Avant-pop
Avant-pop é um termo cunhado para definir um estilo de música pop que ao mesmo tempo em que é experimental, nova e diferente de outros estilos[1], carrega uma acessibilidade imediata ao ouvinte[2]. O termo sugere uma combinação da sensibilidade avant-garde com elementos existentes da música popular em serviço de visões artísticas novas ou idiossincráticas.[3]
Definição
editarO termo "avant-pop" tem sido utilizado para categorizar a música que balanceia o uso de uma visão avant-garde com elementos estilísticos inerentes à música popular, e que também questiona as convenções tradicionais de forma ou estrutura.[3] O escritor Tejumola Olaniyan descreve a "música avant-pop" como transgressora "das barreiras de estilos já estabelecidos, dos significados que esses estilos referenciam, e das normas sociais que tais estilos perpetuam ou insinuam."[1] O autor David Horn descreve o "avant-pop" na identificação artistas idiossincráticos trabalhando em "um espaço liminar entre música clássica contemporânea e muitos dos gêneros de música popular que se desenvolveram na segunda metade do século XX." Ele percebeu que a base do avant-pop está no experimentalismo, assim como sua incorporação pós-moderna e não-hierárquica de variados gêneros como o pop, electrocnica, rock, música clássica e jazz.[3]
Paul Grimstad do The Brooklyn Rail escreveu que o avant-pop é a música que "re-sequencia" os elementos da estrutura da música "assim (a) o charme da canção não é perdido, contudo (b) essa mesma acessibilidade leva a elementos mais estranhos fundidos no projeto."[2] O Tribeca New Music Festival define o "avant-pop" como "a música que puxa sua energia de ambas música pop e formas clássicas."[4] O termo tem sido usado em outros lugares pelo crítico literário Larry McCaffery para descrever "os mais radicais e subversivos talentos literários da nova onda pós-moderna."[5]
História
editarNos anos 60, enquanto a música popular começava a ganhar importância cultural e a questionar seu status como um meio de entretenimento comercial, os músicos começaram a se utilizar do avant-garde pós-guerra como inspiração.[3] Em 1959, o produtor musical Joe Meek gravou "I Hear a New World" (1960), o qual Jonathan Patrick da webzine Tiny Mix Tapes chama de "momento seminal em história de ambos avant-pop e música eletrônica [...] uma coleção de vinhetas dreamy pop, adornadas com ecos baixos e sons de fita danificada", o que foi totalmente ignorado no período de seu lançamento.[6] Outras produções pioneiras de avant-pop incluem a canção de 1966 dos Beatles, "Tomorrow Never Knows", que incorporou técnicas da musique croncrète, composição avant-garde, música indiana e manipulação de som eletro-acústica, tudo em um formato pop de 3 minutos; a integração das ideias músicais minimalistas de drone music de La Monte Young no som do Velvet Underground, beat poetry e o movimento pop art são outros grandes exemplos do período. [3]
No fim dos anos 60, na Alemanha, surge uma cena de avant-pop experimental, com influentes artistas como Kraftwerk, Can e Tangerine Dream, trazendo inspirações do free jazz, música acadêmica alemã e do pop rock anglo-americano.[3] De acordo com David McNamee do The Quietus, o álbum An Electric Storm do grupo eletrônico White Noise, de 1968, é uma "obra-prima incontestável dos primórdios do avant-pop".[7] Nos anos 70, o rock progressivo e a música post-punk apresentaria novas fusões de avant-pop, incluindo os trabalhos de Pink Floyd, Genesis, Henry Cow, This Heat e o Pop Group. Mais artistas contemporâneos de avant-pop incluem David Sylvian, Scott Walker e Björk, os quais transgrediram além das normas da música pop comercial com experimentações de vocais e modos inovadores de expressão.[3]
Alguns outros artistas que podem ser creditados como pioneiros no avant-pop incluem Lou Reed do Velvet Underground[8], a cantora Kate Bush, a artista performática Laurie Anderson[9], o músico de art pop Spookey Ruben[10] e Eric Copeland do Black Dice[11]. Em 2020, artistas contemporâneos trabalhando em áreas de avant-pop incluem Sevdaliza Julia Holter, Grimes, Holly Herndon, SOPHIE, Charlie XCX, Arca, Oneohtrix Point Never, Slayyyter e FKA Twigs.[12][3]
Ver também
editarReferências
editar- ↑ a b Olaniyan, Tejumola (29 de outubro de 2004). Arrest the Music!: Fela and His Rebel Art and Politics (em inglês). [S.l.]: Indiana University Press
- ↑ a b Grimstad, Paul (4 de setembro de 2007). «What is Avant-Pop?». The Brooklyn Rail (em inglês). Consultado em 30 de julho de 2020
- ↑ a b c d e f g h Horn, David (5 de outubro de 2017). Bloomsbury Encyclopedia of Popular Music of the World, Volume 11: Genres: Europe (em inglês). [S.l.]: Bloomsbury Publishing USA
- ↑ Kozinn, Allan (11 de maio de 2006). «'Emerging Avant-Pop': From Charles Ives to Frank Zappa». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331
- ↑ McCaffery, Larry (1993). Avant-pop: Fiction for a Daydream Nation (em inglês). [S.l.]: University of Alabama Press
- ↑ «Joe Meek's pop masterpiece I Hear a New World gets the chance to haunt a whole new generation of audiophile geeks». Tiny Mix Tapes (em inglês). Consultado em 30 de julho de 2020
- ↑ «The Quietus | Features | It Started With A Mix | The Best Of The BBC Radiophonic Workshop On One Side Of A C90». The Quietus (em inglês). Consultado em 30 de julho de 2020
- ↑ «Lou Reed's New Tribute to His Teacher, Writer Delmore Schwartz». Tablet Magazine (em inglês). 29 de outubro de 2012. Consultado em 30 de julho de 2020
- ↑ «Laurie Anderson, more than 'just a storyteller'». Star Tribune. Consultado em 30 de julho de 2020
- ↑ «Avant-Pop Pioneer Spookey Ruben Conducts a Synth Symphony on 'Granma Faye'». Spin. 10 de fevereiro de 2016. Consultado em 30 de julho de 2020
- ↑ McGee, Alan (18 de novembro de 2008). «Alan McGee: Eric Copeland, the avant-pop pioneer». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077
- ↑ Correia, Vitor. «Exitoína · Mês do Orgulho: Conheça artistas trans e não-binários que brilham na música eletrônica». Exitoína. Consultado em 30 de julho de 2020