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Linda libanesa
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E-book235 páginas2 horas

Linda libanesa

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Sobre este e-book

O escritor combinou duas emoções: ler e acultura com intensidade por meio das obras de nossos predecessores - uma série inquietante de lugares magníficos que representam um dos primórdios culturais da civilização humana. De maneira ao mesmo tempo informal e profunda, o leitor vai se emocionar nas diagonais da história em razão de uma garota pobre ter conseguido fugir dos soldados do Império Otomano, e ajudado o Líbano a ganhar a independência. Outro fato importante, e que a obra está dentro do legado cultural do Oriente, cuja as marcas simbólicas, ainda vive no efeito do belo, do luxo, de uma grandeza que além de magnífica, e sobre terrestre.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de jul. de 2020
ISBN9786586249583
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    Linda libanesa - Linda Libanesa

    Sinopse

    Nessa obra, o escritor combinou duas emoções: ler e aculturar com intensidade por meio das obras de nossos predecessores - uma série inquietante de lugares magníficos que representam um dos primordios culturais da civilização humana. De maneira ao mesmo tempo informal e profunda, o leitor vai se emocionar nas diagonais da história em razão de uma garota pobre ter conseguido fugir da perseguição dos soldados do Império Otomano, e ajudado o Líbano a ganhar a independência. Outro aspecto muito importante, é o fato da obra estar dentro do legado cultural do Oriente, cuja as marcas simbólicas e permanentes, ainda vive no efeito do belo, do luxo, de uma grandeza que além de magnífica, é sobreterrestre.

    Década de 1910

    Com licença, senhor, meu nome é Linda, poderia me ajudar? Estou com muita sede… E também preciso comer algo para matar minha fome.

    Santo Deus, garota! O que aconteceu com você para estar nessas condições? Vivo nessas ruínas de Baalbak há 39 anos, trabalhando como cicerone, e nunca me deparei com uma situação parecida. Venha, vou te levar para minha modesta morada. Só peço, por gentileza, que não repare na bagunça nem na simplicidade em que vivo, afinal de contas, já deve ter notado meu aspecto de eremita.

    Desculpe, senhor, mas não consigo imaginar absolutamente nada, nem meditar, nem tampouco enxergar qualquer fantasia.

    Vamos em frente, diga-me: o que aconteceu?

    Estou vindo de um lugar onde a desordem e a desobediência chegaram a tal ponto que parecem ter sido multiplicadas por mil: o convento onde eu morava foi destruído impiedosamente pelos turcos otomanos, mas peço desculpas, pois meu inconsciente já não consegue manifestar nenhuma crença, nenhuma postulação, absolutamente nada. Se me permite, falaremos disso depois.

    Também tive muita decepção em minha vida, mas o que mais me aborrece é a falta de ideias das pessoas para superar a ignorância e a desigualdade. Mesmo com minha visão turva e doente, notei que você mal consegue ficar em pé. É inquestionável seu estado crítico, mas precisa aguentar firme: logo estará em casa para descansar e comer algo.

    Meu estado de saúde está me deixando praticamente sem domínio, quase não consigo me movimentar direito, estou sentindo um grande mal-estar, praticamente sem forças e preciso urgente de um pedaço de pão e um pouco de água.

    Nesse momento, não disponho de nada para ajudá-la. Enquanto caminhamos, vamos conversando, isso será importante para possibilitar a altivez do seu pensamento e a saída do estado de implicações mentais deprimentes. Peço-lhe desculpas pela falta da educação, por não ter me apresentado no momento em que se apresentou, a gente chega numa certa idade e parece que perde até a expressão: meu nome é Jaudete, sinto-me honrado em recebê-la. Você sabia que esse lugar foi a terra dos fenícios e tem várias indicações simbólicas do domínio romano? É considerado o berço da civilização humana.

    Ouvi falar muito daqui, mas não estou em condições de falar nisso agora. Seria possível andarmos mais rápido? Esse sol escaldante está me derretendo, pelo jeito não vou conseguir chegar até sua casa.

    Faça um pouco de esforço. Lamento, mas minhas pernas não estão em condições de me ajudar. Enquanto estivermos caminhando, tente se concentrar e ouvir com atenção o que tenho a dizer sobre minha vida, isso lhe servirá de consolo para que supere as lastimáveis dores.

    Está sugerindo que eu encontre uma mediação entre a terra e o céu?

    Mais ou menos isso… Sou natural de Aleppo, na Síria. Ajudava meu irmão como guia turístico na cidade histórica de Palmira, até que um dia toda a felicidade deu lugar ao pior desastre de minha vida: presenciei meu irmão ser assassinado por dois homens, com um tiro na cabeça, enquanto lanchava nas Hortas de Palmira na alvorada. A princípio, cheguei a pensar que a causa fosse uma corrente de ouro que ele usava no pescoço, mas, depois de alguns dias, soube que o assalto tinha sido apenas um pretexto para tirar meu irmão de circulação e ocupar seu lugar de guia turístico ou, como popularmente chamam, cicerone.

    Meu irmão era 11 anos mais velho do que eu, e seu trabalho era a única fonte de sobrevivência da nossa família. Meus pais não aguentaram o choque e entraram em depressão profunda, falecendo logo em seguida.

    Depois disso, embarquei numa onda de revolta e nunca mais consegui compartilhar meus vocábulos finais com pessoas que ousam falar apenas no dinheiro, no ouro e na ganância.

    Achei melhor compartilhar minha juventude e minha alma com essas colinas, com o objetivo de não rebelar a intolerância nem sobrecarregar o espírito com controvérsias e prerrogativas alheias. Foi o melhor meio que encontrei para abolir minha escravidão.

    Entendo perfeitamente o que o senhor quer dizer. Isso significa que a palavra, tomada no seu sentido amplo, está cheia de revolta e tristeza.

    Isso mesmo. Olhe para essas pilastras de pedra, que serviram de proteção e defesa, que eram entendidas como uma fortificação, hoje em ruínas, mostrando apenas as cândidas e robustas virtudes de uma época… Compreende o que quero dizer, Linda?

    Corrija-me se eu estiver errada: pelo que entendi, seu ponto de vista faz referência à história, demonstrando que a humanidade daquela época estabeleceu uma familiaridade com a ganância e o poder, bem como que o destino se revolta em oposição a tudo o que foi fortificado por meio da exploração de inocentes, desmobilizando as fortalezas a ponto de deixar tudo para ser apreciado artificialmente, ou seja, acabar virando abrigo de eremitas e marmotas, que revelam, em suas palavras, como foram construídos os velhos ornamentos, as velhas ninharias, o velho ouropel da mentira do poder dominante, que conduzia o povo simulando uma compleição de anjo, mas, no fundo, com hábitos de monstro.

    Quem vive nesse lugar sozinho deixa uma impressão de alguma deformidade, mas isso é um tremendo engano: você aprende a admirar o instinto da natureza, a se inteirar nos estilos realista e fantástico a um só tempo, uma extraordinária vivacidade vinda do silêncio.

    Até que enfim chegamos. Não foi tão difícil assim, foi? Vamos descer por esta fenda de pedra com muito cuidado, as escadas não estão uniformes. Antigamente esse lugar era uma necrópole, o que significa que minha casa é uma catacumba.

    Isso não lhe causa náuseas, senhor Jaudete? Subir e descer todos os dias?

    Quando desço, penso que vou abrir um baú de ouro e, quando saio, lembro que preciso ir gastá-lo. Dessa forma e por meio da tolerância, consegui obter não só o hábito, mas também a paciência: isso nos leva a entender que as dificuldades que interferem na vida devem ser encaradas com filosofia.

    Apesar de tudo, senhor Jaudete, mesmo diante de sua aparência de barba malfeita, cabelos estabanados seguros por essa tira de pano, seus olhos que parecem estar cobertos por uma nuvem escura, suas sobrancelhas que quase afogam seus pequenos olhos, não estou transpirando de medo. Pelo contrário, sinto que, entrando nesse sarcófago, estou saindo de um estado decadente para experimentar um esplendor flauteado de bons fluidos

    Sinto francamente seu coração se abrir com ternura, a alma estabilizar com doçura, talvez por achar que sua sobrevivência esteja por um fio. Pode acreditar, seu futuro será grandioso. Esse ato de submissão ostensivo ao qual está sendo submetida trará recompensas para o seu interior e, por meio dessas reminiscências, você aprenderá a exercer um efeito terapêutico notável em seu próprio benefício e no daqueles que porventura necessitarem de seu apoio.

    Agradeço, senhor Jaudete, pelas palavras de conforto. Estou com o coração muito ferido, mas vou procurar superar minhas tristezas. Não vale a pena cintilarmos o ódio nem sermos cruéis em vez de simpáticos: não pretendo que minha personalidade irradie nenhuma forma de melancolia.

    Acomode-se naquela banqueta fique à vontade, vou lhe servir água, pão, biscoito, fazer de tudo para tirá-la dessa aproximação pressentida da morte. Pode considerar hoje o seu dia de sorte: recebi esses alimentos ontem de uma expedição de turistas ingleses, que me fizeram a oferta com superficialidade, demonstrando descaso sem nenhuma modéstia: estranhei esse tipo de conduta, que não é própria do povo inglês.

    A madre superiora do convento onde eu morava sempre nos ensinou a agir de forma virtuosa e amável, pois é dessa maneira que devemos mostrar a boa educação.

    Com todo respeito à madre superiora, também compreendo que esse é um tipo de êxito que serve de estímulo aos bons princípios.

    Graças a sua bondade e abnegação, ela conseguia ganhar alimento e presentes da comunidade local para distribuir aos mais pobres. Sua linha de raciocínio era sempre agradecer às pessoas contando lindas histórias nos finais de semana na capela. Sem grandes atributos físicos, parecia a protagonista da salvação para aqueles que tinham apenas o riso e as histórias como único remédio para aliviar o pessimismo de uma vida difícil e sofrida. Suas narrativas eram muito interessantes, com descrições horrorosas de Satanás que, conforme dizia, foi o primeiro inimigo com o qual o cristianismo se defrontou.

    Por acaso ela comentou que Satanás camufla seus traços diabólicos com aspectos angelicais a fim de convencer seu inimigo a adquirir características satânicas?

    Disse-nos muita coisa, senhor Jaudete, falou sobre o nascimento do anticristo, inclusive do seu rosto, que o filho da perdição virá com todas as astúcias de maldade, com monstruosas torpezas e iniquidades obscuras.

    E você acredita que o diabo é um homem de corpo macilento, esguio, mais alto que eu, com uma boina de esporte puxada por cima das orelhas, olhos avermelhados, rosto branquíssimo e alongado, vestindo uma camiseta de seda de mangas longas, calça apertada, capaz de sofrer metamorfoses a todo momento, e que pode convencer tanto os mais fracos como a corja humana a se corromper?

    Eu acho, senhor Jaudete, que esses pretextos para falar do medonho, do olhas sanguíneo, de Lúcifer, Satanás, serviam para nos amedrontar e fazer com que acreditássemos nas leis estabelecidas, que por sinal geravam uma interminável aflição. Meu valor não se submete nem se rende; pelo contrário, meus olhos estão nas planícies do céu, com um espaço enorme para ser preenchido com habilidades incansáveis, cuja tendência é o amor. Não sei o que o destino me reserva, mas posso lhe dizer, de antemão, que, apesar da dor que estou passando, sinto que minha alma suspira uma força capaz de realizar algo que não consigo desvendar. Pode até ser que eu mate um vampiro nojento, alguém de queixo protuberante, que tenha uma longa barba, pelo áspero e asqueroso, mas não agora. O momento é de cautela. Além do mais, preciso aprender a caminhar, correr, voar, dançar, encontra o caminho certo e relativizar a importância dos fatos da vida.

    Acredito que não temos o poder de modificar nosso destino, o ideal seria que tudo fosse como a gente planeja, mas acabamos sendo desafiados a enfrentar situações que nos surpreendem.

    Com que inaudito espanto, de repente encontrei o senhor, que matou minha fome, saciou minha sede, fez-me ressuscitar e sentir como se estivesse desfrutando de todas as riquezas do céu, mesmo habitando essa necrópole, lembrando que quase morri afogada, de tanta água que bebi.

    Notou como a água nesse lugar é geladinha e leve?

    Tudo estava ótimo, água geladinha, as bolachas deliciosas. Como poderei lhe agradecer? Acaba de salvar minha vida, com certeza eu não resistiria nem uma hora mais.

    Vendo você falar dessa maneira, com tanta ênfase, a ponto de sua face branca ficar corada, quem sabe por essa boa ação, no dia em que morrer, eu ganhe o privilégio de fazer as meditações de minha consciência no céu.

    Acredita que essa função transcende de nossa vontade?

    Para ser sincero, julgar seria mera conjectura, mas, esteja onde estiver, vou me redimir dos meus pecados.

    E se, por acaso, não lhe for concedido o céu?

    Então ficarei sintonizado de joelhos, chorando, e, se houver brecha num contínuo espaço-tempo, pulo para o céu.

    Espero, com toda franqueza, que tenha êxito.

    Desculpe-me pelos risos, Linda, mas, vendo você atribuir elogios, com a expressão ao mesmo tempo contrita e cheia de admiração por alguém que acaba de conhecer, o fato se torna realmente hilário.

    Minha intenção foi sincera: quero vê-lo no céu, não vejo motivo para risos.

    Você acaba de chegar com a sombra dentro da cova, só faltava mesmo à imagem se deitar, nem me conhece e quer reconhecer que tenho crédito para ir para o céu. Pode estar cometendo um perjúrio e corre o risco de ser excomungada.

    De fato, tem razão, não pretendia dar proporções tão grandes ao que acabei de falar. Mas, dado o rigor de minha consciência, admito que preciso censurar minha ingenuidade. Fui muito precipitada ao deixar que os espasmos de ansiedade atribuíssem ao senhor tais virtudes sem ao menos alcançarem níveis mais evidentes.

    Desculpe-me pela indelicadeza, não tinha a intenção de deixá-la constrangida. Sei que o seu propósito foi o mais sincero possível e quero ver a alegria estampada em seu rosto, caso contrário sentirei tanto remorso que se desprenderá uma melancolia capaz de me levar ao pranto; prometo que não vou mais conduzi-la a ideias que deixem seus nervos à flor da pele, neutralizando seu ânimo. Esse gesto indelicado que acabo de cometer mostra que, apesar das minhas experiências, tenho muito a evoluir, mas pode ter certeza de que, se criei um espectro mais sombrio, isso demonstra que estou submerso na sombra escura da sensatez. Pode até ser pela falta do licor espirituoso de uma boa companhia, e isso mostra o meu grau de solidão. Vamos, limpe o rosto nessa toalhinha, considere minhas desculpas, não tive a intenção de norteá-la a nenhum mal-estar.

    Estou emocionada, não se culpe, talvez seja meu entusiasmo por ter recebido suas ofertas e por ter encontrado uma pessoa capaz de compreender minhas dificuldades.

    Entendo perfeitamente o que quer dizer, consigo perceber sua gentileza, que com certeza é digna de uma contemplação religiosa.

    No meu íntimo, isso traduz uma alegria imensa, senhor Jaudete, alterei minha fisionomia por uma única razão: sinto que estou no curso preliminar do meu destino, cujas consequências começaram a trazer as impressões múltiplas do espírito aventureiro que revelará, no futuro, um aprendizado útil para que eu possa superar as dificuldades da vida.

    Esteja certa disso: quando ganhar maturidade, seus pensamentos chegarão ao limiar da consciência, trazendo segurança e serenidade. Prometo não deixar mais que minhas tendências de insensatez tomem conta de minhas emoções; mas confesso que o efeito dos seus olhos azuis, lacrimejados em decorrência de sua emoção, me levou a navegar no Mediterrâneo fazendo presságios no reino da imaginação.

    Uma amiga do convento costumava dizer que os meus olhos são como pedras de cor anil e que, quando estou emocionada, ficam azul-celeste.

    Qualquer expressão do seu olhar parece, à luz da sua consciência, uma expectante magia.

    Não quero que se sinta constrangido, senhor Jaudete, nem quero tirar sua liberdade: pode falar de seus romances, aventuras, dos miraculosos encontros que presenciou

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