Papers by Marcelo Matheus
Ha mais de tres decadas, o estudo dos lacos do compadrio entre escravos e egressos do cativeiro v... more Ha mais de tres decadas, o estudo dos lacos do compadrio entre escravos e egressos do cativeiro vem ganhando importância. Nesse contexto historiografico, o presente artigo aborda as relacoes de compadrio produzidas por escravos e forros, entre c.1830 e 1870, tendo como recorte espacial para aplicacao da problematica Bage, no extremo sul do Brasil, localidade bastante representativa daquela sociedade de entao (populacao escrava significativa, disseminacao da posse cativa pelo tecido social e predominio de pequenas escravarias). Palavras-chave : Escravidao; batismos; compadrio.
Esta dissertacao se propoe a investigar o processo de passagem da escravidao para a liberdade, vi... more Esta dissertacao se propoe a investigar o processo de passagem da escravidao para a liberdade, via alforria, na fronteira sudoeste da provincia do Rio Grande de Sao Pedro, com foco no municipio de Alegrete. Para isto, iremos nos valer de uma serie de fontes, como inventarios post-mortem, processos-crime, censos populacionais, registros de batismo, obitos e casamentos, registros notariais diversos, documentos da câmara municipal, a lista de classificacao dos escravos para serem emancipados e, principalmente, as cartas de alforria. A analise buscou apreender as continuidades e rupturas que o sistema escravista sofreu ao longo do seculo XIX, atraves de uma de suas maiores caracteristicas, a concessao de alforrias. O objetivo e compreender as mudancas que se processavam na producao da liberdade, verificando padroes e tendencias atraves dos diferentes contextos historicos. Da mesma forma, abordaremos as liberdades conquistadas atraves do pagamento com animais – o que revela a importância...
A luta pela liberdade, por parte dos cativos, foi algo rotineiro na historia da escravidao brasil... more A luta pela liberdade, por parte dos cativos, foi algo rotineiro na historia da escravidao brasileira. Contudo, na decada de 1870, apos a aprovacao da Lei do Ventre Livre em 1871, os escravos ganharam novas ferramentas para litigar pela liberdade. A principal delas foi a oportunidade do cativo, no momento da morte de seu senhor e/ou senhora, depositar o valor pelo qual foi avaliado, sem o consentimento do seu proprietario, alforriando-se unilateralmente. Mesmo que a possibilidade de acumular um peculio ainda dependesse da anuencia do senhor, sabe-se hoje que o cotidiano escravista era muito mais fluido – isto e, era muito dificil aos senhores impedirem os escravos (ou sua familia) de acumularem recursos. E neste contexto que o presente artigo se insere, porem, analisando as relacoes escravistas em uma situacao de fronteira com outras nacoes onde a escravidao ja havia sido abolida – notadamente, a Banda Oriental (Uruguai) e Argentina. Naquele espaco fronteirico, os cativos tiveram um...
Na decada de 1940, com a publicacao de Slave and Citizen (1947), de F. Tannenbaum, inaugurou-se u... more Na decada de 1940, com a publicacao de Slave and Citizen (1947), de F. Tannenbaum, inaugurou-se um novo ramo historiografico: a comparacao entre os sistemas escravistas montados nas Americas. E neste contexto historiografico que o presente estudo se insere. Nele, comparamos as caracteristicas das escravarias de duas localidades, Cacapava do Sul, na provincia do Rio Grande do Sul (Brasil), e Brazoria, na entao Republica do Texas. Para tanto, as fontes utilizadas foram uma lista de fogos (de 1830, para Cacapava do Sul) e um levantamento de propriedades e bens (de 1840, para Brazoria). De antemao, e possivel afirmar que, apesar de o numero de fogos e a quantidade de escravos em Cacapava do Sul e Brazoria serem parecidos, na primeira, a posse escrava estava amplamente disseminada pelo tecido social, ao contrario de Brazoria, onde apenas cerca de 1/3 dos fogos eram de escravistas. Da mesma forma, em Cacapava do Sul predominavam as pequenas e medias escravarias, que concentravam boa parte...
Revista de História Regional, 2021
Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, 2012
A partir de meados da decada de 1860, depois que se percebeu que o fim do trafico atlântico de es... more A partir de meados da decada de 1860, depois que se percebeu que o fim do trafico atlântico de escravos africanos, em 1850, nao seria suficiente para por fim a escravidao, a elite politica imperial intensificou os debates sobre a questao do elemento servil. O apice deste processo foi a promulgacao da Lei do Ventre Livre, em 1871, a qual enfraqueceu sobremaneira a legitimidade social que lograva esta instituicao ate entao. Neste sentido, o presente artigo pretende verificar o impacto deste processo no extremo sul do Imperio brasileiro. O foco e o municipio de Alegrete, situado na regiao da Campanha, que tinha na pecuaria e na condicao fronteirica suas principais caracteristicas. Com efeito, verificou-se que, em meio a deslegitimacao da escravidao, a quantidade de registros de alforrias, no contexto aqui analisado, aumentou significativamente em relacao ao periodo anterior a aprovacao da Lei de 1871
Tempo
Resumo: Dentro dos ditames de uma sociedade católica e escravista, o compadrio foi uma das formas... more Resumo: Dentro dos ditames de uma sociedade católica e escravista, o compadrio foi uma das formas de associação que os africanos e seus descendentes encontraram para (re)signifcar suas vidas e tornar menos dolorosa a experiência do cativeiro. Nesse sentido, este artigo tem por objetivo o estudo dos laços de compadrio a partir do batismo de escravos, com foco na documentação produzida em Rio Grande, porto ao sul do Brasil que mantinha relações econômicas e sociais com diversas partes do Atlântico, entre 1780 e 1850. Foi possível observar que a busca pelo batismo não respondia apenas à norma eclesiástica. Da mesma forma, identificamos mudanças no padrão do compadrio ao longo do tempo, com algumas diferenças interessantes entre a tendência geral e o compadrio de africanos em particular. Por fim, o compadrio, além de produzir relações sociais diversas, podia potencializar as chances de obtenção da liberdade.
História Unisinos
It is well known that the end of slavery in Brazil was a long process that began in the mid-ninet... more It is well known that the end of slavery in Brazil was a long process that began in the mid-nineteenth century, with the definitive end of the African slave trade (in 1850), through the Lei do Ventre Livre (in 1871), that liberated the womb of slaves, until the definitive abolition of the institution in 1888. During that time, the struggle of the slaves was decisive for the weakening of the institution. However, from the point of view of customs, or rather, with respect to the social relations produced and bequeathed by slavery, the persistence of the institution was much longer. We refer more specifically to the physical punishments inflicted, in the midst of the labor relations, on free people (but free people who came from slavery), before and after the 13 of May of 1888. In this sense, this article aims to analyze, through criminal proceedings, the use of justice by freed persons with the purpose of accusing their ex-masters of attempting, in an illegal manner, to continue using practices common in the slaves relations (like physiscal punishment) to submit the labor force. Indeed, it was possible to observe that, in the context of the end of slavery, the freed persons resisted the practice of seigniorial domination that had physical punishment at its center, even bringing their masters before the courts.
Revista Latino-Americana de História, 2013
Neste artigo procuramos realizar um esforço de síntese historiográfica acerca de um procedimento ... more Neste artigo procuramos realizar um esforço de síntese historiográfica acerca de um procedimento específico à história da escravidão: a estrutura de posse escrava. A análise recai sobre pesquisas que examinaram localidades agropastoris da província do Rio Grande de São Pedro. Por sua vez, o recorte temporal se restringe, aproximadamente, às décadas iniciais do império brasileiro, até 1871, quando da primeira grande interferência estatal na relação senhor-escravo (Lei do Ventre-livre). Através desta apreciação, percebemos que a disseminação da posse cativa foi uma constante nas diferentes paragens. Isto é, a maioria dos proprietários eram senhores de poucos escravos, fato que conferiu ao sistema escravista enorme legitimidade social. Por outro lado, os proprietários que compunham a elite escravista concentravam boa parte da população cativa. Isto posto, abre-se a questão que talvez seja preciso redimensionar parte do arcabouço conceitual referente ao estudo da escravidão. Palavras-ch...
Nas últimas três décadas, pesquisadores têm se utilizado da realização de uma estrutura de posse ... more Nas últimas três décadas, pesquisadores têm se utilizado da realização de uma estrutura de posse escrava para, entre outros objetivos, verificar a distribuição da posse cativa e a concentração de escravos em determinadas faixas de plantel. Neste artigo, refletimos acerca das potencialidades e das debilidades de duas fontes que têm sido usadas para esse fim: os inventários post mortem e os registros de batismo. O lócus da pesquisa é a fronteira sul da província de São Pedro, a partir das duas principais localidades daquele espaço fronteiriço: as capelas de Alegrete e Bagé. O recorte temporal estende-se entre 1820 e 1850, para a primeira, e entre 1830 e 1850 para a segunda. Como resultados parciais, podemos afirmar que os registros de batismos, apesar de sobre-representar as menores escravarias, capturam um contingente senhorial muito maior que os inventários. Da mesma forma, os batismos ilustram aquele senhor que, em algum momento de sua vida, teve um ou mais escravos, mas que, quand...
Revista Territórios e Fronteiras, 2019
Há mais de três décadas, o estudo dos laços do compadrio entre escravos e egressos do cativeiro v... more Há mais de três décadas, o estudo dos laços do compadrio entre escravos e egressos do cativeiro vem ganhando importância. Nesse contexto historiográfico, o presente artigo aborda as relações de compadrio produzidas por escravos e forros, entre c.1830 e 1870, tendo como recorte espacial para aplicação da problemática Bagé, no extremo sul do Brasil, localidade bastante representativa daquela sociedade de então (população escrava significativa, disseminação da posse cativa pelo tecido social e predomínio de pequenas escravarias).
O presente estudo vale-se de fragmentos da trajetória da africana mina Maria Francisca do Rosário... more O presente estudo vale-se de fragmentos da trajetória da africana mina Maria Francisca do Rosário – e de seus familiares – para discutir questões como classificação social através da cor e possibilidades de ascensão social colocadas aos africanos traficados como escravos para o Brasil no século XIX. Para tanto, a principal fonte utilizada foram os registros de batismo, embora documentos diversos, como processos-crime e cartas de alforrias, dentre outros, também tenham sido explorados. A região que serve como palco para a problemática é a Campanha sul-rio-grandense, no extremo sul do Império do Brasil. Mais especificamente, a documentação coletada tem como foco a localidade de Bagé, onde Maria Francisca viveu boa parte de sua vida. Foi possível observar, através da análise serial dos batismos, que a cor, como modo de qualificar/classificar os indivíduos (especialmente aqueles que tinham parte do seu passado, ou dos seus antepassados, ligada à escravidão) não desapareceu. Da mesma forma, foi possível verificar que a construção de sólidos laços de amizade e familiares abriam possibilidades de ascensão social – ascensão esta que, em última instância, podia fazer com que a cor ou mesmo o estigma da escravidão de determinado indivíduo (ou de seus familiares) desaparecesse, ou ao menos se alterasse em um sentido positivo para aquela sociedade, dos documentos.
Marcelo Santos Matheus, 2018
Este artigo trata da transição da escravidão para a liberdade no Brasil do século XIX. Ainda que ... more Este artigo trata da transição da escravidão para a liberdade no Brasil do século XIX. Ainda que as pesquisas historiográficas recentes tenham sublinhado características sociais dos escravos libertos, este artigo se debruça sobre os "outorgantes" de cartas de alforria. São duas as questões a guiar a análise: por que as cartas de alforria eram tão comuns no Brasil Imperial? Como essa prática se inseria nas relações sociais e conformava a sociedade em geral? Esses problemas são aproximados tomando a cidade de Bagé, na província do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil, como locus de análise. Por um lado, o papel relevante das mulheres como proprietárias naquele mundo rural e escravocrata é digno de nota. Por outro, pequenos donos de escravos, que representavam a maioria do grupo, adotaram estratégias específicas na emancipação de cativos, de modo a não perder seu status hierárquico de mestres. Além disso, este trabalho mostra que a produção da liberdade no Brasil Imperial foi um processo complexo que transcende cálculos quantitativos. Entre outros aspectos, enfatizamos a relevância da influência das matrizes culturais ibéricas e africanas para entender a sociedade brasileira do século XIX.
Afro-Ásia, 2015
Desde a publicação de Slave and Citizen, de Frank Tannenbaum, em meados do século passado, os est... more Desde a publicação de Slave and Citizen, de Frank Tannenbaum, em meados do século passado, os estudos comparativos entre os diferentes processos de colonização das Américas e, logo, entre os diferentes sistemas escravistas produzidos, são algo comum na historiografia. Contudo, a obra de Tannenbaum, depois de certo período de notoriedade, foi severamente criticada e quase que posta de lado – um exemplo de ostracismo historiográfico. Porém, há poucos anos, Slave and Citizen foi centro de um acalorado debate que tinha como lócus a atualidade ou não de suas contribuições. Nesse sentido, este artigo se propõe a (re)visitar o livro de Tannenbaum a partir de dois pontos específicos: primeiro, abordaremos a já citada discussão, tendo como norte o embasamento empírico, ou a falta dele, presente na argumentação dos autores; depois, realizar-se-á uma análise bibliográfica de alguns estudos recentes para tratar de algo central à tese do autor: o quanto, hoje, já se conhece sobre o acesso dos escravos às práticas religiosas na América inglesa e como a doutrina (leiga e religiosa) percebia a sua conversão ao cristianismo nessa região. Antes, contudo, devido às quase sete décadas da publicação e à sua não tradução para a língua portuguesa, procederemos uma rápida resenha da obra, retomando suas principais ideias. Apesar da concordância de que o livro tem questões problemáticas, podemos aventar que a argumentação central de Slave and Citizen – qual seja, a de que na América ibérica os escravos eram entendidos como seres portadores de alma e, portanto, inseridos na humanidade, lhes dotou de direitos, diferentemente da América inglesa, onde a doutrina religiosa os excluiu da humanidade – não foi ainda contestada do ponto de vista empírico, o que só será possível através de pesquisas monográficas que refutem, ou não, a tese de Frank Tannenbaum.
Topoi (Rio de Janeiro), 2013
A Capela de Alegrete foi instalada na região recém-conquistada pelos luso-brasileiros em suas cam... more A Capela de Alegrete foi instalada na região recém-conquistada pelos luso-brasileiros em suas campanhas ao sul, em 1817. Ali, viveu a parda Angélica, escrava do Capitão Felisberto Nunes Coelho. Também na capela morava José Maria, escravo de Albino Pereira de Lima, compadre de Angélica, cativo africano e pajem de seu senhor. José Maria era companheiro de escravaria de Jacinto, pernambucano, escravo pedreiro e casado com a escrava Luiza, de nação Rebolo. Jacinto e Luiza tiveram como testemunha de seu casamento Damásio, escravo sapateiro do Tenente João Batista de Castilhos. O que todas essas pessoas tinham em comum, além da ligação contínua em uma malha de relações ritualizadas pelo compadrio e pelo casamento? Todos eles foram convidados muitas vezes a batizar na capela de Alegrete, na primeira metade do século XIX. Eram padrinhos e madrinhas preferenciais, naquele universo onde ser convidado a batizar expressava inegável prestígio social. O estudo aqui proposto parte do compadrio e da composição dos conjuntos de compadres daqueles cativos. Através deles, propõe-se uma aproximação do foco de observação para estudar as tramas relacionais tecidas pelos escravos, sua importância na construção de grupos e na comunicação de recursos, em uma região de pecuária e fronteira. Além disso, a relação desses aspectos com a diferenciação entre esses próprios sujeitos: as formas de hierarquização e mobilidade social que experimentavam.
Th is article aims to explore a source not yet widely used by historiography: the Book of classif... more Th is article aims to explore a source not yet widely used by historiography: the Book of classifi cation of slaves to be freed by the Emancipation Fund – in this case the Book of Alegrete, a county located in the region of the state of Rio Grande do Sul called Campanha, where cattle raising was the main economic activity. It initially discusses the captives’ occupation, focusing on the slaves who took care of livestock, and the structure of the ownership of slaves. Th en, by crossing information taken from that book with enfranchisement documents from the same location, it checks whether there was any relationship between cattle raising and liberty. Th e analysis of that source shows that the number of slaves was quite signifi cant there. Th is becomes even more relevant in the 1870s, a period in which many historians claim that slave labor in Rio Grande do Sul was declining due to the crisis in the production of jerked beef, where most of the cattle was used, and also due to internal traffi cking of slaves, who were allegedly taken fromthat region to the coff ee plantations ins southeastern Brazil. It also became clear that the possession of slaves was still very widespread in society, with a predominance of small
groups. Th us, the article attempts to assess the importance of slave labor in the 1870s in a region of peripheral economy and to check to what extent the maintenance of the slaveholding system was only in the interest of the coff ee-growing region in the Southeast.
Uploads
Papers by Marcelo Matheus
groups. Th us, the article attempts to assess the importance of slave labor in the 1870s in a region of peripheral economy and to check to what extent the maintenance of the slaveholding system was only in the interest of the coff ee-growing region in the Southeast.
groups. Th us, the article attempts to assess the importance of slave labor in the 1870s in a region of peripheral economy and to check to what extent the maintenance of the slaveholding system was only in the interest of the coff ee-growing region in the Southeast.