Este ensaio coloca como hipotese que a regulacao social realizada pelos Estados europeus entrou e... more Este ensaio coloca como hipotese que a regulacao social realizada pelos Estados europeus entrou em colapso de forma irreversivel depois da precipitacao da crise economica mundial em 2008. Fazemos uma breve introducao sobre a relacao entre crises e revolucoes a partir da perspectiva de economistas e historiadores, para depois debater a atual crise economica e sua relacao com o fim do pacto social.
A incerteza continua governandos os assuntos humanos. Há menos de dez anos, a exaltação da global... more A incerteza continua governandos os assuntos humanos. Há menos de dez anos, a exaltação da globalização e a restauração capitalista pareciam anunciar um futuro prometedor para o capital, e os que permaneceram defendendo a "bandeira estavam politicamente isolados e segregados.
"O terreno das transformações históricas é sempre um campo de disputas que estão, por um... more "O terreno das transformações históricas é sempre um campo de disputas que estão, por um longo período, mais ou menos dissimuladas, até que explodem de maneira vulcânica. As placas tectónicas da vida económica e social estão ocultas sob o edifício de uma ordem política que parece estável, mas movem-se. Estes deslocamentos ora permitem o sucesso de reformas, pela via de conquistas/concessões, ora impõem o recurso à mobilização revolucionária. Enganam-se aqueles que, inspirados por interesses ocultos, ou motivados por teorias paranóicas, denunciam as revoluções como responsáveis pela contrar¬revolução, quando o que a história ensina é o contrário." [Os autores]
Não é incomum que os historiadores estejam colocados diante da necessidade de usar conceitos de t... more Não é incomum que os historiadores estejam colocados diante da necessidade de usar conceitos de temporalidade, tais como época, etapa, situação, fase ou conjuntura: são critérios de periodização, para situar os movimentos de mudança, ou preservação, dos mais diferentes aspectos da vida econômica, social ou política das sociedades que estudam. Mas, é também freqüente que o uso dessas categorias seja, inúmeras vezes, pouco rigorosa, senão descuidado. Os mais perigosos anacronismos, um pecado mortal neste ofício são, então, possíveis. O argumento desta pesquisa busca demonstrar a importância decisiva destas noções de temporalidade, para realçar que as medidas dos tempos são, necessariamente, desiguais e diversas. O marxismo sugeriu uma série de critérios de periodização que estabelecem um elo entre os tempos longos das mudanças históricas, na escala das épocas que se sucedem, e os tempos mais curtos das etapas e situações, até o tempo acelerado das conjunturas. Mas, como se sabe, o mar...
Resumo Aumentou, permaneceu estacionada, ou diminuiu a desigualdade social na sociedade brasileir... more Resumo Aumentou, permaneceu estacionada, ou diminuiu a desigualdade social na sociedade brasileira durante os dois mandatos do governo Lula? A mobilidade social no Brasil do seculo XXI e maior ou menor que na segunda metade do se- culo XX? Existem relacoes de causalidade entre a estagnacao economica e a lenta evolucao da escolaridade media? O argumento deste artigo e que as transformacoes em curso nao permitem concluir que a injustica social diminuiu. Por outro lado, a queda na remuneracao dos salarios daqueles com Educacao Superior inibe o aumento da escolaridade media. Palavras-chave: Desigualdade social; Escolaridade media; Mobilidade social; Crescimento economico; Luta de classes. A less uneven Brazil? Low social mobility and slow evolution of average schooling Abstract Has the social inequality in the Brazilian society increased, remained stagnant, or decreased during the two terms of president Lula da Silva? Is the 21st-century social mobility in Brazil higher or lower than ...
The social and political pressures that caused the breakup of the Brazilian left during the first... more The social and political pressures that caused the breakup of the Brazilian left during the first government of Lula and the Workers' party raised strategic questions on an international level for all anticapitalist movements. When grassroots labor and popular parties take power, should the socialist forces be on the side of government or in opposition? Similar challenges presented themselves 100 years ago, although of course with numerous differences, in Germany for the left of Rosa Luxemburg and the Social Democratic party and in Russia for Lenin and the Bolsheviks, when the problems were first to separate themselves from the Second International and then to identify themselves with respect to the governments of Ebert/Scheidermann in Berlin and Kerensky in Petrograd.
Foi cruel para o destino de suas lutas que o proletariado latino americano tenha começado a trava... more Foi cruel para o destino de suas lutas que o proletariado latino americano tenha começado a travar grandes combates com relativa independência de classe somente depois do fim da Segunda Guerra Mundial, justamente quando a classe trabalhadora européia, a grande protagonista das revoluções anti-capitalistas na primeira metade do século, se retirava de cena. A primeira revolução operária do continente sacudiu a Bolívia no início dos anos cinqüenta e, depois de uma extraordinária luta foi derrotada, mas o marxismo passou a ser, pela primeira vez na América Latina, o vocabulário da maioria da classe operária. O continente latino-americano escreveu sua primeira página de glória na história da revolução socialista com o triunfo da revolução cubana em 1959. Uma onda de entusiasmo e radicalização política se estendeu do México ao Chile, mas a hora dos combates decisivos seria decidida, desfavoravelmente, no Rio de Janeiro em 1964. O perigo de novas “Cubas” levou Washington a fomentar um cerc...
Este ensaio coloca como hipotese que a regulacao social realizada pelos Estados europeus entrou e... more Este ensaio coloca como hipotese que a regulacao social realizada pelos Estados europeus entrou em colapso de forma irreversivel depois da precipitacao da crise economica mundial em 2008. Fazemos uma breve introducao sobre a relacao entre crises e revolucoes a partir da perspectiva de economistas e historiadores, para depois debater a atual crise economica e sua relacao com o fim do pacto social.
A incerteza continua governandos os assuntos humanos. Há menos de dez anos, a exaltação da global... more A incerteza continua governandos os assuntos humanos. Há menos de dez anos, a exaltação da globalização e a restauração capitalista pareciam anunciar um futuro prometedor para o capital, e os que permaneceram defendendo a "bandeira estavam politicamente isolados e segregados.
"O terreno das transformações históricas é sempre um campo de disputas que estão, por um... more "O terreno das transformações históricas é sempre um campo de disputas que estão, por um longo período, mais ou menos dissimuladas, até que explodem de maneira vulcânica. As placas tectónicas da vida económica e social estão ocultas sob o edifício de uma ordem política que parece estável, mas movem-se. Estes deslocamentos ora permitem o sucesso de reformas, pela via de conquistas/concessões, ora impõem o recurso à mobilização revolucionária. Enganam-se aqueles que, inspirados por interesses ocultos, ou motivados por teorias paranóicas, denunciam as revoluções como responsáveis pela contrar¬revolução, quando o que a história ensina é o contrário." [Os autores]
Não é incomum que os historiadores estejam colocados diante da necessidade de usar conceitos de t... more Não é incomum que os historiadores estejam colocados diante da necessidade de usar conceitos de temporalidade, tais como época, etapa, situação, fase ou conjuntura: são critérios de periodização, para situar os movimentos de mudança, ou preservação, dos mais diferentes aspectos da vida econômica, social ou política das sociedades que estudam. Mas, é também freqüente que o uso dessas categorias seja, inúmeras vezes, pouco rigorosa, senão descuidado. Os mais perigosos anacronismos, um pecado mortal neste ofício são, então, possíveis. O argumento desta pesquisa busca demonstrar a importância decisiva destas noções de temporalidade, para realçar que as medidas dos tempos são, necessariamente, desiguais e diversas. O marxismo sugeriu uma série de critérios de periodização que estabelecem um elo entre os tempos longos das mudanças históricas, na escala das épocas que se sucedem, e os tempos mais curtos das etapas e situações, até o tempo acelerado das conjunturas. Mas, como se sabe, o mar...
Resumo Aumentou, permaneceu estacionada, ou diminuiu a desigualdade social na sociedade brasileir... more Resumo Aumentou, permaneceu estacionada, ou diminuiu a desigualdade social na sociedade brasileira durante os dois mandatos do governo Lula? A mobilidade social no Brasil do seculo XXI e maior ou menor que na segunda metade do se- culo XX? Existem relacoes de causalidade entre a estagnacao economica e a lenta evolucao da escolaridade media? O argumento deste artigo e que as transformacoes em curso nao permitem concluir que a injustica social diminuiu. Por outro lado, a queda na remuneracao dos salarios daqueles com Educacao Superior inibe o aumento da escolaridade media. Palavras-chave: Desigualdade social; Escolaridade media; Mobilidade social; Crescimento economico; Luta de classes. A less uneven Brazil? Low social mobility and slow evolution of average schooling Abstract Has the social inequality in the Brazilian society increased, remained stagnant, or decreased during the two terms of president Lula da Silva? Is the 21st-century social mobility in Brazil higher or lower than ...
The social and political pressures that caused the breakup of the Brazilian left during the first... more The social and political pressures that caused the breakup of the Brazilian left during the first government of Lula and the Workers' party raised strategic questions on an international level for all anticapitalist movements. When grassroots labor and popular parties take power, should the socialist forces be on the side of government or in opposition? Similar challenges presented themselves 100 years ago, although of course with numerous differences, in Germany for the left of Rosa Luxemburg and the Social Democratic party and in Russia for Lenin and the Bolsheviks, when the problems were first to separate themselves from the Second International and then to identify themselves with respect to the governments of Ebert/Scheidermann in Berlin and Kerensky in Petrograd.
Foi cruel para o destino de suas lutas que o proletariado latino americano tenha começado a trava... more Foi cruel para o destino de suas lutas que o proletariado latino americano tenha começado a travar grandes combates com relativa independência de classe somente depois do fim da Segunda Guerra Mundial, justamente quando a classe trabalhadora européia, a grande protagonista das revoluções anti-capitalistas na primeira metade do século, se retirava de cena. A primeira revolução operária do continente sacudiu a Bolívia no início dos anos cinqüenta e, depois de uma extraordinária luta foi derrotada, mas o marxismo passou a ser, pela primeira vez na América Latina, o vocabulário da maioria da classe operária. O continente latino-americano escreveu sua primeira página de glória na história da revolução socialista com o triunfo da revolução cubana em 1959. Uma onda de entusiasmo e radicalização política se estendeu do México ao Chile, mas a hora dos combates decisivos seria decidida, desfavoravelmente, no Rio de Janeiro em 1964. O perigo de novas “Cubas” levou Washington a fomentar um cerc...
Qual é o lugar do Brasil no mercado mundial e no sistema internacional de Estados neste início do... more Qual é o lugar do Brasil no mercado mundial e no sistema internacional de Estados neste início do século XXI? Nossa hipótese é que se trata de um híbrido histórico: semicolônia privilegiada e submetrópole regional. Compreender o papel que cada nação ocupa no mundo é um problema central, mas não é simples. Nação, Estado e País não são conceitos sinônimos, se formos rigorosos. A ideia de nação remete ao processo histórico de formação da sociedade, e está condicionada por fatores objetivos, mas derivou da hegemonia política do nacionalismo. Quando um povo se reconhece a si mesmo como uma comunidade de destino compartilhado, segundo Benedict Anderson . O Estado é um aparelho de coerção e representação do poder político. O país é uma síntese do Estado-nação.
Singular porque atípico na América do Sul, o Brasil deveria ser compreendido como uma semicolônia... more Singular porque atípico na América do Sul, o Brasil deveria ser compreendido como uma semicolônia privilegiada e, ao mesmo tempo, como submetrópole. A chave de interpretação do conceito deve ser procurada na ideia de síntese entre semicolônia e submetrópole. Por isso, teria um estatuto híbrido. Porque o país se explicaria como uma mistura e amálgama estranho que só o desenvolvimento desigual e combinado poderia elucidar. Um híbrido é algo de uma qualidade diferente, tanto de uma semicolônia privilegiada, quanto de uma submetrópole dependente, porque combina qualidades de ambos. É uma semicolônia, porque é um país atrasado em toda a linha. Sempre dependeu da importação de capitais e tecnologia, e tem uma burguesia resignada a um papel subordinado a Washington no sistema de Estados, entre outros muitos fatores. Não obstante é uma semicolônia muito especial, privilegiada, o que se expressou ao longo de décadas de distintas formas. Quando da crise da superinflação provocada pela inadimplência da dívida externa, por exemplo, ao contrário de muitos vizinhos, sua economia nunca foi, plenamente, dolarizada. Vale a pena investigar em que medida essa localização como privilegiada ainda é, plenamente, atual. É uma submetrópole, porque o gigantismo da economia brasileira ofereceu escala e projetou presença de algumas grandes empresas nos mercados de países vizinhos da América do Sul transformando-se, também, em plataforma de exportação de capitais e serviços. Mas não é um país subimperialista, porque sua pujança econômica não se traduziu em domínio político: o projeto do Mercosul garantiu superávits comerciais, porém permaneceu, politicamente, estéril e acéfalo. Não é uma simples sobreposição, é um fenômeno diferente.
O Brasil foi e permanece, sobretudo, uma sociedade muito injusta. A chave de uma interpretação ma... more O Brasil foi e permanece, sobretudo, uma sociedade muito injusta. A chave de uma interpretação marxista do Brasil é a resposta ao tema da principal peculiaridade nacional: a desigualdade social extrema. Todas as nações capitalistas, no centro ou na periferia do sistema, são desiguais, e a desigualdade está aumentando desde a década de oitenta. Mas o capitalismo brasileiro tem um tipo de desigualdade anacrônica. Por que os graus de desigualdade social foram sempre tão, desproporcionalmente, elevados, quando comparados com as nações vizinhas, como Argentina, ou Uruguai? Hipóteses reacionárias variadas foram elaboradas, ao longo de décadas.
Uploads
Papers by Valerio Arcary
Compreender o papel que cada nação ocupa no mundo é um problema central, mas não é simples. Nação, Estado e País não são conceitos sinônimos, se formos rigorosos. A ideia de nação remete ao processo histórico de formação da sociedade, e está condicionada por fatores objetivos, mas derivou da hegemonia política do nacionalismo. Quando um povo se reconhece a si mesmo como uma comunidade de destino compartilhado, segundo Benedict Anderson . O Estado é um aparelho de coerção e representação do poder político. O país é uma síntese do Estado-nação.
A chave de interpretação do conceito deve ser procurada na ideia de síntese entre semicolônia e submetrópole. Por isso, teria um estatuto híbrido. Porque o país se explicaria como uma mistura e amálgama estranho que só o desenvolvimento desigual e combinado poderia elucidar. Um híbrido é algo de uma qualidade diferente, tanto de uma semicolônia privilegiada, quanto de uma submetrópole dependente, porque combina qualidades de ambos.
É uma semicolônia, porque é um país atrasado em toda a linha. Sempre dependeu da importação de capitais e tecnologia, e tem uma burguesia resignada a um papel subordinado a Washington no sistema de Estados, entre outros muitos fatores. Não obstante é uma semicolônia muito especial, privilegiada, o que se expressou ao longo de décadas de distintas formas. Quando da crise da superinflação provocada pela inadimplência da dívida externa, por exemplo, ao contrário de muitos vizinhos, sua economia nunca foi, plenamente, dolarizada. Vale a pena investigar em que medida essa localização como privilegiada ainda é, plenamente, atual.
É uma submetrópole, porque o gigantismo da economia brasileira ofereceu escala e projetou presença de algumas grandes empresas nos mercados de países vizinhos da América do Sul transformando-se, também, em plataforma de exportação de capitais e serviços. Mas não é um país subimperialista, porque sua pujança econômica não se traduziu em domínio político: o projeto do Mercosul garantiu superávits comerciais, porém permaneceu, politicamente, estéril e acéfalo.
Não é uma simples sobreposição, é um fenômeno diferente.