ANÁLISE MORFOLÓGICA
O diagnóstico possui como finalidade a análise de alguns bairros da regional Pampulha, levando em
consideração as questões ambientais, socioeconômicas, culturais e políticas.
BAIRROS e ÁREAS HOMOGÊNEAS;
Traçado, quadras e lotes
Ao analisar os bairros de um modo abrangente, é possível perceber que mesmo eles sendo bantante
próximos, há uma enorme diferenciação quanto ao tipo de uso, estruturas da circulação viária,
formas de habitações (cujo alguns bairros tem a prevalência de grandes edifícios, outros residências
e alguns vilas e conjuntos habitacionais), além disso há um grau de distinção na concentração de
áreas vegetativas e a forma em como são distribuídos os lotes e as quadras.
Revelo
Observando e analisando os mapas de declividade e de riscos nota-se que essas áreas se concentram
em regiões onde a malha urbana se apresenta mais estreita e irregular, onde se localizam, em sua
maioria, uma população de renda mais baixa, em vilas e favelas, que acabam instalando suas
moradias irregulares nesses locais inadequados e perigosos para sua segurança.
Distribuição socio espacial da população.
Nota-se a partir do mapa de evolução da mancha urbana, que a urbanização da região se deu mais
tardia em relação a maioria das demais regiões de Belo Horizonte. Percebe-se ainda que as manchas
iniciais são mais voltadas para a parte oeste, que tem maior proximidade do centro de BH. Há ainda
regiões que ainda em 2007 não haviam sido urbanizadas, como boa parte do bairro Braúnas.
Processo de Urbanização
Na época do Curral Del Rei, o arraial que deu lugar à nova capital, a região já era conhecida como
Arraial da Pampulha. Há notícias de que seus primeiros habitantes vieram de Portugal e quiseram
transformar esse cantinho do Brasil em um lugar que os fizesse lembrar a sua antiga terra natal. Por
isso, batizaram a região com o mesmo nome do bairro onde viviam em Lisboa, ou seja, Pampulha.
Desde os primeiros anos de Belo Horizonte, a Pampulha desempenhou uma função importante no
desenvolvimento da cidade. As atividades agropecuárias de suas inúmeras fazendas, sítios e
chácaras abasteciam os mercados dos bairros das regiões mais centrais. Os ofícios que eram
realizados por lá favoreciam o contato da região também com outros municípios próximos, como
Contagem e Santa Luzia.
Para as autoridades da época, a Pampulha poderia trazer um progresso maior para Belo Horizonte se
ajudasse no abastecimento de água da capital (a população crescia a cada dia e sofria com a
escassez de água potável) e se pudesse auxiliar na aproximação da cidade com outras capitais
importantes do Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo, através de um aeroporto. Foi com essa visão
que, em 1936, na administração do prefeito Otacílio Negrão de Lima, começaram as obras de
construção de uma barragem que iria deter o curso das águas do Ribeirão Pampulha, formando uma
represa que serviria de reservatório de água para a capital. Ela sustentava o volume de água que
formava um amplo lago artificial, a Lagoa da Pampulha, inaugurada em 1938. A inauguração da
barragem foi alguns anos mais tarde, em 1943.
No decorrer dos anos 40, como marco da modernidade belo-horizontina, foi implantado o conjunto
urbanístico e arquitetônico da Pampulha, com projetos arquitetônicos originais do jovem arquiteto
Oscar Niemeyer Soares Filho.
Considerado um ícone da modernidade e das perspectivas desenvolvimentistas de Juscelino
Kubitschek, a Pampulha promoveu a interação entre a arquitetura, artes plásticas e paisagismos.
À arquitetura de Oscar Niemeyer, juntaram-se a pintura de afrescos e azulejos de Cândido Portinari,
as esculturas de Ceschiatti, Zamoiski e José Pedrosa, o painel de Paulo Wernech e o paisagismo de
Roberto Burle Marx. Com a Pampulha, configurou-se uma das mais importantes correntes da
arquitetura moderna a serviço da beleza plástica da qual Niemeyer foi o mestre.
Inaugurado em 5 de setembro de 1965, o Estádio Governador Magalhães Pinto, mais conhecido
como Mineirão, com capacidade para cerca 100 mil torcedores, faz parte do conjunto arquitetônico
e paisagístico da Pampulha, sendo o segundo maior estádio coberto do Brasil e do mundo.
Na esteira do complexo arquitetônico, foi incorporado ao projeto o Aeroporto da Pampulha,
construído em 1933, que iniciou suas atividades para atender aos vôos do Correio Aéreo Militar,
com a denominação oficial de Destacamento da Aviação.
Principal cartão postal da região, a Igreja de São Francisco de Assis foi projetada na década de 40, e
em 1947, recebeu tombamento federal. Em 1984, foi tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio
Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA-MG.
A partir das décadas de 1940 e 1950, o crescimento de Belo Horizonte teve um impulso cada vez
maior, devido à expansão das indústrias. Foi então que começou a urbanização de parte dos bairros
localizados ao redor da Lagoa da Pampulha, conhecidos hoje como Bandeirantes, Braúnas, Jardim
Atlântico, São Luiz e Aeroporto.
Com a intenção de fazer com que a cidade tivesse um aspecto mais moderno, no início da década de
1940, uma extensão de terra pertencente à Fazenda Dalva foi desapropriada para a construção da
Cidade Universitária, o atual bairro Campus UFMG. Embora a “pedra fundamental” das obras tenha
sido lançada em 1946, o primeiro prédio construído no campus só foi inaugurado em 1962. É que a
vegetação precisou ser devastada para dar lugar ao traçado urbano e aos primeiros arruamentos.
Até o início da década de 1970, os serviços iniciais de infraestrutura do bairro ainda estavam sendo
realizados. Do parcelamento dessa fazenda também nasceu o bairro São José. Naquela mesma
época, surgiram os bairros Liberdade, Universitário e São Francisco. A ocupação desses bairros foi
intensificada na década de 1950, quando ocorreu a construção de um importante via da cidade: o
Anel Rodoviário. No fim da década de 50, foi inaugurado o Jardim Zoológico, que está localizado no
bairro Braúnas e se caracteriza como uma referência urbana importante da região.
Nas décadas de 1960 e 1970, vemos como a população de média e baixa renda também encontrou o
seu lugar na região, ocupando os bairros nascidos do loteamento daquelas antigas fazendas. Da
subdivisão da Fazenda da Serra, também conhecida como Fazenda dos Menezes, nasceram os
bairros Santa Terezinha, Castelo, Ouro Preto, Paquetá, Engenho Nogueira e Sarandi. Eles abrigam
uma população diversificada e atraíram até empresas, movimentando ainda mais a Pampulha. No
atual bairro São Luiz, inaugurou em 1965 o Mineirão,
Um espaço verde, entretanto, foi preservado: o antigo sítio pertencente a um ex-prefeito de Belo
Horizonte e que também era proprietário da imobiliária responsável pelo loteamento de muitos
terrenos da região. O sítio tinha cerca de 300.000m² e servia de espaço de lazer e descanso para a
família Giannetti. Sua principal riqueza estava na diversidade natural: diferentes espécies de árvores
(entre as quais o ipê, o jacarandá, o jatobá e a aroeira) e animais (como pica-pau, coruja, mico, tatu,
gambá e morcegos) encantavam a todos que passavam por lá. Em 1973, a Prefeitura desapropriou o
terreno com a intenção de promover o seu melhor aproveitamento pela comunidade. Mas só em
1979 houve a preocupação com a preservação da sua biodiversidade. Foi quando surgiu a ideia de
transformar o lugar em um parque ecológico. Esse plano só saiu do papel depois que a comunidade
se organizou para protestar contra um projeto que previa a construção de um conjunto habitacional
de alto luxo no local, no início da década de 1980. Foi depois da pressão da população, preocupada
com a manutenção da riqueza natural da área, que o parque foi finalmente aberto à visitação de
todos, em 1994.
Finalmente, os conjuntos dos bairros da Regional Pampulha que tiveram sua ocupação intensificada
recentemente, como Suzana, Conjunto Habitacional Confisco, Garças, Xangrilá, Trevo e Nova
Pampulha e onde uma grande parte da sua população ainda sofre com a ausência dos serviços de
infraestrutura
Lagoa da Pampulha, 1948.
Obras de construção da Barragem da Pampulha, década de 1930.
Barragem da Lagoa da Pampulha, 1940.
Arraial da Pampulha em 1938.
Iate Clube, década de 40.
Casa do Baile 1940.
Obras de construção do Estádio Governador Magalhães Pinto, década de 60.
Anel Rodoviário, 1963.
Avenida Fleming no Bairro Ouro Preto, 1993.
Bairro Castelo, década de 80.
Avenida da Pampulha (atual Avenida Antônio Carlos), década de 1940.
Avenida Antônio Carlos, altura da trincheira da Avenida Santa Rosa.
RELAÇÃO ENTRE SÍTIO, TRAÇADO e USOS
Hierarquia viária;
A hierarquia viária é a classificação das vias urbanas, sendo denominadas,
via local, coletora, arterial, de ligação regional, além das ciclovias. As vias
locais possuem a função de possibilitar o acesso direto às edificações,
apresentam um baixo volume de tráfego, com limite de velocidade permitida
de 20 a 30km/h e largura mínima de 15 m. As vias coletoras possuem a
função de permitir a circulação de veículos entre as vias arteriais ou de
ligação regional e as vias locais, apresentam o limite de velocidade de 40 a
50km/h e largura mínima de 18 a 20 m. As vias arteriais são utilizadas em
deslocamentos de maior distância, com acesso às vias lindeiras devidamente
sinalizadas, apresentam um considerável volume de tráfego, seu limite de
velocidade é de 60 km/h e sua largura mínima é de 35 m nas primárias e 25
nas secundárias. As vias de ligação regional são vias que fazem acesso com
municípios vizinhos, com ligação às vias lindeiras devidamente sinalizadas,
seu limite de velocidade é superior a 80km/h. A ciclovias é um local
destinado à circulação exclusiva de bicicletas, separado da via pública de
tráfego motorizado e aos pedestres.
Outro tipo de hierarquia viária é quanto a permissividade, podendo ser: via
preferencialmente residencial, via em que se procura manter seu caráter
residencial, e por isso admite a presença de atividades não residenciais de
menor impacto; via preferencialmente não residencial e via de caráter misto,
em que se permite ambos os usos. Essa hierarquia não se aplica a área
próxima à lagoa da Pampulha, pois apresenta uma permissividade
específica.
Diante da análise dos mapas abaixo é possível perceber que a grande
maioria das vias locais possuem o uso residencial preservando a segurança
dos pedestres, visto que são ruas que possuem um tráfego mais leve e com
uma velocidade reduzida, fator importante visto que uma das atividades
predominantes é a caminhada a pé. Quanto às vias arteriais e coletoras
quase todas apresentam o uso misto. Já o uso não residencial está na única
via de ligação regional e também no bairro São Francisco, bairro que como
visto acima está inserido no zoneamento AGEE, ou seja, se trata de uma
área de grandes equipamentos econômicos, local em que é proibido o uso
residencial e possui como característica atividades de grande porte e que
geram amplos impactos urbanísticos ou ambientais.
Base Prefeitura de BH/ Adaptado pelos autores
Base Prefeitura de BH/ Adaptado pelos autores
Outro elemento importante a se analisar é o carregamento viário em relação
a hierarquização viária. Tendo como base o Waze (aplicativo de navegação por
GPS, que possui informações sobre rotas, trânsito, acidentes, buracos em vias,
dentre outras adversidades), foi possível perceber que as vias de trânsito mais
intenso em horário de pico são as principais vias de acesso: como o Anel Rodoviário
(Via de ligação regional), a Av. Presidente Carlos Luz, Av. Pres. Antônio Carlos, Av.
Pres. Tancredo Neves e trechos da Av. Abílio Machado, (Vias Arteriais) , além de
algumas vias locais e coletoras. Importante ressaltar que em dias de eventos o
trânsito se torna mais intenso.
Abaixo é possível ver algumas imagens retiradas do aplicativo, as figuras em
branco foram tiradas na parte da manhã e as figuras escuras no final do dia. A
imagens evidenciam em vermelho os pontos de congestionamento de alta
intensidade, em laranja os congestionamentos de média intensidade, além de
ícones de buracos na via, entre outros.
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Contudo, nossa região de estudo se caracteriza pelo alto volume de tráfego
de passagem e pela concentração de pedestres devido a permanência nos
equipamentos de uso coletivo.
Acessibilidade aos equipamentos de uso coletivo
Como já visto acima, os principais acessos aos equipamentos de uso coletivo
se dão através das vias arteriais. Mais abaixo evidenciaremos os principais trajetos
aos equipamentos no item 4.3.2.
Base
Prefeitura de BH/ Adaptado pelos autores
A Avenida Presidente Antônio Carlos, é a principal via de acesso do centro e
Regional Pampulha, passa pelos bairros São Francisco, São José, São Luiz e
Campus UFMG, além de ser o principal acesso ao Aeroporto da Pampulha e à
UFMG.
A Avenida Presidente Carlos Luz, faz a ligação da Regional Pampulha com o
núcleo noroeste da capital, passando pelos bairros, Engenho Nogueira, Campus
UFMG, São Luiza e Ouro Preto. É o principal acesso para a UFMG e Mineirão.
A Avenida Heráclito Mourão de Miranda faz a ligação da orla da lagoa da
Pampulha com alguns bairros da regional. Ela atravessa os bairros Bandeirantes,
Conjunto Lagoa, Santa Terezinha, Serrano, Castelo e Alípio de Melo, e Conjunto
Celso Machado.
A Avenida Professor Clóvis Salgado liga Contagem a regional Pampulha,
passa pelos bairros Urca, Itatiaia, Bandeirantes, Serrano e Santa Terezinha.
O Anel Rodoviário faz a ligação regional Pampulha a parte Oeste, Noroeste e
Norte de Belo Horizonte, além de fazer o cruzamento com as principais vias de Belo
Horizonte, na nossa área de estudo ela faz ligação com a Av. Presidente Antônio
Carlos e Av. Presidente Carlos Luz.
Mobilidade sustentável
Segundo o anexo XI da Lei 11.181, de 8 de agosto de 2019 (Belo Horizonte,
2019) a mobilidade urbana é a: “Realização dos deslocamentos sem
comprometimento do meio ambiente, das áreas e atividades urbanas e do próprio
transporte.”
Portanto, a mobilidade sustentável é o agrupamento de medidas sobre as
políticas de transporte e circulação, que apresentam o objetivo de gerar um amplo
acesso ao espaço urbano de forma segura, inclusiva e ambientalmente sustentável,
por meio da valorização de transportes coletivos e não motorizados; privilegiando os
pedestres.
Ainda mais, para se pensar em uma mobilidade sustentável é necessário
levar em consideração, os equipamentos, o possível desenvolvimento da cidade e a
infraestrutura de transporte, circulação e distribuição.
No entanto, há um desafio para a implantação da mobilidade sustentável,
uma vez que há uma grande valorização do uso do transporte privado individual.
Segundo uma matéria do Estado de Minas, de 03 de dezembro de 2018, Belo
Horizonte é a capital brasileira com mais carros por habitantes. Diante desse
contexto é necessário implantar novas medidas o quanto antes, visto, que além de
desafogar o trânsito, trará mais benefícios quanto ao meio ambiente, a saúde e bem
estar da população, dentre outros já citados.
Mobilidade e acessibilidade
A mobilidade urbana é definida como a capacidade de pessoas e bens se
locomoverem no intuito de acessarem o espaço urbano, com a finalidade de realizar
suas atividades cotidianas, em um tempo considerado ideal, mediante a utilização
dos vários meios de transporte, de forma segura e confortável. Fatores estes que
estão diretamente ligados às características das vias, dos relevos, das calçadas,
das redes de transporte e do custo. Para abordar o tema foi utilizado como principal
fonte de consulta a Lei n° 11.181, de 8 de agosto de 2019.
Segundo a lei, os princípios da mobilidade urbana se delimitam na condecoração do
espaço público como bem comum, na universalidade do direito de se deslocar, na
igualdade no acesso ao transporte público coletivo, na sustentabilidade dos
deslocamentos, na acessibilidade, na segurança dos deslocamentos, na eficiência e
eficácia nos serviços de transporte e na circulação viária, na igualdade no uso do
espaço público e na justa distribuição dos benefícios.
Para tal, a lei engloba algumas diretrizes, que abrange a valorização do pedestre e
de meios de transporte não motorizados; a priorização do transporte público coletivo
frente aos individuais motorizados, os fortalecendo de forma qualitativa e
quantitativa e desestimulando a utilização do transporte individual. Além de fomentar
o uso de combustíveis renováveis e menos poluentes; integrar os vários meios de
transporte; estimular o desenvolvimento e uso de uso de energias renováveis e
menos poluentes; diminuir o custo no deslocamento, integrar com a política de
mobilidade com as respectivas políticas setoriais, e priorizar o investimento público
designado para a melhoria e ampliação do sistema de circulação para a implantar a
rede estruturante de transporte público coletivo.
PAISAGENS URBANAS