Falcão (política)
Falcão da guerra[1] (do inglês war hawk; tradução literal: 'gavião de guerra') ou simplemente falcão, no contexto político norte-americano, é um termo geralmente aplicado àqueles membros da Câmara dos Representantes (ou do próprio governo dos Estados Unidos) que, diante de uma situação de tensão ou disputa, especialmente em política externa, tendem a optar por uma retórica mais agressiva (a chamada diplomacia do porrete ou das canhoneiras) ou pela solução militar. Na posição oposta à dos "falcões", estão os chamados "pombos",[2][3][4][5] mais favoráveis à resolução de conflitos através de soluções negociadas diplomaticamente. A referência a pombos e falcões segue uma analogia do comportamento dessas aves: falcões e gaviões são predadores de outros animais, enquanto os pombos se alimentam de grãos e frutos, e a pomba é um dos símbolos universais da paz.
História
editarA expressão war hawks foi usada durante o debate que antecedeu a guerra anglo-americana de 1812, para designar os parlamentares favoráveis à guerra contra a Grã-Bretanha. Sua invenção costuma ser atribuída ao proeminente congressista da Virgínia, John Randolph,[7] opositor tenaz de uma guerra dos Estados Unidos contra o Reino Unido e suas colônias (Canadá Superior, Canadá Inferior, Nova Escócia, Bermuda e Terra Nova). Os parlamentares do grupo favorável à guerra pertenciam ao Partido Democrata-Republicano e, em sua maioria, eram originários de estados do Sul e do Oeste dos Estados Unidos.[8] Também eram parte do grupo mais antigo do Congresso.[9] Defendiam a guerra contra a Grã-Bretanha em razão da interferência da Marinha Britânica na atividade de navegação dos Estados Unidos, o que prejudicava a economia, além de ferir o prestígio do país. Os estados do Oeste, sem saída para o mar, não eram diretamente afetados pelo problema, mas seus representantes acreditavam que os britânicos estivesssem instigando os índígenas da fronteira a atacar os assentamentos dos colonos americanos. Por isso, também defendiam a invasão do Canadá Britânico, visando acabar com as ameaças e punir os britânicos.[10]
No entanto, nunca houve uma lista "oficial" de falcões da guerra. Conforme observa o historiador Donald Hickey, os estudiosos divergem sobre se, na época, haveria mesmo alguém que pudesse ser classificado como um "falcão",[11] e pelo menos um estudioso acredita que a denominação "não seja mais apropriada",[12] embora a maioria dos historiadores continue a usá-la para se referir a um grupo de aproximadamente doze membros do Décimo Segundo Congresso dos Estados Unidos cujo líder era o presidente da Câmara dos Representantes, Henry Clay, do Kentucky. John C. Calhoun da Carolina do Sul teria sido outro notável falcão.[13] Ambos se tornariam grandes atores na política norte-americana durante décadas. Outros políticos tradicionalmente identificados como falcões são Richard Mentor Johnson, de Kentucky, William Lowndes e Langdon Cheves, da Carolina do Sul, Felix Grundy, do Tennessee, e William W. Bibb, da Geórgia.[6]
A ideia de que essa algo nebulosa facção congressional pudesse ter pressionado o presidente James Madison a iniciar um conflito armado com a Grã-Bretanha é tão antiga quanto duvidosa. Historiadores, como Clement Eaton, afirmam que Madison e o Secretário do Tesouro, Albert Gallatin, acreditavam que os Estados Unidos não estavam preparados para a guerra e tentaram, em vão, derrotar o movimento.[6] No entanto, como observa J.C.A. Stagg, a existência de tal pressão é improvável, considerando-se a natureza das relações entre os poderes legislativo e executivo no início da República. Na época, o Congresso era fracamente organizado e, em geral, não tomava a iniciativa na formulação de políticas. Era o presidente quem definia a agenda do legislativo, fornecendo às comissões da Câmara dos Representantes recomendações de políticas a serem votadas em plenário.[14]
- ↑ E para o New York Times, nada ? Por Marinilda Carvalho. Observatório da Imprensa, 15 de novembro de 2005.
- ↑ Pombos e falcões. Por Luís Nassif. GGN, 24 de julho de 2006.
- ↑ A luta pelo pós-Saddam Hussein Arquivado em 8 de dezembro de 2015, no Wayback Machine.. Por Isam Al-Khafaji. Le Monde diplomatique.
- ↑ "Plan of Attack": A crónica de Bob Woodward de uma guerra anunciada. Por Pedro Ribeiro. Público, 27 de abril de 2004.
- ↑ Carvalhas desafia Governo a apresentar Orçamento Rectificativo. Por Patrícia Coelho Moreira. Público, 30 de março de 2003.
- ↑ a b c Eaton 1957, p. 25.
- ↑ Embora geralmente atribuída a Randolph, há registro do uso da expressão war hawks desde, pelo menos, 1792. Ver Hickey 1989, p 336.
- ↑ Na época, o Oeste correspondia aos estados de Kentucky, Tennessee e Ohio (o Território do Noroeste ainda não tinha votos no Congresso).
- ↑ Brown 1964, p. 137-151.
- ↑ Horsman 1962, p. 13.
- ↑ Hickey 1989, p. 334.
- ↑ Smith 1972, p. 60.
- ↑ Hickey 1989, p. 29.
- ↑ Stagg 1976, p. 557–585.
Bibliografia
editar- Brown, Roger H. (junho de 1964). The War Hawks of 1812: An Historical Myth. [S.l.]: Indiana Magazine of History, vol. LX. pp. 137–151.1964
- Horsman, Reginald (1962). The Causes of the War of 1832. [S.l.]: A.S. Barnes
- Eaton, Clement (1957). Henry Clay and the Art of American Politics. [S.l.]: Little, Brown and Company
- Hickey, Donald (1989). The War of 1812: A Forgotten Conflict. [S.l.]: University of Illinois Press
- Smith, Daniel M. (1972). The American Diplomatic Experiencet. [S.l.: s.n.]
- Stagg, J.C.A. (1976). James Madison and the "Malcontents": The Political Origins of the War of 1812. [S.l.]: The William and Mary Quarterly