violência observado nestas guerras. Com
o Decreto 19.402 de 14 de novembro de 1930, foi criado o Ministério dos
Negócios da Educação e Saúde Pública. O Ministro Francisco Campos reformou
o Ensino Secundário (Reforma Campos)2122, criando os Exames de Madureza
(provável nome derivado do hebraico Bagrut).
O Decreto 19.850 de 11 de abril de 1931 organizou o Conselho Nacional
de Educação e a Constituição de 1934 deu-lhe a incumbência de criar o Plano
Nacional de Educação. Em 1932 alguns intelectuais brasileiros como Lourenço
Filho, Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira, dentre outros (no total de 26),
assinaram o "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova".
Desse modo, os intelectuais voltaram sua atenção para a educação, uma
vez que, pretendiam contribuir para a melhoria do processo de estabilização
social. Não demoraram muito a declararem a insuficiência da pedagogia
tradicional diante da exigência do mundo moderno, capitalista, concluindo que
19 ARANHA, 2009, p. 302-304.
20 AZEVEDO, Fernando [et al.]. A reconstrução educacional no Brasil: ao povo e ao governo;
manifesto dos pioneiros da Educação Nova. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1932.
21 BRASIL. Decreto n. 19.890/1931. Dispõe sobre a organização do ensino secundário. Rio de
Janeiro, 1931.
22 BRASIL. Decreto n. 21.241/1932. Consolida as disposições sobre a organização do ensino
secundário e dá outras providências. Rio de Janeiro, 1932.
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as instituições escolares deveriam ser atualizadas de acordo com a nova
realidade social.
O movimento educacional que surgiu naquele momento e que influenciou
consideravelmente o pensamento educacional brasileiro foi o que nos Estados
Unidos denominou-se de Escola Nova. Este movimento, valorizava os jogos e
os exercícios físicos de forma geral, desde que servissem para o
desenvolvimento da motricidade e da percepção. O seu desenvolvimento levava
em consideração os estudos da psicologia da criança e buscava os métodos
mais adequados para estimular o interesse delas, sem, no entanto, privá-las da
espontaneidade.
Tanto a constituição de 1934 como o manifesto de 1932 traçaram pela
primeira vez as linhas mestras de uma política educacional brasileira 23. Contudo,
a constituição de 1934 durou pouco e foi substituída pela de 1937, imposta por
Getúlio Vargas. Na década de 1920 havia universidades, como a do Rio de
Janeiro (1920) e a Universidade Federal de Minas Gerais (1927) que eram
simples agregação de faculdades. Em 1934, surgiu a USP, sob a nova
organização decretada pelo governo.
Em 1942, o ministro Gustavo Capanema incentivou novas leis de reforma
do Ensino, que ficaram conhecidas como "Reforma Capanema". Nesse ano,
surgiram a Lei Orgânica do Ensino Industrial24 e a Lei Orgânica do Ensino
Secundário25, além de ter sido fundado o Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai). Em 1943 foi aprovada a Lei Orgânica do Ensino Comercial 26.
Em 1946, saiu a Lei Orgânica do Ensino Primário27 e do Ensino Normal28, além
da Lei Orgânica do Ensino Agrícola 29. Também houve em 1946 um acordo
financeiro com o Banco Mundial para a Escola Técnica de Curitiba30.
23 PALMA, 2005, p. 35.
24 BRASIL. Decreto-lei n. 4.073/1942. Lei orgânica do ensino industrial. Rio de Janeiro, 1942.
25 BRASIL. Decreto-Lei nº 4.244/1942. Lei orgânica do ensino secundário. Rio de Janeiro, 1942.
26 BRASIL. Decreto-Lei n. 6.141/1943. Lei Orgânica do Ensino Comercial. Rio de Janeiro, 1943.
27 BRASIL. Decreto-Lei n. 8.529/1946. Lei Orgânica do Ensino Primário. Rio de Janeiro, 1946.
28 BRASIL. Decreto-Lei n. 8.530/1946. Lei Orgânica do Ensino Normal. Rio de Janeiro, 1946.
29 BRASIL. Decreto-Lei n. 9.613/1946. Lei Orgânica do Ensino Agrícola. Rio de Janeiro, 1946.
30 BRASIL. Decreto-Lei n. 9.724/1946. Aprova o Acordo celebrado entre o Ministério da Educação
e Saúde e a Interamericana Educacional Foundation Inc., sobre educação industrial vocacional,
e dá outras providências. Rio de Janeiro, 1946.
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Antonio Rosembergue Pinheiro e Mota & Benigno Núñez Novo 119
Com as reformas de Capanema, o Ensino Secundário foi dividido em dois
ciclos, o ginasial e o segundo ciclo ("colegial"). O segundo ciclo contava com
duas modalidades: curso Clássico e Científico. Esses dois cursos tinham caráter
propedêutico, permitindo o acesso ao Ensino Superior31.
Quanto ao ensino profissional, era previsto em quatro modalidades:
industrial, agrícola, comercial e normal. O ensino profissional era dividido ainda
em cursos de formação profissional do primeiro ciclo (equivalente ao ginásio), e
os cursos técnicos (equivalentes ao segundo ciclo ou "colegial"). Em tese, a
conclusão de um curso técnico dava acesso ao ensino superior, entretanto, tais
cursos se configuravam, na prática, como terminais, sendo destinados aos
pobres32, caracterizando uma dualidade no sistema educacional, entre escolas
de ricos e de pobres. Uma exceção era feita ao curso Normal, destinado, em
geral, às moças da elite33.
Com o fim do Estado Novo, surgiu a Constituição de 194634 e que trouxe
dispositivos dirigidos à educação, como a gratuidade para o Ensino Primário e a
manutenção da mesma na sequência dos estudos, para aqueles que
comprovassem falta de recursos. Em 1948, também surgiu a discussão para
uma Lei de Diretrizes Básicas (LDB), a partir da proposta do deputado Clemente
Mariani35. Depois de treze anos de debates dos escolanovistas e de católicos
tradicionalistas como o padre Leonel Franca e Alceu Amoroso Lima, além do
Manifesto dos Educadores mais uma Vez Convocados (1959), assinado por
Fernando de Azevedo e mais 189 pessoas, foi aprovada em 1961 a primeira
LDB, que instigou o desencadeamento de vários debates acerca do tema3637.
31 OTRANTO, C. R.; PAMPLONA, R. M. Educação Profissional do Brasil Império à Reforma
Capanema: dicotomia na educação e na sociedade brasileira. In: V Congresso Brasileiro de
História da Educação, 2008, Aracajú. O Ensino e a Pesquisa em História da Educação, 2008.
32 OTRANTO, C. R.; PAMPLONA, R. M. Educação Profissional do Brasil Império à Reforma
Capanema: dicotomia na educação e na sociedade brasileira. In: V Congresso Brasileiro de
História da Educação, 2008, Aracajú. O Ensino e a Pesquisa em História da Educação, 2008.
33 OTRANTO, C. R.; PAMPLONA, R. M. Educação Profissional do Brasil Império à Reforma
Capanema: dicotomia na educação e na sociedade brasileira. In: V Congresso Brasileiro de
História da Educação, 2008, Aracajú. O Ensino e a Pesquisa em História da Educação, 2008.
34 BRASIL. Constituição dos estados Unidos do Brasil, de 18 de setembro de 1946. Rio de
Janeiro, 1946.
35 MARIANI, Clemente. Exposição de motivos da mensagem presidencial n. 605 de 29 de outubro
de 1948. Diário do Congresso Nacional, 13/11/1948, p. 11615-11617.
36 BRASIL. Lei n. 4.024/1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1961.
37 HENTSCHKE, Jens R. Reconstructing the Brazilian nation. Public schooling in the Vargas era.
Baden-Baden: Nomos, 2007 pgs. 136-145.
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120 O direito à educação
Com o regime iniciado em 1964, houve um aumento do autoritarismo,
marcado na área da Educação com o banimento de organizações estudantis
como a União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1967, consideradas
"subversivas". Em 1969, foi tornado obrigatório o ensino de Educação Moral e
Cívica em todos os graus de ensino sendo que, no ensino secundário, a
denominação mudava para Organização Social e Política Brasileira (OSPB).
Em 1964, no contexto da Guerra Fria, foram assinados os acordos MEC–
Usaid, entre o Ministério da Educação e a Agência para o Desenvolvimento
Internacional dos Estados Unidos, através dos quais foram introduzidas algumas
mudanças de caráter tecnicista. Em 196838, a LDB passaria por mudanças
significativas, com base em diretrizes do Relatório Atcon39 (de Rudolph Atcon) e
do Relatório Meira Mattos (coronel da Escola Superior de Guerra)40. O
Movimento Brasileiro de Alfabetização foi criado em 1967, objetivando diminuir
os níveis de analfabetismo entre os adultos.
Entre os anos 1960 e 1970, foi feita a "reforma universitária", substituindo-
se o sistema de cátedras pelo de departamentos ou institutos, além de ocorrer o
desmembramento das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL).
Em 1971, com uma nova LDB, ocorreu a reforma dos ensinos fundamental
e médio, durante o governo Médici41. Foram integrados o primário, ginásio,
secundário e técnico. Disciplinas como Filosofia (no 2º grau) desapareceram e
outras foram aglutinadas (História e Geografia formaram, no 1º grau, os "Estudos
Sociais"). As "Escolas Normais" foram extintas42.
Em 1971, é criado o "vestibular classificatório", garantindo a vaga nas
universidades apenas até o preenchimento das vagas disponíveis 43. Em 1982,
38 BRASIL. Lei 5.540/1968. Fixa normas de organização e funcionamento do ensino superior e
sua articulação com a escola média, e dá outras providências. Brasília, 1968.
39 BATTISTUS, C.; LIMBERGER, C.; CASTANHA, A. Estado militar e as reformas
educacionais. Revista Educere et Educare, Cascavel, v. 1, n. 1, p. 227-232, 2006.
40 ROTHEN, José Carlos. Os bastidores da reforma universitária de 1968. Educ. Soc.,
Campinas, v. 29, n. 103, p. 453-475, 2008.
41 BRASIL. Lei 5.692/1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras
providências. Brasília, 1971.
42 ARANHA, 2009, p. 316-318.
43 BRASIL. Decreto n. 68.908/1971. Dispõe sobre Concurso Vestibular para admissão aos
cursos superiores de graduação. Brasília, 1971.
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foi retirada a obrigatoriedade do ensino profissional nas instituições de ensino
médio44.
3. O direito à educação na Constituição de 1988
A Educação mereceu destaque na Constituição Brasileira de 1988 que em
seus dispositivos transitórios (ADCT 60 modificado pela Emenda Constitucional
14/1996) dava o prazo de dez anos para a universalização do Ensino e a
erradicação do analfabetismo. Ainda em 1996 surgiu a nova LDB - Lei das
Diretrizes Básicas, que instituiu a Política Educacional Brasileira. A lei 9131/1995
criou o Conselho Nacional de Educação, substituindo o antigo Conselho Federal
de Educação que havia surgido com a LDB de 1961 e tinha sido extinto em 1994.
Em 1990 foi organizado o SAEB - Sistema de Avaliação do Ensino Básico. Com
a lei 9.424/96 foi organizado o FUNDEF - Fundo de Manutenção do
Desenvolvimento do Ensino Fundamental (que depois de dez anos foi
substituído pelo FUNDEB), que obrigou os Estados e Municípios a aplicarem
anualmente um percentual mínimo de suas receitas (e desse montante, 60%
pelo menos para o pagamento do pessoal do magistério).
Analisando especificamente o direito fundamental à educação na
Constituição Federal de 1988, observa-se que o art. 6º da Carta Magna consagra
o direito à educação como direito social ao dispor que “São direitos sociais a
educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
na forma desta Constituição”.
A fim de concretizar o direito fundamental à educação o art. 205 da
Constituição Federal estabelece que “A educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
A educação, portanto, é um direito constitucionalmente assegurado a todos,
inerente à dignidade da pessoa humana, bem maior do homem, sendo que por
44BRASIL. Lei n. 7.044/1982. Altera dispositivos da Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971,
referentes a profissionalização do ensino de 2º grau. Brasília, 1982.
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isso o Estado tem o dever de prover condições indispensáveis ao seu pleno
exercício.
A educação infantil será oferecida em creches e pré-escolas para crianças
de até cinco anos de idade, conforme prevê o inciso IV do art. 208 da
Constituição Federal, sendo os Municípios os entes federativos que atuarão
prioritariamente na mesma (art. 211, §2º da Carta Magna).
Conforme art. 208 da CF, o direito à educação será efetivado mediante a
garantia de ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua
oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria.
O Estatuto da Criança e do Adolescente reproduzindo a CF apresenta o
direito ao ensino básico, em seu art. 54 como direito público, já a LDB ou lei
9394/1996 estabelece em seu art. 32, a duração do ensino fundamental de 9
anos, começando ao sexto ano de vida, prevê ainda as metas que o ensino
básico deverá proporcionar ao cidadão.
A garantia do ensino fundamental obrigatório é o mínimo em termos de
educação, uma vez que este integra o núcleo do princípio da dignidade da
pessoa humana, formado pelas condições materiais básicas para a existência.
Neste estágio, tão importante para o cidadão que está sendo educado é a
educação para a sociedade, que necessita de pessoas esclarecidas, de
cidadãos capazes de exercer a sua cidadania. Conforme prevê o art. 29 da Lei
de Diretrizes e Bases, a educação infantil “tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos
físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade”.
Estabelece o art. 208, II, da CF que o dever do Estado para com o ensino
médio será garantido mediante sua progressiva universalização, sendo nesta
mesma linha o contido no art. 4º, II, da Lei de Diretrizes e Bases.
Ao garantir a progressiva universalização do ensino médio, a CF, bem como
a LDB, não o consagra como direito público, isto é não obriga o seu fornecimento
pelo estado. Muito embora alguns empregadores o tenham como quesito mínimo
para admitir uma pessoa ao seu quadro de funcionários.
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Alguns autores afirmam que todos os cursos do ensino superior estão
garantidos na carta através no art. 208, uma vez que a expressão: “níveis mais
elevados do ensino” significaria educação superior, entretanto outra ala diz que
apenas os cursos voltados à pesquisa e as artes, isto porque a expressão: “da
pesquisa e da criação artística” determinaria isso. Conforme prevê o art. 44 da
Lei de Diretrizes e Bases, o ensino superior abrange os cursos sequenciais por
campo de saber, os cursos de graduação, de pós-graduação e de extensão,
tendo por finalidade, segundo o art. 43 da referida lei.
Em 2016, 781 milhões de pessoas adultas não sabem ler nem escrever.
124 milhões de crianças no mundo não concluem o ensino primário e muitas das
que terminam não adquirem as competências básicas pela má qualidade da
educação. Um em cada seis adolescentes (entre os 12 e os 15 anos) está fora
da escola, num total de 65 milhões. Uma em cada quatro crianças em zonas de
conflito não frequenta a escola. 40% da população mundial não tem acesso à
educação numa língua que fale ou entenda. Um em cada oito jovens está
desempregado. Por detrás destes dados da UNESCO e da UNICEF há muitas
pessoas a quem está a ser negado um direito básico: a educação.
As populações que sofrem maior exclusão educativa são as que vivem em
contextos rurais isolados, em situações de pobreza (convém ter consciência que
as crianças mais pobres têm quatro vezes menos probabilidades de ir à escola
que as mais ricas), as meninas e mulheres (duas em cada três pessoas adultas
analfabetas são mulheres), as que pertencem a grupos étnicos minoritários, os
migrantes, refugiados ou deslocados, as que vivem em zonas de conflito, e ainda
aquelas que têm necessidades especiais (cerca de 150 milhões de menores têm
algum tipo de deficiência).
As consequências da falta de acesso a uma educação de qualidade são
evidentes: As pessoas excluídas do sistema educativo não contam com as
oportunidades necessárias para o pleno desenvolvimento da sua personalidade.
O desenvolvimento insuficiente de competências para a vida afeta as suas
relações e a tomada de decisões no quotidiano. Esta falta de acesso aumenta o
abandono do sistema educativo e, consequentemente, a desigualdade, e
alimenta o círculo vicioso de marginalização e pobreza. Limitam-se as
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oportunidades de trabalho estável e satisfatório e aumentam as frustrações
resultantes de não se poder cumprir as expectativas naturais de apoio à família
e a sensação de não contribuir para a sociedade no seu conjunto. Daqui discorre
o empobrecimento das sociedades, afetando o seu crescimento e bem-estar
como nações. Fomenta-se então uma cidadania passiva e acrítica, com maiores
probabilidades de aceitação de governos corruptos. E o perigoso recurso à
violência para resolver os conflitos.
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) que foi divulgado
em 3 de setembro de 2018, pelo ministério da Educação e pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostra que o país
não atingiu as metas nos anos finais do ensino fundamental e ensino médio.
Os resultados com os estudantes dos anos iniciais (1° ao 5° ano) do ensino
fundamental foram os únicos em que as metas ficaram acima do planejado,
atingindo 5,8. Nenhum estado atingiu a meta no ensino médio, o projetado era
4,7 e foi alcançado 3,8.
Com o intuito de fortalecer a qualidade da educação, as novas diretrizes da
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) devem ser incluídas em todas as
escolas do país. Mudanças no setor são assuntos sempre polêmicos e cheios
de divisões. Não é universalizar o ensino, mas sim pautá-lo de acordo com cada
realidade, conversar com as propostas locais, com autonomia e com a
biodiversidade que ocupa cada território.
Habilidades socioemocionais como solidariedade, empatia, ética e trabalho
em equipe fazem parte das novas regras da BNCC que as escolas devem
trabalhar com os alunos. As competências que estão descritas são
competências para a vida em sociedade, é para um bem viver. A escola precisa
também auxiliar no desenvolvimento dessas competências.
O Ideb foi criado em 2007 e é o principal indicador de qualidade da
educação básica do país. O resultado é calculado a cada dois anos pela média
das notas de português e matemática dos alunos no Sistema de Avaliação da
Educação Básica (Saeb) e sobre os dados da aprovação escolar, obtidos pelo
Censo Escolar.
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O ano de 2018 também foi um ano em que a Educação esteve no centro
de debates acalorados. Um dos temas destaque foi o programa Escola Sem
Partido. Um Projeto de Lei sobre o assunto tramitou na Câmara Federal
propondo fixar nas salas de aula cartazes com deveres a serem seguidos pelos
professores, que incluem a proibição de discussões sobre questões relacionadas
a gênero, sexualidade e política. Ele foi arquivado após 12 sessões
inconclusivas. O programa fere princípios democráticos (na prática, desvaloriza
os docentes e pode criar conflitos entre alunos e professores) e, por isso, o
Supremo Tribunal Federal (STF) poderá decidir sobre sua constitucionalidade -
no entanto, o presidente do órgão, Dias Toffoli, adiou a discussão por tempo
indeterminado.
Outro tema que chamou a atenção da sociedade foi o do Ensino Domiciliar,
também chamado de "Homeschooling". No julgamento do STF relacionado ao
assunto, a corte rejeitou a possibilidade de os pais educarem seus filhos
formalmente em casa. Sete dos ministros consideraram não ser
responsabilidade do Supremo normatizar o ensino e outros dois (Luiz Fux e
Ricardo Lewandowski) entenderam que a Educação domiciliar é inconstitucional.
Em 2018, o STF também julgou o corte etário na Educação Infantil e Ensino
Fundamental, isto é, a idade adequada em que crianças de 4 e 6 anos podem
ser matriculadas na escola. Por 6 votos a 5, a corte confirmou a norma do
Conselho Nacional de Educação (CNE) que só permite as matrículas de crianças
com idades de 4 anos e 6 anos completos até 31 março para as respectivas
etapas.
Esteve em discussão também uma revisão da Política Nacional de
Educação Especial, que fala sobre a escolarização das crianças e jovens com
deficiência. Embora a adequação do documento seja bem-vinda, organizações
que militam pela inclusão olham com preocupação algumas das alterações
propostas no relatório preliminar, que foi colocado em consulta pública em
novembro. Os especialistas temem que a escolarização da população com
deficiência aconteça em escolas especiais, e não em classes comuns, como
prescrevem as pesquisas e boas experiências das áreas.
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Conclusão
Exigir o direito à educação deve ser algo realizado não só pela criança ou
adolescente, mais principalmente pela sua família, que assim como o Estado
possui a obrigação de matricular a criança ou adolescente em uma instituição de
ensino. O aluno ao adentrar o ensino da pré-escola, ensino fundamental ou
ensino médio deve ter a liberdade de aprender, pesquisar, ensinar e até mesmo
divulgar seus pensamentos, opiniões e dúvidas, de maneira com que o corpo
docente esteja disponível para ajudá-lo superar suas dificuldades.
A busca pela formação escolar é o direito social mais importante que
qualquer cidadão deve exigir do Estado, principalmente pelo fato que da
educação atribuir os conhecimentos necessários previstos pela lei.
Dentro do rol dos direitos humanos fundamentais encontra-se o direito à
educação, amparado por normas nacionais e internacionais. Trata-se de um
direito fundamental, porque inclui um processo de desenvolvimento individual
próprio à condição humana. Além dessa perspectiva individual, este direito deve
ser visto, sobretudo, de forma coletiva, como um direito a uma política
educacional, a ações afirmativas do Estado que ofereçam à sociedade
instrumentos para alcançar seus fins.
O Poder Público, como um dos responsáveis pelo fomento à educação,
deve promover ações não só no âmbito de elaboração de políticas públicas
(executivo), no âmbito de elaboração de leis (legislativo), mas também
exercendo o papel de protetor e fiscalizador desse direito (judiciário).
As diversas instituições do poder público cumprem papéis importantes na
garantia dos direitos dos cidadãos. Num país marcado por desigualdades como
o Brasil, onde a distribuição de direitos espelha essa desigualdade, garantir o
direito à educação é, sem dúvida, uma prioridade e um passo fundamental na
consolidação da cidadania. A educação é uma competência comum a todos os
entes federados que formam o Estado brasileiro. É um direito público subjetivo
de todos.
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