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Restauracionismo

postura teológica em algumas denonminações cristãs que bucam a restauração do cristianismo inicial da era apostólica
(Redirecionado de Movimento da Restauração)

Restauracionismo ou Primitivismo Cristão é a postura histórico-teológica presente em algumas denominações religiosas que creem que o cristianismo histórico apostatou em algum ponto de sua existência, sendo necessário restaurar o cristianismo primitivo da era apostólica.

Movimentos primitivistas incluem os hussitas,[1] anabatistas,[1] landmarkistas,[1] valdenses insertos no contexto da Reforma Radical e os puritanos.[1][2] Outros movimentos como o Adventismo, o Mormonismo, a Ciência Cristã e as Testemunhas de Jeová (oriundas do Movimento dos Estudantes da Bíblia[3]) procuravam restabelecer uma igreja visível e restaurada conforme os princípios bíblicos.

Embora a presença do restauracionismo seja prevalente no seio protestante, há instâncias católicas de restauracionismo, como a Igreja Vétero-Católica e o Sedevacantismo.

Pressuposto histórico-teológico

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A perspectiva de restauração procura restaurar tudo que Jesus Cristo havia estabelecido porém fora perdido com a Grande Apostasia, diferente do Protestantismo magisterial oriundo da tentativa de reforma da Igreja Católica Romana.

O historiador de teologia Steven L. Ware define "restauracionismo é um complexo de ideias que, implícito e comum a todo o Protestantismo (...) é essencialmente sinônimo de primitivismo." Algum tipo de corrupção teria acontecido no cristianismo e os ensinos dos apóstolos teriam sido influenciados por práticas pagãs.[4]

Também o restauracionismo é chamado de primitivismo cristão. "O primitivismo persiste em um envolvimento mínimo da ação de Deus na história (que se restringiria à vida de Cristo e geralmente ao I século da atividade apostólica) e assim coloca a Igreja do Novo Testamento no I século como modelo para a prática contemporânea."[5]

Adicionalmente, igrejas de origem norte-americana referem-se a si mesmas especificamente como Restauracionista ou Movimento Restauracionista Stone-Campbell, sendo as principais denominações a Igrejas de Cristo, os Discípulos de Cristo e os Cristadelfianos.[6]

Todavia, muitos adeptos da doutrina restauracionista não se identificam como protestantes, católicos ou ortodoxos, mas sim com a igreja primitiva. Em contrapartida, vários protestantes se veem como continuidade ininterrupta, histórica ou marginal (como os batistas adeptos do Landmarkismo), do cristianismo primitivo.

Contraste com outras doutrinas

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Outras doutrinas sobre a história da Igreja são a doutrina da sucessão apostólica e o Sucessionismo Marginal. Na doutrina da sucessão apostólica, adotada pela Igreja Católica Romana, Igreja Anglicana e Igreja Ortodoxa, a legitimidade denominacional é fundada na sucessão do clero. Enquanto no Sucessionismo Marginal, defendido pelo Landmarkismo,[1] o cristinismo puro teria sobrevivido à história através de grupos pequenos e marginais, normalmente tidos como hereges.

Grande Apostasia

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A doutrina restauracionista prega que durante a história houve uma Grande Apostasia no Cristianismo. Para alguns, ocorreu em um período específico, como após a morte do último apóstolo de Cristo, ou o reinado de Constantino, enquanto para outros, como protestantes em geral, a apostasia se implantou gradativamente e a longo prazo durante os séculos da era cristã.

História da doutrina Restauracionista

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Restauracionismo na Europa Continental

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Durante a Idade Média movimentos populares como os valdenses, franciscanos, hussitas pretendiam restaurar a simplicidade do cristianismo original, vontade expressa nas profecias de Joaquim de Fiori.

A própria Reforma foi baseada em uma ideologia restauracionista. Lutero proclamava em seu O cativeiro babilônico da Igreja o fim de uma era de corrupção e retorno ao cristianismo neo-testamentário. Heinrich Bullinger defendia que as ideias dos reformadores não eram novidade, mas sim doutrinas olvidadas ou corrompidas.[7] Todavia, a reforma magisterial (Luteranismo, Calvinismo e Anglicanismo) via-se uma continuação do cristianismo histórico, aceitando a validade dos cânones dos primeiros concílios ecumênicos e a literatura patrística desde que estivessem de acordo com as Escrituras. O ideal era reformar a Igreja, rejeitando práticas e doutrinas corrompidas, mas manter práticas que, mesmo não estando presente na Bíblia, não estivesse em oposição a ela.

Diferente dos reformadores magisteriais e partindo a uma postura que primou ser chamada de Reforma Radical os anabatistas, socinianos e schwelkenfelders rejeitaram qualquer necessidade de continuação histórica, mas sim restaurar suas perspectivas do cristianismo primitivo. Para eles o ideal seria reconstruir a igreja primitiva, praticar somente o que fosse mencionado nas Escrituras, sem necessidade de aderir aos preceitos históricos dos concílios ou da literatura patrística.

Mesmo entre os reformadores radicais a doutrina restauracionista não foi muito popular, a partir do século XVII a perspectiva histórico-teológico preferida foi a da sucessão secreta ou marginal. Essa doutrina emergiu baseada em escritos de Thieleman[8] que retratava os mártires do cristianismo e a perseguição dos anabatistas, e Gottfried Arnold que argumentava que ao longo da história do cristianismo houve grupos marginais tão legítimos quanto as igrejas estabelecidas.[9]

Restauracionismo Anglo-Americano

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No século XIX houve a ressurgência da doutrina restauracionista nos Estados Unidos e Inglaterra. Nesse último país o pastor presbiteriano Edward Irving proclamava uma restauração espiritual do cristianismo primitivo, enquanto John Nelson Darby e outros irmãos de Plymouth pretendiam restaurar um cristianismo simples e adenominacional, usando uma interpretação dispensacionalista da história.

Nessa época, durante o Segundo Grande Despertar nos Estados Unidos emergiram movimentos restauracionistas, primeiro na fronteira agrícola na região dos Apalaches, onde os Campbell e Barton Stone pregavam um cristianismo não credal e sem barreiras denominacionais. Posteriormente, nesse mesmo contexto e região, movimentos como o Mormonismo, o Adventismo e as Testemunhas de Jeová procuravam restabelecer uma igreja visível e restaurada conforme os princípios bíblicos.[10]

Adventistas do Sétimo Dia

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Os Adventistas do Sétimo Dia que surgiram a partir do Segundo Grande Reavivamento começado por William Miller, creem que são a Igreja Remanescente a partir da Igreja Cristã do Primeiro Século, creem nos escritos de Ellen Gould White como a revelação de Deus para o retorno a ensinos bíblicos como: a guarda do Sábado (que segundo eles é uma restauração do verdadeiro cristianismo), além disso pregam o estado inconsciente dos mortos (Eclesiastes 9:10), a regulação dietética do Antigo Testamento, e a interpretação do santuário de Daniel 8.

Testemunhas de Jeová

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Charles Taze Russell

As Testemunhas de Jeová acreditam que algumas denominações cristãs surgiram a partir de uma Grande Apostasia (1 Timóteo 4:1), sendo essas 'igrejas' parte de Babilônia, a Grande, o império da religião falsa, do livro de Apocalipse, e que a fé original pode ser restaurada através do estudo intensivo da Bíblia abençoado por Deus e do entendimento que seu Corpo Governante ou "Escravo Fiel e Prudente" promove. (Mateus 24:45). Elas continuaram a desenvolver doutrinas que consideram ser uma restauração da Igreja primitiva. Concentraram-se em diversos pontos-chave doutrinários que consideram um retorno ao cristianismo primitivo, derivados da Bíblia, incluindo a ênfase maior sobre o uso do nome de Deus (YHWH) que usualmente chamam de Jeová (Salmos 83:18); a rejeição do trinitarismo (1 Coríntios 15:28), acreditam que Jesus não faz parte de uma trindade, mas que atualmente é um ser divino que está direita de Deus, o Pai; a rejeição do conceito atual de inferno de fogo (Atos 2:31 e Jó 14:13) como um lugar de tormento eterno (Romanos 6:23 e 2 Tessalonicenses 1:9); estrita neutralidade nos assuntos políticos, elas não votam (João 17:16); abstinência de guerra, pois acreditam que um cristão não deve pegar em armas e nem matar o seu próximo (João 13:34,35 e Mateus 16:52), e a crença na manifestação iminente do Reino de Deus, algo que falam bastante em seu serviço de pregação de casa em casa (Daniel 2:44); na Terra com a transformação desta num futuro restabelecido Paraíso (Salmos 37:29). Normalmente comemoram festas de casamento, mas não comemoram nenhum outro tipo de festividade comemorativa comum, podendo-se citar como exemplos: Aniversários, Natal, Páscoa etc, pois consideram como de origem pagã conforme era também considerado por servo de Deus no passado segundo a Bíblia. O nome atual do grupo só surgiu em 1931, quatorze anos após a grande cisma de 1917. Suas origens remontam ao grupo de estudo independente da Bíblia liderado por Charles Taze Russell nos anos 1870.

Santos dos Últimos Dias (Mórmons)

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Joseph Smith, Jr

No entendimento dos mórmons, ou seja, dos membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a Bíblia Sagrada não se constitui como o único volume de escrituras preparado pelos servos de Deus, de modo que o Pai Celestial pode se revelar continuamente através de profetas (homens divinamente autorizados e designados como testemunhas especiais de Cristo) e revelar novas escrituras a qualquer momento, se assim o desejar. Assim, à Bíblia Sagrada adicionam-se outros livros de escritura, tão inspirados quanto ela e sem a finalidade de substituí-la, mas de complementá-la. Em especial, um volume de escrituras que relata os acontecimentos dos cristãos que viveram na América pré-colombiana, denominado O Livro de Mórmon: Outro Testamento de Jesus Cristo, se mostra como obra de relevante consideração entre os mórmons, a ponto de serem denominados dessa forma graças à sua crença nesta outra escritura sagrada, em conjunto com a Bíblia. Para os Santos dos Últimos Dias a restauração abrange dois princípios básicos: primeiramente, a restauração do sacerdócio, ou seja, da autoridade eclesiástica advinda diretamente de Jesus Cristo, seguindo o tipo de organização que Cristo usara quando estava na Terra em seu próprio ministério mortal, isto é, profetas, apóstolos e outros oficiais autorizados. Outro aspecto importante da restauração é a construção de templos sagrados e a qualificação de ordenanças (rituais sagrados), realizados através da autoridade do sacerdócio acima explicado, de modo a permitir que as famílias possam estar unidas por toda a eternidade. Segundo os Mórmons, no início do século XIX, Moisés, Elias, João Batista, Pedro, Tiago, João e vários outros profetas, apóstolos e seres celestiais teriam vindo direto do céu e entregado o Sacerdócio Aarônico e o Sacerdócio de Melquisedeque ao seu primeiro líder, o profeta Joseph Smith, restaurando assim a ordem eclesiástica da Igreja primitiva, a autoridade necessária para oficiar as ordenanças sagradas e e a possibilidade do recebimento de novas revelações através de profetas e apóstolos divinamente inspirados.

Pentecostalismo

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Quanto ao movimento pentecostal, possuía uma concepção restauracionista em sua origem e via o batismo no Espírito Santo, manifesto na glossolalia, como prova da restauração do cristianismo primitivo.[11]

Ambrose J. Tomlison, pioneiro pentecostal e fundador da Igreja de Deus, Cleveland e da Igreja de Deus da Profecia, via a história do cristianismo como um desenrolar de restaurações movidas por Deus: a justificação pela de influência Luterana, a conversão pessoal e/ou pietismo Wesleyano, o movimento de Santidade metodista que culminaram no estabelecimento de suas igrejas em 1903, com a manifestação das novas línguas.

A pregadora Aimee McPherson pregou um sermão alegórico em 1917 cuja função do pentecostalismo seria restaurar o poder carismático do cristianismo primitivo.

Nos anos 1950 surgiu o movimento de "chuva tardia" que se via como uma última dispensação restauracionista de dons e cura divina. Um dos expoentes desse movimento foi William Marrion Branham.

Dentro do pentecostalismo surgiu o movimento apostólico, pregando a restauração do ofício do apóstolo no cristianismo contemporâneo. O termo também é utilizado por grupos mais recentes, descrevendo o objetivo de restabelecer o cristianismo na sua forma original, como alguns Restauracionistas Carismáticos antidenominacionais, que surgiram na década de 1970 no Reino Unido[12][13] e em outros lugares.

Outros

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A descoberta da biblioteca de Nag Hammadi no Egito fez com que vários textos gnósticos se tornassem públicos e movimentos neognósticos surgiram pregando que o cristianismo neotestamentário tenha sido uma forma corrupta que reprimiu o cristianismo gnóstico.

Entre grupos teosóficos e místicos há duas correntes principais quanto à história teológica. Uns acreditam em um conhecimento transmitido secretamente através dos séculos, enquanto outros veem uma restauração de um conhecimento perdido há tempos, como o caso da Igreja Cristã Primitiva.

Doutrinas e Práxis

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Os diversos movimentos restauracionistas visam objetivos distintos para restauração:

Ver também

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Referências
  1. a b c d e C. Leonard Allen and Richard T. Hughes, "Discovering Our Roots: The Ancestry of the Churches of Christ," Abilene Christian University Press, 1988, ISBN 0-89112-006-8
  2. A Reforma Radical foi uma resposta do século XVI em que se acreditava ser tanto a corrupção na Igreja Católica Romana e do movimento de expansão do Magistério Protestante liderado por Martinho Lutero e muitos outros. Começando na Suíça, da Reforma Radical nasceu muitos grupos anabatistas em toda a Europa
  3. «Estudantes da Bíblia» 
  4. Ware, Steven L. "Restorationism in Classical Pentecostalism" em New Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements. Zondervan, 2002.
  5. SMITH, James K.A. Who is Afraid of Postmodernism?, Grand Rapids: Baker Academic, 2006. p.128-130
  6. Clark, Elmer T.The Small Sects in America. Nashville: Cokesbury Press, 1937
  7. Bullinger, Heinrich. Alte Glaube. Zurique, 1539.
  8. van Braght, Thieleman J. Märtyrerspiegel oder Der blutige Schauplatz oder Märtyrerspiegel der Taufgesinnten oder wehrlosen Christen, die um des Zeugnisses Jesu, ihres Seligmachers, willen gelitten haben und getötet worden sind, von Christi Zeit bis auf das Jahr 1600. Dordrecht 1660.
  9. Arnold, Gottfried. Unparteiische Kirchen und Ketzerhistorie''. Wittenberg,1699
  10. Hughes, 1988
  11. Blumhofer, Edith L.Pentecostal Currents in American Protestantism Chicago: University of Illinois Press, 1999.
  12. Evangelicalism in modern Britain: a history from the 1730s to the 1980s, David W. Bebbington, pub 1995, Routledge (UK), ISBN 0415104645, pg 230,231; 245-249
  13. Alternative Religions: A Sociological Introduction, Stephen J. Hunt, pub 2003, Ashgate Publishing, Ltd; ISBN 0754634108, pg 82,83

Fontes

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