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Brasil Na Primeira Guerra
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MUNDIAL
SUMÁRIO
Introdução
O Brasil no período 1914-1917
Poder Naval brasileiro no período 1914-1917
Acontecimentos significativos no período de neutralidade
Fatos navais e as ações decorrentes
O Brasil preparando-se para lutar ao lado dos Aliados
No cumprimento da missão
A Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG)
Considerações finais
Anexo
* Realizou o Curso de Comando e Estado-Maior no United States Marine Corps, Quantico, Virgínia, Estados
Unidos da América, em 1992.
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firme propósito em primeiro solucionar carestia era uma das mais importantes
os problemas internos deixados pelo seu causas das paralisações, provocada por:
antecessor, do qual fora vice. Por razões aumento da inflação; política de expor-
socioeconômicas e financeiras, ignorou os tação, com aumento na saída de carnes
anseios candentes de seus opositores pela e cereais; impossibilidade de importa-
participação do Brasil no conflito. ção do trigo; monopólio do crédito por
O Brasil, totalmente dependente da ex- bancos estrangeiros; impostos e tantos
portação do café, controlava quase 80% da outros fatores.
oferta mundial. Contudo esse percentual
vinha caindo regularmente, despencando PODER NAVAL BRASILEIRO
mais ainda em 1917, primeiro pelo blo- NO PERÍODO 1914-1917
queio naval imposto pela Inglaterra aos
navios transportando produtos oriundos No início e ao longo do conflito, a MG
de países neutros; segundo, pela proi- estava constituída, basicamente, por na-
bição, mais tarde, por esse mesmo país, vios construídos em cumprimento ao Pro-
da compra do grão, alegando que o fazia grama de Reaparelhamento Naval (PRN)
para importar produtos vitais aos seus de 1904, alterado em 1906 pelo então
reais interesses, aproveitando melhor os ministro da Marinha (MM) Alexandrino
espaços disponíveis a bordo. de Faria Alencar, além de outras unidades
Para compensar as perdas na exporta- navais, remanescentes do século XIX.
ção do café, em vista dos baixos preços O PRN brasileiro, aprovado pelo
provocados pelos fatos acima narrados, Decreto no 1.568, de 24 de novembro de
foi preciso usar o artifício de queimar 1906, previa a aquisição de dois encoura-
milhões de sacas, de modo a alcançar çados dreadnoughts de 19.500 toneladas,
preços negociáveis. Sentiu-se também um encouraçado dreadnought 9 de 28.000
maior dificuldade nas importações de ton, três cruzadores de 3.150 ton, dez
produtos manufaturados europeus. Agra- contratorpedeiros de 560 ton e três sub-
vando mais a situação, o governo federal marinos. Em janeiro de 1913, contratou-se
ainda despendia esforços na repressão à a compra de um navio-tênder de submer-
Guerra do Contestado (1912-1916), no síveis, em adendo ao Programa Naval de
sul do Brasil, na região fronteiriça entre 1904. O navio foi incorporado em abril de
Paraná e Santa Catarina. 1917 e recebeu o nome de Ceará.
Simultaneamente, o governo lutou A composição dos meios navais da MG
contra greves das classes trabalhadoras, no período de 1914 a 1917 pode ser vista
cujo auge ocorreu em 1917, frequen- no Quadro do Anexo 1. Nele constam
temente promovidas por operários das as seguintes unidades incorporadas por
indústrias têxteis de São Paulo e Rio conta do referido programa (mantida a
de Janeiro, que vivenciavam uma fase grafia da época):
crescente de desenvolvimento decorrente – Encouraçados: Minas Geraes e São
do início da industrialização nacional. A Paulo;
9 O Encouraçado Rio de Janeiro não chegou a ser recebido. Por não satisfazer mais à ideia concebida no
PRN de 1906, antes de sua conclusão, em 1914, foi vendido à Turquia, que o batizou de Sultan Osman
I. Com a eclosão da 1a GM, foi confiscado pelo governo inglês e passou a ser o HMS Agincourt, tendo
participação na Batalha Naval da Jutlândia, em 1916.
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10 Na realidade eram submersíveis, que diferem dos submarinos pela sua baixa autonomia quando submersos.
Na maioria das vezes, mergulhavam apenas para atacar, navegando quase sempre na superfície devido
a sua baixa disponibilidade de ar para a tripulação.
11 O Almirante Jorge da Silva Leite participou da 1a GM embarcado no Contratorpedeiro Piauhy.
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12 Com o desencadear das contendas, boa parte das compras (fuzis, canhões e lanças para a cavalaria) não
chegou ao Brasil.
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relação àquele país. Com o Barão do Rio terra, Estados Unidos e França. Todos,
Branco na pasta das Relações Exteriores, sem exceção, impuseram sem nenhuma
no período de 1902 a 1912, iniciou-se um consideração, como se fôssemos seus
processo de mudança de rumo da nossa súditos, condições inaceitáveis para uma
política externa em relação aos países eu- nação soberana. Isso se deu na política
ropeus, partindo-se para uma maior apro- do café, nas condições financeiras para
ximação com os americanos – a chamada empréstimos, no bloqueio e nos arrestos
“aliança especial”, sobretudo por causa da de navios, nos abusos de representantes
forte rivalidade com a vizinha Argentina. diplomáticos, na imposição da Lista Negra
As relações ficaram um pouco es- pelos ingleses, no boicote à exportação
tremecidas entre 1912 e 1913, devido à do café etc. Somam-se a tudo isso os
questão que ficou conhecida como “truste perigos na navegação proporcionados
do café”, que terminou de modo satisfa- pelos submarinos (U-boats13), bem como
tório, em virtude da boa atuação do nosso as acirradas lutas internas deflagadas pela
embaixador em Washington, Domício imprensa, os efeitos causados por grupos
da Gama, e por iniciativa do Presidente partidários pela paz e outros belicistas
americano, Woodrow Wilson. Após esse e algumas decisões administrativas sem
impasse, a situação retornou ao status quo sucesso. Este era o cenário em que nos
anterior à crise. encontrávamos ao final de 1917.
No início do conflito na Europa, em
1914, os americanos estavam envolvidos FATOS NAVAIS E AS AÇÕES
com a revolução mexicana, em apoio à DECORRENTES
derrubada do governo ditatorial do Gene-
ral Victoriano Huerta e, logo em seguida, Na Europa, os embates terrestres
à perseguição a Pancho Villa. Nessas haviam chegado a um estado insólito
questões, o Presidente Wilson vislumbrou de estagnação, provocado pela tática de
a possibilidade de apoio dos países latino- emprego de trincheiras na frente ocidental
-americanos, em especial do Brasil, na do conflito. No mar, corsários alemãs ata-
solução da crise, porém não obteve adesão cavam as linhas comerciais dos Aliados.
para a sua causa. Sem que houvesse alte- O Almirante Von Tirpitz, comandante da
rações nas relações entre os dois países, Marinha Imperial alemã, visava alcançar
eles mantiveram a condição de grandes o domínio marítimo com o emprego da
consumidores do nosso café, enquanto nós sua moderna esquadra de alto-mar, que,
importávamos o seu carvão, pois, além do embora inferior em quantidade, era, no
nacional não ser de boa qualidade, havia seu entender, mais técnica e adestrada
as restrições anteriormente citadas quanto do que a inglesa. Para isso, aguardava o
à aquisição do carvão inglês. momento certo para um engajamento em
Diante dos fatos, é possível constatar batalhas decisivas. Os U-boats ainda não
que, durante o período de nossa neutra- tinham participado de forma expressiva,
lidade, que durou até outubro de 1917, contudo aumentavam, gradativamente,
ocorreram outros embates, todavia de sua influência nos mares, atacando a frota
conotações comerciais e diplomáticas, mercante e militar dos ingleses. Respeita-
travados, unilateralmente, com Ingla- vam, no entanto, a neutralidade dos países
13 U-boat é uma abreviação de unterseeboot, palavra alemã que significa “pequeno barco debaixo de água”.
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assim declarados, para evitar uma possível normas praticadas por navios neutros. A
entrada dos EUA ao lado dos Aliados. notícia, ao chegar ao Brasil, ensejou a
A situação nos mares mudou com a der- eclosão de manifestações nas capitais. No
rota estratégica alemã na Batalha Naval da Rio Grande do Sul, predominantemente
Jutlândia, travada de 31 de maio a 1o de ju- em Porto Alegre, alguns estabelecimentos
nho de 1916, após o que sua esquadra ado- comerciais de propriedade de alemães
tou a estratégia fleet in being, preservando ou de seus descendentes foram pilhados,
seus navios nas bases do Mar Báltico (Kiel invadidos e queimados, enquanto no Rio
e Danzig, por exemplo), o que decretou o de Janeiro as pessoas desfilavam pelas ruas
fim da participação do Almirante Tirpitz, em protesto, realizando atos semelhantes
substituído posteriormente. aos ocorridos no extremo sul do País.
A posteriori, o Império Alemão ex- Lauro Muller não resistiu às pressões e,
pediu, em 31 de janeiro de 1917, uma contrário a uma possível mudança de ati-
Notificação de Bloqueio (conhecida pelo tude do governo em prol dos americanos,
Ministério da Relações Exteriores do Bra- renunciou ao cargo em 3 de maio. Dois
sil em 9 de fevereiro), sob o argumento dias após, Nilo Peçanha assumiu a pasta,
de dar uma resposta ao povo alemão ao prenunciando alterações na política exter-
empregar todos os recursos disponíveis na em apoio aos EUA.
para acelerar o desfecho da guerra, dando Os protestos brasileiros encaminhados
ênfase ao emprego maciço dos U-boats. à Embaixada e aos Consulados alemães,
Entre outros temas, tal notificação sus- em razão das ações que determinaram
pendia algumas restrições, antes obede- o naufrágio do Paraná, não surtiram
cidas nas operações de mar, como, por efeito algum. Como consequência, em
exemplo, intimação prévia, verificação 11 de abril, o Brasil rompeu as relações
de carga e auxílio a náufragos de países comerciais e diplomáticas com a Ale-
neutros, ou seja, decretava um bloqueio manha e tomou posse, posteriormente,
irrestrito no mar. O governo brasileiro dos navios alemães surtos em portos
protestou, na data do recebimento, contra brasileiros. À MG foi atribuída a tarefa de
a decisão alemã. salvaguardá-los, para evitar as já iniciadas
Em 3 de abril de 1917, o vapor brasi- depredações. Esses navios foram alvos
leiro Paraná, pertencente à Companhia de de disputas entre os Aliados para que o
Comércio e Navegação, carregado com Brasil os cedesse para transporte de tropa
café e navegando no Canal da Mancha, e material, entre outros fins, e a decisão
foi torpedeado e afundado por um sub- foi tomada em 6 de dezembro de 1917, em
marino alemão a poucas milhas do Cabo favor dos franceses14, somente após nossa
Barfler, na França, resultando na morte entrada na guerra.
de três tripulantes. Na ocasião, o navio Em 6 de abril, o Congresso americano
deslocava-se em marcha reduzida, com já havia declarado estado de guerra à
as luzes de navegação acessas e com o Alemanha, por não ter concordado com o
nome do País bem visível, além de ostentar bloqueio supramencionado e pelos torpe-
a bandeira brasileira, de acordo com as deamentos de alguns de seus navios. Em
14 Após a retirada dos ingleses e norte-americanos da disputa, o Brasil assinou um convênio com a França
para o afretamento de 30 navios ex-alemães, pelo prazo de um ano, a partir de 31 de março de 1918. Em
contrapartida, além do pagamento pelo frete, os franceses se comprometeram a comprar, durante a vigência
do convênio, 100 milhões de francos em mercadorias nacionais e mais dois milhões de sacas de café.
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Aché, integrada por militares brasileiros francês. Durante as ações, foi promovido
e enviada à França, em janeiro de 1918, a capitão por bravura, o que, mais tarde, o
sob o comando do General Napoleão Fe- qualificaria para atingir a mais alta patente
lipe Aché, para operar junto ao Exército do EB, o posto de marechal.
francês, conhecer as modernas técnicas Segundo Luiz Vinhosa, em O Brasil e
de organização e combate empregadas no a Primeira Guerra Mundial, obra funda-
front ocidental e inteirar-se da doutrina mentada em documentos oficiais, o envol-
militar francesa e de seus armamentos, vimento de aviadores brasileiros iniciou-se
visando a uma possível aquisição pelo com um terrível equívoco, que levou um
EB. Fruto dos trabalhos dessa comissão, bom tempo para ser desfeito, motivado
que continuou com atribuições após o por um comentário do Rei George V, que,
armistício, o Brasil contratou, em 1919, a em 27 de novembro de 1917, recebeu em
vinda da Missão Francesa para disseminar audiência o ministro brasileiro Fontoura
conhecimentos para as escolas militares da Xavier. Ao dizer que via com bons olhos
nossa Força Terrestre. Em contrapartida, o Brasil combatendo com os Aliados, o
o País daria preferência à França na com- monarca sugeriu o envio de aviadores à
pra de armas e equipamentos bélicos em Inglaterra para instruções, mas tal suges-
futuras negociações. tão foi interpretada como uma sugestão à
Entre as diversas ações realizadas pelos participação do Brasil em ações aéreas.
integrantes da Comissão, consta a partici- O fato distorcido foi apresentado ao
pação de oficiais brasileiros incorporados Itamaraty como um convite do rei e logo
em unidades do Exército francês, que divulgado pela imprensa. No entanto, o
combatiam na frente ocidental – região rei na Inglaterra não tinha poder de de-
da França e Bélgica. O Tenente Chris- cisão, situação que prevalece até os dias
tóvão de Castro Barcelos, por exemplo, de hoje. O Foreign Office22, ao conhecer
comandou um pelotão do 17o Regimento a matéria, tratou de informar ao governo
de Dragões – Infantaria a Cavalo – quando brasileiro que os aviadores não poderiam
da perseguição a tropas alemãs que se participar por diversas razões, como, por
evadiam da Bélgica. Finda a 1a GM, per- exemplo, excesso de pessoal e carência
maneceu na França para cursar a Escola de equipamentos, que não pareciam ser os
Militar de Saint-Cyr, retornando ao Brasil reais problemas, dado que havia um alto
em 1919. O militar teve uma carreira número de baixas de aviadores em com-
promissora e rápida, sendo promovido a bate. O ministro das Relações Exteriores
general de brigada em setembro de 1932. avaliou que um recuo diante dessa situa-
Outra grande participação junto ao ção deixaria o governo em maus lençóis,
Exército francês foi a do Segundo-Tenente pois os aviadores já estavam prontos para
José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque21, a missão. Depois de muitas conversas e
integrante da Comissão supramenciona- telegramas, em nome da antiga amizade
da, que estagiou na Escola Militar em entre os dois países, ficou autorizada a ida
Saint-Cyr e, em 1918, foi designado para de dez aviadores, mas para treinamento.
comandar um pelotão de um esquadrão Ao final, seguiram para a Inglaterra
do 4o Regimento de Dragões do Exército seis oficiais aviadores (um deles do
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23 Na página 263 de História Naval Brasileira, Volume Quinto, Tomo 1B, tem-se a informação da ida de
13 oficiais para a Inglaterra.
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24 Acometido por doença em Cherbourg, França, retornou ao Brasil, deixando o comando com o seu imediato.
25 Ex-Valésia – navio alemão arrestado e semissabotado, que necessitou de grandes reparos e consertos para
se transformar em navio-tênder.
26 Anos mais tarde, já como integrante do Quadro de Oficiais do Corpo de Fuzileiros Navais, veio a exercer
o cargo de comandante-geral.
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Chegada/Saída
Navio Saída Destino Chegada Observações
Salvador
24 julho – fundeio
Laurindo Pitta 8 julho ND/ND Salvador ND
em F. Noronha
ND – Não determinado
27 O carvão nacional continha muito enxofre e não era adequado para o uso nos navios.
28 Em 14 de junho, o CT Rio Grande do Norte atracou no Recife para carregamento de mantimento para todos
os contratorpedeiros, ali permanecendo por mais de um mês.
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A DNOG iniciou seu regresso ao Brasil Entretanto enfrentou por vários anos,
partindo de Gibraltar em 28 de abril de no campo diplomático, os impulsos
1919 e escalando em São Vicente, onde imperialistas dos ingleses e franceses
aguardou a chegada do Rio Grande do e, em menor grau, dos americanos. No
Norte, que se atrasara, assim como do campo interno, além do Contestado, se
Belmonte, que se integrariam à Força. Na deparou com políticos e personalidades
singradura até Fernando de Noronha, a proeminentes, que incentivaram, durante
Divisão passou pelos mesmos problemas a neutralidade, a participação do Brasil na
ocorridos no seu deslocamento para a guerra. Felizmente, o governo de Vences-
África, porém sem o perigo de ataques lau Brás a sustentou o quanto pode, até o
de submarinos. momento em que o Império alemão iniciou
Em 23 de maio, atracou em Recife, uma campanha de agressão com os seus
onde já se encontra- U-boats, promoven-
va o Rio Grande do do afundamento
Sul, sendo recebida Os integrantes da DNOG dos navios da frota
festivamente pela mercante brasileira,
população local. A 4
não puderam mostrar prejudicando ainda
de junho, demandou o seu valor no teatro de mais nossa comba-
a cidade do Rio de operações, mas perante lida economia.
Janeiro, chegando Depois de decla-
em 9 de junho, sob o povo brasileiro deram rar estado de guerra
a escolta de vários provas de determinação, aos alemães e ali-
navios, quando en- nhar-se aos Aliados,
tão desfraldou a flâ-
honradez e devoção em decisão tomada
mula de “Fim de em atender ao chamado tempestivamente
Comissão”. Missão da Nação nos encontros de
cumprida32. Paris, o Brasil acor-
dou a participação
CONSIDERAÇÕES FINAIS de forças militares no Velho Continente,
a despeito das precaríssimas condições
Como vimos, no início da 1a GM o em que se encontravam suas Forças Ar-
País atravessava, havia algum tempo, madas. Ao EB foram confiadas missões
graves crises, principalmente de ordem que dependiam somente dos seus recursos
social e econômica. Suas Forças Arma- humanos especializados, que foram cum-
das, relegadas a segundo plano desde o pridas a bom termo e de forma gloriosa.
governo de Campos Sales, não tinham Entretanto, coube à MG o fardo maior em
material de reposição, equipamentos, honrar as cores nacionais.
armamentos e tampouco recursos hu- Como nas participações anteriores em
manos em condições operacionais para eventos históricos nacionais, os bravos
um enfrentamento de crises externas, homens do mar receberam essa missão e
sobretudo em simultâneo com as que se empenharam com o máximo vigor para
combatia internamente, como a Revolta cumpri-la, fazendo uso do que tinham em
do Contestado. disponibilidade de navios de guerra, recur-
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