[go: up one dir, main page]

Explore mais de 1,5 milhão de audiolivros e e-books gratuitamente por dias

A partir de $11.99/mês após o período de teste gratuito. Cancele quando quiser.

Jazz e política da existência: a música de Félix Guattari
Jazz e política da existência: a música de Félix Guattari
Jazz e política da existência: a música de Félix Guattari
E-book270 páginas3 horas

Jazz e política da existência: a música de Félix Guattari

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

O que ressoa entre Félix Guattari, Duke Ellington, Thelonious Monk e Cecil Taylor? Quais são as tramas que unem estes músicos, filósofos, pensadores?

Em Jazz e política da existência: a música de Félix Guattari, Vladimir Moreira Lima aborda as principais noções do militante político e psicanalista francês Félix Guattari (1930-1992), apresentando seu pensamento a partir de um questionamento – como funciona um ato de criação em política? E mais, o que se torna a política se pensada como uma práxis de criação existencial e não de gestão ou administração do que existe?

Para tratar desta nova maneira de pensar politicamente e de pensar a política, a ideia do autor consiste em colocar a política ao redor da música. Segundo o próprio Guattari:

"O problema é realmente musical, tecnicamente musical, o que o torna aí tanto mais político"

No entanto, Guattari não está falando de qualquer música, mas do universo do jazz. Universo que permitiu a realização de uma série de exercícios, ao mesmo tempo, especulativos e pragmáticos.

Partindo da técnica de três grandes pianistas, ou melhor, três grandes pensadores – Duke Ellington, Thelonious Monk e Cecil Taylor –, Vladimir Moreira Lima, em sua obra, coloca a questão, em consonância com o pensamento de Guattari:

E se a política pudesse ser concebida como um tema da música da existência? E se as invenções guattarianas, como a esquizoanálise, por exemplo, pudessem ser pensadas como improvisações desse tema?

O paradigma estético do pensador francês aparece em Jazz e política da existência: a música de Félix Guattari como a retomada deste tema para reafirmar e relançar em direção ao futuro a aposta na conexão entre política, resistência e criação de outros modos de existência mais dignos de serem vividos.
IdiomaPortuguês
EditoraSobinfluencia Edições
Data de lançamento1 de jun. de 2024
ISBN9786584744417
Jazz e política da existência: a música de Félix Guattari

Relacionado a Jazz e política da existência

Ebooks relacionados

Filosofia para você

Visualizar mais

Categorias relacionadas

Avaliações de Jazz e política da existência

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Jazz e política da existência - Vladimir Moreira Lima

    Agradecimentos

    Este livro é fruto do realce de algumas apostas sobre a obra de Guattari com o jazz que já se apresentavam, em meio a outras questões, no livro A partir de Guattari I: uma política da existência, que publiquei em 2019.

    Agradeço, portanto, a sobinfluencia pela contribuição que deu para que este realce existisse. Agradeço também a algumas pessoas que, cada uma ao seu modo, se interessaram e conversaram comigo, desde 2019, justamente sobre o que hoje se torna um livro. Evidentemente os equívocos são todos meus, mas foi imprescindível ouvir e, com sorte, aprender o que pensavam para que eu pudesse alterar algumas questões e, principalmente, desejar que este livro existisse enquanto tal. Agradeço, assim, a Adriany Mendonça, DJ Castro, Eduardo Pacheco, Ellen Araújo, Erick Araujo, Jean-Sébastien Laberge, José Carlos dos Anjos, Marcio Goldman, Mariana de Toledo e Ovidio Abreu. Agradeço também a Formação Livre em Esquizoanálise (Flea) e ao Núcleo de Antropologia Simétrica (NAnSi) pelas elaborações coletivas acerca das ideias de Guattari. Agradeço ainda, e mais uma vez, a Eduardo Pacheco e José Carlos dos Anjos pela escrita do generoso prefácio e a Erick Araujo pelas inúmeras e extremamente valiosas sugestões para este texto.

    Prefácio

    Eduardo Guedes Pacheco e José Carlos dos Anjos

    E se este prefácio mimetizasse o modo como Vladmir Moreira Lima parte de Félix Guattari? De nossa parte estaríamos partindo do autor deste livro para nossas próprias viagens. Então estaríamos reverberando Guattari através da obra de Vladmir. Talvez esse seja um modo ler o presente trabalho que pode render viagens, sobre viagens. Desde que partir de alguém, de uma obra, seja entendido como movimento com as ferramentas do autor em direção a processos imprevisíveis de singularização que não seria isolamento mais partilha – esse é o princípio de restrição que o livro propaga. É nas trilhas desse princípio que estaremos nestas próximas breves páginas partilhando uma possibilidade de leitura da Música de Guattari. Exibiremos um movimento que convida a outros movimentos, outras singularizações, mais ou menos distantes do modo como pudemos ler esse trabalho tecnicamente exigente.

    Ler – escutar – a Música de Guattari é efetivamente uma viagem para uma série de desterritorialidades que não se encaixam perfeitamente, uma desacomodação permanente, força que compele a novos deslocamento, constante processo de autodissolução. O jazz, a micropolítica, a esquizoanálise, parecem territórios, mas são também movimentos, convites para uma partida para o infinito.

    Nós lemos o livro como o desdobramento de um enunciado de Deluze e Guattari: O problema é realmente musical, tecnicamente musical, o que o torna aí tanto mais político. Se poderia dizer, sob esse mote que o livro é sobre como o jazz é tecnicamente político. Mas inversamente, que a política, tal como a concebe Guattari, é uma forma de jazz (desnecessário dizer que não a política eleitoral, ou como é necessário dizer, a política que se faz na interpelação por problemas existenciais). O livro é sobre como há uma micro-política que atravessa o jazz no modo da articulação entre tema e improvisação particularmente em Monk. De outro modo, é a própria obra de Félix Guattari que está sendo musicalmente interpretada neste livro. Não sem que essa interpretação se dê a partir do modo como o próprio Guattari concebeu e praticou a esquizoanálise explicitamente como uma modalidade de improvisação sobre um tema- a análise – que é em tudo um movimento do jazz. E talvez o livro possa ser lido como mais um esforço para escrever musicalmente, fadado a ser perdoado por não sê-lo sob a potência absolutamente a-significante da música.

    Introdução: uma zona de vizinhança

    O próprio mundo tornou-se uma espécie de órgão gigantesco, e a escrita uma música, transbordando

    por toda parte o universo sonoro.

    Félix Guattari

    Se ressituar como herdeiro de um desastre,

    e não apenas de um progresso, permite criar graus

    de liberdade inesperados.

    Isabelle Stengers

    Música e política. Mais especificamente, o jazz e a política de Félix Guattari. De modo ainda mais preciso: a criação musical, sobretudo, de três grandes pianistas, Duke Ellington, Cecil Taylor e Thelonious Monk e a criação política de Félix Guattari. Há, certamente, uma política imanente à criação musical. Mas este experimento também se interessará pela música que há na criação política.

    Aqui, há uma aposta, arbitrária, de colocar uma certa experiência do jazz na vizinhança¹ do pensamento de Guattari. E, assim, especular, testar e experimentar que há algo na experiência desse verdadeiro universo – que é o jazz – que pode servir de interferência no modo pelo qual se concebe a política. No modo pelo qual, a partir de Guattari, pode-se conceber a política. Para dizer de outra maneira, há uma singularidade na riqueza do pensamento dos músicos de jazz que não apenas ressoa, mas repercute² na maneira que Guattari pensou a política e, sobretudo, pensou politicamente.

    A questão, como se repetirá, é: como funciona um ato de criação política? Mais: o que é suscitado, nas práticas em que estamos inseridos (caso haja pertinência de utilizar esta palavra, política, em relação a elas), quando tomamos a política como um ato de criação? E, por fim: criação de quê?

    As páginas que se seguem podem ser lidas, no melhor dos casos, como uma tentativa de prolongamento do livro O que é a filosofia?, escrito por Guattari, junto com Deleuze. Primeiro, por conta da caracterização do pensamento como ato de criação. Depois, pela não inferiorização, sem hierarquia possível a ser estabelecida, entre as práticas de criação e entre as maneiras de pensar. Em terceiro lugar, pelo fato de as maneiras de pensar também não se equivalerem, cada uma procedendo por um meio próprio, com técnicas específicas, vinculadas a heranças próprias, criando seres distintos.

    Em O que é a filosofia?, Deleuze e Guattari querem pensar a singularidade da criação filosófica. Para tanto, invocam outras duas grandes e expressivas práticas ocidentais que foram tanto amigas como, e principalmente, inimigas da filosofia, tentando dominá-la ou sendo por ela dominada, a saber: a arte e a ciência. Pois a filosofia só se torna uma atividade de criação, e mesmo de resistência, por meio do clamor, do apelo, endereçado às outras práticas, pela sua afirmação, também, como uma atividade de criação. Mas, e a política? Onde ela se situa em relação a essas práticas e mesmo diante de outras práticas de criação, ocidentais ou não, não caracterizadas em O que é a filosofia? Qual é a singularidade da criação política? Ela seria uma disciplina criadora entre outras?

    O que se afirmará é que o pensamento de Guattari é um caso de criação política. A filosofia, a ciência, a arte e outras práticas de criação, outros processos de produção de maneiras de existir, são casos de criação política, ainda que não sejam apenas política, que Guattari passou a vida cartografando.³ Na criação institucional ou na arquitetura, na religião, nos movimentos revolucionários, na arte, na filosofia, na clínica, na ciência… São tantas as práticas de criação pelas quais se interessou. E assim o fez por conta da própria textura do ato de criação política que instaurava como estilo de pensamento à medida que cartografava os processos de criação e resistência aos poderes e significações dominantes dos mais distintos meios.

    Como recarregar uma outra política possível contra a quase ininterrupta atualização dessa invenção grega, ocidental, que durante os séculos foi uma mensageira do universalismo? Uma outra política possível contra a homogeneização, a equivalência e o estabelecimento de uma tecnologia de conjuração da diferença e da heterogeneidade, ao determinar a suposta solução de um aquém e de um além do que é heterogêneo como condição mesma de possibilidade para a coexistência entre heterogêneos. Supostas soluções como a lei na ágora, o Estado, sem dúvida, mas igualmente o colonialismo e o capitalismo – todo tipo de universal.

    Pensar o ato de criação política passa, portanto, por pensar a política prescindindo de toda forma de universal. O que surgiria daí? Ou, antes, como pensar prescindindo dos universais, quando se está inserido nessa herança que os reconstitui a cada momento? Como situar a invenção da política como um desastre, que devastou e continua a devastar também sob sua capa progressista, iluminista, humanista, democrática, a heterogeneidade possível de outros modos de fazer a vida valer a pena, sem cair na nociva palavra de ordem do fim da política, da morte da política, tão sonhada pelo capitalismo, onde não existiriam possíveis a serem experimentados, forjados, fora de suas condições totalitárias e totalizantes que controlam a realidade? Como herdar a política como um destino que não se escolhe receber e, mesmo assim, negociar com ele os graus de liberdade que podem recriá-lo?

    Há mais questões. Pois cabe perguntar, ainda, o que significa exatamente considerar algo como sendo político? Por que essa palavra, mágica, conferiria de imediato a dignidade a uma atividade ou a um problema? Sem dúvida, aquelas e aqueles, como Guattari, herdeiros da luta socialista, seja ela marxista ou anarquista, dos grupos minoritários, travam uma importante batalha para dizer que há política, aqui e ali, por toda parte onde se fabricam as opressões. Pois travam uma batalha contra um estado de coisas capitalistas que torna natural, ou sobretudo genético, congênito, todos os tipos de efeitos ainda inomináveis da sua lei mortífera e devastadora. Natural, isto é, essencial, inevitável, sem transformação possível. Fatalismo, não destino.

    À aceitação cínica da situação, opõe-se a afirmação da política. E, com ela, talvez, um pouco de abertura. Essa luta deve ser celebrada. Porém, ao fazê-lo, os mesmos possíveis correm sempre o risco de serem bloqueados de antemão. Pois a mesma palavra, sua prática, a certeza de suas fronteiras (sejam elas mais ou menos alargadas), parecem sempre refletir as luzes que a trouxeram até aqui. Luzes que podem cegar para a singularidade e a riqueza das ressingularizações que existem em infinitos meios de existência.

    Resistir a praticar a política como um progresso, fruto de um desenvolvimento que retira a força da alteridade no momento exato em que impede sua existência, seu acontecimento, sua presença enquanto alteridade. Resistir a praticar a política como um rolo compressor, mesmo e sobretudo, quando não se fala ou só se fala de política.

    É aqui que intervém a hipótese deste experimento: há no jazz uma complexa tecnologia de pensamento e de criação que alimenta e é alimentada por modos de negociação entre o destino e a liberdade, entre o que se recebe para além da vontade humana e os graus de liberdade que podem gerar outros possíveis de vida para o destino e a liberdade em jogo. Essa tecnologia é condensada nos procedimentos, nos estilos, nas concepções da música e nas técnicas que os músicos de jazz forjaram para sustentar concretamente essa questão. A política exclui o destino, dá todo o poder ao que instaura como inventividade da liberdade humana. Mas não deixa de ocupar o lugar do destino e se transformar em uma herança constituída por essa exclusão e pela concepção de liberdade aí fundada.

    Foi LeRoi Jones (1968, 52-53) quem mostrou como aquilo que se chama tema e improvisação, no jazz, são ressingularizações de um aspecto processual e singular da música cultivada pelos povos africanos, que foram escravizados e levados aos EUA. Reativado através das canções de trabalho, dos spirituals, e condensado como um universo de referência para toda a música afro-americana no blues, esse importante aspecto é o chamado-resposta. Em Black Music (2014, 176-177), Jones escreve:

    A linha que poderíamos traçar, como tradição musical, é aquela que nós, como povo, desfrutamos e preservamos da melhor maneira que nos foi possível. A forma chamado e resposta (voz principal e coro) que chegou desde África, não nos abandonou nunca como modo de expressão musical. Persistiu como forma vocal e instrumental.

    Chamado, tema. Resposta, improvisação. A conexão entre um e outro não tem nada de simples. Talvez seja possível conceber que essa dinâmica processual do chamado-resposta, como também nos mostrou Jones (1968, 29), quando retomado enquanto tal, isto é, na sua própria variação contínua,⁵ é a criação e o suporte de um modo de existência em que destino e liberdade não estão ontologicamente cindidos e nem são a mesma coisa. Permanecem existindo como destino e liberdade. É, por exemplo, justamente em contraposição a um mundo do predeterminismo da liberdade humana que Jones (1968, 29) escreveu:

    […] o que acontece quando um membro da tribo dos Iorubá, no Daomé, que acreditava que ‘o universo era regido pelo destino e que a sorte de cada homem era predeterminada’, mas que ‘existiam meios de escapar do destino invocando a bondade de deus’, era reduzido a escravo e começava a ser modelado por uma filosofia que atribuía toda glória ao espírito humano?

    Um chamado que se impõe, tal como o destino, como tema. E uma resposta que se dá, tal como a liberdade, como improvisação. Foi a música, inclusive, dada a sua natureza incorporal, desterritorializada e desterritorializante, comparável apenas à religião e às artes não plásticas, que serviu de catálise para cultivar uma maneira de existir à altura da própria vida durante a experiência da escravidão e de suas continuidades: [a]penas a religião (e a magia) e as artes não plásticas não foram inteiramente submergidas pelos conceitos euro-americanos. Nem a música, nem a dança e nem a religião produzem objetos: foi isso que as salvou (2014, 37). Martins Williams (1990, 224) ecoava, pode ser que, através do jazz, os deuses estejam se preparando para suas metamorfoses e, com ele, a dignidade dos possíveis que criam outros destinos. Prossegue Williams (1990, 223): o jazz é a música de uns seres humanos cujas circunstâncias os fizeram se sentir indignos. Com o jazz, esses seres humanos descobriram sua própria dignidade e o fizeram de um tal jeito nunca antes experimentado pela humanidade. Ecoava, também, o próprio Guattari (1992a, 130-131):

    O jazz, por exemplo, se alimenta ao mesmo tempo de sua genealogia africana e de suas reatualizações sob formas múltiplas e heterogêneas. E será assim enquanto viver. Mas como toda máquina autopoiética, pode também morrer por falta de realimentação ou derivar em direção a destinos que o tornem estrangeiro a ele mesmo. Eis então uma entidade, um ecossistema incorporal, cujo ser não é garantido do exterior, que vive em simbiose com a alteridade que ele mesmo procede para engendrar, que ameaça desaparecer se sua essência maquínica for danificada acidentalmente – os bons e os maus encontros do jazz com o rock – ou quando sua consistência enunciativa estiver abaixo de um certo limiar. Não é um objeto ‘dado’ em coordenadas extrínsecas, mas um Agenciamento de subjetivação dando sentido e valor a Territórios existenciais determinados. Esse Agenciamento deve trabalhar para viver, processualizar-se a partir das singularidades que o percutem. Tudo isso implica a ideia de uma necessária prática criativa e mesmo de uma pragmática ontológica. São novas maneiras de ser do ser que criam os ritmos, as formas, as cores, as intensidades da dança. Nada é evidente. Tudo deve ser sempre retomado do zero, do ponto de emergência caósmica. Potência do eterno retorno do estado nascente.

    É justamente sobre esse aspecto de força, de criação e recriação de um modo de vida brutalmente atacado pelo sistema de desterritorialização mortífera da escravidão e do colonialismo, que Guattari (2010, 12) também afirmava:

    […] o jazz nasceu a partir de um mergulho caósmico, catastrófico, que foi a escravização das populações negras no continente norte e sul-americano. E depois, através de ritornelos, os mais residuais desta subjetividade negra, houve uma conjunção de ritmos, de linhas melódicas com o imaginário religioso do cristianismo, com dimensões residuais do imaginário das etnias africanas, com um novo tipo de instrumentação, com um novo tipo de socialização no próprio seio da escravidão e, em seguida, com encontros intersubjetivos com as músicas folk brancas que estavam lá. Posteriormente, existiu uma espécie de recomposição dos territórios existenciais e subjetivos, no seio dos quais não só se afirmou uma subjetividade de resistência por parte dos negros, mas que abriu linhas de potencialidade a toda a história da música, e não unicamente à história da música norte-americana: lembro a vocês que Debussy e Ravel, os maiores músicos ocidentais, foram extremamente influenciados por esse ritmo e por essa música de jazz.

    A ideia vital, portanto, de negociar o destino com a liberdade, desenvolvida por meios musicais, no jazz, por procedimentos concretos presentes no pensamento de determinados músicos, tal como veremos, se colocada em uma zona de vizinhança com a política – ela mesma concebida como uma herança, como um destino – faz aparecer, em primeiro lugar, a questão de como responder a esse tema. E, em segundo, como essa resposta abre a prática política para outros possíveis, injetando no próprio destino outras determinações.

    Outras questões aparecem. E se o próprio pensamento de Guattari fosse considerado como uma música, como uma composição de jazz? Qual é e como funciona o tema? Quais são e como funcionam as improvisações? Como o tema é reexposto? É nesse sentido que será afirmada – colhendo as implicações desta afirmação – a existência de uma música de Félix Guattari; em sua obra, em seu pensamento.

    Jazz é a música de Guattari. Evidentemente, não é que o jazz lhe pertença. Muito menos é o gênero musical favorito do indivíduo Guattari. Aliás, não foi nem sobre o jazz que Guattari mais se debruçou quando pensou junto à música. Mesmo que não tenha deixado de considerá-lo⁶ algumas vezes. Na mesma medida que as palavras trapaceiam o pensamento, são elas que temos para cultivá-lo por entre os riscos e

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1