Sobre este e-book
Quando o coração fala sem reservas, os medos desaparecem. Será que ela terá coragem de enfrentar o medo e se atrever a amar?
Constance Duvergier aprendeu a silenciar o coração, a reprimir o amor impossível que sente por um homem que considera inalcançável. Marcada pelo sofrimento da mãe diante de um amor não correspondido, decidiu se proteger e viver com esse anseio secreto. No entanto, um golpe inesperado na cabeça muda tudo: de repente, Constance se transforma na corajosa heroína de um romance que acabou de ler, uma mulher capaz de confessar e demonstrar sem reservas o que sente.
Michael Pirard recebe a missão de buscar Constance no campo e levá-la a Londres. Ao vê-la ferida, o medo o paralisa, mas nada o desconcerta mais do que vê-la despertar e declarar seu amor com uma paixão que ele jamais poderia imaginar. Aquela não é a jovem reservada e prudente que ele conhecia.
À medida que o destino complica ainda mais a situação, Michael se vê enredado pelo encanto de uma nova Constance: ousada, apaixonada e desinibida. A mulher que antes parecia intocável agora se torna irresistível, despertando nele sentimentos que ele tentou ignorar por tanto tempo.
Mas esse impulso romântico não dura para sempre e, quando Constance recobra a lucidez, se depara com uma realidade inesperada: ela seduziu o homem que não se atreve a amar. Agora, terá que enfrentar não apenas seu próprio coração, mas também o desejo latente de Michael, um desejo que pode mudar tudo.
Mary Heathcliff
Mary Heathcliff es el seudónimo de una escritora de novela romántica. Desde siempre, ha sentido una profunda pasión por la lectura. Se licenció en idiomas y literatura, lo que le proporcionó una base sólida para explorar su amor por la escritura. Posteriormente, cursó una maestría en lingüística, que le brindó herramientas para profundizar en el estudio del lenguaje. Además, cuenta con dos doctorados en el área de la educación. Como lectora de novela romántica, comenzó con autoras clásicas como Johanna Lindsey, Shirlee Busbee y Kathleen Woodiwiss, cuyas novelas ha disfrutado leer y releer. También le encanta explorar obras de autoras menos conocidas pero igualmente interesantes. Su carrera como Mary Heathcliff comenzó en 2009 con la publicación de Vuelve a mí. Desde entonces, ha escrito más de diecisiete novelas y relatos cortos. Si hubiera que resumir las características de su escritura, se podrían destacar los siguientes elementos: * Protagonistas femeninas fuertes y resilientes que enfrentan desafíos significativos. * Protagonistas masculinos complejos y cautivadores que descubren en el amor una fuerza transformadora. * Relaciones románticas complejas, marcadas por el conflicto inicial y una evolución emocional profunda. * Ambientes ricos en detalles históricos o contemporáneos que complementan la narrativa. * Giros inesperados que mantienen al lector en suspenso. * Temas de redención y segundas oportunidades como motores principales de la trama. * Exploración de las emociones humanas a través de dilemas morales y emocionales. * Un estilo narrativo envolvente y descriptivo que facilita la inmersión en las historias. Además de sus novelas y relatos, ha publicado dos libros sobre creación narrativa. Mary Heathcliff prefiere mantener su vida personal en privado y resguardar su imagen de internet y las redes sociales. Agradece la comprensión de sus lectores al respecto.
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Ousaria Me Amar - Mary Heathcliff
Ousaria
Me Amar
Duvergier, 2
Mary Heathcliff
Ousaria Me Amar
Mary Heathcliff © 2014
Título original: Atrévete a amarme
All rights reserved / Todos los derechos reservados.
Legere Editores
MRC - R006552
7630 NW 25 Street # 2B
Miami, Florida 33122
Registro de direito autoral: 10-461-277 Bogotá, Colombia.
É expressamente proibida, sob as sanções previstas na legislação vigente, a reprodução parcial ou total desta obra por qualquer meio ou procedimento, incluindo reprografia e processamento eletrônico, assim como a distribuição de exemplares mediante aluguel ou empréstimo público sem a autorização escrita e legal dos titulares dos direitos autorais.
Tradução: Leticia Nájera © 2025
Edição e revisão: Legere Editores ©
Fotografias da capa: Pixabay © seus donos.
Montagem e design da capa: Legere Editores ©
Esta obra é uma criação de ficção. Os personagens, eventos e lugares descritos são fruto da imaginação da autora e são utilizados de maneira fictícia. O conteúdo deste romance não deve ser interpretado como representação de fatos reais nem como declaração de realidade.
Constance Duvergier aprendeu a silenciar o coração, a reprimir o amor impossível que sente por um homem que considera inalcançável. Marcada pelo sofrimento da mãe diante de um amor não correspondido, decidiu se proteger e viver com esse anseio secreto. No entanto, um golpe inesperado na cabeça muda tudo: de repente, Constance se transforma na corajosa heroína de um romance que acabou de ler, uma mulher capaz de confessar e demonstrar sem reservas o que sente.
Michael Pirard recebe a missão de buscar Constance no campo e levá-la a Londres. Ao vê-la ferida, o medo o paralisa, mas nada o desconcerta mais do que vê-la despertar e declarar seu amor com uma paixão que ele jamais poderia imaginar. Aquela não é a jovem reservada e prudente que ele conhecia.
À medida que o destino complica ainda mais a situação, Michael se vê enredado pelo encanto de uma nova Constance: ousada, apaixonada e desinibida. A mulher que antes parecia intocável agora se torna irresistível, despertando nele sentimentos que ele tentou ignorar por tanto tempo.
Mas esse impulso romântico não dura para sempre e, quando Constance recobra a lucidez, se depara com uma realidade inesperada: ela seduziu o homem que não se atreve a amar. Agora, terá que enfrentar não apenas seu próprio coração, mas também o desejo latente de Michael, um desejo que pode mudar tudo.
Quando o coração fala sem reservas, os medos desaparecem. Será que ela terá coragem de enfrentar o medo e se atrever a amar?
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Epílogo
Sobre a autora
Capítulo 1
Leicester, Inglaterra
Maio de 1790
O sol morno da manhã entrava em cascata pela janela do quarto feminino, decorado em tons sóbrios de verde, tão discretos quanto sua dona. A luz preenchia cada canto, iluminando uma majestosa cama com dossel, coberta por uma colcha verde-clara e ladeada por criados-mudos. Perto da porta, um pequeno recanto com estofados de veludo verde-escuro trazia um ar acolhedor, enquanto uma chaise longue do mesmo tom estava posicionada ao lado de uma mesinha junto à janela, cujas cortinas combinavam perfeitamente. Todos os móveis evocavam um refinado estilo francês —e sem dúvida chamavam atenção.
No entanto, o que mais se destacava naquele cômodo era sua ocupante. Sobre a chaise longue, bem em frente à janela, uma jovem tentava se concentrar na leitura. Não era um livro de seu agrado, mais apropriado para sua irmã mais nova, Haydeé, mas era o único disponível para combater o tédio imposto pelas circunstâncias.
Constance baixou o livro por um instante e levantou a cabeça para observar seu pé esquerdo. Moveu-o levemente e ainda sentiu dor. Fez uma careta de incômodo e frustração. Três dias antes, havia escorregado e caído da maneira mais absurda, machucando o tornozelo. O médico recomendara repouso absoluto por duas ou três semanas, então ainda lhe restavam muitos dias de confinamento.
Com um suspiro entediado, apoiou a cabeça no braço da chaise. Detestava a inatividade, mas não havia alternativa.
Voltou o olhar para a janela e contemplou a bela manhã: já se sentia o cheiro do verão, que parecia chegar antes do tempo. Em Leicester, a estação costumava ser quente e agradável, talvez semelhante ao que era em Paris.
Paris, sua querida Paris. Quanto sentia falta de lá!
Como não sentir saudade da casa onde vivera por dezoito anos e que lhe fora arrancada em uma única noite, apenas por pertencer à aristocracia?
Seu pai, Antonine Duvergier, marquês de Merteuil, fora um dos nobres mais estimados e respeitados da França. Favorito de Luís XV e, depois, de Luís XVI, desfrutava de prestígio e reconhecimento na corte. Desde a morte de seu próprio pai, mais de quinze anos atrás, administrava com sucesso a fortuna e o título da família. No entanto, tudo desmoronou um ano atrás, com o início da mais caótica revolução da história francesa. Os nobres não apenas perderam seus privilégios —suas vidas e as de suas famílias passaram a correr perigo.
A revolta trouxe consequências devastadoras. Uma delas foi o ódio desmedido que o povo passou a sentir pela nobreza, especialmente pelos monarcas e seus aliados. Incitados pelos interesses da nova burguesia, os revolucionários capturaram os reis e impediram sua fuga para preservar o que chamavam de dignidade
. Tentaram fazer o mesmo com alguns nobres, mas a família de Constance teve sorte.
Ela se lembrava com clareza do fatídico 14 de julho do ano anterior. Naquela manhã, os ativistas tomaram a Bastilha, e panfletos circulavam por toda Paris oferecendo recompensas pelas cabeças da rainha e de seus favoritos —entre eles, seu pai.
Estimulado —e praticamente forçado —por seu genro Richard, Antonine concordou em abandonar tudo em Paris para salvar a própria vida e a dos filhos. Fez isso com a esperança de voltar em breve, convencido de que em poucos meses tudo se acalmaria. Mas já havia se passado quase um ano, e a situação só piorava. Constance agradecia aos céus por terem conseguido fugir a tempo.
Agora viviam em Leicester, onde seu pai administrava uma das propriedades de Richard, marido de Madeleine, a filha mais velha de Antonine.
Constance sorriu ao pensar na sorte que tiveram em poder contar com a ajuda do cunhado. Richard era um homem bom, corajoso e generoso, que até arriscara a vida para salvar a família da esposa. Também achava quase milagroso que ele e Madeleine estivessem lá justamente naquele momento.
A história de sua irmã e de seu marido era bastante incomum.
No fim, tudo deu certo. Graças a Richard, tinham um teto sobre suas cabeças, posição social —por serem parentes de um nobre —e a chance de construir um futuro. Ela e Haydeé tinham recebido um dote, caso se casassem antes de retornarem a Paris, e seu irmão mais novo, Julian, estudava em Eton.
Apesar de tudo, sentia uma saudade profunda de sua terra, de seu povo, de sua língua. Falava inglês com fluência e a cada dia o aperfeiçoava, mas ansiava pelas longas conversas com as amigas e pelos saraus nos salões, acompanhados de poesia em sua língua materna.
Baixou o olhar para o livro —escrito em inglês —e sua melancolia aumentou, agravada pela impotência de não poder fazer nada devido à lesão.
Acomodou-se melhor na chaise, disposta a retomar a leitura, mas antes que abrisse a página, ouviu baterem à porta.
—Entre —disse, endireitando-se e colocando o livro sobre a mesinha.
A porta se abriu e uma jovem de cabelos negros e olhos violeta-azulados entrou com um sorriso. Usava um vestido de musselina rosa, simples, mas elegante —tanto que ninguém diria que era uma marquesa.
—Como você está hoje, Constance? —perguntou a recém-chegada.
—Melhor —mentiu Constance para Madeleine. Sabia que, se dissesse o contrário, sua família cancelaria os planos que vinham preparando há meses—. Imagino que em breve poderei voltar a apoiar o pé no chão.
—Que bom —respondeu Madeleine, sentando-se ao lado da chaise da irmã—. Mas, para ser sincera, não consigo deixar de me preocupar com você.
Madeleine olhou para a irmã com expressão ansiosa. Embora Constance não parecesse abatida nem exausta, ela sabia que o pé ainda devia doer. Seu coração apertou ao vê-la ali, tão quieta sobre a chaise, quando ela sempre preferia estar em movimento.
Fisicamente, Constance continuava tão bela quanto sempre. Não era alta; na verdade, em comparação com outras mulheres, podia ser considerada pequena. Talvez por isso sua silhueta parecesse mais curvilínea: os seios se destacavam sob o decote recatado do vestido, em contraste com a cintura fina. Deitada, a saia caía sobre as pernas, revelando sua delicadeza, ao mesmo tempo que realçava a harmonia dos quadris. Tinha os cabelos loiros e os olhos verdes —uma combinação bastante comum, especialmente entre as francesas. Mas, nela, havia algo de especial. Seus cabelos tinham um brilho único, diferente de qualquer outra mulher. E seus olhos... seus olhos eram hipnotizantes. O incômodo do acidente não conseguira apagar o bom semblante que ela carregava. Ainda assim, Madeleine sabia que a irmã não estava completamente bem.
Constance sentiu um calor agradável ao perceber o quanto Madeleine se preocupava com ela. Apesar de não terem crescido juntas, desde que se conheceram havia se formado entre elas um laço de sincera amizade.
—Já te disse que estou bem melhor —disse Constance, sorrindo diante da expressão da irmã—. Mas é mais sensato seguir as orientações do médico e repousar o tempo que ele achar necessário.
—Nesse ponto concordamos, e por isso o melhor é adiar a viagem a Londres até que você esteja totalmente recuperada —replicou Madeleine.
Constance franziu a testa com um ar de derrota. Era exatamente isso que ela queria evitar. Para Madeleine e Haydeé, aquela viagem era muito importante, e não queria arruiná-la.
—Não quero que todo o esforço que você teve com os preparativos vá por água abaixo —insistiu, segurando a mão de Madeleine—. Sei o quanto você está animada e o quanto Haydeé está feliz. Não quero que nada atrapalhe essa alegria.
—Pois não estaremos felizes se você não estiver conosco —afirmou Madeleine.
Pela primeira vez na vida, as irmãs Duvergier participariam da temporada londrina. Já tinham vivido algumas temporadas em Paris, mas aquilo era diferente. As pessoas, o ambiente, os costumes... tudo era novo. Haydeé era a mais entusiasmada: o que mais a encantava era saber que tanto ela quanto Constance seriam uma novidade, assim como outras compatriotas que tinham conseguido fugir. Estava convencida de que chamariam a atenção dos solteiros mais elegantes.
Madeleine também estava animada, embora por outros motivos. Ia estrear oficialmente como anfitriã de bailes e recepções em seu papel de marquesa de Clarendon. Além disso, sentia entusiasmo em apresentar suas lindas irmãs à sociedade londrina, na esperança de que se casassem com cavalheiros ingleses e permanecessem no país para sempre.
—Vocês podem ir na frente e eu me junto a vocês assim que estiver recuperada —sugeriu Constance—. Você trabalhou tanto nisso... Eu me sentiria mal se perdesse as primeiras semanas, justamente quando a atenção é maior.
—Para mim, o mais importante é o bem-estar e a felicidade da minha irmã. Então, está decidido: a viagem será adiada até podermos ir todos juntos.
—Para mim também, o mais importante é o bem-estar das minhas irmãs. Por favor, faça isso por Haydeé. Com certeza ela vai se entristecer se perder os primeiros bailes e a chance de se apresentar logo no início.
—Haydeé sabe do seu acidente. Ela concorda comigo que devemos esperar alguns dias.
—Eu sei —admitiu Constance com impaciência—. Mas mesmo assim, vai ficar decepcionada... e você também. Me entenda: se eu não puder participar nas primeiras semanas, quero que vocês pelo menos aproveitem. Assim, me sentirei menos culpada. Posso me juntar a vocês depois e aproveitar o resto da temporada.
Madeleine a olhou pensativa. Constance era uma jovem bondosa, sem um pingo de egoísmo; pelo contrário, sempre colocava o bem dos outros acima do seu. Sabia que, se adiassem a viagem, a irmã se sentiria responsável pelo atraso.
—Não gosto da ideia de deixar você sozinha —refletiu Madeleine.
—Eu não vou estar sozinha, a casa está cheia de criados.
—Sim, mas nenhum da família.
—Não vai acontecer nada. Vou ficar no quarto até melhorar e, assim que puder me mover, viajo.
—E como pretende se juntar a nós depois? Também não gosto da ideia de você viajar sozinha.
Constance sorriu e apertou com mais força a mão da irmã.
—Isso é o de menos. Posso levar um dos criados de confiança, ou papai pode vir me buscar. A viagem não é tão longa. A gente resolve.
—Mas...
—Nada de mas
—insistiu Constance, animada ao ver que estava ganhando a pequena batalha—. Então vá e prepare as malas com tudo o que você já havia planejado.
Madeleine suspirou e beijou a testa da irmã.
—Você venceu. Mas quero que saiba que só estou fazendo isso porque sei que você se sentiria culpada se não fôssemos, não porque me agrade a ideia de me divertir sem você.
Constance abriu um sorriso ainda maior.
—Isso eu sei. E, para se divertir, você tem seu marido.
Madeleine sorriu ao ouvir a menção a Richard.
—Mas ele eu tenho o ano inteiro. Já nosso pai e irmãos, só por alguns meses... e quero aproveitar ao máximo.
—Não se preocupe, assim que eu for a Londres, vamos recuperar o tempo perdido e esquecer essa queda horrível que me deixou aqui, prostrada, lendo bobagens —resmungou a jovem, pegando o livro que havia tentado ler.
—Que livro é esse? —perguntou Madeleine, curiosa.
—Um que Haydeé pegou na biblioteca. Sei que há opções melhores, mas você conhece ela: acha que só é divertido o que ela gosta de ler.
Madeleine pegou o livro das mãos da irmã e leu o título.
—Um Abraço de Amor, de Mrs. Beltly. Eu não conhecia.
—Nem eu. Haydeé disse que encontrou entre os volumes de história e poesia. Achou maravilhoso; você sabe como ela é, tem uma mente excessivamente romântica.
—E você tem uma mente excessivamente prática —disse Madeleine.
Apesar de Haydeé e Constance serem fisicamente muito parecidas, seus temperamentos eram opostos. Enquanto Haydeé era extrovertida, Constance tendia à introspecção. Haydeé adorava a agitação e a vida social, enquanto sua irmã preferia a calma e a discrição. Haydeé enxergava o mundo com um romantismo apaixonado, acreditava no amor e sonhava em encontrar um homem que a amasse tanto quanto ela esperava amá-lo. Constance, por sua vez, acreditava que a base de um casamento bem-sucedido era o respeito e a harmonia. Se algum dia se casasse, procuraria essas duas qualidades em um marido, pois sabia que o amor nem sempre trazia felicidade; às vezes, deixava apenas feridas profundas... e ela sabia disso bem demais.
—Você tem razão —concluiu Constance—. E é justamente por isso que Haydeé não deveria me trazer livros que não combinam com meu modo de pensar. Com certeza há leituras mais interessantes na biblioteca, mas ela se aproveita do fato de que não posso ir buscá-las sozinha.
Madeleine riu.
—Talvez ela sinta que você está precisando de uma pequena dose da forma como ela vê a vida. E talvez esteja certa. Dê uma chance ao livro —aconselhou, devolvendo-o.
Constance sorriu.
—Talvez.
Alguns instantes depois, Madeleine deixou o quarto para terminar os preparativos da viagem, que, conforme o planejado, aconteceria dali a apenas três dias.
Era o melhor a se fazer.
Constance permaneceria no conforto do quarto o tempo necessário para se recuperar completamente, e depois se juntaria a eles em Londres.
Resignada, ela abriu o livro novamente e começou a ler, certa de que não iria gostar. Ou, ao menos, era nisso que queria acreditar.
Capítulo 2
Londres, Inglaterra
Junho de 1790
A noite estava quente. A casa de Richard Arbuckle, marquês de Clarendon, estava deslumbrante para receber um dos primeiros bailes da temporada londrina. No imenso salão amarelo, iluminado por majestosos candelabros suspensos no teto, os convidados circulavam de um lado para o outro quando não estavam dançando, ou conversavam em pequenos grupos.
Michael Pirard não conseguiu deixar de admirar a organização impecável de Madeleine naquela festa. Desde a disposição do ambiente até a decoração e o cardápio, tudo estava perfeito. Não se podia negar que a esposa de seu melhor amigo era uma mulher inteligente —além de linda.
A jovem marquesa estava iniciando suas funções como anfitriã e, embora não tivesse experiência e tivesse se mostrado um pouco nervosa nos dias que antecederam o início da temporada, estava se saindo excepcionalmente bem.
—O que acha, monsieur Pirard? —perguntou uma das pessoas com quem conversava em um pequeno grupo.
Michael não soube o que responder. Estava distraído e não havia prestado atenção ao falatório ao seu redor.
A verdade era que esse tipo de evento não o atraía muito, mas naquela noite não pôde recusar o convite para acompanhar os amigos —ainda mais sendo a estreia de Madeleine como anfitriã.
—Perdoe-me, distraí-me por um instante. Acho que preciso de um pouco de ar fresco. Com licença..—. Michael fez uma reverência e se afastou do grupo.
Caminhou por um dos corredores e parou ao ver Haydeé, a cunhada mais nova de Richard, dançando com um jovem cavalheiro.
Era evidente que a temporada estava sendo um sucesso não apenas para Madeleine como organizadora, mas também para Haydeé como debutante. Talvez por ser uma das refugiadas francesas, talvez por sua beleza —ou por ambas as razões —, a caçula dos Duvergier era, naqueles dias, a maior sensação. Não havia festa para a qual não fosse convidada, nem rapaz que não desejasse ser apresentado a ela.
Sim, tudo estava correndo muito bem.
—Está se divertindo? —perguntou um homem alto, de cabelos loiros e olhos azuis, vestido com um elegante traje preto, ao se aproximar.
Michael sorriu ao ver Richard em seu papel de anfitrião.
—Claro que sim —respondeu.
—Você é um péssimo mentiroso, e sabe disso —disse Richard—. Sempre detestou esse tipo de festa. Só aparece para ver se alguma dama bonita e casada se deixa encantar por você.
Michael sorriu.
Conhecia Richard desde quase a infância. Haviam sido colegas em Eton e em Oxford, apesar de Michael ser francês e Richard, inglês.
Sua história era bastante peculiar.
Michael Pirard era o único filho de uma dama inglesa e do filho mais novo de um nobre francês, o que o tornava meio inglês, meio francês —uma condição que, embora muitos achassem charmosa, ele considerava um tanto incômoda, pois era tratado como estrangeiro nos dois países.
Seu pai, Paul Pirard, filho caçula do marquês de Saint-Clemond, havia viajado a York ainda jovem para passar férias e lá conheceu a bela Claire Buttler, uma dama de família abastada, mas sem títulos de nobreza. Apaixonaram-se em poucos dias e, apenas três meses depois, casaram-se e voltaram juntos para Paris.
O fato de Claire não ter ligações com a aristocracia foi uma afronta para o pai de Paul, que, indignado, cortou todos os laços e apoio ao filho. Felizmente, Paul possuía uma pequena fortuna própria e contava com a ajuda de seu padrinho, um rico proprietário de terras, o que lhe permitiu manter o padrão de vida com o qual havia crescido.
Um ano após o casamento, nasceu Michael. O parto foi complicado para Claire —a ponto de quase perder a vida —, o que levou Paul a decidir que não teriam mais filhos. Assim, Michael teve a duvidosa honra de ser o único herdeiro do casal.
Por insistência da mãe, estudou na Inglaterra, algo do que às vezes se arrependia, pois sua formação o manteve distante de Paris quando Claire faleceu, sete anos antes, vítima de uma doença pulmonar. A morte da mãe o fez voltar e se estabelecer definitivamente na França, algo que, com o tempo, passou a agradecer —pois, apenas dois anos depois, perdeu também o pai, consumido pela dor da ausência da esposa.
Contudo, a revolta iniciada em Paris no ano anterior o obrigou a refugiar-se na Inglaterra. Embora não fosse nobre, seus laços estreitos com a aristocracia o colocaram em risco.
Nos anos posteriores à morte do pai, Michael havia aumentado sua fortuna com investimentos em terras, negócios e aquisição de várias propriedades na Inglaterra. Por isso, sua fuga da França foi relativamente fácil e sem contratempos, já que dispunha de recursos próprios e não dependia da caridade de conhecidos.
Agora, encontrava-se na residência londrina de seu amigo Richard, como convidado de um dos bailes da temporada.
—Não é só por isso —disse Michael—. Você sabe que, se eu não viesse, sua esposa poderia se aborrecer.
Richard sorriu, e seu rosto pareceu iluminar-se ao ouvir o nome de Madeleine.
—Claro que não, ela é um doce. Gosta muito de você. Sabe que é o único conhecido francês que o pai dela tem aqui na Inglaterra e valoriza o fato de você estar sempre atento a ele e à família.
Michael assentiu.
Entre os nobres que haviam fugido da revolução na França estava monsieur Antonine Duvergier, marquês de Merteuil, sogro de Richard e pai de Madeleine, Constance, Haydeé e Julian.
Foi exclusivamente graças a Richard que Michael, monsieur Duvergier e sua família conseguiram escapar da França. Foi uma verdadeira sorte ele estar em Paris naquele momento. Um ano atrás, o terror havia se abatido sobre a nobreza francesa, e Richard os ajudou a fugir ilesos, quando não apenas seu poder, mas também suas vidas e as de seus filhos estavam em perigo. Aproveitando-se de sua condição de estrangeiro, encontrou uma maneira de tirá-los do país sem levantar suspeitas sobre a verdadeira identidade dos fugitivos.
Agora, monsieur Duvergier administrava uma das propriedades do genro e, pouco a pouco, ia se adaptando à nova vida na Inglaterra.
—Conheço monsieur Duvergier desde sempre, ele era amigo do meu pai. Para mim foi fácil me acostumar com este país, pois vivi aqui muitos anos, mas para ele é mais difícil, especialmente por ter sido tão próximo dos monarcas franceses. Acho que é meu dever cuidar deles e ajudá-los no que eu puder.
—Minha esposa é muito grata a você. Para o pai dela, é mais fácil se adaptar com a orientação de alguém que também é francês. Mady valoriza muito o que você tem feito por eles.
—Do que, exatamente, devo estar tão grata? —perguntou Madeleine, aproximando-se sem ser vista.
A bela mulher parou ao lado do marido, que lhe tomou a mão e a beijou com ternura.
—É falta de educação escutar conversas alheias —repreendeu-a Richard, com doçura.
—E é falta de educação falar de alguém pelas costas —retrucou ela.
—Só estávamos te elogiando —interveio Michael—. De nós dois, você só ouvirá elogios.
Madeleine sorriu, enquanto ambos a admiravam. E não era para menos: seu elegante vestido violeta com detalhes brancos combinava perfeitamente com seus belos olhos e a fazia parecer ainda mais radiante.
—Isso ainda está para ser provado —disse ela, bem-humorada.
—Eu estava contando ao nosso amigo o quanto você está grata pelo apoio que ele tem dado ao seu pai, agora que vive na Inglaterra.
A expressão de Madeleine refletiu gratidão e alívio.
—É verdade —assentiu—. Quando papai se instalou em Leicester, temi que ele não conseguisse se adaptar, mas você o ajudou muito. Não só a ele, também aos meus irmãos. Você não imagina o quanto isso significa para mim.
Michael sorriu e lhe tomou a mão para beijá-la com respeito.
—Com esse sorriso, minha lady, estou mais do que recompensado.
Os três sorriram.
—Meu amor, a festa está sendo um sucesso —disse Richard, passando o braço pelos ombros da esposa—. Mas… não quero que se canse demais… lembre-se de que precisa descansar.
Madeleine o olhou com cumplicidade, como se compartilhassem um segredo que mais ninguém devia saber.
—Estou bem, não me sinto cansada —respondeu.
Michael os observou. Voltavam àqueles embates amigáveis que haviam se tornado frequentes nas últimas semanas, nos quais Richard insistia para que ela descansasse, enquanto Madeleine, com seu encanto natural, sempre dava um jeito de vencer a discussão. Michael suspeitava do motivo, mas não era do feitio de um cavalheiro comentar o estado de uma dama, então permaneceu em silêncio e fingiu não perceber.
Enquanto os observava, pensou que jamais havia conhecido um casal tão apaixonado e feliz... ou talvez sim, seus pais —mas isso fora há muitos anos.
Sentindo-se um pouco deslocado naquela cena, afastou-se alguns passos, observando-os com certa fascinação por aquele sentimento que todos chamavam de amor, algo que ele jamais experimentara e que, provavelmente, nunca conheceria.
Não que Michael não despertasse o interesse das mulheres. Acontece que nunca havia encontrado alguém que lhe despertasse algo mais profundo que o desejo.
Sempre consciente de seu charme, nunca lhe faltaram amantes —ele mesmo se encarregava disso. Desde jovem era perseguido por inúmeras damas: jovens e maduras, ricas e pobres, solteiras e casadas. E ele, como o cavalheiro atencioso que era, retribuía à maioria delas —especialmente às mais belas. Um bom momento de prazer, se vivido com discrição, não fazia mal a ninguém.
As casadas eram suas preferidas, pois não exigiam compromissos nem promessas duradouras, algo que ele sempre agradecera. Afinal, o único lugar onde um homem e uma mulher se entendiam perfeitamente era na cama. Pra que complicar a relação com casamento e tudo o que isso implicava?
Houve uma vez em que conheceu uma mulher doce e linda. Desde o primeiro instante soube que poderia se apaixonar por ela e quis se arriscar... mas suas ilusões desmoronaram ao descobrir que aquela encantadora dama era Madeleine Arbuckle, a esposa de Richard.
O sonho durou pouco e deixou uma lição clara: não valia a pena correr esse tipo de risco.
Fora essa ocasião, nunca havia conhecido ninguém suficientemente especial para desejar compartilhar mais do que algumas horas de prazer. Muito menos para imaginar uma vida ao lado. Estava destinado a não conhecer o amor. Talvez fosse o melhor. A vida de casado que agora seu amigo levava não era para ele.
Afastando-se ainda mais do casal, dirigiu-se a uma das portas envidraçadas que davam para o jardim.
Definitivamente, precisava de ar fresco e um pouco de paz para clarear os pensamentos.
Do lado de fora, a noite resplandecia sob a luz de uma lua cheia e redonda. Uma brisa morna soprava suavemente, trazendo-lhe uma sensação de calma.
Não havia dúvida: bailes não eram para ele.
—Michael.
Ao ouvir a voz feminina, o homem se virou.
—Ophelia?
Se na voz dela havia sedução, na dele havia surpresa.
Ophelia aproximou-se com um sorriso sensual nos lábios.
—Está surpresa
