1
16
                ENDOGAMIA E HETEROSE
                 Joo Carlos Bespalhok F, Edson Perez Guerra e Ricardo de Oliveira
                                    INTRODUO
       As primeiras informaes sobre endogamia e heterose vm de hibridadores do
sculo XVIII e XIX. O pesquisador alemo Koelrenter (1776) foi o primeiro a observar
o vigor de hbrido entre indivduos no aparentados. Charles Darwin (1887) publicou
um livro sobre fertilizao cruzada e autopolinizao. Darwin observou em seus estudos
que o cruzamento promovia um ganho em vigor nas descendncias e que
autofertilizao produzia uma perda de vigor. Dois pesquisadores americanos, Shull
(1908) e East (1908) desenvolveram a base cientfica da endogamia.
       Neste captulo vamos estudar a endogamia e a heterose, que so a base da
produo de variedades hbridas.
                                    ENDOGAMIA
       A endogamia  definida como todo sistema de acasalamento que promove o
aumento de homozigose nas descendncias, como por exemplo, o cruzamento entre
parentes. A endogamia  observada tanto em plantas como em animais.
       Existem vrios tipos de endogamia:
 a natural  que pode ser observada nas plantas autgamas;
 artificial  no intencional, quando populaes algamas so reproduzidas com
   pouco nmero de indivduos, ou seja, populaes pequenas, obrigando o
   acasalamento entre parentes; e
 artificial - intencional  quando deseja-se forar o aumento de homozigose nas
   descendncias, por exemplo na formao de raas em animais ou em linhagens
   endogmicas em plantas.
                                                                                   2
       O Coeficiente de endogamia (F)  a probabilidade de dois alelos, em um nico
loci, tomados ao acaso de uma populao, serem idnticos por acendncia. O
coeficiente de endogamia varia de acordo com o sistema de acasalamento.
                           Sistemas regulares de endogamia
       Autofecundao (S)  as autofecundaes sucessivas so o mtodo mais rpido
para atingir endogamia mxima. Em programas de hbridos de linhagens, a obteno de
linhagens puras  por meio de fecundaes sucessivas.
       Irmos germanos (IG)  consiste em cruzar plantas aos pares, de tal modo que
as descendncias tm os dois pais em comum.
       Meios irmos (MI)  obtida coletando-se sementes de planta me fertilizada de
plen de outras plantas da populao. Deste modo, as prognies tm a me em comum e
os pais so diferentes.
     SISTEMA DE ENDOGAMIA                     COEFICIENTE DE ENDOGAMIA
     Autofecundao (S)                                   F(S) = (1/2) (1+F)
     Irmos germanos (IG)                               F(IG) = (1/4) (1+2F+F)
     Meios irmos (MI)                                F(MI) = (1/8) (1+6F+ F)
                 F =  o coeficiente de endogamia da gerao anterior.
                F =  o coeficiente de endogamia de duas geraes atrs.
Endogamia: S > IG > MI
                             Conseqncias da endogamia
       Como conseqncia da endogamia, temos o aumento da homozigose nas
descendncias oriundas de cruzamentos endogmicos.
       Em algumas espcies, principalmente em animais e plantas algamas, a
endogamia pode levar  depresso endogmica. A depresso endogmica  a perda de
vigor na descendncia ocasionado pelo aparecimento de genes detrimentais e letais em
condio homozigota nas descendncias (carter com algum nvel de dominncia).
                                                                                       3
       Um bom exemplo do efeito da depresso endognica  o milho. Plantas de milho
obtidas por autofecundao apresentam desempenho muito inferior a plantas no
endogmicas. Elas apresentam menor altura, menor produtividade e menor fertilidade.
       Para o melhoramento de plantas, a principal importncia da endogamia  a
fixao gentica de um gentipo. Em outras palavras, a descendncia ser idntica 
planta me. Isto acontece quando  feita a autofecundao de uma planta homozigota.
Na produo de hbridos de milho, essa fixao  utilizada na obteno e manuteno de
linhagens endogmicas, que sero cruzadas entre si para darem origem aos hbridos.
       Alm da fixao gentica, a endogamia permite expor nas prognies resultantes
os genes detrimentais ou letais escondidos na condio heterozigota. Desse modo pode-
se fazer seleo contra eles.
       Nas espcies algamas, a tolerncia  endogamia varia de espcie para espcie.
Em alfafa, uma espcie autrotetraplide, e cenoura os efeitos so mais prejudiciais,
seguindo-se de milho, diplide. Por outro lado, a cebola, o girassol, as curcubitceas, e
outras espcies, so menos sensveis.
                         HETEROSE (VIGOR DE HBRIDO)
       A heterose  o incremento de vigor de uma planta (ou animal) oriunda de um
cruzamento, de tal modo que se diferencie da mdia dos pais (Destro). Pode ser
observada em vrios caracteres como altura da planta, produtividade, at outras menos
evidentes, como tamanho de clulas, vigor, competitividade.
       A heterose ou vigor de hbrido  tambm definida como a expresso gentica
dos efeitos benficos da hibridao (Ronzeli).  um processo inverso  endogamia.
Pode ser observada tambm em espcies autgamas (arroz, beringela, trigo, tomate,
etc.) que no sofrem prejuzos com a endogamia.
       Endogamia e heterose so fenmenos relacionados, embora opostos.
                                Mensurao da heterose
       Diferentes conceitos podem ser utilizadas para se medir o grau de heterose de
um cruzamento. A heterose tradicional  calculada pela diferena entre o valor do
hbrido (F1) e a mdia de seus pais (P1 e P2).
                                                                                     4
        Heterose tradicional:
               h (%) = F1-(P1+P2/2) x100
                          (P1+P2)
        Um outro conceito que pode ser utilizado  o da helterobiose, que estima o grau
de heterose em relao ao melhor parental (MP).
Heterobiose (%) = F1  MP x100
                                MP
        J na heterose padro, a heterose  estimada em relao a um cultivar padro
(CP).
Heterose padro (%) = F1  CP x100
                                     CP
                                Base gentica da heterose
        A explicao do tipo de ao gnica responsvel pela heterose ainda 
controversa entre especialistas. Existem duas teorias mais comumente citadas para
explicar a heterose.
        A Teoria da Dominncia foi proposta por Bruce (1910). Segundo essa teoria, a
heterose  devida a existncia de dominncia parcial ou total nos genes envolvidos e o
acmulo de heterozigotos de F1 explicaria a heterose.
               AA BB CC dd            +            aa bb cc DD
Valor         10+12+10+5 = 37                  5 + 7 + 8 + 10 = 30
F1                              Aa Bb Cc Dd
Valor                       10+12+10+10 = 42
        A principal objeo a esta teoria  que, teoricamente, seria possvel encontrar
linhas endogmicas (homozigotas) to produtivas como os hbridos, o que nunca foi
observado na prtica. Os defensores dessa teoria, respondem a essa objeo afirmando
que a probabilidade disto ocorrer  muito pequena, pelo grande nmero de genes
envolvidos.
                                                                                     5
        A Teoria da Sobredominncia foi proposta por Shull (1908). Segundo essa
teoria, a heterose ocorre porque o heterozigoto adquire um valor acima de qualquer dos
homozigotos.
                 AA BB CC dd         +              aa bb cc DD
Valor          10+12+10+5 = 37                  5 + 7 + 8 + 10 = 30
F1                             Aa Bb Cc Dd
Valor                       11+13+11+11 = 46
        So muitos os casos em que se detectaram a ao gnica da dominncia, e
muitos poucos casos da ocorrncia de sobredominncia.
                         Utilizao da endogamia e da heterose
        A grande utilizao dos conceitos da heterose e da endogamia no melhoramento
gentico de plantas  o desenvolvimento de cultivares hbridos.
        Atualmente so produzidas sementes hbridas em vrias outras espcies como:
milho, arroz, cebola, sorgo, repolho, tomate, pimento, berinjela, beterrraba e algumas
curcubitceas.
REFERNCIAS
Como citar esse texto:
BESPALHOK F., J.C.; GUERRA, E.P.; OLIVEIRA, R. Endogamia e Heterose. In:
BESPALHOK F., J.C.; GUERRA, E.P.; OLIVEIRA, R. Melhoramento de Plantas.
Disponvel em www.bespa.agrarias.ufpr.br., p.